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Fig 7 – Labirinto ósseo e membranoso e Órgão de Corti

Fig 8 - Órgão de Corti

O ouvido interno, onde se situam os receptores periféricos da audição e equilibrio, é uma estrutura complexa constituída por um somatório de cavidades que se designa por labirinto ósseo. Por sua vez, no interior deste labirinto, encontram-se cavidades de natureza membranosa que constituem o designado labirinto membranoso. Esta

estrutura encontra-se rodeada por um ambiente fluído e preenchido por endolinfa. Relativamente ao labirinto ósseo, importa referir que é constituído pelo vestíbulo ósseo, pelos canais semi-circulares ósseos e ainda pela cóclea. O vestíbulo ósseo de morfologia cubóide tem a sua parede externa em relação com o ouvido médio, ocupada pelo orifício correspondente à janela oval.

Os canais semicirculares ósseos são canais encurvados e de secção elíptica que tendo origem a nível do vestíbulo, seguem um trajecto circular, terminando ao nível do mesmo vestíbulo. Trata-se de três canais, superior, posterior e externo, que entre si formam ângulos de 90º, mimetizando desta forma as três dimensões do espaço e estando por isso associados à fisiologia do equilíbrio.

Relativamente à cóclea, trata-se de uma estrutura que se assemelha a um cone de base posterior. Esta estrutura pode dividir-se em três porções principais: o núcleo, uma lâmina óssea correspondente aos contornos e uma lâmina espiral responsável pela divisão do canal da cóclea em rampas vestibular e coclear. O núcleo ou modíolo corresponde ao eixo da cóclea é o local através do qual passam os vasos cocleares e as estruturas nervosas provenientes dos receptores da audição. É uma estrutura constituída por pequenos orifícios correspondentes ao corte transversal de um canal contínuo que circunda de forma espiralada a zona de transição entre o modíolo e os contornos da cóclea óssea. A lâmina óssea que conforma os contornos da cóclea, não é mais do que um canal de paredes ósseas que forma duas voltas e três quartos em torno do modíolo. A lâmina espiral que se introduz no canal da cóclea, logo na origem deste, vai dividir o lúmen deste canal em três rampas que se estendem ao longo das três voltas: duas rampas vestibulares (periféricas) e uma rampa timpânica (central). Estas rampas percorrem todo o trajecto espiral da cóclea e acabam por fundir-se num orifício de secção redonda localizado no vértice do “cone coclear” que se designa por helicotrema.

Relativamente ao labirinto membranoso e entendendo-o, morfologicamente, como uma réplica do labirinto ósseo, vai ser constituído pelo vestíbulo membranoso, canais semicirculares membranosos e cóclea membranosa, sendo que esta última, como já referido, se encontra imersa na perilinfa, estando preenchida por endolinfa. O vestíbulo membranoso é, na prática constituído pelo sáculo e pelo utrículo, sendo que se trata de duas vesículas que dispostas sequencialmente com o sáculo numa posição inferior ao utrículo são responsáveis pelo equilíbrio. A cóclea membranosa, com morfologia sobreponível à cóclea óssea é a estrutura associada aos mecanismos físicos de conversão da onda de vibração inicial em energia eléctrica passível de estimulação nervosa. Na prática a cóclea membranosa que se encontra no interior da cóclea óssea permite a formação de um canal extenso designado por canal coclear. A

cóclea membranosa descreve assim 2,5 voltas em espiral em torno do modíolo separando a rampa vestibular da rampa timpânica. Desta forma trata-se de um canal com uma configuração triangular e que se designa por rampa coclear.

No ouvido interno e tal como anteriormente referido, circulam os dois fluidos distintos que transportam em si as vibrações decorrentes do impacto do estribo na janela oval, a endolinfa e a perilinfa. A endolinfa, liquido de coloração clara de composição semelhante ao fluído extracelular (com elevadas concentrações de potássio) preenche de forma continua todas as cavidades que constituem o labirinto membranoso, ou seja, o sáculo, o utrículo, os canais semi-circulares e a cóclea. Quanto à perilinfa de abundante conteúdo de sódio e, por conseguinte, semelhante em composição ao fluído cerebroespinal, preenche de forma contínua os espaços existentes entre o labirinto ósseo e o labirinto membranoso. O aparelho de percepção associado à função auditiva é constituído pelo ouvido interno particularmente pelo Órgão de Corti, pelo nervo periférico vestíbulo-coclear (VIII par craniano), pelas vias nervosas, pelos núcleos associados ao Sistema Nervoso Central e pelos centros superiores, entre os quais o córtex cerebral do lobo temporal.

