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Análise dos Temas Relevantes para Compreensão do Autismo no contexto psicanalítico brasileiro atual

Eixo 2- Temas relevantes para compreensão do autismo no cenário psicanalítico brasileiro:

5.2. Análise dos Temas Relevantes para Compreensão do Autismo no contexto psicanalítico brasileiro atual

A prática psicanalítica sobre o autismo desenvolvida no Brasil suscita inúmeras reflexões e questionamentos, os quais procuramos abordar nas entrevistas com as profissionais da área.

Por meio de seus relatos, notamos linhas de regularidades nos discursos, ou seja, pontos em comum e consensuais, destacados pelas entrevistas e que serão abordados inicialmente. Contudo, algumas temáticas são passíveis de entendimentos diversos, as quais serão discutidas na sequência. Além disso, com o objetivo de propiciar uma melhor apresentação, as contribuições das profissionais foram distribuídas por tópicos, segundo as temáticas contempladas no Eixo 2.

1- Mudanças em relação à forma pela qual o autismo tem sido compreendido ao longo dos anos:

De modo geral, um dos aspectos abordados pelas psicanalistas se associa ao surgimento de uma maior ênfase no aspecto biológico do autismo, nas últimas décadas, com o aparecimento de explicações genéticas e organicistas, culminando em um aumento do recurso aos psicofármacos, como aponta a entrevistada Angélica Bastos, em seu trabalho “Medicação e Tratamento psicanalítico do Autismo”:

Assiste-se com freqüência ao endereçamento de um pedido de alívio imediato e avesso à mediação da palavra por parte de mães e pais de crianças autistas, e também por parte de profissionais encarregados da educação e da reabilitação desses pacientes. Em proveito da eliminação de distúrbios (do sono, da motricidade, da alimentação), esse pedido ignora a escuta, fazendo calar a todos antes mesmo que a fala produza os efeitos que identificamos, a partir da invenção freudiana, como o inconsciente. (BASTOS, 2003, p. 26).

Conforme assevera Conceição Araújo, ao mesmo tempo em que o aperfeiçoamento dos recursos da medicina esclareceu sobre a constituição neurológica e as bases biológicas do autismo, houve uma perda do olhar sobre as questões do relacionamento. A psicanalista entende que a existência e a comprovação de uma questão biológica e neurológica envolvida na etiologia do autismo não pode tamponar ou sobrepor-se à questão relacional, podendo agravar os quadros da criança.

De acordo com o relato de Ana Beatriz Freire, atualmente existem determinadas psicopatologias da infância que são diagnosticadas erroneamente como autistas, porque os pacientes que são encaminhados para o tratamento são superficialmente diagnosticados:

“Recebemos pacientes que são rapidamente diagnosticados, porque virou o significante quase do discurso da medicina e do Mestre, como Lacan diria, então às vezes tem rápidos diagnósticos.” Por isso, pode-se pensar que o aumento do número de crianças diagnosticadas

dentro do “Transtorno Autista” está correlacionado à forma como tem sido feito o diagnóstico dessas crianças, o qual é muitas vezes elaborado sem o cuidado necessário. Por sua vez, os pais têm cada vez mais procurado formas de tratamento com resultados imediatos, como uma tentativa de aliviar o sofrimento decorrente das angústias mobilizadas no convívio com os modos de expressão da subjetividade autista.

Como consequência, assistimos ao surgimento de uma profusão de métodos e de abordagens, nos últimos vinte anos, advindos das terapias cognitivo-comportamentais, conforme menciona Maria Cristina Kupfer: “O número de abordagens e métodos aumentou

significativamente, assim foram criados métodos específicos como o Son-Rise, o TEACCH e o ABA, os quais surgiram nesses últimos 20 anos”.

