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3. Material e Métodos

3.6. Análises laboratoriais

As análises químicas ou bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Análises de Alimentos e Nutrição Animal (LAANA), pertencente ao Centro de Ciências Agrarias da Universidade Federal da Paraíba (CCA/UFPB). Foram determinados os teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE), nos alimentos, sobras e fezes, segundo a metodologia do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia INCT (DETMANN et al., 2012).

Para determinação da fibra em detergente neutro (FDN) utilizou-se a metodologia descrita pelo fabricante do equipamento ANKON, da Ankon technology Corporation, com modificações nos saquinhos utilizados nas análises, sendo saquinhos de TNT (tecido não tecido), com gramatura de 100 mm.

Para estimava dos carboidratos totais (CHOT) e carboidratos não fibrosos (CNF) foram utilizadas as seguintes equações propostas por Sniffen et al. (1992) e Mertens (1997) que foram: CHOT = 100 – (%PB + %EE + %MM) e CNF = 100 – (%FDN + %PB + %EE +%MM).

O valor energético das dietas utilizadas no experimento (NDT) foi obtido por meio dos dados da digestibilidade aparente dos nutrientes, sendo calculado através da equação proposta por Sniffen et al. (1992), sendo:

CNDT = (PB ingerida + PB fecal) + 2,25*(EE ingerido + EE fecal) + (FDN ingerido + FDN fecal) + (CNF ingerido - CNF fecal);

NDT % = (Consumo de NDT / Consumo de MS) *100.

3.7 Análise estatística

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e regressão, para comparar os tratamentos, com o auxílio do programa estatístico SAS. Utilizando-se o seguinte modelo matemático: Yijkl = μ + Qi + Tj +Pk + A (i)l + QTij + εijk, em que: μ = efeito média da geral;

Qi = efeito referente ao quadrado latino i, sendo i = 1,2,3 Tj = efeito do tratamento j, sendo i = 1, 2, 3 e 4;

Pk = efeito do período k, sendo k = 1, 2, 3 e 4;

A (i)l = efeito da cabra l, no quadrado i, sendo l = 1, 2, 3 e 4; QTij = efeito da interação quadrado latino i x tratamento j; εijk = erro aleatório associado a cada observação Yijkl

4 - RESUTADOS E DISCUSSÃO

O consumo de nutrientes (MS, MO, MM, PB, EE, FDN, CHOT, CNF e NDT) não foi influenciado (P>0,05) pela substituição do farelo de soja por níveis de ureia na dieta (Tabela 3). Este comportamento pode ser justificado devido a vários fatores, entre eles a composição química das dietas experimentais que foi semelhante (Tabela 2), assim como, a alta palatabilidade da palma forrageira, que foi utilizada numa proporção de 52% nas dietas (Tabela 2), além dos ingredientes terem sido fornecidos na forma de mistura completa reduzindo a possibilidade de seleção pelos animais, principalmente devido à ureia ser menos palatável, proporcionando assim consumos próximos entre os tratamentos.

Tabela 3 - Consumo de nutrientes e de água por cabras alimentadas com níveis de ureia na dieta Consumo (kg/dia) Níveis de Ureia (%) Equação P EP 0,0 0,65 1,3 1,95 CMS 2,383 2,463 2,409 2,426 Y= 2,420 ns 0,63 CMS (%PC) 4,680 4,732 4,795 4,804 Y= 4,753 ns 0,82 CMS (PC0,75) 122,63 125,79 123,95 125,75 Y= 124,53 ns 3,84 CMO 2,208 2,285 2,239 2,261 Y= 2,248 ns 0,61 CPB 0,272 0,278 0,277 0,280 Y= 0,277 ns 0,22 CEE 0,040 0,043 0,043 0,045 Y= 0,043 ns 0,09 CFDN 0,872 0,890 0,872 0,906 Y= 0,885 ns 0,42 CCHOT 1,896 1,963 1,918 1,936 Y= 1,928 ns 0,56 CCNF 1,024 1,073 1,046 1,029 Y= 1,043 ns 0,39 CNDT 1,468 1,534 1,405 1,585 Y= 1,498 ns 2,67

