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Análises do conflito contemporâneo

No documento 2015DaianaSmaniotto (páginas 46-53)

2 EDUCAR PARA A AUTONOMIA NOS ESTUDOS DO JOVEM PIAGET

3.2 Análises do conflito contemporâneo

La Taille (2009) abre suas reflexões sobre o plano ético em Formação ética: do tédio ao respeito de si, apresentando uma interessante caracterização da cultura do tédio, assemelhando essa a uma vida pequena, vazia, sem sentido, sem aprendizagem, sem conhecimento, sem criação, sem projeto, sem fluxo, sem energia, sem potência. La Taille (2009) apresenta a metáfora do peregrino e o turista para ilustrar seus apontamentos e desenvolve a viagem como um paralelo entre o modo de agir do peregrino e do turista. Conforme seu relato, para o peregrino, a viagem é um ato de fé, enquanto para o turista é um ato de consumo. O primeiro busca a identidade, já o outro a alteridade. E finaliza salientando que o peregrino não costuma trazer nada de material, apenas sentimentos e sensações que o fazem sentir-se mais leve, contudo o turista traz as malas mais cheias do que na ida. Ao concluir que a viagem é oportunidade de contemplação, revela o duplo sentido do verbo “esperar”, esperar o tempo passar e esperançar. Comte-Sponville (2001 apud LA TAILLE, 2009, p.24) expressa que

a esperança é um desejo cuja satisfação não depende de nós, diferentemente da vontade, a qual, ao contrário, é um desejo cuja satisfação depende de nós. [...] Esperar é desejar sem poder [...] A vontade é potência. A esperança é apenas falta. [...] “Fome é uma falta, um sofrimento, uma fraqueza, uma desgraça; o apetite, uma potência, uma felicidade”. [...] Na esperança há procura, ação.

A dificuldade encontra-se em desenvolver o verbo “esperançar” no mundo da informação. Vivemos no mundo da instantaneidade, da conexão através do “clique”, inúmeras fontes de informação e a poderosa internet abarrotando notícias simultâneas a cada fração de segundo. Contudo, cabe salientar que a informação é o fragmento do conhecimento, visto que a informação em si faz pouco sentido. É o conhecimento que coloca as informações em relação e possibilita o entendimento, a avaliação e a compreensão do assunto em questão.

Entretanto, neste mundo do imediatismo em que vive a sociedade contemporânea, o importante é ver, ficar sabendo e mudar de assunto, olhar e partir, não se fixar. Vivemos em uma era em que não há projeto e não há domínio do tempo. O futuro acontece, não é construído e não é referência, é apenas uma sucessão de dias, meses, anos... enquanto que o passado da mesma forma, é irrelevante, não se faz referência, permanece-se no eterno presente. O que hoje tem valor poderá nada valer amanhã, neste eterno presente, surge a cultura do descartável.

Não dar valor, ou não se fixar em valores, acarreta o esquecimento. Contudo é importante salientar que valores são, do ponto de vista psicológico, investimentos afetivos, ou seja, mediações afetivas entre o sujeito e o meio natural e social em que vive. Dessa relação surge a mediação cognitiva. Conforme explica La Taille (2009, p. 38),

Esquecer! Ou seja, não dar valor. Não se fixar em valores. Mas o que são valores? São do ponto de vista psicológico, investimentos afetivos, portanto, mediação afetiva entre o sujeito e o meio natural e social em que vive. Há a mediação cognitiva: aquela que permite perceber a existência de variados objetos, entendendo por “objeto” todo e qualquer elemento captado pela percepção e toda e qualquer representação construída pela mente. Pode se tratar de objetos no sentido habitual da palavra (objetos físicos), mas também de pessoas, de conceitos, de sentimentos. A cognição permite conceber o mundo. A afetividade tem outro papel: permitir que nos “apeguemos” ao mundo, que ele, além de ser percebido e concebido, tenha alguma relevância. Nossas competências cognitivas nos possibilitam estruturar o mundo, nossa energia afetiva nos leva a estabelecer prioridades entre seus elementos, ela nos guia entre as inúmeras possibilidades de ação. A cognição, disse eu, nos permite conceber o mundo, a afetividade permite nos interessarmos por ele.

