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39 Analisando a perceção de discriminação de acordo com a idade, é relevante destacar que é

No documento Modelos e projetos de inclusão social (páginas 43-46)

no escalão com idades mais avançadas que se observam menores níveis de perceção de discriminação, sendo este o único segmento em que a maioria refere não se ter sentido discriminado. De uma forma geral, as situações/contextos de discriminação mais comuns são as/os de interação pública, tais como nos supermercados ou lojas, serviços públicos (Segurança Social, organizações de apoio aos imigrantes, Finanças), em entrevistas de emprego, em cafés/restaurantes e nos centros de saúde/hospitais (acima dos 15%). Seguem- se outras situações e contextos, tais como na escola e em contextos de formação ou no arrendamento de uma casa/quarto (entre os 14% e os 17%), entre outros.

Conclusões

Na verdade os "coletivos" ciganos tendem a enfrentar em Portugal, mas também em outros países europeus, preconceitos exacerbados (Marques, 2013) e formas de racismo virulento e flagrante (Mendes, 2007). A “questão cigana” é "um problema social" que não pode ser dissociado da sua participação cidadã num "processo histórico de discriminação" no contexto da sociedade dominante. Bastos, Correia e Rodrigues (2007) referem-se à ciganofobia (ou Roma fobia) enquanto práticas perpetradas tanto pelo Estado como pela sociedade civil e que se refletem na recusa em abordar a “questão cigana” como um problema histórico de discriminação. A discriminação histórica e socialmente consistente face aos ciganos gera nos próprios uma combinação de estratégias, de carácter defensivo (condutas marcadas por um certo fechamento e por uma maior separação entre identidade social real e virtual, que inclui alusões explícitas ao “segredo do grupo”) e ofensivo, por parte dos discriminados (expressão visível da revolta, que inclui o recurso a opções que podem suscitar receio por parte do Outro maioritário, manifestas no descontrolo emocional exteriorizado, na violência verbal e/ou física, etc.) (Mendes, 2007). Paralelamente, subsistem entre os ciganos reações de resistência social e cultural que, como bem refere Honneth (2010), se formam no contexto de experiências morais oriundas da ofensa de expectativas de reconhecimento profundamente ancoradas. O desenvolvimento destas formas de ação, num contexto marcado por uma discriminação historicamente sistemática por parte da maioria, é fundamental para perceber a sobrevivência dos ciganos enquanto coletivo social e cultural autónomo no contexto das sociedades europeias e plurais (Bochaca, 2003; Guy, 2001; Lucassen, Willems, & Cottaar, 2001; Stewart, 1997; Tong, 1998).

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A importância das barreiras metodológicas na

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