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4. METODOLOGIA

4.11. Análises estatísticas

Inicialmente, os dados foram organizados de acordo com grupos (TC vs. GC) e momentos (M1, M2, M3 e M4). Em seguida, a distribuição dos dados foi testada com o teste de Shapiro-Wilk. Para verificar diferenças entre os grupos no momento inicial (M1) utilizou-se o teste t-student não pareado. Para verificar as diferenças entre os grupos, momentos e grupos*momentos utilizou-se a analise de variância (Modelo Misto) para medidas repetidas, na qual grupos e momentos foram considerados fatores fixos e sujeitos fatores randômicos. Quando uma interação grupos*momentos foi apontada, aplicou-se o teste post-hoc de Tukey. Para verificar a existência de associações entre os valores iniciais das citocinas analisadas e a magnitude de mudança pré - pós intervenção destas citocinas realizamos analise de correlações entre os valores de concentração pré intervenção e o delta percentual de mudança (∆%) das concentrações para cada citocina. Enquanto que para verificar a existência de associações entre as mudanças do perfil inflamatório e as mudanças das demais variáveis do estudo, realizamos analise de correlações entre o ∆% da PCR, marcador inflamatória com significado clinico (Pearson et al., 2003), e o ∆% das demais variáveis do estudo. Da mesma forma, foram realizadas as análises de correlações entre o ∆% do HOMA com o ∆% das demais variáveis do estudo. Todas as análises de correlações foram realizadas pelo teste de correlação de Pearson com os dados do grupo TC. O nível de significância utilizado foi de p < 0,05. Para todas as analises o software utilizado foi o SAS® 9.3 (SAS Institute Inc., Campus Drive, Cary, North Carolina, USA). Todos os resultados estão apresentados por meio dos valores das médias ± EP.

5. RESULTADOS

Todos os resultados apresentados foram publicados no periódico científico internacional “Medicine & Science in Sports & Exercise” (Brunelli et al., 2015; Anexo 3).

O test t-Student revelou não haver diferenças significantes entre os grupos no M1 para todas as variáveis estudadas (p <0,05).

A tabela 1 apresenta os resultados dos testes de antropometria, aptidão cardiorrespiratória (VO2pico) e de força muscular (1RM). Foram observados diminuições na porcentagem de gordura para o TC no M2 (p=0,0021), M3 (p=0,0001) e M4 (p=0,0001) em comparação ao M1, e em M4 (p=0,0125) quando comparado ao M2. Além disso, a massa livre de gordura apresentou aumento significante para o TC em M2 (p=0,0021), M3 (p=0,0001) e M4 (p=0,0001) quando comparados ao M1, e em M4 (p=0,0125) quando comparado ao M2. Não foram observadas alterações significantes para a circunferência de cintura, peso corporal e IMC nos momentos avaliados em ambos os grupos (p < 0,05).

Com relação à aptidão cardiorrespiratória, foram observados aumentos significantes no VO2pico do TC em M2 (p=0,0096), M3 (p=0,0091) e M4 (p=0,0035) quando comparados ao M1, e do GC em M3 (p=0,0001) comparado ao M2.

Adicionalmente, os testes de post hoc demonstraram aumentos significantes no 1RM do supino reto para o TC em M2 (p=0,0051), M3 (p=0,0001) e M4 (p=0,0001) comparados ao M1, em M3 (p=0.0004) e M4 (p=0.0001) comparados ao M2, e em M4 (p=0,0085) comparado ao M3. Ainda, foi observada uma redução no 1RM do supino reto do GC em M2 (p=0,0277), M3 (p=0,0063) e M4 (p=0,0041) quando comparados ao M1. Além disso, uma diferença significante entre os grupos no 1RM do supino reto foi observada no M4 (p=0,0195). Já com relação ao 1RM do leg press, foram observados aumentos significantes para o TC em M3 (p=0,0001) e M4 (p=0,0001) comparados ao M1, e em M4 (p=0,0401) comparado ao M2.