Dessa forma, pode-se concluir que a memória depende da cognição e da afetividade. E frente a isso se percebe quão relevante é a construção de valores no ambiente escolar desde a primeira infância. As crianças precisam criar vínculos, sentirem-se parte do meio em que

vivem e atuarem nesse ambiente, ou seja, é necessário despertar nelas interesses e responsabilidades para darem sentido e significado à aprendizagem.

A falta, ou a pouca importância dada à vivência de valores, pode acarretar sérios prejuízos para a elaboração de planos de vida, mas principalmente, para a construção da própria identidade. Ao escolher que vida viver e quem ser, a identidade estará sendo formada em sua dimensão consciente, através de um conjunto de representações de si. Essas representações de si, segundo La Taille (2009), são sempre valor, e conhecer a si próprio é se autojulgar. Conclui-se que ao tratar questões de formação da identidade, há a necessidade de retomar planos de vida e valores.

Nesta ânsia desesperadora de estar presente sem ser presente em todas as ocasiões e situações, observamos que o indivíduo pós-moderno vive como um eterno turista. Conforme a metáfora do peregrino e do turista, ele não cria laços com as pessoas com as quais encontra, apenas mantém um efêmero contato necessário para satisfazer a sua necessidade naquela ocasião. Não há troca, nem compromisso. Este indivíduo contemporâneo está sempre só, mesmo cercado por muitas pessoas. Contudo, acredita ter muitos “amigos” conectados através de redes sociais, e crê, ainda, estar se comunicando constantemente com os mesmos. Cabe aqui avaliar que estamos vivendo em época de muita comunicação, mas pouca troca. Valoriza-se mais o falar, do que, o que se diz.

Infelizmente podemos observar que atualmente as pessoas estão alheias ao verdadeiro contato. Comunicação vai muito além de instantâneas mensagens eletrônicas. Comunicação acontece no olhar, na expressão corporal, no encontro, na presença sutil e necessária do outro, mesmo que em silêncio. Yves de La Taille (2009, p.55) exemplifica a fantástica comunicação que ocorre no ambiente infantil, citando Piaget:

Jean Piaget (1992) observava que as crianças pequenas brincam mais umas ao lado das outras do que umas com as outras. Para elas, a vontade de estar com outrem e o prazer que retiram dessa situação social não exigem real troca de ideias, real coordenação de pontos de vista, real coordenação de ações. Elas se contentam com o “estar junto a”, com o simples contato, com a simples presença alheia. Mais tarde, essas mesmas crianças serão capazes de estabelecer trocas intelectuais, pois capazes de e colocar no ponto de vista alheio, de coordenar pontos de vista diferentes, aderir a definições compartilhadas e se assegurar de que há um trânsito intelectual profícuo para os interlocutores. Tal é a conquista intelectual e afetiva das crianças no final da chamada pequena infância. Todavia, como sempre enfatizou Piaget, novas capacidades intelectuais criam novas demandas, mas não necessariamente fazem desaparecer as anteriores.

Neste contexto de simpatias e antipatias, La Taille (2009, p.62) observa que Piaget chegou a tratar dessa questão quando refletiu sobre a moralidade. Para ele, na criança pequena

as disposições afetivas dominam a socialização e a moralidade, fazendo-a julgar as pessoas como “boas” ou “más”, não em razão de avaliações objetivas baseadas em regras de conduta ou virtudes, mas sim em razão dessas passageiras afinidades interindividuais. Conforme La Taille (2009), para Piaget a moral é uma lógica da ação, somente quando há regulação da afetividade por parte da razão é que pode haver certa estabilidade nas relações sociais. Enquanto uma afetividade, por assim dizer espontânea, permanecer dominante, as relações de convívio são flutuantes e instáveis.

Essas disposições afetivas presentes na infância precisam ser fortalecidas, visto que, essas relações quando estremecidas acabam por ocasionar o que La Taille (2009) chama de cultura do tédio, caracterizada pela falta de perspectiva para o futuro, falta de direção e significação para a construção de um projeto de vida e de identidade. Em seu livro Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas, La Taille (2009) explica haver duas condições para se viver uma vida feliz, sendo estas, se sentir evoluir no “fluxo do tempo” e atribuir sentido à existência. Segundo o pesquisador, estas duas condições parecem fazer crucial falta nos dias de hoje, resultando em sintomas de infelicidade e na cultura do tédio.