Consumo de Água (kg/dia)

CAF 3,39 3,62 3,09 2,77 Y= 3,218 ns 1,04

CAR 2,09 2,52 2,31 2,23 Y= 3,730 ns 0,32

CAT 5,48 6,14 5,40 5,00 Y= 5,51+0,29x-0,25x² 0,0395 1,04 Probabilidade: (P<0,05); (CMS%PC): consumo de matéria seca em função do % de Peso Corporal; (CMS PC0,75): consumo de matéria seca em função do peso metabólico; (CAF): consumo de água fluida;(CAR): consumo de água proveniente da ração e (CAT): consumo de água total.

Os valores observados para o consumo de MS (kg/dia), em detrimento aos níveis de substituição do farelo de soja por ureia, ficaram acima do valor de 2,26 kg/dia, preconizado pelo NRC (2007) para animais com peso médio de 50 kg e produção de leite de 2 kg/animal/dia. Os consumos dos demais nutrientes seguiram o mesmo comportamento apresentado no consumo de MS, possivelmente, devido à proximidade entre os teores dos nutrientes nas dietas (Tabela 2).

As médias do consumo de PB e de energia ficaram acima das exigências preconizadas pelo NRC (2007), que são de 0,116 e 1,200 kg/dia, respectivamente. Dessa forma, podemos considerar que as exigências dos animais foram supridas.

Quando fornecido aos animais dietas com consideráveis proporções de palma (acima de 50%), deve-se considerar principalmente a relação entre a fibra em detergente neutro (FDN) e carboidratos não fibrosos (CNF), para que seja mantida a questão da manutenção da saúde e função ruminal normal. De acordo com o NRC (2001) e Ferreira et al. (2011) o nível máximo de CNF nas dietas e em dietas a base de palma, respectivamente, deve ser próximo de 44% e com teores de, no mínimo, 25% de FDN para manter a saúde, função ruminal normal e adequado desempenho dos animais. Como podem ser observados na Tabela 2, os teores de CNF das dietas ficaram abaixo do nível sugerido pelos autores, apresentando média de 40,92% e os de FDN acima do mínimo exigido 38,71%.

Com isso, podemos observar que a substituição do farelo de soja por ureia na alimentação de cabras mestiças leiteiras, contribui para redução nos custos com a ração, principalmente de proteína, que é um dos nutrientes de maior custo na ração, além da sua utilização em associação com a palma reduzir o efeito da baixa palatabilidade da ureia.

Não houve efeito dos níveis de ureia (P>0,05) sobre a ingestão de água fluida e água da ração, porém o consumo de água total sofreu influência (P<0,05). Esse fato pode ser explicado pela presença da palma forrageira na ração, que de modo geral, esta diretamente relacionada ao teor de água contida na dieta. Como foram utilizados 52% de palma forrageira para os quatro tratamentos, de um modo geral, o teor de umidade da ração foi semelhante. Já a diferença no consumo total de água pode ter ocorrido devido ao consumo de MS, maior em valores absolutos, no nível de 0,65% de substituição do farelo de soja por ureia, estimulando o animal a consumir mais água.

Além disso, segundo Holmes e Wilson (1990) o consumo de água pode variar com a natureza e concentração de água da dieta, também pode ser alterado com a

temperatura ambiente e produção de leite, sendo assim, a alteração no consumo total de água também pode ser justificada pela produção de leite, maior em valores absolutos, no nível de 0,65% de substituição do farelo de soja por ureia (Tabela 8).

Segundo o NRC (2001), a água exigida pelo animal pode ser atendida por meio de três vias que são: a água ad libitum, dos alimentos e do metabolismo dos nutrientes no organismo, o que implica dizer que as dietas ofertadas atenderam parte da água demandada pelo animal. Grande parte desse fornecimento de água, por meio da dieta, se deve a palma forrageira que é um alimento rico em água, energia e minerais, com pouca MS, ofertando ao animal uma serie de nutrientes associados a sua suculência e umidade contribuindo na redução da ingestão de água voluntária.