Tabela 1. Antropometria, aptidão cardiorrespiratória e força máxima durante todo o período experimental TC GC Variável M1 M2 M3 M4 M1 M2 M3 M4 Idade (anos) 49,29 ± 1,31 - - - 48,0 ± 1,72 - - - Altura (m) 1,74 ± 0,01 - - - 1,75 ± 0,03 - - - Peso (kg) 93,54 ± 1,64 93,65 ± 1,65 92,83 ± 1,69 92,69 ± 1,85 94,84 ± 3,06 92,76 ± 2,72 94,94 ± 2,88 95,02 ± 3,04 IMC (kg/m2) 30,95 ± 0,40 30,98 ± 0,38 30,70 ± 0,39 30,65 ± 0,40 31,01 ± 0,42 30,66 ± 0,42 31,07 ± 0,46 31,09 ± 0,52

Massa de gordura (%) 35,96 ± 1,40 32,02 ± 1,66 a 31,30 ± 1,71 a 28,59 ± 1,63 a,b 32,35 ± 1,75 31,77 ± 1,53 30,57 ± 1,68 31,10 ± 1,80

Massa livre de gordura (%) 64,04 ± 1,40 67,98 ± 1,66 a 68,70 ± 1,71 a 71,41 ± 1,63 a,b 67,65 ± 1,75 68,23 ± 1,53 69,43 ± 1,68 68,90 ± 1,80

CC (cm) 103,04 ± 1,28 102,45 ± 1,27 101,52 ± 1,47 100,74 ± 1,35 101,82 ± 1,25 103,05 ± 1,23 102,04 ± 1,25 102,49 ± 1,40

VO2pico (ml/kg/min) 28,02 ± 1,00 30,97 ± 1,18 a 30,56 ± 1,14 a 31,09 ± 1,00 a 29,05 ± 1,20 27,29 ± 1,12 31,01 ± 1,36 b 29,02 ± 1,10

1RM - Supino reto (Kg) 68,25 ± 3,85 72,81 ± 3,52a 78,25 ± 3,56 a,b 82,63 ± 4,07 a,b,c,d 71,00 ± 3,74 62,40 ± 2,68 a 62,60 ± 3,52 a 61,73 ± 3,63 a

1RM - Leg Press (kg) 302,81 ± 18,14 324,06 ± 14,07 347,50 ± 13,63 a 365,19 ± 14,99 a,b 310,00 ± 19,01 305,50 ± 16,36 330,83 ± 14,43 332,73 ± 19,89

IMC = índice de massa corpórea. CC = Circunferência de cintura. a Significantemente diferente de M1; b Significantemente diferente de M2; c Significantemente diferente de M3; d

A tabela 2 apresenta os valores dos macronutrientes da ingesta alimentar de ambos os grupos durante todos os momentos de avaliação. Não foram observadas diferenças estatisticamente significantes para as calorias totais e na ingestão de carboidratos, lipídeos e proteínas intra e entre os grupos (p < 0,05).

Tabela 2. Características alimentares durante os momentos de avaliação do estudo

VARIÁVEL

TC GC

M1 M2 M3 M4 M1 M2 M3 M4

Calorias totais (kcal) 2423,35 ± 161,38 2436,37 ± 102,75 2330,71 ± 121,10 2643,07 ± 250,97 2112,55 ± 138,63 2274,31 ± 156,79 2316,56 ± 228,06 2284,70 ± 246,01 Carboidratos (g) 296,62 ± 20,19 289,21 ± 14,28 273,02 ± 15,79 298,82 ± 17,24 228,75 ± 13,95 253,72 ± 19,78 260,54 ± 21,56 269,98 ± 25,84 Lipídeos (g) 85,09 ± 8,09 87,15 ± 5,50 81,96 ± 6,72 76,64 ± 7,11 86,65 ± 6,49 85,58 ± 6,34 113,01 ± 7,34 101,40 ± 12,71 Proteinas (g) 107,01 ± 9,17 111,16 ± 9,27 103,24 ± 6,01 118,20 ± 12,67 89,72 ± 7,72 98,50 ± 8,13 101,88 ± 5,81 101,17 ± 11,08

Já a tabela 3 apresenta os valores da insulina, glicose e do índice Homa-IR dos grupos TC e GC antes (M1) e após (M4) o período experimental. Foram observadas reduções significativas na insulina (p=0.0181), glicose (p=0.0318) e no índice Homa-IR (p=0.0312) do TC em M4 quando comparado ao M1. Além disso, uma correlação positiva entre o ∆% Homa-IR e ∆% resistina (r = 0,60; p = 0,0168) foi observada no TC.