Ao abordar a cultura do tédio traz a tona uma série de paradoxos vivenciados na contemporaneidade. Pode-se iniciar dando-se conta de que há mais descarte de oportunidades do que falta delas nas relações. Vivemos em um mundo de comunicações superficiais, passageiras e intempestivas, contudo, temos acesso a diversos apetrechos tecnológicos que deveriam nos permitir imenso enriquecimento devido ao contato com pessoas e instituições. Vivemos no mundo do divertimento e da “desculpabilização” do prazer, o que confere ganho de inteligência e liberdade. Temos acesso a inúmeros mundos virtuais, embora, o mundo real esteja cada vez menos ao nosso alcance.

Assemelhamo-nos ao turista da metáfora, temos acesso a um vasto universo de cultura e conhecimento e passamos por ele sem percebê-lo importante e rico, sem extrair desta passagem o máximo proveito de cada experiência e dar o devido valor a cada conquista e descoberta. É este aluno turista que está presente em nossas salas de aula, e é com esta ambígua realidade de paradoxos que precisamos trabalhar e intervir. Precisamos assumir nosso compromisso em ajudar as novas gerações em penetrar um uma cultura do sentido, para conferir-lhes a oportunidade de viver uma vida que, por ser curta demais, não pode ser pequena.

A escola é o local privilegiado por excelência para desenvolver a cultura do sentido nas futuras gerações. É na escola que serão desenvolvidos o sentido da vida (ética) e de convivência (moral), contudo para que este trabalho aconteça de forma realmente rica e

produtiva, é preciso que todos os que trabalham na escola se disponham a realizá-lo com comprometimento. A primeira tarefa citada por La Taille (2009) para começarmos a cumprir esta importante missão é cuidar do mundo. Estamos deixando para nossas crianças e jovens um planeta e uma sociedade em péssimo estado. Precisamos modificar esta situação e cabe a nós, como educadores, assumirmos este compromisso e iniciar este grandioso trabalho.

La Taille (2009, p.84) retoma um importante conceito piagetiano para ilustrar a atitude desbravadora e audaciosa necessária para as prementes transformações no mundo:

Piaget chamava de “egocentrismo adolescente”. Escreve ele em 1955, portanto antes dos chamados “anos rebeldes”: “Para falar concretamente, o egocentrismo próprio do adolescente se manifesta por uma espécie de messianismo tal que as teorias por intermédio das quais ele representa o mundo estão centradas sobre as atividades reformadoras que ele sente ser chamado a realizar no futuro” (1955, p.306). Piaget acrescenta: “O adolescente passa por uma fase na qual atribui um poder ilimitado a seu pensamento, na qual sonhar com um porvir glorioso ou transformar o mundo pela ideia (mesmo se esse idealismo toma a forma de um materialismo variado) parece não somente um ato de conhecimento positivo, mas ainda uma ação efetiva modificando a realidade como tal.

Nesta longa caminhada em busca da cultura do sentido, faz-se necessária uma educação para o sentido, partindo da verdade como valor. Nesta trajetória da busca da verdade como valor encontramos dois tipos de obstáculos, os interiores e os exteriores. Conforme La Taille (2009), os obstáculos interiores são inerentes ao sujeito. Eles podem ser de três tipos: lacunas no conhecimento, fragilidade ou insipiência das ferramentas intelectuais, ausência de determinadas virtudes.

Ao tratar das lacunas no conhecimento, o pesquisador questiona “O que é ser professor hoje?” e traz em voga questões instigantes quanto à lacuna de formação do professor. Constatam-se problemas quanto à formação docente no que se refere às estratégias didáticas, resultando no fato de que como os professores não sabem ensinar, os alunos não aprendem. Outro problema da má formação está em uma apropriação lacunar nos conteúdos a serem ensinados, muitos docentes falam e redigem mal a língua materna, sendo este pré-requisito à clareza da elaboração e da transmissão de todo e qualquer conteúdo. Um aspecto crucial é o pouco valor que o professor atribui ao conhecimento que procura transmitir, bem como a perda de valor que o conhecimento vem sofrendo na sociedade como um todo, e nas referidas instituições em particular.

