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Durante o período de avaliação das atividades de trabalho em altura realizadas na obra em análise, foi possível observar que há precariedade na aplicação dos preceitos das normas regulamentadoras do trabalho. Comumente foi possível observar a equipe de trabalho desenvolvendo suas atividades sem qualquer aparato de segurança ou, quando se fazia uso de algum, na grande maioria das vezes, não estavam em acordo com a norma regulamentadora.

Em se tratando de trabalho em altura, não há como não mencionar o uso de andaimes na obra. Executados de maneiras variadas, seja em cavalete de madeira ou estrutura metálica, observou-se que os andaimes tem grande aplicação durante o desenvolvimento das atividades, seja na fase de execução da estrutura de concreto, seja no levantamento de alvenaria ou execução de revestimento. Todavia, apesar de sua importância, comumente observou-se o seu uso sendo feito de modo precário e inseguro.

Conforme trata a NR-18, os andaimes simplesmente apoiados sobre cavaletes não devem ter largura inferior a 90cm; entretanto, na obra viu-se com freqüência o emprego de tábuas com 30cm de largura para composição do assoalho. Além disso, a partir de 1,50m de altura os andaimes devem ser acessados por meio de escadas, algo não observado na obra. Como se não bastasse isso, na grande maioria dos casos, não foi observado também a execução de guarda-corpo e rodapé nos andaimes.

No caso de andaimes com estrutura metálica, a NR-18 recomenda que o projeto de andaimes seja feito por profissional legalmente habilitado no CREA, com anotação de responsabilidade técnica; além disso, o nome do fabricante e as características de fabricação devem ser gravadas na estrutura metálica do andaime. Na obra observou-se o emprego de andaimes metálicos, entretanto tais características não foram observadas.

Ainda em relação aos andaimes simplesmente apoiados, comumente pode-se observar também que a estrutura do andaime não se apresentava perfeitamente nivelada e devidamente travada. Tal situação apresenta-se de grande risco, uma vez que o andaime torna-se instável e sujeito à tombamento.

Em relação aos andaimes fachadeiros, com base na NR-18, estes podem ser executados em madeira desde que a edificação não tenha mais de 3 pavimentos ou altura superior. No caso da obra em questão, tal situação está adequada. Todavia, em alguns casos, principalmente antes da fiscalização do Ministério do Trabalho, o uso de guarda-corpo e rodapé nestes andaimes, não acontecia.

Ainda segundo a NR-18, os andaimes fachadeiros devem ser fixados e travados à estrutura da construção, por meio de amarração que garanta a sua estabilidade, característica essa observada na obra. Porém, não se observou o emprego de telas de proteção contra queda de objetos, algo recomendado pela norma regulamentadora.

Observou-se na obra ainda, ampla aplicação de escadas de mão em madeira. Por serem de fácil montagem e principalmente de fácil transporte, as escadas de mão auxiliam em uma gama variada de serviços realizados em altura; dentre eles destacou-se na obra a montagem de formas de madeira. Conforme regulamenta a NR-18, as escadas de mão devem ser fixadas em suas extremidades e devem ultrapassar em 1,00m o nível do piso superior. Tais características não puderam ser observadas na obra.

As escadas de mão também não devem ser utilizadas como posto de trabalho. A NR-18 recomenda que seja utilizada somente para pequenos serviços. Entretanto, com relativa freqüência observou-se que para montagem das formas, os carpinteiros permaneciam na escada para transportar e posicionar painéis de madeira para composição das formas. Essa prática não é recomendada pois as formas de madeira são pesadas e difícil manuseio; tais características associadas a não fixação da escada, pode desencadear um acidente.

Durante a realização do trabalho de campo, viu-se que na atividades estudadas o risco de acidentes em função do trabalho em altura era constante uma vez que os funcionários não possuíam adequadas condições de trabalho. A falta de condições de segurança, pode ser oriunda em função de o SESMT da empresa não estar plenamente implantado e intervindo de maneira significativa nas atividades do canteiro de obras.

Conforme informado anteriormente a empresa em avaliação, na época do estudo, possuía registro de 310 funcionários atuantes em obras nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul; dentre estes funcionários 32 localizados na cidade de Erechim-RS.

Com base na NR-4, Quadro 1,tem-se que a empresa em análise pode ser classificada com atividade de grau de risco igual a 3; Assim, com base na Tabela 2 apresentada anteriormente, o SESMT da empresa deveria conter pelo menos 2 técnicos de segurança. A NR-4 admite a formação de um SESMT central desde que a empresa possua canteiros de obras em um único estado e tenha menos de 1.000 funcionários; A empresa avaliada, apesar de possuir obras em mais de um estado, contava apenas com um único SESMT. Além disso, no quadro de funcionários da empresa havia contratado somente 1 técnico de segurança, o que torna o SESMT ineficiente. Conforme entrevista realizada em obra, viu-se que no período de desenvolvimento do presente trabalho, 485 dias aproximadamente, o SESMT da empresa não se fez presente na obra.