Tabela 3. Glicose, insulina e índice Homa-IR antes e após o período experimental

TC GC VARIÁVEL M1 M4 M1 M4 Insulina (mcUI/mL) 13,65 ± 1,38 9,86 ± 0,68 a 11,03 ± 1,46 14,15 ± 1,65 Glicose (mg/dL) 96,69 ± 2,12 89,87 ± 2,22 a 97,38 ± 1,83 96,96 ± 3,10 Homa-IR 3,22 ± 0,34 2,35 ± 0,23 a 2,86 ± 0,42 3,63 ± 0,52 a Significantemente diferente de M1. p<0,05.

Com relação aos marcadores relacionados à inflamação crônica subclínica associada à obesidade, foi observada uma redução significante na PCR do TC em M4 (p=0,0047) comparado ao M1 (Figura 6). Ainda, foi encontrada uma correlação inversa moderada significante entre os valores basais da PCR com o ∆% da PCR para o TC (r = -0,54; p = 0,0484). Além disso, o ∆% da PCR mostrou uma correlação direta moderada significante com o ∆% da porcentagem de gordura no TC (r = 0,63; p = 0,0160).

Figura 6. Valores das concentrações séricas da proteína C- reativa (PCR) nos diferentes momentos de avaliações. aDiferença significante comparado ao M1. p<0,05.

Na figura 7 encontram-se os valores das concentrações séricas das citocinas pró e anti-inflamatórias estudadas. A IL-15 apresentou aumento significante para o grupo TC em M3 (p=0,0003) e M4 (p=0,0004) comparados a M1, e em M4 (p=0,0200) na comparação entre os grupos (Figura 7C). Foi observado ainda um aumento significativo na concentração sérica de TNF-α para o grupo GC em M3 (p=0,0142) e M4 (p=0,0218) comparados a M1 (Figura 7B). Adicionalmente, observaram-se reduções significantes na IL-10 do GC em M4 (p=0,0430) comparado a M1, e em M3 (p=0,0127) e M4 (p=0,0026) comparados a M2 (Figura 7D). Não

foram observadas diferenças estatisticamente significantes na IL-6 entre os grupos e momentos em todo o período experimental (Figura 7A; p<0,05).

Figura 7. Valores das concentrações séricas de IL-6 (Figura 7A), TNF-alfa (Figura 7B), IL-15 (Figura 7C) e IL-10 (Figura 7D) nos diferentes momentos de avaliações. adiferença significante comparado ao M1; bdiferença significante comparado ao M2; ddiferença significante na comparação entre grupos.

A figura 8 apresenta as concentrações séricas das adipocinas nos diferentes momentos de avaliação entre os grupos. Com relação à leptina, foi observada uma diminuição significante no grupo TC em M2 (p=0,0132) e M4 (p=0,0015) comparados a M1. Enquanto que um aumento para o grupo GC em M3 (p=0,0031) e M4 (p=0,0062) comparados a M1, e M3 (p=0,0104) comparado a M2. Adicionalmente, foram observadas diferenças significativas da leptina na comparação entre os grupos em M3 (p=0,0001) e M4 (p=0,0001) (Figura 8A).

A resistina apresentou alterações significativas para o grupo TC em M3 (p=0,0003) e M4 (p=0,0001) comparados a M1. Para o grupo GC, foram observadas aumentos significantes da resistina em M3 (p=0,0001) comparado a M1, e em M3 (p=0,0001) e M4 (p=0,0043) comparados a M2. Ainda, foram observadas diferenças significativas da resistina na comparação entre os grupos em M3 (p=0,0001) e M4 (p=0,0001) (Figura 8B).