Silanikove (2000) reforça a importância da utilização de palma forrageira para alimentação de pequenos ruminantes na região semiárida, promovendo economia de água em regiões onde há escassez. Desta forma, pode-se afirmar que além de uma excelente fonte de carboidratos não fibrosos a palma, ainda, auxilia na reposição de água para o organismo animal.

A digestibilidade dos nutrientes (MS, MO, PB, EE, FDN, CHOT, CNF e NDT) não foi influenciada (P>0,05) pela substituição do farelo de soja por níveis de ureia nas dietas de cabras leiteiras (Tabela 4).

Tabela 4 - Digestibilidade aparente dos nutrientes em cabras alimentadas com níveis de ureia na dieta

Probabilidade: (P>0,05); NDT: nutrientes digestíveis totais. Digestibilidade Níveis de ureia % Equação P EP 0,0 0,65 1,3 1,95 DMS % 67,58 67,72 67,71 69,36 Y = 68,09 ns 2,87 DMO % 70,57 70,76 70,80 72,09 Y= 71,06 ns 2,74 DPB % 68,71 68,35 68,57 72,24 Y= 69,47 ns 3,12 DEE % 63,46 69,35 68,87 69,10 Y= 67,69 ns 3,13 DFDN % 54,79 50,87 52,94 56,75 Y= 53,84 ns 3,74 DCHOT% 70,97 71,11 71,24 72,18 Y= 71,37 ns 2,71 DCNF % 84,26 87,64 85,81 84,79 Y= 85,63 ns 2,41 NDT 66,60 67,04 67,18 68,76 Y= 67,40 ns 2,67

Alguns fatores podem influenciar a digestibilidade como tipo do alimento, consumo, qualidade, preparação do alimento, bem como o tipo do animal, aporte nutricional, categoria animal e nível nutricional (MC DONALD et al., 1993). Como não houve diferença no consumo dos nutrientes (Tabela 3) e como os teores dos nutrientes entre as dietas não tiveram muita variação com a substituição do farelo de soja pelos níveis de ureia (Tabela 2), pode explicar a ausência de efeito na digestibilidade.

Além disso, a palma e a ureia apresentam rápida degradação no rúmen, devido aos altos teores de CNF e ao rápido fornecimento de amônia, respectivamente, o que pode ter favorecido a atividade microbiana e, consequentemente, a digestão.

Ben Salem et al. (1996) verificaram que ao fornecer grande quantidade de palma forrageira para ovinos não observaram influencia no pH ruminal. Porém, Bispo et al. (2007), trabalhando com substituição do feno de capim elefante por palma forrageira para ovinos, observou a diminuição do pH. O que implica dizer que a cactácea não interferiu no pH ruminal e, provavelmente, por ser ofertada nas mesmas proporções não alterou a atividade dos microrganismos ruminais e, consequentemente, a digestibilidade dos nutrientes.

O pH do líquido ruminal não foi influenciado (P>0,05) pela substituição do farelo de soja por níveis de ureia nas dietas (Tabela 5), nos horários avaliados (2 e 4 horas após a alimentação). De acordo com Silva e Leão (1979) e Cecava et al. (1990), os valores adequados para uma máxima produção microbiana encontra-se no intervalo entre 5,5 e 7,0; assim, podemos observar que os valores de pH do líquido ruminal encontrados ficaram entre o intervalo sugerido para máxima produção microbiana.

Tabela 5 - pH e ácidos graxos do líquido ruminal de cabras alimentadas com níveis de ureia na dieta

Probabilidade: (P>0,05)

Dessa forma, a dieta utilizada proporcionou um ambiente ruminal favorável ao crescimento de microrganismos ruminais, principalmente pela utilização da palma forrageira (Opuntia ficus indica Mill) e pela utilização da ureia com fornecimento de NH3 para os microrganismos.

Os ácidos graxos voláteis (lactato, acetato, propionato e butirato) não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de ureia nas dietas, nos diferentes horários avaliados (2 e 4 horas após alimentação).