Para melhor situar historicamente o advento de tais métodos, gostaríamos de remeter ao artigo “Transtorno, sintoma e direção do tratamento para o autismo” (2007), incluído nas fontes documentais desta pesquisa, onde os autores (CALAZANS; MARTINS) versam especificamente sobre a “práticas entre vários” e o método TEACCH (Treatement and

Education of Autistic and related Comunication Handicapped Children), sobre o qual nos

Segundo os autores, o método TEACCH foi criado na década de 1960, em uma clínica de tratamento originalmente com enfoque psicanalítico:

[...] os terapeutas dessa clínica rejeitam o ponto de vista da psicanálise americana (em especial o ponto de vista de Bruno Bettelheim, para quem o autista é uma fortaleza vazia) sobre a etiologia e o tratamento do autismo. Questionam o que eles chamam de culpabilização dos pais como causa e a orientação de Bettelheim de tratamento diferenciado para os pais e para as crianças autistas. (CALAZANS; MARTINS, 2007, p. 148).

Dessa forma, observa-se o entendimento do autismo como um “Transtorno”, onde o tema passa a ser concebido como uma disfunção biológica, de causa desconhecida, tendo como resultado uma série de sintomas, definidos como “déficits”.

Por esse programa, os pais passam a ser “desculpabilizados”, participando do tratamento ativamente. Com a participação dos mesmos, pretende-se atingir determinadas metas, sempre visando à adaptação dos indivíduos (no caso, as crianças autistas) através da modificação e adequação do ambiente às suas dificuldades e do desenvolvimento de atividades previamente estruturadas, repercutindo no estabelecimento de uma rotina rígida.

Assim, os pais são transformados em agentes especializados e as crianças autistas passam a ser submetidas à observação e manipulação constante, objetivando o desaparecimento dos comportamentos considerados indesejados:

Essa transformação dos pais em agentes especializados é a característica mais patente e estimulada no programa TEACCH [...] Mais uma vez, controle total para evitar advir o que possa transtornar. Desse modo, o sujeito é submetido a um olhar constante, seja dos terapeutas, seja dos pais. Todos os seus movimentos são registrados, cifrados, mas em momento algum se pergunta sobre o porquê da resposta subjetiva dos autistas. (CALAZANS; MARTINS, 2007, p. 149).

Por outro lado, a entrevistada Maria Izabel Tafuri aborda a mudança sobre a compreensão do autismo, ao longo dos anos, dentro do saber psicanalítico. Ressalta a autora:

“Até a década de 1980, entendíamos os autistas como uma modalidade de psicose – quase todos os psicanalistas pensavam dessa forma. Depois passamos a ver o autismo como uma clientela à parte disso, diferente dos pacientes psicóticos”. Atualmente, existem autores que

consideram o autismo como uma quarta estrutura, pensamento este não compartilhado por ela. No que tange ao tratamento das crianças autistas, Tafuri aponta como uma mudança significativa a maior flexibilidade dos psicanalistas, os quais estão mais abertos aos outros campos do saber, como, por exemplo, as neurociências e a psiquiatria: “[...] penso que os

criar equipes interdisciplinares, de conversar mais com as neurociências e ter uma conversa mais estreita com os psiquiatras, isso tem mudado bastante”.

Por fim, Katia Monteiro observa que, nas últimas décadas, houve um aumento de publicações sobre o autismo em diversos campos do conhecimento: “É no ano 1990,

exatamente dos anos 1990 a 1995, que passamos a encontrar uma produção muitíssimo maior nessa área de autismo, onde você se depara com diversos profissionais e não só na área da saúde, mas também na área da educação trabalhando com esta clientela”. Como

consequência do aumento do interesse sobre a Saúde Mental da infância e da juventude, os municípios foram se organizando e, no final da década de 1990, surge o primeiro Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil – CAPSi Pequeno Hans, inaugurado no Rio de Janeiro, em setembro de 1998.

Para a entrevistada, a preocupação com as psicopatologias da infância nas últimas décadas repercutiu também dentro do campo psicanalítico, onde se pôde notar o incremento de profissionais empenhados no estudo e na prática clínica e institucional com as crianças autistas:

[...] dentro da própria psicanálise, você vê o incremento maior de profissionais em formação que começam a se interessar pelo trabalho da psicanálise com crianças e com crianças autistas e psicóticas. Surgem iniciativas que darão origem a diversos eventos científicos, a diversas associações de pais.