Com relação à Adiponectina, foi observado aumento significativo para o grupo TC em M3 (p=0,0223) e M4 (p=0,0001) comparados a M1, e em M3 (p=0,0191) e M4 (p=0,0001) comparados a M2. Ainda, foi observada um aumento significante para o GC em M2 comparado a M1 (p=0,0332) (Figura 8C).

Figura 8. Valores das concentrações séricas de leptina [Figura 8A], resistina [Figura 8B] e adiponectina [Figura 8C] nos diferentes momentos de avaliações. a

diferença significante comparado ao M1; bdiferença significante comparado ao M2; ddiferença significante na comparação entre grupos.

6. DISCUSSÃO

A proposta do presente estudo foi verificar os efeitos de 24 semanas de TC de moderada a alta intensidade (treino aeróbio com 50-85% do VO2pico e treino de força com 6-10 RM) nos marcadores pró- e anti-inflamatórios associados à obesidade e nas capacidades morfofuncionais de homens obesos de meia-idade. Os principais achados do presente estudo foram as diminuições na porcentagem de gordura, índice HOMA-IR e nas concentrações séricas de insulina, glicemia, PCR, resistina e leptina para o grupo TC após o período experimental. Ainda, foram observados aumentos nos testes de força máxima de membros inferiores e superiores, VO2 pico e nas concentrações séricas de adiponectina e IL-15 para o grupo TC após o período experimental. Confirmando nossa hipótese inicial, nossos resultados sugerem que o TC de moderada a alta intensidade podem diminuir a inflamação crônica subclínica associada à obesidade, independente de alterações na dieta e redução de peso evidenciada, e ainda promover diminuições na massa de gordura corporal e aumentos na massa livre de gordura e aptidão cardiorrespiratória e de força dos indivíduos após o período de treinamento.

Diversos estudos sugerem que o estilo de vida inativo associado ao balanço energético positivo leva ao acumulo de gordura visceral e isso é acompanhado por redução nos níveis de oxigênio do tecido adiposo, desencadeando recrutamento de células inflamatórias, aumentos na quantidade de macrófagos pró-inflamatórios e na secreção de citocinas e adipocinas inflamatórias como IL-6, TNF-α e leptina, levando assim ao desenvolvimento de um estado inflamatório crônico no tecido adiposo (GLEESON et al., 2011; PHILLIPS et al., 2012; YOU et al, 2013). Esta inflamação crônica gerada no tecido adiposo leva ao aumento nas concentrações séricas de citocinas pró-inflamatórias como a IL-6 e o TNF-α, estimulando assim a produção e secreção hepática da PCR e consequentemente um estado inflamatório crônico sistêmico de baixo-grau (YOU et al, 2013). Estudos ressaltam a hipótese de que o treinamento aeróbio e/ou de força podem promover efeitos anti-inflamatórios no tecido adiposo (GLEESON et al., 2011; PHILLIPS et al., 2012; YOU et al, 2013), podendo assim agir como uma intervenção terapêutica a longo prazo eficaz no tratamento da inflamação crônica associada a obesidade. Entretanto, grande parte dos estudos que investigaram esta hipótese ressaltam a necessidade da perda de peso para possíveis efeitos anti-inflamatórios (CHURCH et al., 2010; FISHER et al. 2011; LIBARDI et al., 2012). O presente estudo demonstrou que o TC realizado com

cargas de moderada a alta intensidade por 24 semanas e de acordo com as recomendações do American College of Sports Medicine (HASKELL et al., 2007) para promoção e/ou manutenção da saúde em adultos pode promover um efeitos anti-inflamatórios e diminuir marcadores da inflamação subclínica de indivíduos obesos de grau 1 (IMC > 30 e < 34,9) na meia-idade, mesmo sem alterações nos padrões alimentares e perda de peso evidenciada.

