4. Operacionalização do Estudo 36
4.6. Análise transversal às 4 etapas 81
Quatro etapas depois do início do estudo, o investigador, com suporte de dois monitores da equipa FÁBRICA, chegou a resultados preliminares. Tinha-‐se definido para o objetivo geral a criação de uma solução de comunicação multimédia que promovesse o estabelecimento de relações entre os membros da equipa do centro de ciência, os visitantes e os interessados em divulgação de ciência.
A análise dos registos durante o período de observação em 5 escolas distintas, de 4 dos 11 municípios que integram a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), em 7 turmas diferentes (ao considerar a etapa 0 de acompanhamento), das quais se isolaram 4 pequenos grupos mistos de meninos e meninas, do 2º, 3º e 4º anos do 1º Ciclo do Ensino Básico, num total de 22 crianças em contato direto com o protótipo da aplicação (selecionados com critérios antes explicados e em conjunto com os professores), revela indícios suficientes para responder às questões de investigação que pretendiam saber se “os visitantes querem realmente participar num modelo participativo, através de uma instalação física, com conceitos de uma atividade de ciência que lhes possibilita contribuir com conteúdos audiovisuais?” e se “estando nessa disposição, qual o interesse e o nível de participação dos utilizadores perante o protótipo, de dinâmica colaborativa, audiovisual, no espaço expositivo FÁBRICA?” além de procurar saber “como implementar uma instalação atrativa, que ofereça a oportunidade aos visitantes de se expressarem?”.
O Gráfico 5 mostra os dados transversais a todas as etapas de observação. As participações das sessões apresentam-‐se somadas por etapa. As participações relativas às quatro questões da última etapa, estão igualmente somadas para obtenção do número total de preferências. Os dados são indicativos do número de escolhas, por cada opção, fornecidas pelos participantes do estudo.
Gráfico 5: Dados das 4 etapas de observação. Números de participações acumulados por etapa. Número de participações acumulados nas 4 questões da 4ª etapa.
0" 2" 4" 6" 8" 10" 12" 14" 16" 18" Morcego" Luz" Matemá5ca" Golfinho" Quero"responder" Quero"ver"respostas" Ouvir"um"cien5sta"" Ouvir"crianças" Cien5sta"Masculino" Cien5sta"Feminino" Gravar"resposta" Co nte úd os "q ue "g er am "p ar 5c ip aç ão " Pr ef er ên ci a" en tr e" Conteúdos"que"geram"par5cipação" Preferência"entre"
Morcego" Luz" Matemá5ca" Golfinho" Quero"responder" Quero"ver"respostas" Ouvir"um"cien5sta"" Ouvir"crianças" Masculino"Cien5sta" Feminino"Cien5sta" Gravar"resposta"
Etapa"4" 17" 5" 12" 9" 15" 7" 1"
Etapa"3" 2" 1" 1" 1" 3" 1" 1"
Etapa"2" 7" 3" 9" 3" 6" 3" 4"
Etapa"1" 1" 3" 2" 2"
O conjunto das participações reflete uma tendência que de seguida se apresenta por ordem, da preferência mais acentuada para a menos acentuada:
• “Quero Responder”; • “Ouvir um Cientista”;
• “Cientista Masculino”;
• “Ouvir Crianças”;
• “Cientista Feminino”.
Podem retirar-‐se várias informações desta tendência: “Quero responder” no topo das preferências faz acreditar no êxito da introdução de perguntas. As crianças estiveram na disposição de dar respostas. Por outro lado, a Tabela 15 mostra uma série de sugestões de novas questões levantadas pelos participantes.
Apesar da opção “Gravar Respostas” não registar no Gráfico 5 muitas ocorrências, foi fundamental. Ninguém optou por escrever uma resposta. As respostas surgiram por impulso antes de ter sido acionada a opção “gravar”, por entusiasmo. Caso tivessem sido as crianças a manusear a aplicação sozinhas, teria sido um passo incontornável.
Parece indispensável a figura de “cientista”, designadamente do género masculino. A figura da “cientista feminina” foi também indicada algumas vezes como preferência mas em menor número. Parece importante a inclusão dos vídeos de várias crianças para a diversidade de opções, pelo despertar da curiosidade, como se verificou, especialmente, nas duas primeiras questões da última etapa.