A produção de lactato e propionato está relacionada às dietas ricas em fonte de carboidratos não fibrosos, enquanto que a produção do acetato e butirato estão mais voltadas para as dietas ricas em carboidratos estruturais. Possivelmente, não houve diferença na concentração dos ácidos graxos voláteis entre os níveis de ureia devido aos teores de FDN, CHOT e CNF serem próximos (Tabela 2), além das principais fontes desses nutrientes serem utilizadas em semelhantes proporções.

Possivelmente, no primeiro momento de avaliação do líquido ruminal (2 horas após alimentação) a maior concentração de lactato se deve a etapa inicial para formação do propionato, seguindo a rota via acrilato, onde inicialmente o piruvato é reduzido para lactato e só após outras reações é que ocorre a formação do propionato, o que também Variáveis Níveis de Ureia % Equação P EP 0,0 0,65 1,3 1,95 pH do líquido ruminal 2 Horas 6,5 6,6 6,5 6,5 Y= 6,50 ns 0,49 4 Horas 6,6 6,6 6,4 6,4 Y= 6,50 ns 0,47

AGV 2 horas g/mol

Lactato 1,024 0,979 0,959 0,987 Y= 0,987 ns 0,39

Acetato 16,944 18,068 17,279 18,059 Y= 17,590 ns 1,56

Propionato 4,428 4,281 4,019 4,384 Y= 4,278 ns 0,87

Butirato 1,863 1,903 1,792 1,898 Y= 1,864 ns 0,50

AGV 4 horas g/mol

Lactato 0,837 0,852 0,913 0,897 Y= 0,875 ns 0,01

Acetato 17,722 17,051 16,978 16,271 Y= 17,006 ns 0,05

Propionato 4,672 5,024 5,095 4,589 Y= 4,845 ns 0,03

justifica a maior concentração do mesmo no líquido ruminal, quando avaliado 4 horas após alimentação (KOZLOSKI, 2011).

A concentração de nitrogênio amoniacal não foi influenciada (P>0,05) pelos níveis de ureia na dieta, com médias dos dois horários de 15,41 e 18,02 mg/L para o tempo 2 horas e 16,28 e 18,96mg/L para o tempo 4 horas (Tabela 6).

Tabela 6 - Nitrogênio amoniacal e proteína microbiana em cabras alimentadas com níveis de ureia na dieta

Probabilidade: (P<0,05)

A avaliação do líquido ruminal e obtenção da concentração de amônia contribuem para o conhecimento do desbalanceamento na digestão de proteína, já que quando se fornece na dieta fontes de nitrogênio não proteico pode haver perdas de nitrogênio, isso se ocorrerem altas concentrações de amônia, com o excesso de proteína dietética degradada no rúmen, e/ou baixa concentração de carboidratos degradados no rúmen (RIBEIRO, 2009). Com a substituição do farelo de soja pela ureia não houve diferença na concentração de amônia, possivelmente, pelo sincronismo entre a fonte de energia e proteína.

Satter e Slyter (1974) trabalhando com efeito da concentração de amônia no rúmen e produção de proteína microbiana in vitro, observaram que concentrações de N- NH3 superiores a 5mg/100ml de fluido ruminal atende as exigências para iniciação do

processo de síntese microbiana no rúmen, ainda de acordo com o mesmo autor, ao alcançar concentrações de 15mg/100 ml de N-NH3, é considerado o pico da atividade.

Pode-se afirmar que os valores obtidos no atual trabalho estão dentro da margem adequada para síntese microbiana. Podendo ser explicado pela boa relação existente entre proteína e energia nas dietas, bem como, a alta degradabilidade dos nutrientes

Variáveis Níveis de Ureia Equação P EP 0,0 0,65 1,3 1,95 Nitrogênio amoniacal mg/L 2 Horas 16,36 15,41 17,95 18,02 Y= 16,94 ns 0,65 4 Horas 16,28 17,98 18,96 16,41 Y= 17,41 ns 1,04 Proteína microbiana (50µ) 2 Horas 196,95 221,22 202,33 183,60 Y= 201,03 ns 7,37 4 Horas 226,95 207,03 204,59 181,86 Y= 226,95-28,56x 0,0240 7,82

contribuindo com o sincronismo entre proteína e energia, favorecendo também para que os valores não fossem discrepantes entre os tratamentos.

