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Análises sobre os efeitos distributivos dos resultados da mudança tecnológica

3 EVOLUÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA SOBRE MUDANÇA

3.5 Análises sobre os efeitos distributivos dos resultados da mudança tecnológica

No que concerne aos efeitos distributivos da inovação tecnológica, duas linhas de pesquisas merecem ser ressaltadas. Na primeira, seguida por Hoffinann & Kassouf (1989), procura-se avaliar as relações entre modernização da agricultura, renda média, desigualdade da distribuição da renda e a pobreza absoluta. Na segunda, procura-se explorar os efeitos da inovação entre os agentes econômicos. Nesse contexto destacam­ se os trabalhos de Melo (1982) e Silva (1992).

Hoffinann & Kassouf (1989) analisaram as relações entre modernização da agricultura brasileira e a renda média, a desigualdade e a pobreza absoluta das pessoas de familias cujo chefe possuía atividade principal na agropecuária. A partir de um conjunto

de indicadores de modernização da agricultura, selecionou-se, através de análise fatorial via método dos componentes principais, os três fatores responsáveis pela maior parte da variância total das variáveis incluídas no modelo. Os resultados obtidos indicaram que a modernização mostrou-se positivamente associada ao rendimento médio e à desigualdade, porém com predominância do primeiro efeito; e negativamente associada ao nível de pobreza absoluta nas microrregiões homogêneas analisadas.

O trabalho de Melo (1982) teve como objetivo investigar possíveis efeitos distributivos de um certo padrão de inovações tecnológicas em uma economia caracterizada como semi-aberta às transações internacionais. Isto é, assumiu-se a existência de uma agricultura composta por dois subsetores, o de exportáveis e o de produtos domésticos, cuja distinção baseou-se no tipo de funcionamento de cada mercado, ou seja, se ele era aberto ou fechado às transações internacionais e suas implicações em termos de preços recebidos pelos produtores e pagos pelos consumidores 14

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Melo pretendeu mostrar que um padrão de inovações tecnológicas concentrado em culturas de exportação pode prejudicar o crescimento das culturas domésticas ( de mercado interno), alterar os preços relativos de alimentos domésticos/exportáveis e, em conseqüência, trazer implicações distributivas desfavoráveis aos consumidores de diferentes classes de renda.

Silva (1992) procurou explorar o aspecto da não distribuição eqüitativa dos beneficias da inovação tecnológica entre os consumidores de diferentes estratos de renda. O objetivo central de seu estudo foi testar a hipótese de que as inovações tecnológicas na agricultura brasileira não foram neutras, no que se refere à distribuição de seus ganhos entre os agentes econômicos afetados por sua adoção.

A análise dos aspectos distributivos de Silva (1992) baseou-se nos conceitos de excedente do produtor e excedente do consumidor, onde o valor das elasticidades-preço da oferta e da demanda determinam a parcela dos beneficios da inovação que cabe a cada um dos agentes considerados. Os resultados obtidos levaram o autor a concluir que as

14 O estudo das inovações tecnológicas na cultura da soja no Brasil e suas implicações alocativas e

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inovações tecnológicas na agricultura brasileira, em particular nos alimentos, tiveram um considerável impacto distributivo em favor dos consumidores e, entre eles, os mais pobres, em geral, foram os mais beneficiados.

3.6 Considerações sobre os efeitos da mudança tecnológica na composição da pauta de produção agropecuária

Mais proximamente à preocupação central do presente estudo, as mudanças na composição da produção foram analisadas por Melo (1985) em sua avaliação dos resultados da política agrícola brasileira do período de 1979/84, quando o Governo Federal definiu como meta prioritária o desenvolvimento do setor agrícola dentro da estratégia de desenvolvimento econômico.

Através, principalmente, de análises tabulares de taxas de crescimento de produção, área plantada, rendimento, preços, etc, o autor mostrou que, no que concerne à produção de alimentos domésticos (arroz, feijão, milho, mandioca e batata) essa priorização não se verificou. Porém, quanto à produção agrícola para fins energéticos (cana-de-açúcar) e produtos agrícolas exportáveis ( soja, principalmente) os resultados foram positivos.

A discrepância verificada nas análises dos três subsetores originou-se, segundo o autor, de um quadro de desequilíbrio tecnológico entre culturas, isto é, de um ritmo maior de inovações técnicas, ao longo do tempo, para as culturas de exportação do que para as culturas alimentares de mercado interno, com sérias conseqüências alocativas e distributivas.

Desse modo, ocorreram mudanças na composição da produção com tendência favorável aos exportáveis e em detrimento dos produtos doméstico-alimentares.

Segundo Melo (1985), a implicação dessa linha de raciocínio é que o processo de inovações tecnológicas não uniforme entre culturas tem condições de alterar um sistema de produção agrícola, no sentido de modificar a composição da área cultivada, como resultado das alterações que ocorrem na rentabilidade das opções disponíveis aos agricultores. Assim, recursos, inclusive terra, seriam deslocados das atividades não ou

relativamente menos contempladas, para aquelas mais favorecidas pelas inovações tecnológicas, durante o período de difusão dos novos conhecimentos. Uma importante condição para que isso se verifique é uma elevada elasticidade-preço da demanda pelo produto, condição geralmente satisfeita pelos produtos de exportação.

Para ele, a continuidade de um processo desequilibrado de geração e adoção de novas tecnologias, tudo o mais constante, causaria mudanças na composição de área cultivada e, conseqüentemente, do produto agrícola. Além disso, as próprias políticas governamentais, tais como a de preços núnimos e a de crédito rural, poderiam causar mudanças no uso dos recursos entre culturas, além de certos programas especiais, particularmente no caso do Proálcool com a cana-de-açúcar.

Os trabalhos supra citados enfatizam a importância da mudança tecnológica na alteração do uso relativo dos fatores ou da composição da produção agrícola, porém, em nenhum deles, a mudança no mix de produto e seus efeitos sobre o uso dos fatores foi medida através de procedimento econométrico. Este é, exatamente, o objetivo geral deste trabalho.