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Este questionário foi produzido em 1999 e aperfeiçoado continuamente até 2012. Tem influências diretas dos questionários de Pavis e de Ubersfeld. É apropriado, no entanto, para a aplicação do punctum e da ideia de pôr em fricção forma e conteúdo, buscando assim estabelecer relações dicotômicas com o contexto histórico. Há um procedimento de preenchimento, que segue detalhado, obedecendo a lógica do punctum.

Não seria o caso de criar um questionário com a ideia da crítica flâneur, porque se pressupõe a liberdade absoluta dessa narrativa, quebrando essa necessidade de análise partilhada, como sugere o questionário. No entanto, as observações colhidas pelo crítico flâneur devem ao fim ser postas lado a lado para verificar o grau dialético entre elas. Nessa fricção, nascerá o jorro crítico, que naturalmente pode partir do punctum, somando-se assim as duas apreciações.

Orientações para o preenchimento:

1) Em primeira instância, preencha o punctum (ponto mais

forte/impactante). Assim, é registrado essa primeiridade, a impressão mais marcante.

2) Depois, preencha cada item dos tópicos: forma e conteúdo. A ideia é escrever algumas linhas, talvez até um parágrafo para os itens mais relevantes.

3) Quando terminar, haverá uma radiografia do olhar sobre a peça. 4) Reveja o punctum após essa radiografia e verifique se ele dialoga com o que foi respondido, inclusive em uma possível chave de contradição. As

respostas que foram dadas ajudam a mapeá-lo em algum sentido.

5) Observe se há alguma resposta que pareça ser mais forte que o

punctum de partida. Nesse momento, pode haver uma troca de punctum.

6) Xeque quais respostas podem ser concatenadas de maneira lógica ao

punctum. Elejam as principais.

7) As que ficaram de fora dessa triagem deve ser descartadas.

8) Observe se há exceções ou ressalvas que julguem muito importante para registro. Mantenha-as.

9) Enumere o que será abordado por ordem de importância e de lógica. O

punctum é o número 1. O 2 deve estar naturalmente ligado ao anterior e assim

sucessivamente. Não necessariamente a exceção, se houver, ficará resguardada para o final. Assim é montado o esqueleto de abordagem da crítica.

10) A escrita é um processo criativo. Pense num começo que dialogue com seu punctum de maneira que traga alguma atmosfera do espetáculo para o papel. Uma cena, uma situação, um conceito.

11) O processo de escrita deve obedecer às regras mínimas de clareza e coerência. Como produto de comunição, a crítica deve conter essas estruturas comunicacionais.

12) Como primeiro leitor do texto crítico, verifique se não há incoerências nas abordagens e contradições entre as ideias. Procure também observar se o texto não promove preconceitos ou censuras. O trabalho do crítico é intelectual e não pode recair no senso-comum de xingamentos e trocas de farpas. Com elegância, pode-se dizer veementemente tudo. No campo formal, evite chavões do linguajar teatral e seja severo quanto à pieguice do impressionismo.

13) Se precisar, recorra a uma pesquisa paralela, de conceitos e abordagens para contextualizar alguma situação formal ou de conteúdo.

14) Evite contar a história da peça. Lembre-se que a crítica é um texto que realimenta o processo.

15) Se citar alguma teoria teatral, tente mais ou menos contextualizá-la. Lembre-se que o leitor da crítica é dual.

16) Terminar um texto é sempre tão complicado quanto começar. Evite essa fórmula descartada de arremate, frases de efeitos e moral da história. O melhor é deixar a narrativa fluir e que o texto termine naturalmente ao falar do último item.

O preenchimento:

1) Qual o meu PUNCTUM?

FORMA

1) Qual a opção da encenação para dar forma ao texto? É épico, dramático ou híbrido?

3) Como o diretor trabalha a movimentação dos atores em cena? 4) As marcas dos atores são orgânicas?

5) O elenco está equalizado?

6) Se há destaques excessivos, vêm do texto ou da encenação? 7) Os personagens estão humanizados ou caricaturais?

8) O jogo de interpretação me surpreende e instiga?

9) Tem algum personagem no qual me identifico mais? Por quê? 10) Como está o figurino do espetáculo? Ele dialoga com o conteúdo da peça?

11) Esse figurino é narrativo? Ele me ajuda a entender a proposta da peça?

12) Como está o cenário da peça? Ele dialoga com o conteúdo da peça? 13) O cenário é estático ou dinâmico? Ele se modifica ao longo do

espetáculo?

14) O cenário me instiga a entender melhor o espetáculo?

15) Como está a iluminação da peça? Ela dialoga com o conteúdo da peça?

16) A iluminação é narrativa? Ela se modifica ao longo do espetáculo? 17) Como está a trilha sonora da peça? Ela dialoga com o conteúdo da peça?

18) A trilha é estática ou dinâmica? Ela se modifica ao longo do espetáculo?

19) A trilha me instiga a entender melhor o espetáculo? 20) Há outras linguagens não usais ao teatro em cena?

21) Se houver vídeos e projeções, são ilustrativos ou narrativos? 22) Há como destacar algum objeto de cena?

CONTEÚDO:

1) De que tema trata o espetáculo? 2) Há temas subsequentes?

3) O tema tratado é urgente à sociedade contemporânea? 4) Há um ponto de vista diferenciado em tratar esse tema?

5) Como a direção/dramaturgia faz para aprofundar esse tema para além do cotidiano?

6) Os elementos formais e cênicos ajudam a contar bem o tema ou o camuflam?

7) Esta dramaturgia vem de um texto clássico ou original? 8) Se for clássico, como é adaptado esse texto?

9) Trata-se de um teatro de elenco ou teatro de grupo? 10) Qual a trajetória desse espetáculo?

BALANÇO:

1) Quais os pontos mais fortes do espetáculo? 2) Quais os pontos mais fracos?

3) Como foi o ritmo do espetáculo? 4) Senti tédio ou fiquei instigado?

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