Um dos fatores que pode influenciar o efeito anti-inflamatório do exercício é o grau inicial de inflamação dos indivíduos testados. No presente estudo, os valores séricos basais de PCR do grupo TC classificavam os indivíduos como tendo risco moderado (valores de PCR >1,0 mg·L e <3,0 mg·L) de doenças cardiovasculares (PEARSON et al., 2003). Após o período de treinamento, os valores apresentaram redução significante de aproximadamente 118% nos valores séricos da PCR, sendo que muitos dos voluntários passaram a categoria de baixo risco de doenças cardiovasculares (valores de PCR <1,0 mg·L) (PEARSON et al., 2003). Além disso, para examinar se os efeitos do programa de TC em homens obesos foram mediados, pelo menos parcialmente, pela perda de gordura corporal, nós analisamos a relação entre o ∆% da porcentagem de gordura e o ∆% da PCR. Nós observamos que ∆% da PCR apresentou uma correlação direta e moderada com o ∆% da porcentagem de gordura (r = 0,63; p = 0,0160), indicando assim relação entre a redução da PCR e da gordura corporal. Em contrapartida, em estudo prévio de nosso grupo, no qual homens de meia-idade com sobrepeso iniciaram o programa de TC com um valor médio de 1,5 mg·L na PCR, nós não observamos mudanças significantes na PCR após 16 semanas de TC com cargas semelhantes ao do presente estudo (LIBARDI et al., 2012). Talvez esta discrepância com relação aos resultados possa estar relacionada à continuidade no programa de TC, pois no presente estudo observamos mudança na PCR na vigésima quarta semana e as cargas de treinamento foram semelhantes até a décima sexta semana, e ainda nas mudanças observadas na porcentagem de gordura após o período de intervenção, fato este reforçado pela correlação observada no presente estudo entre o ∆% do percentual de gordura e ∆% da PCR. Ainda, outro resultado interessante observado no presente estudo foi a correlação inversa e moderada entre o ∆% da PCR e os seus valores das concentrações séricas no momento inicial (M1), sugerindo assim que indivíduos que possuem valores aumentados deste marcador antes do período experimental podem apresentar maiores mudanças após o treinamento. Nesse

sentido, os resultados do presente estudo corroboram a outras investigações que ressaltam que talvez não seja necessária a perda de peso associada ao treinamento para possíveis efeitos anti-inflamatórios na inflamação subclínica associada à obesidade (PHILLIPS et al., 2012; YOU et al., 2013).

É sabido que valores aumentados nas concentrações séricas de PCR, TNF-α e IL-6 (como no caso da obesidade) contribuem no aumento da resistência à insulina (FESTA et al., 2000; PRADHAN et al., 2001). Adicionalmente, desajustes na produção e secreção de adipocinas como resistina, leptina e adiponectina no tecido adiposo estão diretamente relacionadas a mudanças na resistência à insulina por meio de modulações negativas na sensibilidade dos receptores de insulina e leptina e consequentemente alterações na captação e transporte de glicose, gliconeogênese hepática, entre outros (RAJALA & SCHERER, 2003; BOUASSIDA et al., 2010), levando assim ao desenvolvimento da resistência à insulina e diabetes na obesidade (STEPPAN et al., 2001). No presente estudo, o GC apresentou aumentos significantes nas concentrações séricas do TNF-α, leptina, resistina e ainda uma tendência a aumento da insulina no M4 comparado ao M1 (p=0,0964), sugerindo assim possível piora na inflamação crônica sistêmica e resistência à insulina associadas à obesidade.

Todavia, foram observadas diminuições significantes nas concentrações séricas de insulina, glicemia, leptina e resistina e no índice HOMA-IR do grupo treinado, o que sugere uma possível melhora da inflamação crônica e consequentemente na resistência a insulina associadas à obesidade após as 24 semanas de TC, mesmo sem modificações significantes no peso corporal, IMC e circunferência de cintura. De Fato, existem várias maneiras em que o TC pode ter melhorado a sensibilidade a insulina, dentre estas a regulação positiva da expressão de GLUT4, ativação crônica do eixo AMPK, facilitação da transdução do sinalizador de insulina no nível de PI3K e AS160, bem como aumentos na expressão de diversas proteínas envolvidas na utilização e no turnover da glicose e de lipídeos (HAWLEY & LESSARD, 2008). Desta maneira, futuros estudos que investiguem os mecanismos biológicos subjacentes da sensibilidade a insulina advindos do TC são necessários para possíveis afirmações sobre quais vias moleculares podem ser as responsáveis pela melhora da inflamação crônica e resistência a insulina associadas à obesidade.