As ferramentas intelectuais que o ser humano dispõe para a busca da verdade apresentam-se em duas ordens: as operações e os procedimentos. La Taille (2009) explica que o conceito de operação deve ser entendido no sentido piagetiano de ações interiorizadas

reversíveis. Essas operações, segundo o pesquisador, correspondem a ferramentas mentais que nos permitem pensar de forma lógica, fazer deduções e evitar contradições nos nossos raciocínios. Na abordagem teórica de Piaget, assumida por La Taille (2009), as operações são estruturas mentais construídas pelo próprio sujeito, e, embora tal construção seja condicionada pela maturação orgânica, a ela não se reduz, pois é o resultado dos esforços que toda criança naturalmente envida para conhecer o mundo físico e social e a ele se adaptar. Conclui-se, desta forma, que as operações são estruturas construídas em um processo paulatino de interação com o meio.

A escola, neste contexto, terá a missão de facilitar a construção das operações mentais, contudo, La Taille (2009, p.103) salienta a importância do modo como este processo deverá acontecer, citando o alerta de Jean-Jacques Rousseau:

Contra as estratégias didáticas que “ensinam a muito acreditar e a nada saber”. Tais estratégias nefastas dão ênfase ao produto e não ao processo. [...] as operações são ferramentas para se apoderar dos processos de produção do conhecimento. Para se apoderar do produto final, basta a memorização, e decorar não implica realmente pensar, e menos ainda pensar bem. Na memorização, corre-se o risco de ficar com a “verdade do outro”, sem poder estabelecer uma convicção própria. Cabe, portanto, à escola promover uma aprendizagem que estimule o aluno a construir suas operações, para que este, em seguida, faça delas bom uso.

Aquino (2014) em seu livro Da autoridade pedagógica à amizade intelectual: uma plataforma para o éthos docente inicia sua reflexão sobre os contornos da autoridade, relatando observações sobre um padre, um romancista e três filósofos, e questiona quais as circunstâncias propagadoras do naufrágio educativo. Conforme Aquino (2014, p. 56), este naufrágio deve-se a cinco quesitos, todos eles substanciados na ação docente: sua vinculação com o posto; o método do qual é signatário; o que elegeu para ensinar; o domínio que porta disso; o modo como o faz.

Quanto ao primeiro quesito, é preciso que haja envolvimento patente com o universo do conhecimento acumulado, cuja propagação o professor elegeu como lida. [...] O segundo esquadrinhamento do posto docente contempla a determinadas prescrições metodológicas – muitas vezes realizada de modo salvacionista e acrítico. Melhor seria preconizar um estilo simples, sem rodeios, sem excesso de artifícios, já que o que mais conta são a singularidade e a persistência do trabalho de narrar os segredos de determinado campo de conhecimento. O terceiro ponto diz respeito à extensão dos conteúdos eleitos. [...] Ensinar, enfim, os fundamentos do pensamento em determinado campo de conhecimento, sempre com vagar e destreza: eis um dos segredos da docência. A quarta dimensão, crucial à palavra docente, refere -se ao domínio que possui naquilo que ensina. [...] ensinar jamais se coaduna com repetir informações. O trabalho em sala garantiria, assim, sua cota de criação. A quinta e última condição para o exercício docente aponta para o tipo de eloquência da qual o professor se vale. [...] o que de fato faz diferença é o lastro da palavra por parte

daquele que a professa, ou seja, o tipo de ressonância que produz (AQUINO , 2014, p.57-58).

Assim, Aquino (2014) define que a razão primordial da falência educativa está na ausente convicção na potência transformadora do ato de pensar diferente, fato este que esvazia de sentido e força a palavra docente. Tudo isto se revela em um triplo delito ético- político. Conforme o autor, desapego ao legado humano (a apatia para com o passado); no descaso pelas novas gerações (a imprudência para com o futuro); e no desapreço ao modo de vida democrático (a negligência para com o presente). Esta situação de desvalorização do passado, descaso com o presente e falta de perspectivas de futuro é bastante evidenciada na obra de La Taille (2009), o qual busca resgatar a cultura do sentido através da busca da verdade.

