• Nenhum resultado encontrado

3 METODOLOGIA

3.2 A análise textual discursiva

Para a análise das informações coletadas nas entrevistas, foi empregada a Análise Textual Discursiva, que Moraes (2003) define como um ciclo que ocorre em três fases com o objetivo de construir um metatexto que contenha os entendimentos e novas compreensões do autor após cuidadoso contato com o material a ser analisado. Serão apresentadas as características do ciclo da Análise Textual Discursiva com base no trabalho Uma tempestade de luz: a

compreensão possibilitada pela Análise Textual Discursiva, de Roque Moraes.

As três fases do ciclo da Análise Textual Discursiva são, segundo Moraes (2003), a unitarização, a categorização e a construção de um metatexto pelo pesquisador.

O autor faz uma breve reflexão sobre leitura e significação de um texto. Para ele, um texto pode assumir diferentes significados, dependendo de quem o lê e de suas intenções e, também, dos referenciais teóricos adotados por cada leitor. Além disso, há significados que podem ser facilmente entendidos e compartilhados por vários leitores, enquanto outros provêm de uma interpretação mais profunda e que é mais difícil de ser compartilhada. Além disso, o autor salienta que é importante, principalmente em pesquisas de cunho etnográfico ou fenomenológico, o pesquisador realizar uma leitura a partir da perspectiva do outro.

Moraes (2003) denomina como corpus as informações de uma pesquisa que se deseja analisar. No caso da análise textual, o corpus é composto, essencialmente, por produções textuais. Contudo, o autor compreende o termo texto como algo mais amplo, incluindo também imagens ou expressões linguísticas. Moraes (2003) também compreende o termo dado de outra forma, interpretando que, como toda leitura é feita a partir de um referencial teórico, seja ele intencional ou não, todo dado de uma pesquisa é, na verdade, uma construção realizada a partir do entendimento de uma leitura.

O primeiro passo da Análise Textual Discursiva é a unitarização, processo que Moraes (2003) também denomina desconstrução. Nessa etapa, deve-se realizar uma fragmentação do texto, dando atenção aos detalhes, para que seja possível perceber os diferentes sentidos do texto. Dessas fragmentações, surgem as unidades de análise, que são definidas em função dos objetivos do trabalho. O autor destaca que a fragmentação do texto tende à descontextualização. Dessa forma, as unidades de análise devem possuir um título que expresse com clareza sua ideia central.

Uma análise qualitativa implica a necessidade de amplo envolvimento com o texto. A etapa de unitarização da Análise Textual Discursiva é o momento em que o pesquisador tem a oportunidade de manter contato profundo com o material de análise. Tal envolvimento é necessário para a construção de novas compreensões do texto por parte do pesquisador.

A unitarização é a etapa que propicia um processo de desorganização do material para, nas próximas etapas, buscar novas compreensões e uma nova organização. Dessa forma, Moraes (2003) entende que a leitura com profundidade do texto requer a construção de compreensões, a partir da utilização de referenciais teóricos, e a exploração do texto sob outros pontos de vista.

A categorização, segunda etapa da Análise Textual Discursiva, consiste em um processo de comparação das unidades de análise e agrupamento de elementos semelhantes. Nesse processo, as categorias construídas devem ser nomeadas na medida em que são construídas, buscando uma precisão cada vez maior.

As categorias construídas pelo pesquisador são elementos que organizam o metatexto que será elaborado posteriormente, na última etapa da Análise Textual Discursiva. Moraes (2003) fala sobre alguns métodos para a elaboração dessas categorias, sendo esses o método dedutivo e o método indutivo. O método dedutivo consiste em um movimento do geral para o particular, sendo que as categorias são estabelecidas antes da análise do texto. O método indutivo implica em começar do particular para chegar ao geral. Nesse método, as categorias são construídas em conjunto com a análise do texto. Há

a possibilidade, ainda, de mesclar ambos os métodos. Dessa forma, há categorias escolhidas previamente, mas que podem ser transformadas a partir da análise das informações.

Moraes (2003) também fala das propriedades das categorias, revelando que não há uniformidade entre os pesquisadores da área sobre a elaboração das categorias. Entretanto, o autor comenta sobre um ponto em que não há maiores divergências, que é a validade das categorias. Para ele, uma categoria é válida quando representa adequadamente as informações nela contidas ou quando o autor se sente representado por essa categoria.

Além disso, o pesquisador lembra a importância da homogeneidade das categorias. Ou seja, as categorias devem ser elaboradas a partir de um mesmo princípio e comenta também que se deve evitar a exclusão mútua, que é o fato de um elemento ser enquadrado sozinho em uma categoria. Como para o autor a leitura de um texto implica em uma interpretação, é possível enquadrar certo elemento em diversas categorias, fazendo com que a exclusão mútua perca o sentido.

Por fim, a última etapa da Análise Textual Discursiva é a construção do metatexto pelo pesquisador. De acordo com Moraes (2003), o objetivo da Análise Textual Discursiva é a construção de um metatexto e todas as suas etapas convergem para esse objetivo.

Moraes (2003) afirma que, ao empregar a Análise Textual Discursiva, diversos tipos de textos podem ser construídos ao fim de uma análise. Tais textos podem ser mais descritivos, mais próximos do texto original, ou mais interpretativos, mais distantes do texto original e com um processo de abstração mais profundo. O autor lembra que, em qualquer metatexto produzido, há o caráter de incompletude, característico dessa metodologia. Assim, a partir de críticas e reflexões constantes sobre o metatexto, esse é aprimorado, aproximando-se cada vez mais de maior rigor e clareza.

De acordo com Moraes (2003), o metatexto não se resume a um apanhado do texto ou de montagens das categorias. O metatexto é construído a partir de processos intuitivos e deve ser constituído por algo importante que o

pesquisador tenha a dizer. Nessa etapa, o pesquisador deve construir e sustentar seus próprios argumentos.