Outros resultados importantes observados no presente estudo foram os aumentos nas concentrações séricas de IL-15 e adiponectina do grupo TC já após 16 semanas de TC. É sabido que a IL-15 é expressa no músculo esquelético humano e tem sido identificada como fator anabólico de crescimento muscular (QUINN et al., 1997; FURMANCZYK & QUINN, 2003). Além disso, NIELSEN et al. (2008) demonstraram que a IL-15 sérica apresenta correlações inversas com a porcentagem de gordura corporal e gordura corporal total e suas concentrações apresentam-se diminuídas na obesidade. Entretanto, 12 semanas de treinamento aeróbio associado a uma dieta extremamente hipocalórica (600-800 kcal/day) diminuiu as concentrações de IL-15 em obesos, possivelmente por possível perda de tecido muscular decorrente da natureza da dieta associada ao treinamento aeróbio (CHRISTIANSEN et al., 2010). Nesse sentido, o aumento na porcentagem de massa magra e as diminuições da porcentagem de gordura observados do grupo TC no presente estudo podem ter contribuído para o aumento nas concentrações séricas de IL-15 deste grupo. Adicionalmente, foi observado que a administração de IL-15 in-vitro inibe o acúmulo de lipídeos na diferenciação de pré-adipocitos e ainda estimula a secreção de adiponectina nos adipócitos, sugerindo que a IL-15 atua num eixo endócrino musculo-gordura e desempenha papel importante na regulação entre gordura e músculo na composição corporal (QUINN et al., 2005). Além disso, os efeitos sobre a massa de tecido adiposo e sua capacidade aparente de estimular a secreção de adiponectina podem reforçar a teoria da IL-15 como uma citocina importante no que diz respeito à sensibilidade à insulina. Assim, os aumentos da IL- 15 e da adiponectina observados no TC do presente estudo podem ter influenciado as melhoras observadas nos parâmetros de resistência à insulina. Entretanto, nós não observamos uma correlação significante entre o ∆% da IL-15 e da adiponectina com o ∆% do Homa-IR. Futuros estudos envolvendo os mecanismos de ação da IL- 15 no tecido adiposo e no músculo esquelético e ainda medidas diretas da massa muscular ou hipertrofia são necessários para determinar se essa citocina pode ser importante na modulação da inflamação e regulação da adiposidade.

Adicionalmente, as concentrações séricas de adiponectina são inversamente correlacionadas com a % de gordura corporal, concentração sérica de insulina em jejum e tolerância a glicose diminuída (GOLDSTEIN & SCALIA, 2004), onde diminuições da adiponectina sérica estão associadas ao desenvolvimento da diabetes e ao aumento da prevalência e severidade da aterosclerose (KAWANO et