Como já citou-se anteriormente, na obra em avaliação estavam alocados em média 32 funcionários. Em entrevista realizada com o encarregado da obra, verificou-se que dentre esses, cerca de 26 funcionários desempenham atividades com risco de queda, isto é, aproximadamente 81% da equipe de funcionários. Desse total, viu-se que apenas 5 funcionários possuíam treinamento adequado para trabalho em altura. Tomando como base tais dados, tem-se que apenas 19% da equipe de trabalho em altura estava treinada para tal atividade. Tais informações se contrapõem ao PCMAT da obra proposta pela própria empresa.

No Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção era previsto treinamento admissional, com carga horária de 6 horas referente as condições do ambiente de trabalho, riscos e uso de equipamentos de segurança. Além disso havia previsto também treinamento periódico mensal, com duração de 1 hora, para orientação prevencionista de segurança, higiene e saúde, com participação de todo o efetivo do canteiro de obras, algo que, conforme observado não foi praticado.

Foi fornecido pela empresa, os dados de acidentes típicos do trabalho ocorridos durante o período de desenvolvimento do estudo. Conforma dados registrados, tem-se a Tabela 1.

Tabela 1 – Registro de Acidentes

Acidente: Quantidade: Dias de Afastamento Unitário:

Total de Dias de Afastamento:

Queda em altura 1 60 60

Respingo de

argamassa nos olhos 2 3 6

Pisada em pregos 3 5 15

Total 6 68 81

Tomando como base os dados expostos na Tabela 1, tem-se que durante no período de análise foram registrados 81 dias de afastamentos decorrentes de acidentes típicos do trabalho. Do total, cerca de 74% são decorrentes de queda em altura, conforme Gráfico 1.

Gráfico 1 – Dias de Afastamento: Percentual de Distribuição

Baseando-se na Tabela 1 e fundamentado no Gráfico 1, tem-se que apesar de a quantidade de acidentes por queda em altura ser menos significativa que as demais, os acidentes por queda em altura demandam um maior período de afastamento do funcionário para recuperação.

Em entrevista com o encarregado da obra, foi possível constatar que a rotatividade da mão de obra é um problema que a empresa vem enfrentando. Conforme informado pelo próprio encarregado, durante o período de estudo, foram admitidos na empresa cerca de 63 funcionários, sendo a equipe total atuante na

obra composta por 32 funcionários. Devido a essa alta rotatividade, a empresa não vem investimento em treinamento da mão de obra, principalmente no caso de funcionários com menos tempo de “casa”, como era a situação dos funcionários, que na maioria dos casos, foram contratados especificamente para aquela obra.

Em relação a deficiência do quadro técnico do SESMT com a presença de apenas 1 técnico de segurança, o encarregado pela obra afirma que tal situação também contribui para que a segurança no canteiro de obras ainda seja algo em segundo plano. Porém, o mesmo afirma ter conhecimento de que será efetuada a contratação de um engenheiro de segurança do trabalho como forma de tornar mais atuante o “departamento” de segurança da empresa.

6 CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo principal verificar das condições de segurança relacionadas ao trabalho em altura em uma obra de construção de um prédio de instituição de ensino. Para tal, foi desenvolvido um estudo de caso onde foram identificadas as atividades desenvolvidas em um canteiro de obras que apresentam risco de queda do trabalhador.

No presente trabalho, fez-se um estudo de campo em um canteiro de obras localizado no município de Erechim-RS. A obra em análise, refere-se a construção de um prédio, com área aproximada de 4.000 m² composto por 4 pavimentos (subsolo, térreo, 1º pavimento e cobertura) e altura igual a 14,00 m destinado salas de aula e laboratórios de uma instituição de ensino federal do estado do Rio Grande do Sul. A empresa executora da obra sediada no município de Pato Branco-PR, contava na época do estudo com 310 funcionários distribuídos em obras nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul. Ao todo, o “departamento” de segurança da empresa era formado por 1 técnico de segurança.

Com base em um check-list fundamentado nas Normas Regulamentadores 18 e 35 do Ministério do Trabalho, foram identificadas e avaliadas as atividades desenvolvidas em canteiro de obras e que apresentam relação direta com o trabalho em altura, são elas: montagem de formas e armaduras; concretagem de elementos estruturais; levantamento de alvenaria e execução de revestimentos argamassados. Todas as atividades identificadas demandam a utilização de equipamentos de segurança e proteção para os trabalhadores em relação a altura.

Nas observações de campo, viu-se que as atividades identificadas anteriormente não estavam sendo executadas segundo as prescrições das Normas Regulamentadoras NR-35 e NR-18. Observou-se que utilização de andaimes era bastante corriqueira em tais atividades e, apesar da intensa utilização, esses equipamentos não apresentavam as condições adequadas de uso. Constantemente apresentavam instabilidade e não possuíam base sólida de circulação do funcionário, além da falta de guarda-corpo adequadamente instalado e com resistência mecânica incompatível com o mínimo exigido.

