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CAPÍTULO 4. O ENSINO DO ARTIGO DE OPINIÃO Das prescrições do Currículo

4.2 Conteúdos e Habilidades propostas para a 8ª série/9º ano do Ensino Fundamental

4.4.3 Análise C: “Rolezinho” (Texto 3)

Rolezinho

Recentemente, passavamos por um problema muito grande, em que is jovens pelas redes sociais combinavam de ir ao shopping em grupos de até 50 adolescentes. Isto é chamado de rolezinho muitos vão para zonear ou sequear o shopping mas outros vão simplesmente para se divertir com os amigos.

Eu sou a favor dos rolezinhos pacificos, quando os jovens só vão ao shopping para passar o tempo, e sou contra os rolezinhos que não são pacíficos que são para roubos e tumultos.

Acredito que, os seguranças deviam ficar de olho mas tratar todos com educação. Não deveria ser proibido tanto que é um direito de todos ir ao shopping.

Podemos observar, no Texto 3, que o aluno busca contemplar a estrutura prototípica do artigo de opinião (introdução/tese, desenvolvimento/discussão e conclusão). Logo no primeiro parágrafo, o estudante realiza uma breve contextualização do movimento “Rolezinho”, para apresentar ao seu interlocutor o tema que será abordado; Entretanto, não é explicitada a questão polêmica que divide opiniões a respeito do direito dos jovens ao “Rolezinho”.

Em seguida, no segundo parágrafo, o aluno explicita seu posicionamento a favor dos “rolezinhos pacíficos” e contrário aos “rolezinhos que não são pacíficos”. Contudo, podemos observar que não há, no desenvolvimento do texto, uma discussão da questão polêmica, nem a utilização de argumentos para sustentar a posição assumida. Não verificamos, também, a consideração de posição contrária e argumentos de refutação.

Como abordamos à página 65 do Capítulo 2 desta pesquisa, de acordo com Bräkling (2000), o artigo de opinião é um gênero de discurso que se visa convencer o outro a respeito de uma determinada ideia e persuadi-lo, para que transforme os seus valores e pensamentos,

por meio da argumentação. Nele, o autor assume uma posição e tenta refutar opiniões controversas. Trata-se de um gênero escrito pertencente à esfera jornalística em que se defende uma tese sobre uma questão polêmica e têm como finalidade persuadir o leitor e ajudá-lo a construir sua opinião sobre o fato ou mesmo modificá-la. Embora, no Texto 3, seja possível identificarmos a posição assumida pelo autor diante de uma questão controversa, não encontramos um discurso que busque persuadir o leitor por meio da utilização de argumentos. Entendemos, dessa forma, que o objetivo do aluno nesse texto consiste em apenas explicitar sua opinião a respeito dos “rolezinhos”.

Na conclusão, podemos observar que o estudante busca enfatizar seu posicionamento e propor uma negociação possível para o “problema” do “Rolezinho”, que, em sua opinião, seria resolvido se todos fossem tratados com educação pelos seguranças do shopping.

No texto, podemos notar que, no primeiro parágrafo, predomina a utilização de verbos do “mundo narrado”: “passavamos” (linha 1), “combinavam” (linha 2), “vão zonear/saquear/se divertir” (linha 3). Isso ocorre devido à contextualização que o aluno realiza a respeito do movimento “Rolezinho”. No segundo parágrafo, predominam verbos do tempo do comentário: “sou” (linha 4), “são” (linha 5). Já na conclusão, podemos observar verbos do futuro do pretérito, empregados como metáfora temporal de validez limitada, indicando suposição. Assim, no que tange aos tempos verbais, observamos que o aluno não se engaja totalmente com o discurso que está sendo proferido.

Quanto aos modalizadores, podemos destacar a expressão “Acredito que” (linha 6) que demonstra pouco engajamento do autor com o que está sendo dito, o que lhe permite eximi-se da responsabilidade de sua asserção. Observamos, também, as expressões “deviam ficar” e “não deveria ser proibido” (linha 6), indicando que o locutor considera o conteúdo da proposição como algo que deve ou precisa ocorrer obrigatoriamente. Ao colocar-se dessa maneira, entendemos que o aluno não favorece uma discussão a respeito da questão polêmica.

Embora o estudante revele seu posicionamento favorável ao “Rolezinho”, ao observarmos a seleção lexical, podemos entender que o movimento é caracterizado negativamente pelo autor. No primeiro parágrafo (linha 1), o “Rolezinho” é definido como “um problema muito grande”. Em seguida, ainda nesse parágrafo, o aluno, admite que nos “rolezinhos”, “muitos vão para zonear ou sequear os shopping” enquanto “outros vão simplesmente para se divertir” (linhas 2 e 3). Observamos que, de acordo com o aluno, “muitos” (linha 2) jovens vão aos “rolezinhos” para cometer crimes, “roubos” (linha 5) e “tumultos” (linha 5), e “outros” (linha 3), que podem ser uma minoria, não se sabe, vão ao shopping para “se divertir com os amigos” ou “para passar o tempo”. Essas asserções apresentam índices avaliativos do autor perante a questão abordada e revelam seu posicionamento.

No que tange ao emprego dos operadores argumentativos, podemos destacar, no primeiro parágrafo, dois operadores. Primeiramente, a conjunção “ou” (linha 3), que promove uma disjunção inclusiva, uma vez que uma das proposições ou ambas podem ser verdadeiras (zonear e/ou saquear). Em seguida, o operador “mas” (linha 3), que, apesar de ter a função de ligar proposições adversativas, neste caso, é empregado com valor aditivo: “muitos vão para zonear ou saquear o shopping e outros vão simplesmente para se divertir com os amigos”. No segundo parágrafo, podemos destacar o operador de conjunção “e” (linha 5), que liga as duas asserções que explicitam o posicionamento do aluno. No último parágrafo, temos novamente o operador adversativo “mas” (linha 6) com valor de adição. O operador “tanto que” (linha 7), utilizado, geralmente, para introduzir uma comprovação (tanto isso é verdade que), é empregado pelo aluno com valor explicativo para justificar a afirmação anterior “Não deveria ser proibido” (linha 6). Observamos, assim, que os conectores estão presentes no texto do aluno, mas não cumprem o papel que lhes são atribuídos,o uso é, pois, inadequado.

Como dissemos à página 65 do Capítulo 2 deste trabalho, de acordo com Garcia 2010, para produzir um artigo de opinião, é necessário assumir uma posição explicitamente direta em relação à questão polêmica e, para isso, é preciso formulá-la de forma clara e objetiva, pesquisar o que já foi dito sobre o tema, inserir a discussão no processo histórico, retomar opiniões de outras pessoas e, principalmente justificar e sustentar a própria posição por meio de argumentos baseados em exemplos, opiniões de especialistas, analogias, comparações etc.

No texto 3, como já observamos, não há uma seleção de argumentos que justifiquem e sustentem a posição defendida pelo autor. Dessa forma, quanto às estratégias argumentativas, podemos dizer que o aluno não promove o debate da questão polêmica e baseia o texto em sua opinião, sem a preocupação com justificá-la. Ao proceder dessa maneira, entendemos que o aluno não demonstra uma preocupação com o convencimento de seu interlocutor e acredita que argumentar significa apenas expor sua opinião sobre um assunto polêmico. Isso contraria o que expusemos à pagina 48 do Capítulo 2 desta pesquisa. De acordo com Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005[1958]), para argumentar é necessário que se tenha apreço pela adesão do interlocutor e valorize seu consentimento, ou seja, não basta argumentar, deve-se buscar a adesão do auditório conquistando-o por meio da persuasão ou do convencimento.