Tabela 15: Número de questões sugeridas pelas crianças em cada etapa
Questões sugeridas pelas crianças Etapa 2 sessão 1
Etapa 2
sessão 2 Etapa 3 Etapa 4
O que são sensores? 2
Quais foram os cientistas que criaram todos os robôs? 1 Que cientista é que criou o primeiro robô? 1
Que tipo de robôs há? 1
Quais são as peças para construir os robôs? 1 O que é que os carros têm a ver com os robôs? 2
Quando acendem as luzes? 1
Quais os objetos que têm alguma relação com os robôs.
E também quando? 1
Como são feitos os robôs? 1
Para que é que servem os robôs? 1 Com que material se pode fazer um robô? 1
Ao ter sido apresentado um maior leque de conteúdos, foi possível gerar um maior conjunto de participações, durante a quarta etapa. Nas etapas 2 e 3, com a presentação de menos opções, não se verificaram tão diversas respostas, nem tão grande número de propostas de novas questões. Porém, em qualquer das situações, foi possível registar novas sugestões.
Os dados sugerem pois, que os visitantes da FÁBRICA querem efetivamente participar (num modelo participativo) com conceitos de uma atividade de ciência e estão dispostos a contribuir com conteúdos audiovisuais, mantendo, em todas as etapas, interesse – medido em “quero responder” e em ver/ouvir vídeos disponíveis na aplicação. Serão, então, usados estes recursos na materialização da proposta para implementar uma instalação, com oportunidades de contributos.
Para o problema de investigação inicialmente levantado — como chegar a um modelo de participação bem-‐sucedido (gerando participação colaborativa) e como implementar uma instalação atrativa, que ofereça a oportunidade aos visitantes de se expressarem, onde o conteúdo possa ser criado pelos visitantes e partilhado com todos — a análise dos dados esclareceu acerca de mecanismos implícitos na participação ativa e/ou colaborativa das crianças. O estudo realizado revelou, com o indicador “Quero Responder” — a opção mais recorrente em qualquer das etapas —, uma predisposição para a participação e vontade de contribuir através de conhecimentos adquiridos, individual ou coletivamente – nomeadamente em colaboração —, com conteúdos AV.
Com efeito, seria necessária a implementação da instalação física na FÁBRICA, para a obtenção de novos dados e uma maior profundidade de análise para o estudo. Entretanto, parece razoável que se implemente a instalação (conforme capítulo “Proposta de um Modelo de Participação” e com base nos resultados alcançados), dando solução ao problema levantado, na medida em que, através da metodologia adotada, foi possível chegar a um modelo de participação colaborativa preliminar. As perguntas e respostas funcionaram como conteúdo integrado que permitiu envolver os visitantes. Também as observações complementares foram relevantes na verificação do envolvimento. Este foi medido pelo interesse em responder e perguntar; em ver e ouvir vídeos publicados; em ver publicados novos conteúdos; em ver o módulo final e até mesmo em visitar a FÁBRICA, tendo-‐se gerado resultados positivos.
Muito interessante é acrescentar — à suposição, confirmada, de que os visitantes podem com sucesso, fornecer conhecimentos a outros visitantes e acrescentar algo de útil —, que, além do interesse por vídeos de outras crianças disponíveis na aplicação, os grupos se interessaram especialmente por trabalhar em conjunto – pares de um mesmo grupo. Apesar de a componente vídeo ter tido um papel indispensável, cumprindo o objetivo de estabelecer e promover o diálogo entre visitantes e acerca das suas experiências, foi possível perceber preocupações pelo trabalho de equipa equilibrado e equitativo (etapa 2, sessão 2), dispensando mesmo ouvir outras crianças (vídeos) antes de ser apresentada uma resposta explorada e trabalhada pelo grupo.
Conclui-‐se, pois, que os vídeos estimularam a colaboração entre pares, numa relação interpessoal, a partir dos conteúdos eletrónicos. Embora de modo mais espontâneo do que organizado, na etapa 4, questão 4, depois de o grupo concordar em deixar de ouvir crianças em favor de cientistas, formou uma resposta desenvolvida em conjunto — em colaboração —, com intervenção dos 6 participantes, com pequenos contributos, por ordem da posição física em redor do computador com a aplicação. As crianças mantiveram-‐se ativas, a responderem conjuntamente para uma resposta única de modo frequente (etapa 2, sessão 2; etapa 4, questões 1 e 4), o que permite expressar abertamente que é possível reunir condições para um modelo de participação colaborativa, mantendo uma interação entre pares.