al., 2005). Por outro lado, aumentos nas concentrações séricas de adiponectina reduzem a expressão de moléculas de adesão nas células endoteliais (OUCHI et al., 1999) e promovem propriedade anti-inflamatória pela inibição da produção de citocinas inflamatórias pelos macrófagos (via inibição da sinalização do eixo NFKB) (OUCHI et al., 1999, 2000). Dâmaso et al. (2014) demonstraram que o TC foi mais eficaz do que apenas o treinamento aeróbio para reduzir os parâmetros relacionados a inflamação subclínica na obesidade e ainda aumentar os valores séricos da adiponectina em adolescentes obesos após um ano de intervenção. Corroborando a este achado, o presente estudo observou aumento de aproximadamente 48% na concentração sérica de adiponectina do grupo treinado após 24 semanas de TC, sugerindo assim que esta metodologia de treinamento por períodos prologados pode ser eficaz para o tratamento da inflamação crônica subclínica associada à obesidade.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta do presente estudo foi verificar as respostas pró e anti- inflamatórias e morfofuncionais decorrentes do TC realizado por 24 semanas em homens obesos de meia-idade. Foram observadas diminuições na porcentagem de gordura, índice HOMA-IR e nas concentrações séricas de insulina, glicemia, PCR, resistina e leptina para o grupo TC após o período experimental. Ainda, foram observados aumentos nos testes de força máxima de membros inferiores e superiores, VO2 pico e nas concentrações séricas de adiponectina e IL-15 para o grupo TC após o treinamento. Confirmando nossa hipótese inicial, nossos resultados sugerem que períodos prolongados de TC podem diminuir a inflamação crônica subclínica associada à obesidade em homens obesos de meia-idade, independente de alterações na dieta e redução de peso evidenciada, e ainda promover diminuições na massa de gordura corporal e aumentos na massa livre de gordura e nas aptidões cardiorrespiratória e de força dos indivíduos após o período experimental.

Com relação às variáveis antropométricas, a massa livre de gordura e a massa de gordura mostraram-se reduzidas para o grupo TC em oito semanas de treinamento, e esses valores diminuíram ainda mais após 24 semanas de TC, o que era esperado por conta das dos efeitos advindos do treinamento aeróbio e de força.

Curiosamente, o peso corporal, o IMC e a circunferência de cintura também mostraram-se reduzidos durante e após 24 semanas de TC, no entanto, esta redução não foi estatisticamente significantemente. Dentre as variáveis funcionais, como esperado, o VO2pico aumentou após 8 semanas e esse valor permaneceu aumentado após as 24 semana de TC. Enquanto que a força máxima de membros superiores e inferiores apresentaram-se aumentados em todos os momentos de avaliação (8, 16 e 24 semanas), demonstrando assim que o protocolo de TC utilizado no presente estudo foi eficaz para a promoção da saúde nos adultos obesos de meia-idade.

Dentre as citocinas mensuradas no presente projeto, a IL-15 mostrou-se aumentada no grupo TC já após 16 semanas de TC, mantendo seu nível aumentado após as 24 semanas do período experimental. A PCR, um marcador clínico de risco cardiovascular, mostrou-se diminuída apenas após 24 semanas de TC. Curiosamente, nós não observamos alterações significantes nas concentrações de TNF-α, IL-6 e IL-10 do grupo treinado. Entretanto, o grupo controle apresentou aumento significativo do TNF-α após o período experimental, provavelmente decorrentes do estivo de vida sedentário, má alimentação (qualidade dos macronutrientes) e, genericamente, pelo envelhecimento. Assim, este protocolo de treinamento preconizado para a melhora/manutenção da saúde de indivíduos adultos mostrou-se eficiente para manter os níveis séricos do TNF-α, evitando assim possível piora do quadro inflamatório dos voluntários.

Com relação às adipocinas, a leptina, um marcador inflamatório, mostrou-se reduzida no grupo treinado após 8 semanas do período experimental, e essa diminuição persistiu após as 24 semanas de TC, provavelmente decorrente da redução do tecido adiposo e consequente melhora metabólica promovida pelo protocolo de treinamento. A resistina também apresentou diminuições significantes para o grupo treinado, entretanto após 16 semanas do período experimental, e essa redução foi mantida após as 24 semanas do período experimental. Por outro lado, a adiponectina, um marcador anti-inflamatório, aumentou significantemente após 16 semanas de treinamento, sugerindo assim um efeito anti-inflamatório do protocolo de TC de moderada a alta intensidade utilizado no presente estudo. Nesse contexto, estes resultados observados sugerem que as adipocinas parecem ser mais sensíveis a mudanças (como observado no presente projeto) após períodos de TC de moderada a alta intensidade. Entretanto, mais estudos que investiguem estes

marcadores após períodos curtos (8 semanas) e prolongados (> 16 semanas) em indivíduos obesos na meia-idade são necessários para tais afirmações.

TC GC

Variável M1 M2 M3 M4 M1 M2 M3 M4

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