Em decorrência, de acordo com os profissionais entrevistados, o avanço das pesquisas genéticas e a consequente “biologização” da vida, ao mesmo tempo em que esclarecem as bases neurológicas e genéticas envolvidas no autismo, criam dificuldades em perceber essa criança em sua idiossincrasia. Outrossim, a ênfase nos déficits oriundos desse “transtorno” pode acarretar uma desmotivação por parte dos pais e cuidadores em se permitirem conhecer as potencialidades dessas crianças. Os rápidos diagnósticos, assim como a busca por um tratamento igualmente breve e eficiente, criaram uma profusão de métodos pautados nas Terapias Cognitivo-Comportamentais, que reafirmam, muitas vezes, a visão de déficit e de sintoma.

No campo psicanalítico, assiste-se, nas últimas décadas, a uma abertura dos psicanalistas ao diálogo com outras áreas do conhecimento, possibilitando um maior estreitamento entre as áreas. Além disso, a partir de 1990, houve um aumento do interesse no estudo das crianças autistas, em decorrência de alguns fatores quais sejam: atenção crescente aos estados primitivos da mente, por parte da psicanálise; maior incidência de crianças em que

prevalecem quadros clínicos regressivos, cujo autismo se tornou um paradigma, dado o seu reconhecimento social e o surgimento de políticas públicas direcionadas a essa população.

2- Contribuição(ões) da psicanálise para o entendimento e tratamento do autismo: De todas as temáticas abordadas, o tópico ora em apreciação foi um dos mais consensuais, haja vista que as profissionais entrevistadas são unânimes em destacar as contribuições da psicanálise, no tratamento e no entendimento do autismo.

Conforme relata Angélica Bastos, trabalhar dentro de uma concepção psicanalítica é considerar que antes de qualquer sintomatologia há um sujeito ali implicado, ou seja, é “[...]

tratar o autista como sujeito, apostar que há uma subjetividade”. Por conseguinte, a

psicanálise vai retirar do lugar de déficit a criança autista, positivando a sua forma de existência e vislumbrando um olhar diferenciado sobre o modo como se colocam frente ao Outro, tal como aponta Kátia Monteiro:

A psicanálise vai retirar do lugar de déficit a criança autista e psicótica. A riquíssima sintomatologia descrita por Kanner como as estereotipias, a ecolalia são tomados pela psicanálise como trabalho da criança em uma tentativa de fazer frente a seu Outro invasor, da demanda que é sentida pelo autista como invasora. Desta forma, os sintomas observados no autismo não são entendidos como algo deficitário. Encontramos o TCC que entenderá como déficit cognitivo e para isso é preciso recuperar o que foi perdido.

Na mesma linha de pensamento, Ana Beatriz Freire e Maria Izabel Tafuri ressaltam que a psicanálise, ao contrário de outros campos “psi”, não pretende eliminar os sintomas ou proceder a um tratamento baseado em técnicas psicopedagógicas e médicas, para que a criança autista se torne apta a exercer suas atividades em sociedade. Segundo Tafuri, a psicanálise

[...] não é um tratamento que vai ensinar a criança a comer, andar e a falar, ou seja, não é um tratamento educativo, é um tratamento que vai lidar com a sua constituição, com o ego, com o desenvolvimento da personalidade, com todas as questões humanas dessa criança.

Conforme aponta Ana Beatriz Freire, tal compreensão se deve ainda ao fato de a psicanálise enfrentar a questão do autismo, quer dizer, ela não recua diante da impossibilidade e “[...] enfrenta a questão, propondo inventar outras formas de diálogo com o Outro, com

aquilo que a princípio é invasivo, avassalador, como o autismo, e vimos muitos resultados, muitos bons resultados.” Outra contribuição do conhecimento psicanalítico abordada pela

causa e efeito no nível da culpa, ou seja, no sentido de que a criança se constitui desse modo em razão dos pais, os quais, muitas vezes, são implicados e estão em sofrimento.

A importância da psicanálise para o tratamento do autismo e seus familiares também é salientada por Conceição Araújo, cujas reflexões foram trazidas à luz do referencial teórico de Winnicott. A entrevistada examina que, ao tratar da criança autista e de sua família nos Serviços Públicos, como, por exemplo, nos CAPSi, é preciso ampliar a clínica e superar a visão da psicanálise tradicional, pois a família tem que dar continuidade ao trabalho, o que só é possível quando os familiares passam a compreender a importância do ambiente e de sua relevância terapêutica:

Porque, se a família começa a entender isso, ela vai saber trabalhar essas questões também, o que eu acho fundamental. É por isso que eu acredito que a psicanálise, especificamente a linha winnicotiana, permite uma abertura muito grande, porque sai daquela questão tradicional da criança ir ao atendimento cinco vezes por semana só com o terapeuta, o qual não fala nada para o pai e a mãe... Acho que permitiu que a gente pudesse modificar essa forma de atendimento e ampliar a clínica.