Constantemente observou-se também que o cinto trava quedas e as linhas de vida não eram utilizadas nas atividades em altura; Os trabalhadores de montagem

de formas e armaduras executavam suas atividades sem essa proteção e por diversas vezes sobre escadas de mão e portando ferramentas. Em alguns momentos, como por exemplo na concretagem de pilares, viu-se o uso do cinto trava quedas, mesmo que de maneira errada.

Na referida obra, observou-se que a preocupação com a segurança do trabalho em altura, principalmente, ainda é algo que não se apresenta de maneira de desenvolvida. Investimentos em equipamentos de segurança coletiva em trabalho em altura são necessários urgentemente. Ao longo do acompanhamento das atividades em obra, nota-se que o baixo índice de acidentes por trabalho em altura se deve principalmente à “habilidade” e “equilíbrio” dos funcionários no desempenho de suas atividades do que propriamente em função de treinamentos de segurança e equipamentos de proteção.

Notou-se que o uso incorreto dos equipamentos de proteção, como por exemplo o cinto trava-quedas preso no próprio andaime, se deve principalmente a falta de instrução e treinamento dos funcionários que muitas vezes por desconhecerem os corretos procedimentos e riscos a que estão submetidos, cometem atos inseguros decorrentes de condições inseguras de trabalho. Aliados a isso, constatou-se que o SESMT da empresa possui quadro de funcionários insuficiente ao prescrito pela norma regulamentadora. Apenas 1 técnico de segurança para treinar e orientar mais de 300 funcionários distribuídos em 2 estados torna o “departamento” de segurança da empresa bastante ineficiente e por vezes sobrecarregado.

Por fim, foi possível observar que a empresa cujo canteiro de obras foi estudado apresenta dificuldades na implantação corretas das normas de segurança do trabalho. Conforme entrevista, viu-se que uma das dificuldades que a empresa tem está na alta rotatividade dos funcionários; constantemente funcionários são admitidos e demitidos e a realização de treinamento para todos estes seria bastante honeroso financeiramente para a empresa. A grande maioria, por se tratar de pessoas admitidas especificamente para a obra em estudo, não recebem o treinamento previsto no PCMAT da obra. Outro quesito também considerado, está no quadro técnico que compõem o SESMT da empresa. O responsável pela obra, acredita que se o departamento de segurança da empresa fosse mais atuante, melhores condições de segurança seriam implementadas nessa e nas demais obras da empresa.

Recomenda-se que sejam promovidas ações prevencionistas de forma a contribuir com a saúde e com a integridade do funcionário no seu ambiente de trabalho. O SESMT desta empresa deveria ser restruturado e dimensionado corretamente para que seja efetivamente atuante e que desenvolva ações educativas e de orientação de forma a conscientizar a direção e os trabalhadores de modo que as condições e atos inseguros observados sejam extintos desta e das demais obras.

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – Check-List

Obra:

Período de Observação: Atividade:

1) A atividade é desenvolvida acima de 2,00m do nível inferior, onde haja risco de queda?

( ) Sim ( ) Não

2) O trabalho em altura é executado por meio de andaimes? Se sim, responder as perguntas:

a) A superfície de trabalho dos andaimes possuem travamento que não permite seu deslocamento ou desencaixe?

b) O piso de trabalho do andaime é antiderrapante, nivelado e fixado de travado de modo seguro?

c) A madeira apresenta rachaduras?

d) Os andaimes possuem guarda-corpo, rodapés? e) Os andaimes possuem base sólida e nivelada?

f) Os andaimes sobre cavaletes possuem altura superior a 2,00m e largura inferior a 0,90cm?

g) Os andaimes com mais de 1,00m possuem escadas ou rampas? h) O andaime fachadeiro apresenta tela que impeça a queda de materiais?

3) Para os locais que apresentam risco de queda de trabalhadores, responder: a) Há proteção coletiva contra queda ou projeção de materiais?

b) As aberturas nos pisos possuem fechamento provisório?

c) Os guarda-corpos possuem travessão superior a 1,20m, travessão intermediário a 0,70m e rodapé com 0,20m de altura; os vãos são preenchidos por tela?

d) Para os locais que não possuem sistema de proteção contra queda, o trabalhador faz uso do cinto trava quedas fixado à linha de vida?

APÊNDICE B – Entrevista

Entrevistado: Função:

Tempo registro na empresa: Data:

Período de Execução da Obra:

1) Quantos funcionários estão alocados na obra, em média?

2) Dentre estes, quantos desempenham atividades com risco de queda?

3) Quantos funcionários possuem treinamento bienal, teórico e prático, para trabalho em altura, com carga horária mínima de 8 horas?

4) Existe procedimento operacional para trabalho em altura? É feita uma análise de risco antes de se iniciar o trabalho?

5) Com que freqüência a equipe do SESMT comparece à obra?

6) No exame admissional do funcionário é explicitado a aptidão do funcionário para o trabalho em altura?

7) Já foi registrado acidente por queda durante a execução da obra? Se sim, responder:

a) Quantos? b) Qual o motivo?

c) Houve afastamento por fratura? Quanto tempo?

8) Que tipo de acidentes do trabalho ocorreram na obra? 9) Qual o tempo de afastamento para cada acidente?

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