A produção de proteína microbiana não foi influenciada (P>0,05) pelos níveis de ureia no tempo de avaliação de 2 horas após a alimentação, este fato pode está relacionado com o tempo de hidrólise da ureia em amônia que é muito rápido e a degradação dos carboidratos não fibrosos da palma. Já em relação ao tempo de avaliação 4 horas após a alimentação, esta apresentou uma redução linear (P<0,05), decrescente com a inclusão dos níveis de ureia na dieta, tendo o valor mais elevado no tratamento controle (0,0).

Este fato também pode ser justificado pelo aumento na proporção do milho na dieta (Tabela 2), uma vez que o milho é uma fonte de carboidrato, que apresenta uma degradação mais lenta, disponibilizando energia no organismo de forma mais lenta, quando comparado à palma forrageira.

A síntese de proteína microbiana no rúmen depende da disponibilidade de carboidratos, bem como da amônia ruminal (BERCHIELLI et al., 2006). Assim, os microrganismos conseguem transformar o alimento consumido em nutrientes prontamente disponíveis ao animal.

A associação da palma forrageira a ureia é vantajosa para o produtor e também para o animal no ponto de vista econômico e nutricional. Segundo Bispo et al. (2007) a adição de palma forrageira na dieta eleva o aporte de CNF, componente esse de rápida degradação ruminal, favorecendo a ação dos microrganismos, pH do rúmen e, consequentemente, a digestão. Já a ureia quando atinge o ambiente ruminal é rapidamente desdobrada em amônia e CO2, que será utilizada pelos microrganismos

para síntese de proteína microbiana. Porém, para que essa síntese ocorra é necessário presença de uma fonte de energia, por meio dos carboidratos, que dependendo da quantidade e do nível de degradação, torna a utilização da ureia mais ou menos eficiente. Assim, a utilização da ureia juntamente com a palma forrageira possivelmente promoveu sincronismo entre o fornecimento de energia e proteína no ambiente ruminal. Com relação aos metabólitos proteicos, a creatina, proteínas totais e ureia não foram influenciadas (P>0,05) pelos níveis de ureia nas dietas (Tabela 7). Ainda no metabolismo proteico, a albumina foi à única variável que apresentou efeito quadrático significativo (P<0,05) com a inclusão de ureia nas dietas, obtendo valores entre 2,35 e 2,49mg/L, abaixo dos valores encontrados por Contreras et al. (2000), de 26 a 42 g/L que trabalhou com perfil metabólicos em ovinos.

Das variáveis referentes ao metabolismo energético apenas a glicose apresentou efeito quadrático (P<0,05) com a inclusão da ureia nas dietas. Segundo Contreras et al. (2000), a glicose é pouco sensível a alterações pois existe um mecanismo de ordem hormonal que regula suas concentrações. Essa concentração de glicose só seria bastante reduzida se houvesse um déficit muito grande de energia na dieta (ROWLANDS, 1980).

Em relação aos metabólitos sanguíneos minerais, apenas o fósforo apresentou efeito quadrático (P<0,05), com a inclusão dos níveis de ureia nas dietas. O fósforo está elevado quando comparado ao cálcio, podendo ser explicado pelo fato dos animais estarem se recuperando do período gestacional, onde existe uma maior demanda por estes minerais para manutenção do feto e, consequentemente, para produção de leite, podendo assim, haver um desiquilíbrio na relação cálcio e fosforo. De acordo com González (2000), a absorção de cálcio pode esta relacionada a uma série de fatores tais como: a relação cálcio e fósforo cuja relação ótima seria 2:1, bem como, a quantidade de proteína na dieta, pois, a diminuição de proteína reduz a absorção de cálcio.