Além disso, Conceição enfatiza que, independentemente da linha teórica, a psicanálise desenvolve um trabalho diferenciado no tratamento das crianças autistas, caracterizando-se por ampliar o setting analítico realizado em consultórios para se dedicar a uma prática psicanalítica efetuada no interior de instituições: “Todos têm a sua importância e estão se

desenvolvendo no sentido de sair propriamente do trabalho realizado estritamente em consultório para um trabalho que possa ser feito em instituições e na Atenção Primária , por exemplo”.

Por fim, Maria Cristina Kupfer refere que, embora a psicanálise não seja precisa no que tange à explicação etiológica do autismo, sua contribuição é fundamental por levar em conta a relação e a constituição de um laço social, o qual, segundo a autora, não existe no autismo:

Ela tem uma contribuição fundamental, uma vez que ela coloca o olhar na relação, no laço, onde reside a especificidade do autismo, ou seja, é realmente um laço que não se faz. A psicanálise realiza uma leitura da dimensão pulsional, libidinal, sexual, tendo uma grande produção a respeito da construção da sexualidade infantil e como a gente sabe que é esse o ponto preciso de construção que a gente não vê no autismo, faz toda a diferença.

Em síntese, podemos agrupar as contribuições da psicanálise para o atendimento da criança autista em duas grandes áreas: na forma de compreensão do diagnóstico e no desenvolvimento de estratégias de tratamento.

Portanto, de acordo com o relato das entrevistas, pudemos constatar que a contribuição da psicanálise para o entendimento e tratamento das crianças autistas é indiscutível. A descrição sintomatológica pertencente ao quadro de autismo infantil adquire uma concepção ampliada, promovendo um olhar mais potente e menos deficitário. Desse modo, a psicanálise diferencia-se de outras formas de tratamento, por não tamponar os sintomas por meio, por exemplo, de técnicas de ajustamento e aprendizagem.

Por outro lado, o tratamento com as crianças autistas e seus familiares em instituições exige que a psicanálise modifique seus pressupostos tradicionais de setting analítico, tendo em vista a peculiaridade desse trabalho. A necessidade da atuação conjunta com os familiares, o trabalho em equipe multidisciplinar, a articulação com as políticas públicas de saúde e a descontinuidade muitas vezes ocorrida nos atendimentos com as crianças autistas são um dos desafios da interface psicanálise-instituição e, mais especificamente, da prática psicanalítica institucional com essas crianças.

3- Práticas psicanalíticas institucionais voltadas ao tratamento e escolarização de crianças com autismo:

Segundo Abrão (2001), em um breve olhar histórico acerca da articulação entre psicanálise com crianças e práticas institucionais, no Brasil, a introdução dessa especialidade no país se deu entre as décadas de 1930 e 1940, por meio de Clínicas de Orientação Infantil que inicialmente ofereciam psicodiagnóstico às crianças com dificuldades escolares e orientação a pais e professores. Entre as décadas de 1940 e 1950, dedicaram-se, de forma precursora, à psicoterapia psicanalítica com crianças.

Apesar do caráter inovador representado pelas práticas introduzidas por essas instituições, ao associarem a atenção à criança à teoria psicanalítica, tais iniciativas foram descontinuadas na década de 1960, seja pela conjuntura política do país, seja em decorrência do redirecionamento das ações psicanalíticas para dentro das recém-criadas Sociedades de Psicanálise.

Como explicitado no decurso desta dissertação, desde a década de 1990 houve um crescimento das práticas psicanalíticas institucionais dedicadas ao tratamento e escolarização de crianças autistas. Quando questionadas quanto a essas práticas, todas as profissionais

entrevistadas consideram fundamental o trabalho com essas crianças em instituições norteadas pelo referencial psicanalítico.

