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4.2. Análise técnica, social e ambiental da produção de banana orgânica de

4.2.1. Análise técnica: tratos culturais

Os aspectos técnicos no que se refere à prática da bananicultura orgânica foram coletados consoante entrevistas com os 16 produtores de banana orgânica de Itapajé. Foi percebido que esta produção está sendo efetivada nas propriedades inseridas, em condições edafoclimáticas de áreas íngremes.

Sendo uma prática não aceitável, o uso da queima foi abolido no mínimo três anos antes do processo de certificação. Como exposto anteriormente, não há registro de implantação de novas áreas, pois não se verificou à marcação e a abertura de covas.

Também foi extinto o uso da enxada; sobre esta, Moreira (1987, p.151) afirma que “o combate a ervas daninhas em áreas de topografia acidentada deve ser feita com roçadeiras manuais, nunca com enxada. Esta, além de danificar as raízes das plantas, facilita muito a erosão das camadas férteis do solo”.

Em vista disso, detectou-se que os produtores, a respeito da preparação do solo, afirmam conhecer todo o processo de preparo da área para o plantio da bananeira. O plantio, conforme dados levantados, é feito seguindo um espaçamento de 3,0 x 3,0 m entre as fileiras das bananeiras, obedecendo a uma dimensão (largura, comprimento e profundidade) da cova em torno de 0,30 x 0,30 x 0,30 m, perfazendo um total de 1.111 pés de bananeira por hectare (Figura 9).

Figura 9 – Espaçamento de 3,0 x 3,0 metros entre as bananeiras, em junho de 2005. Fonte: Dados da pesquisa.

Os bananicultores realizam o roço, desfolha, adubação orgânica e desbaste na manutenção do bananeiral. Esses tratos representam o maior custo na manutenção do bananeiral.

A operação da desfolha é efetuada para a eliminação de folhas velhas, para possibilitar a entrada de mais luz solar e ventilação no bananeiral. O material extraído da desfolha é colocado entre as fileiras do bananal para servir de matéria orgânica e proteção do solo contra a erosão (Figura 10).

Figura 10 – Tratos culturais de roço e desfolha do bananeiral (notar pontilhado, em branco), em junho de 2005.

Fonte: Dados da pesquisa.

O roço é o corte rente ao solo do mato por meio da foice, sendo feito por ocasião da preparação de novas áreas para o plantio de bananeira e nos tratos culturais de manutenção. Com respeito ao desbaste ou desbrota, trata-se de “uma das operações mais importantes de manejo do bananal; consiste em favorecer o [...] desenvolvimento do único rebento (‘filho’ ou guia), deixando junto à planta-mãe, o qual será responsável pela próxima safra” (RANGEL et al., 2002, p.15). Tal processo constitui-se na retirada de todos os “filhos”, trata-se do chupão (planta precoce que passa a sugar os nutrientes do solo, inibindo o crescimento das mais sadias) que não serão utilizados nas colheitas futuras. Essa operação é realizada na Região através do uso de foice ou facão; entretanto, o recomendado é o uso de uma ferramenta adequada, chamada de lurdinha3 (Figura 11). Outra recomendação é que esses instrumentos devem ser desinfectados para evitar transmissão de doenças.

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A lurdinha é um instrumento desenvolvido no Instituto Agronômico de Campinas em 1967, pelo pesquisador Raul Soares Moreira, trata-se de um instrumento muito eficaz na operação do desbaste, que reduz o tempo à metade das outras ferramentas.

Figura 11 – Lurdinha, aparelho utilizado para o desbaste da bananeira. Fonte: Adaptado de Padovani (1989).

Os 16 bananicultores efetuam os mesmos tratos culturais, tais como roço, desfolha, desbaste e adubação orgânica, divergindo somente na freqüência com que os executam. Tais técnicas são aplicadas conforme a necessidade do bananeiral e a disponibilidade de recursos por parte do produtor, podendo ser efetuadas até duas vezes ao ano (Quadro 2).

Distribuição dos produtores, e respectivas porcentagens, por tipos de tratos culturais

Tratos culturais

01 vez/ano Percentual de produtores

02 vezes/ano Percentual de produtores Roço/desfolha 11 produtores 68,8% 5 produtores 31,3%

Desbaste 13 produtores 81,3% 3 produtores 18,8%

Adubação orgânica 16 produtores 100% - -

Quadro 2 – Execução dos Tratos Culturais Roço/Desfolha e Desbaste, realizados anualmente pelos produtores de banana orgânica de Itapajé - CE

Adicionalmente, foi evidenciada a utilização da mão-de-obra familiar ou remunerada (diária de R$ 10,00). Em nenhuma hipótese, houve registro do emprego de adubos, fertilizantes químicos e ou agrotóxicos.

Não existe o uso de defensivos naturais, não obstante ao registro do uso do neen da índia (Azadirachta indica) e do fumo na propriedade Sítio Espírito Santo, na localidade de Santa Cruz.

A maior colheita da fruta se dá, de forma mais intensa (maior produção) no período de estiagem, reduzindo-se no período chuvoso. A banana é transportada, via de regra, no lombo de jumentos, em virtude da acidentalidade do relevo, em caixas plásticas (prática mais comum) ou em surrões (embalagens confeccionadas artesanalmente de palha de carnaúba), (Figura 12). Cada carga compreende em torno de 700 bananas, dispostas em pencas (palmas). A operação de lavagem do produto é feita com água e detergente neutro para em seguida ser colocado o selo que identifica o produto como orgânico.

Figura 12 – Transporte dos frutos, em junho de 2005. Fonte: Dados da pesquisa.

Em razão da ineficiência dos tratos culturais, ausência de irrigação que causa o estresse hídrico no segundo semestre (período de estiagem), ausência de reposição de nutrientes (NPK, por exemplo), bem como a alta declividade do relevo e a existência de solos pedregosos (quase sempre) e poucos profundos, com relevo íngreme, além da exploração de um bananeiral velho, são fatores que levam à baixa produtividade registrada pelos associados da AFMI, onde num espaçamento de 3,0 x 3,0 metros, têm-se um total de 1.111 pés de bananeira por hectare, com uma média de 74 frutos por cacho, resultando numa produção de 82 milheiros por hectare/ano.

Adicionalmente, não há o controle de pragas e doenças, culminando para uma baixa produtividade, comparada à registrada pelos perímetros irrigados, por exemplo, no distrito de irrigação Jaguaribe – Apodi (DIJA), onde se atinge 266 milheiros por hectare/ano, correspondendo à 40 toneladas por hectare ano.

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