As demais variáveis, cálcio, cloro, potássio e sódio não foram influenciados (P>0,05) com a inclusão dos níveis de ureia nas dietas, apresentando valores condizentes com a literatura pesquisada de sódio (138–154mmol/L) e potássio (4,4- 7,2mmol/L) (GONZÁLEZ, 2000). O cloro apresentou valores num intervalo de 99,36 a 103,37mmol/L. Já os metabólitos enzimáticos não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de ureia na dieta.

Tabela 7 - Parâmetros sanguíneos de cabras alimentadas com níveis de ureia na dieta

Variáveis Níveis de Ureia %

Equação P EP

0 0,65 1,3 1,95

Metabolismo proteico U/L

Albumina 2,49 2,35 2,37 2,48 Y= 2,42-0,35X+0,07X² 0,05 0,66

Creatina 0,83 0,78 0,78 0,84 Y= 0,81 ns 0,40

Proteína 9,69 9,33 9,17 9,55 Y= 9,44 ns 1,18

Ureia 22,71 21,71 27,75 23,60 Y= 23,94 ns 2,91

Metabolismo energético mmol/L

Açúcar 0,13 0,12 0,12 0,14 Y= 0,13 ns 0,66

Glicose 48,32 43,42 45,04 46,86 Y= 45,91-9,35X+1,83X² 0,01 2,88

Triglicerídeos 19,03 19,39 16,45 17,89 Y= 18,19 ns 2,13

Metabolismo mineral mmol/L

Cálcio 5,33 5,14 5,46 5,21 Y= 5,29 ns 1,27

Cloro 102,89 99,30 99,11 103,16 Y= 101,12 ns 3,39

Fosforo 5,77 5,54 5,12 5,89 Y= 5,58-1,45X+0,30X² 0,04 1,32

Probabilidade: (P<0,05)

A produção e composição do leite de cabra em percentual de gordura, proteína, lactose, sólidos totais, sólidos não gordurosos, caseína e ureia (mg/dl) não foram influenciadas pelos níveis de inclusão de ureia na dieta (Tabela 8). Esse comportamento pode ser explicado pela semelhança entre os nutrientes da ração (Tabela 2), além do consumo (Tabela 3), digestibilidade dos nutrientes (Tabela 4) e ácidos graxos voláteis (Tabela 5) não terem sido influenciados pelos tratamentos.

Costa et al. (2014) trabalhando com produção e qualidade do leite de cabras Alpinas utilizando ureia em substituição ao farelo de soja, encontrou valores semelhantes onde os valores máximo e mínimo foram de 2,059 e 1,833 kg/dia, respectivamente.

Os valores referentes a gordura e proteína não foram influenciados pelos níveis de ureia. Os lipídeos presentes na composição do leite são os que mais sofrem variações, isso devido a fatores provenientes das raças, estações, período de lactação e, principalmente, pela alimentação (SANZ SAMPELAYO, 2007; CHILLIARD, 2003).

Tabela 8 - Produção e composição do leite de cabras alimentadas com níveis de ureia na

Variáveis Níveis de Ureia Equação P EP

0,0 0,65 1,3 1,95 Produção Leite 2,19 2,21 2,02 1,91 Y= 2,083 ns 0,67 Gordura (%) 2,96 2,98 3,16 3,10 Y= 2,858 ns 0,61 Proteína (%) 2,87 2,75 2,76 2,78 Y= 2,790 ns 0,47 Lactose (%) 4,14 4,07 4,02 4,06 Y= 4,073 ns 0,46 Sol. Tot. (%) 11,05 10,82 10,99 11,00 Y= 10,965 ns 0,74 S.N.G. (%) 8,08 7,84 7,83 7,94 Y= 7,923 ns 0,54 Caseína (%) 2,06 1,96 1,99 1,99 Y= 2,000 ns 0,46 Ureia (mg/dl) 24,49 25,68 21,86 24,24 Y= 24,068 ns 2,92 *Não houve efeito linear nem quadrático nas variáveis analisadas, *EP = erro padrão da média, SNG: sólidos não gordurosos. Probabilidade: (P>0,05).