Para Conceição Araújo, a importância desse trabalho reside na peculiaridade de essas instituições possibilitarem que as crianças autistas encontrem um modo de ser, sem objetivar enquadrá-las em padrões pré-concebidos do que seria uma criança normal:

Eu penso que são experiências importantes, especialmente porque eu sinto que há uma preocupação com o ser dessa criança, e eu acho que isso é fundamental: poder se aproximar disso, não achar que a criança tem que ser enquadrada, não achar que o importante é que ela se ajuste a tudo que a gente acha que ela deve se ajustar. Penso que o mais importante é possibilitar essa compreensão, ajudar as famílias com as suas angústias as quais, muitas vezes, faz com que busquem esses trabalhos que vão de algum modo formatar suas crianças, ou medicá-las de uma forma que elas fiquem boazinhas e ajustadas.

Na mesma direção, Angélica Bastos sustenta que a clínica do autismo tem que ser inventada a partir da trajetória profissional do clínico e da equipe, e nesse aspecto o trabalho psicanalítico desenvolvido em instituições com crianças autistas torna-se essencial: “Eu acho

muito interessante a experiência, pois mostra que o tratamento do autismo tem que ser inventado dentro do estilo e da formação das pessoas, que não é possível trabalhar com protocolos fixos, uma vez que depende muito da criança, do clínico e da equipe”.

Por sua vez, Maria Cristina Kupfer destaca a importância do trabalho em equipe realizado no interior dessas instituições: “É muito importante que a gente trabalhe

institucionalmente, porque o trabalho com a criança grave é muito difícil, o trabalho individual é quase insustentável”. Conforme seu relato, a autora refere que muitos

psicanalistas, cujo trabalho era efetuado individualmente em clínicas particulares, estavam adoecendo por não compartilhar e discutir aquilo que era transmitido pela criança autista, a qual também se beneficia ao permanecer na instituição com outras crianças:

Então, a instituição é um lugar de “partilhamento”, não que você vá deixar de se responsabilizar pela criança que você atende, pelo contrário, você continua se responsabilizando, sustentando a transferência. Mas a possibilidade de discussão e de poder aliviar os momentos de angústia é extremamente importante. Além disso, fui percebendo a importância da própria criança estar na instituição, com outras crianças.

Katia Monteiro aponta, com base em sua prática clínica-institucional vivida no Ateliê Espaço Terapêutico, que o trabalho com as crianças autistas efetuado nas instituições não deve perder de vista o percurso particular dessa criança e para tal é preciso promover um

trabalho preliminar para que a criança autista consiga suportar a demanda advinda do Outro e construir a sua própria:

Nesta direção é imperativo a construção de uma clínica que sustente o percurso singular dessa criança na elaboração de sua solução particular, ou seja, na construção de suas marcas subjetivas. Um trabalho preliminar é necessário para que a criança possa suportar a demanda do Outro ou mesmo vir a construir uma demanda própria. Esse é o trabalho que realizamos no Ateliê Espaço Terapêutico, aqui no Rio de Janeiro.

Ana Beatriz Freire acredita que o trabalho psicanalítico com crianças autistas no contexto nacional é imprescindível e necessita maior ampliação, haja vista que, embora reconheça que os CAPSi estejam criando uma rede importante no tratamento das crianças autistas sob uma perspectiva psicanalítica, a autora refere seu desejo de que existissem mais iniciativas como essas: “Eu gostaria que existissem mais, que a rede se ampliasse”.

Por fim, seguindo a mesma linha de pensamento, Maria Izabel Tafuri analisa que, a despeito de haver um aumento do trabalho psicanalítico-institucional dedicado a essa população, há uma dificuldade financeira no que tange aos incentivos públicos destinados à criação de serviços interdisciplinares:

Acho que tem aumentado as iniciativas na área da psicanálise de criar as equipes interdisciplinares e criarem os serviços. A grande dificuldade é mais econômica do que de base, porque nós não temos muitas condições junto ao governo [...]. Então, é muito complicado você manter economicamente uma estrutura de uma clínica interdisciplinar, mantida só na área “psi”.

Nesse sentido, pode-se inferir que as práticas psicanalíticas institucionais destinadas às crianças autistas no Brasil, seja no âmbito público, seja no privado, têm se tornado