O Órgão de Corti corresponde a uma zona do epitélio coclear, o qual reveste internamente e de forma contínua o canal/rampa coclear. Constituído por células sensitivas e por células de sustentação, é o órgão sensitivo acústico por excelência. Esta estrutura fundamental para a conversão das vibrações do fluído labiríntico em estimulação eléctrica, caracteriza-se por ser uma estrutura anatómica peculiar e complexa que permite a detecção de distintas frequências de som. De conformação piramidal, com o vértice em posição centrípta e assente no pavimento da rampa timpânica, o Órgão de Corti é constituído por quatro camadas de células sensitivas, por células de suporte e por células de Hensen, sendo limitado superiormente pela membrana tectória. Para além destes três tipos de células há ainda que considerar as que revestem o pavimento da rampa timpânica.

Tendo em linha de conta a morfologia geral do Órgão de Corti, este pode considerar-se como sendo constituído pelas duas arcadas de Corti que sendo, por sua vez, constituídas cada uma delas por um pilar externo e outro interno de células de suporte, conformam uma espécie de galeria que se designa por Túnel de Corti. Podem ainda descrever-se as células que formam o designado sulco interno e as células que formam o sulco externo, sendo que ambas limitam a cada lado o túnel de Corti. A membrana tectória cuja extensão abrange não só o sulco interno, como também o Túnel de Corti, assume um papel relevante na anatomofisiologia do ouvido já que contacta, pela sua superfície inferior, com as extensões apicais das células sensitivas, extensões designadas por estereocílios. Trata-se de projecções apicais das células

sensitivas, sendo que a sua constituição é distinta dos cílios por não possuirem mobilidade autónoma. A designação de células ciliadas que se atribui às células sensitivas deve-se à existência destas estruturas análogas aos cílios na sua membrana apical. As células sensitivas/ciliadas do Órgão de Corti estão dispostas em quatro fiadas ao longo do canal coclear, sendo que cerca de 3500 destas, designadas por células ciliadas internas, se encontram na região medial da membrana basilar em relação com o modíolo. Quanto às células ciliadas externas estas perfazem a maioria das células (cerca de 20 000) organizando-se em três fiadas dispostas em V e estabelecendo uma relação estreita com a única fila de células ciliadas internas (Reid, 2005). São as células ciliadas externas que tendo os seus cerca de 100 estereocílios organizados em V estão embebidas na membrana tectória e que são responsáveis pelo ajustamento da resposta coclear às diferentes frequências do som, permitindo às células cocleares internas transmitir com maior precisão a informação auditiva às fibras sensitivas do nervo coclear. Tanto as células ciliadas internas como as células ciliadas externas fazem sinapses com fibras nervosas que se encontram na sua base, sendo que as células ciliadas externas estabelecem essas sinapses com neurónios motores e sensitivos e as células ciliadas internas apenas estabelecem sinapse com os neurónios sensitivos. As células de sustentação associam-se não só a uma função de suporte mecânico como também fazem o suporte funcional das células sensitivas. Relativamente ao suporte funcional este entende-se como sendo uma manutenção funcional associada à homeostasia hidro-electrolítica do ouvido. Incluido neste grupo de células está a estria medular muito associada à homeostasia do potássio que é essencial para a geração dos potenciais de acção associados à audição.

Quanto ao nervo vestíbulo-coclear, este tem origem ao nível da células ciliadas do órgão de Corti. Emerge do crânio ósseo através do meato acústico interno e faz o seu percurso em direcção aos centros superiores.

Por fim, em termos de variabilidade anatómica, o ouvido humano apresenta características distintas no que concerne à espessura do tabique coclear, à espessura da membrana basilar e téctoria e ainda à vascularização, à taxa metabólica e à inervação aferente e eferente da estrutura. Esta variabilidade condiciona uma maior ou uma menor susceptibilidade do indivíduo a lesões traumáticas (Pujol Massaguer et al, 1984), sendo relevante assinalar que a susceptibilidade individual do ouvido humano é de natureza multifactorial envolvendo não só as especificidades anatómicas inerentes como também as características bioquímicas e até patológicas, entre outras (Coles et al, 1985).