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2.2 ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

2.2.3 Análise setorial

Após haver efetuado uma análise do estado da macroeconomia, o analista pode identificar as implicações da situação identificada em setores específicos. Deste modo, a análise setorial é relevante pela mesma razão pela qual a análise macroeconômica, visto que havendo dificuldade de um setor em obter um bom desempenho quando a macroeconomia está vulnerável, também é raro que a empresa mantenha seu desempenho anterior quando o setor do qual faz parte encontra problemas (BODIE; KANE; MARCUS, 2000).

Conforme sugestão de Kobori (2011), essa análise pode ser feita em consultas nos sistemas de informações financeiras (Cartezyan, AE Broadcast, Bloomberg, Economática), nas entidades de classes setoriais e na mídia especializada. Outra opção reside no fato de que essas informações também podem ser encontradas já analisadas e formatadas nos bancos de investimentos e corretoras.

Destarte, setores diferentes possuem sensibilidades de lucros distintas aos ciclos econômicos que podem ser determinadas por três fatores: a sensibilidade das vendas, a alavancagem operacional e a alavancagem financeira. O primeiro fator se refere a sensibilidade à qual as vendas de uma organização se encontram sujeitas em relação à renda de seus consumidores. Assim, setores que trabalham com necessidades ou nos quais a renda não é um determinante crucial de demanda possuem baixa sensibilidade, enquanto suas contrapartes possuem maior sensibilidade (BODIE; KANE; MARCUS, 2000).

O segundo fator, alavancagem operacional, interfere na sensibilidade dos lucros ao passo em que empresas com quantidades significativas de custos variáveis são menos sensíveis às condições econômicas. Isto se deve à possibilidade que estas empresas possuem

de reduzir seus custos, conjuntamente com a produção, à medida em que as vendas diminuem. Contrariamente, no caso das companhias com grande quantia de custos fixos – e portanto alavancagem operacional – isto não ocorre, havendo um impacto nos lucros em decorrência das oscilações nas vendas (BODIE; KANE; MARCUS, 2000).

Por fim, no que compete ao terceiro fator de influência, a alavancagem financeira, compete ao uso de empréstimos. Neste caso, considerando que o pagamento dos juros sobre as dívidas deve ser realizado independentemente das vendas, os mesmos constituem um custo fixo que aumenta a sensibilidade dos lucros de uma organização às condições econômicas reforçam Bodie, Kane e Marcus (2000).

Assim, como estes fatores possuem influências distintas em setores diferentes, para realizar uma análise setorial é interessante examinar a posição competitiva de um setor em relação a outros ou de uma empresa em relação a outras do mesmo setor. Para tal, pode ser empregada uma análise em corte transversal, através da qual são comparados os índices de uma empresa em relação a outras empresas de seu setor ou à média de determinado setor (GITMAN, 2010).

Contudo, ao efetuar tal análise, Gitman (2010) recomenda atenção no que compete à desvios para ambos os lados do padrão. Isto é reforçado pelo autor pois apesar de haver a concepção enganosa de que a situação da empresa analisada é favorável quando possui um valor melhor do que a média setorial, esta perspectiva pode ser prenúncio de problemas que podem ser identificados com análises mais aprofundadas.

Outra questão relevante reside no fato de as empresas ou setores serem cíclicos ou não-cíclicos. “As indústrias cíclicas (ou setores cíclicos) da economia são assim chamadas com referência à sua vulnerabilidade a variações das condições macroeconômicas e, em particular, ao ciclo de negócios – períodos de recessão e expansão econômica”, sendo um exemplo as de bens duráveis, conceituam Calixto, Oliveira e Kretzer (2015).

Em compensação, as indústrias ou setores não-cíclicos geralmente incluem alimentos, bebidas, roupas básicas, materiais de limpeza, higiene pessoal, eletricidade, gás de cozinha, abastecimento de água e saneamento básico. A demanda por estes bens de consumo não- duráveis tende a permanecer estável, independentemente do comportamento da economia global em determinados períodos (CALIXTO; OLIVEIRA; KRETZER, 2015).

Em razão de todos estes aspectos, “Para selecionar uma empresa, o investidor pode guiar-se pela importância relativa de um setor. Um setor se diferencia de outros por sua contribuição comparativa à economia do país.”, afirma Pinheiro (2016, p. 502). Neste direcionamento, o autor expõe que podem ser comparados os indicadores setoriais em um

determinado período de tempo, como por exemplo: crescimento de vendas, rentabilidade do patrimônio, margem das vendas.

Ainda conforme Pinheiro (2016), podem ser analisados: a regulamentação e aspectos legais; a estrutura da oferta e exposição à concorrência estrangeira; a sensibilidade à evolução da economia; a exposição a oscilações de preço; as tendências a curto e médio prazo e os ciclos de vida dos setores. No que compete aos ciclos de vida dos setores, Pinheiro (2016) e Bodie, Kane e Marcus (2000) apresentam a existência de quatro estágios em um ciclo típico: inicial, de consolidação, de maturidade e de queda relativa.

Conforme Bodie, Kane e Marcus (2000), no estágio inicial há um crescimento muito rápido, visto que o mesmo é geralmente caracterizado por novas tecnologias ou produtos que ainda não saturaram o mercado. Posteriormente, no estágio de consolidação ocorre um crescimento de menor rapidez devido a estabilização do produto e o surgimento dos líderes de mercado, facilitando a apuração da participação no mercado.

O estágio de maturidade se caracteriza por um crescimento de mesmo ritmo à economia em geral, com o produto se tornando mais padronizado, estímulo à concorrência com base nos preços e estreitamento das margens de lucro. Por fim, no estágio de queda relativa o setor passa a crescer em um ritmo menor ao da economia em geral, o que pode ser resultado da obsolescência do produto, da concorrência com novos produtos ou concorrência com fornecedores de baixo custo (BODIE; KANE; MARCUS, 2000).

Conhecidos os estágios concernentes aos típicos ciclos de vida dos setores, ao optar por investir em determinado setor, nem sempre a melhor opção é aquele com alto crescimento. Em casos onde os preços dos títulos já são reflexivos de probabilidades de altos crescimentos já é tarde para obter dinheiro com este conhecimento, além de haver um encorajamento da competição de outros produtores, acreditam Bodie, Kane e Marcus (2000).