A busca da verdade é uma árdua tarefa que depende da “disciplina” da reflexão, a qual exige a criação e o emprego de procedimentos. Para tanto, é preciso valorizar a lógica das operações e o raciocínio dos procedimentos. Frente a isso, cabe ressaltar que a busca da verdade somente será eficaz aliada a virtudes como a boa-fé, a exatidão, a paciência, a simplicidade e a humildade, uma vez que na ausência desta o conhecimento e os procedimentos são insuficientes para garantir a retidão dos pensamentos, a fim de que não se tornem vagos, com ideias prontas, preconceituosos, entre outros fatos não comprovados.

A ética consiste em dar valor à verdade em si. La Taille (2009) busca em Comte- Sponville o conceito de boa-fé, para o qual, esta virtude equivale a “amar a verdade mais do que a si próprio”. Conforme o filósofo, uma pessoa de boa-fé não mente, tampouco se sente confortável se ela pressentir que o que ela pensa e afirma não está de acordo com a verdade. Ela pode, como todo mundo, errar, é claro, mas ela toma precauções para que isso não ocorra, pois ela tem um apego imenso à veracidade. Reafirma-se, uma pessoa de boa-fé não mente, e procura não mentir a si própria.

Dessa forma, pode-se compreender que as virtudes são qualidades de caráter decorrentes de um trabalho de autoaperfeiçoamento. Diante desse esclarecimento, cabe às instituições de ensino, desde a educação infantil até o ensino superior, centrar seus trabalhos no amor e no respeito à verdade. Os educandos adquirem apreço e reconhecimento à boa-fé no contato com seus mestres, portanto, cabe ao professor revelar em sua postura o exemplo destas virtudes, é preciso atitudes autênticas para a experiência desses.

La Taille (2009) retoma a teoria construtivista de Jean Piaget, cuja tese central é a de que o conhecimento é construído pelo sujeito, para revelar que o próprio Piaget, em seus

poucos escritos pedagógicos, criticou a postura tradicional, notadamente em razão de seu “verbalismo”, e sempre demonstrou simpatia pelos chamados “métodos ativos” que dão a iniciativa e a palavra aos alunos. Neste sentido, Aquino (2014) afirma que as relações entre professor e aluno devem acontecer a partir de jogos de reciprocidade dialógica difusos, horizontalizados e policêntricos, a tal ponto que a relação pedagógica não seja exclusivamente “fundada na oposição entre quem sabe e quem ignora, mas que possa contemplar a reversibilidade dos papéis educativos. Ou seja, os professores precisam aprender a aprender com os alunos” (CANÁRIO apud AQUINO, 2014, p.45).

Ao encontro da proposta de Aquino, La Taille (2009) traz a proposta de Piaget, na qual as relações de cooperação promovem a descentração e a conquista da autonomia intelectual e moral. Para o biólogo, através do trabalho em grupo, os alunos têm a liberdade de expor o que pensam e trocar ideias com seus colegas. Piaget não abolia aulas expositivas, acreditava que estas deveriam ser muito bem elaboradas e transmitidas, a fim de que os alunos fossem capazes de se envolver no conteúdo em pauta, o professor precisaria ser o guia e cativar o aluno através de uma fala transparente e segura. Contudo, acreditava que essas aulas, ainda assim, seriam insuficientes para garantir uma assimilação autônoma dos conteúdos.

As relações de cooperação possuem características de exatidão, clareza, precisão, rigor. Estas características são expressas através de diversas posturas, conforme La Taille (2009): a) a postura de realmente ouvir o que os outros têm a dizer; b) a postura de procurar expressar as próprias ideias da forma mais clara e inteligível possível, empregando conceitos apropriados e sentenças bem articuladas; c) a postura da conservação das ideias apresentadas durante a discussão; d) a postura dos conceitos compartilhados, é preciso que esses tenham o mesmo sentido para os diversos interlocutores, de outro modo, sejam explicitadas se diferenças houverem. Estas características da cooperação precisam ser zeladas e mantidas pelos professores nas atividades de grupo em sala de aula, visto que a ausência dessas posturas tornará a atividade improdutiva e vazia em termos de comunicação.

No documento 2015DaianaSmaniotto (páginas 46-53)

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