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6. Paradigma democrático para a Educação Sexual e Saúde: contextualizando o Método S-

6.4 Analisando os passos da Metodologia S-IVAM

Segundo Vilaça (2006), as orientações internacionais preconizam um ensino que envolva os alunos em sua emancipação sexual, e o aprendizado deve ser livre, coeso, democrático, sem viés de manipulação ou imposição de conceitos próprios dos professores e/ou doutrinas societárias. Além disso, é importante dar enfoque aos valores

de uma educação com conteúdo rico e específico para a comunidade escolar que está sendo trabalhada.

Assim, Vilaça (2006, 2008, 2012) discorre que a metodologia S-IVAM, criada por Bjarne Bruun Jensen, no âmbito do seu trabalho com as escolas promotoras de saúde da Europa, tem levantado algumas questões. Uma delas consiste no desenvolvimento de novas metodologias para abarcar situações-problema que culminaram nos determinantes das condições precárias de saúde e condições de vida de uma determinada comunidade.

Assim, a fim de compreender como os problemas foram sendo sedimentados, é necessário repensar como a história daquela sociedade foi moldada e adquirir ferramentas para reconhecer a construção da metodologia e as deficiências geridas no processo (JENSEN, 1995, 1997; SIMOVSKA; JENSEN, 2000; JENSEN, 2003; VILAÇA; JENSEN, 2010).

A metodologia S-IVAM foi organizada dentro dos programas de promoção para a saúde (JENSEN, 1997) e estruturada por Vilaça (2006) para ser utilizada na educação sexual como uma proposta inovadora na área da educação e saúde (VILAÇA, 2007a, 2007b, 2008a, 2008b; VILAÇA; JENSEN, 2009, 2010). Em um panorama simplificado, tal metodologia pode ser resumida em três etapas que seguem um cronograma circular, no qual cada estratégia depende da outra para ser completada e para se chegar à conclusão denominada mudança.

A primeira fase compreende a Investigação (I) e faz referência à construção do que será trabalhado, analisado e estudado para posterior mudança. Essa é a etapa na qual serão questionados os reais problemas e como esses incidem negativamente sobre o próprio indivíduo e sobre outros. As questões devem ser apresentadas de forma que se revelem dimensões a serem trabalhadas. Nessa fase é necessário o envolvimento e a participação ativa dos alunos; além disso, a orientação do professor é fundamental para estabelecer um contrapeso na compreensão da importância do problema que será trabalhado.

Jensen (2000) pontua que a construção histórico-social deve ser estudada para entender os denominadores que deram origem a esses problemas, como foram moldadas as dimensões que resultaram em tal ponto, e como as pessoas enxergam essa forma de determinantes, que levaram as condições da problemática atual.

Desse modo, quando os alunos estudarem as formações que erigiram os problemas, terão em mãos ferramentas adequadas para aliar ao processo de desconstrução dos determinantes errôneos que originaram a questão, e moldar novas ações sociais para atuarem na formatação e entendimento dos problemas reais.

Por isso, a interação entre diversos campos auxilia na compreensão do processo de moldar veículos mediadores para conduzir as mudanças de perspectivas históricas e para compreender o aprofundamento das mazelas que foram sedimentadas ao longo do percurso da formação cultural da sociedade. As Ciências Sociais, por exemplo, é uma grande aliada na compreensão desses fenômenos (JENSEN, 1995, 1997; SIMOVSKA; JENSEN, 2003; VILAÇA; JENSEN, 2010).

Em sequência à fase de Investigação, segue-se a segunda fase, chamada Visões (V), na qual são propostas as condições e os problemas a serem trabalhados. Nessa fase os alunos também elegem o que desejam para o futuro e as prioridades no ambiente em que irão crescer, além de pensarem sobre a realidade na qual estão inseridos a fim de analisar os conteúdos que precisam das futuras mudanças (JENSEN, 1995; SIMOVSKA; JENSEN, 2003; VILAÇA; JENSEN, 2010).

A terceira e última fase do processo da educação sexual consiste na Ação e Mudança (AM). Esta fase engloba todo o espaço interativo da escola, a família e a sociedade no uso das competências de ação que foram construídas ao longo do processo metodológico de forma criativa. O objetivo consiste em atingir as visões que foram adquiridas anteriormente (JENSEN, 2000; SIMOVSKA; JENSEN, 2003, 2008, 2009; VILAÇA; JENSEN, 2010; VILAÇA, 2006; VILAÇA, 2012). Nesse ínterim, é importante dar voz ativa à comunidade escolar no desenvolvimento de instrumentos de ação com potenciais para a geração de mudanças, mantendo o foco na obtenção de resultados satisfatórios.

Vilaça (2006) argumenta que

o objetivo da educação sexual (ES) intencional é favorecer a integração harmoniosa da dimensão sexual da pessoa e, como consequência, a ES é entendida como uma vertente do processo global da educação e uma das componentes da promoção da saúde. Nesta investigação é argumentado que este objetivo é conseguido através do desenvolvimento da competência de ação dos alunos, o que significa desenvolver a sua habilidade para realizar ações reflexivas, individual ou coletivamente, e provocar mudanças positivas nos estilos de vida

e/ou condições de vida que promovam a saúde sexual (VILAÇA, 2006, p. 5).

As ações podem ser incrementadas pelos próprios alunos ou pelos professores, pela família e por especialistas da área de educação sexual (VILAÇA, 2012). Para tanto, a participação dos alunos e/ou professores, profissionais da educação e da área de saúde é fundamental, a fim de auxiliar no rompimento de barreiras e dificuldades que prejudicam a tomada de competências de ação e para que sejam desenvolvidas mudanças nos estilos de vida. Assim, uma educação sexual holística seria contemplada, ou seja, fundamentada nas experiências positivas da comunidade, escola e saúde em junção com o meio ambiente.

Por fim, é imprescindível que haja a revisão de todo o processo de construção e mudanças para que ocorra a avaliação da maneira como foi traçada e para analisar se o objetivo proposto no início do projeto foi alcançado. Somente analisando todo o processo, os erros e as omissões do caminho metodológico, é que se faz possível sua reavaliação para que no futuro não ocorram os mesmos equívocos. Novos olhares podem ser demandados no decorrer do processo e a atenção para isto se faz necessária. Enfim, o aprendizado se faz com o acúmulo das experiências, e o conhecimento só é adquirido quando se permite que o outro também possa compreender.