Sódio 146,72 135,82 143,38 147,22 Y= 143,28 ns 5,06

Metabolismo enzimático mmol/L

AST 103,24 102,55 82,82 87,89 Y= 94,13 ns 5,87

Esta ausência de efeito na gordura do leite pode ser explicada devido ao melhor sincronismo entre energia e nitrogênio, bem como, as condições semelhantes proporcionadas ao experimento.

A proteína do leite é outro constituinte bastante variável, não foi influenciada pelos níveis de ureia na dieta em substituição ao farelo de soja. Em relação a composição, a ausência de efeito é explicado pelo equilíbrio correto dos carboidratos fibrosos e não fibrosos, bem como, o consumo de proteína, principais responsáveis pelos fatores nutricionais que modificam os referidos conteúdos (COSTA et al., 2014).

Segundo Mendes et al. (2010) esta ausência de influência no constituinte proteico do leite implica na não limitação de proteína metabolizável, fornecida nas dietas contendo fontes de nitrogênio não proteico.

Além da utilização de ração na forma de mistura completa, facilitando a incorporação do nitrogênio não proteico na dieta, minimizando os efeitos na composição do leite, decorrente do consumo seletivo dos animais (MENDES et al., 2010).

Segundo Chilliard et al. (2003) a composição proteica e lipídica do leite são os componentes de maior importância na qualidade tecnológica e nutricional do produto, implicando nos aspectos de rendimento e firmeza do queijo, bem como, na cor, gosto e cheiro dos produtos.

O teor de lactose também se manteve inalterado, isso ocorreu porque a lactose é o componente do leite que sofre menos mudanças em função da dieta, devido ao seu importante papel osmótico (COSTA et al., 2009).

Contudo os valores obtidos encontram-se no intervalo entre 4,02 e 4,14, com media de 4,07% de lactose, encontrando-se abaixo do valor mínimo estabelecido (4,3%), como padrões da instrução normativa n° 37 do Ministério da Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2000).

Costa et al. (2014), trabalharam com utilização de ureia em substituição ao farelo de soja e encontraram valores inferiores a 4,03%, vale salientar que a fonte de carboidrato utilizada pelo autor foi milho e palma forrageira, semelhante ao trabalho atual.

As concentrações de sólidos totais e extratos secos desengordurados não apresentaram alterações, provavelmente, pela ausência de efeito significativo para os constituintes gordura e proteína.

Moraes et al. (2010) trabalhando com palma e níveis semelhantes de inclusão de ureia na ração encontraram, para os teores de gordura e proteína valores de 2,82 a 3,43% e 3,10 a 2,90%; respectivamente, semelhantes aos encontrados no presente trabalho. Já para lactose, sólidos totais e sólidos não gordurosos os valores variaram de 3,73 a 3,78%, 10,26 a 10,55% e 7,44 a 7,11%, respectivamente, sendo inferiores aos obtidos no presente trabalho.

O teor de caseína não foi influenciado pelos níveis de ureia acrescentados na dieta. Este comportamento pode apresentar alguma vantagem, pois em estudo realizado por Pereira et al. (2007), foi observado que a diminuição da caseína alfa-s2 obtida no trabalho, vem agregar valor ao leite de cabra, pois com a diminuição deste componente o leite agrega um maior valor hipoalergênico.

Segundo Fontaneli (2001), em relação aos teores de ureia no leite, quando altos, é resultado do excesso de proteína solúvel, ou da deficiência de carboidratos rapidamente fermentescíveis no rúmen. Alguns estudos mostram variações nos teores de ureia no leite de 17,8 a 36,87mg/dl, assim podemos observar que os valores encontrados no presente trabalho estão dentro dos citados, o que pode ser justificado por um melhor sincronismo entre proteína e energia nas dietas. Desta forma, pode-se afirmar que os níveis utilizados não alteraram a composição de ureia no leite das cabras permitindo,

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