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1.1. CONCEITO DE ADOÇÃO, SUA NATUREZA, EVOLUÇÃO HISTÓRICA,

1.1.3. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA EM PORTUGAL E EM ANGOLA

1.1.3.2. ANGOLA

Angola caracteriza-se por ser um país nitidamente marcado pelas guerras, o que obviamente se repercutiu na sociedade e desta forma a lei se adaptou à mesma. O primeiro diploma a consagrar a adoção em Angola, à semelhança do que sucedeu em Portugal, foi o Código Civil.

Contudo, com a proclamação da Independência Nacional de Angola e a aprovação da primeira Lei Constitucional angolana, foi instituído um novo sistema jurídico, o que fez com que as normas de caráter discriminatório contidas no Código Civil passassem a ser consideradas derrogadas por inconstitucionais.

Angola é um país que sofreu uma instabilidade governamental, fruto da guerra civil que dizimou muitas vidas e deixou assim muitos órfãos e crianças abandonadas. Com o fim da guerra, tornava-se urgente a sua organização a vários níveis, nomeadamente em termos legais. Impôs-se, obrigatoriamente, que a legislação se adaptasse às novas realidades sociais, como forma de responder a fenómenos que ganhavam cada vez mais espaço no seio desta sociedade.

Pelo que, o campo do direito da família sofreu alterações destinadas, precisamente, a adaptar-se às novas realidades sociais criadas por fenómenos como a orfandade ou o abandono de crianças e jovens. E, por isso, foi publicada uma série de leis de importância relevante que, em questões fundamentais, vieram alterar a legislação colonial naquilo que se mostrava mais antagónico à nova realidade angolana.

Entre outras leis sucessivamente aprovadas, destaquemos as seguintes: a Lei n.º 10/77, de 9 de abril, que equiparou os direitos e deveres de todos os filhos em relação aos seus pais, qualquer que seja o estado civil destes, proibiu qualquer referência à qualidade de filho legítimo ou ilegítimo e decretou a abolição ao termo «incógnito» relativamente à situação de paternidade ou de maternidade; a Lei n.º 7/80, de 27 de agosto, denominada Lei da Adoção e Colocação de Menores, que regulou em diploma próprio, o regime da adoção, que hoje está

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incorporado no Código da Família, a Lei n.º 11/85, de 28 de outubro, que aprovou a Lei do Ato do Casamento e que concedeu unicamente validade aos casamentos celebrados perante os órgãos do registo civil.

O Código Civil Angolano anteriormente vigente só reconhecia a família estruturada no casamento. Incidentalmente fazia menção, a propósito das então designadas ações de investigação de paternidade ilegítima e como um dos pressupostos destas ações, às situações de «concubinato duradouro» e de «convivência marital notória», cujos conceitos vinham definidos no artigo 1862.º o que terá catapultado para a formulação de um novo Código de Família.

E satisfazendo uma necessidade urgente, tanto por esta última razão apresentada, como também por outras, foi em 27 de outubro de 1987 promulgado o Código de Família e publicado em 20 de fevereiro de 1988, tendo sido aprovado pela Lei n.º 1/88, para entrar em vigor na data da sua publicação (artigo 1.º do respetivo código). Desta feita, tornou-se necessário adaptá-lo às novas aspirações que se foram criando sobre o direito de família, não só em Angola, como também em todo mundo.

O Código da Família configura assim uma compilação de normas dispersas reguladoras de direito da família, revogando diplomas legais que até ali vigoravam. É o caso da lei da adoção e colocação de menores, Lei n.º 7/80 de 27 de agosto, que viu os seus capítulos I e II mais precisamente os seus artigos 1.º a 22.º relativos à adoção revogados. Atualmente, o regime da adoção encontra-se previsto nos artigos 197.º a 219.º do Código da Família, que corresponde à quase totalidade das disposições legais que estavam presentes na lei revogada (Lei da Adoção e colocação de menores).

O “novo” Código da Família, agora implementado, como se pode ler no próprio preâmbulo, caracteriza-se por ser “radicalmente oposto, na sua essência, às leis colonialistas implementadas em Angola, que tinham como base as antigas relações sociais baseadas na exploração do homem pelo homem”.

Com a nova Lei, foi dado um novo conceito ao casamento que deixou de ser um contrato, um negócio, e passou a ser entendido como a união voluntária entre um homem e uma mulher ( artigo 20.º CFA), na qual os aspectos pessoais são mais valorizados do que os patrimoniais. Também reltivamente ao divórcio esta nova lei acarretou várias alterações, tornando-o num processo mais fácil. Assim, deixou de se ver o casamento como um contrato eterno e passou a admitir-se que o mesmo apenas poderia subsistir quando possa preencher os fins para os quais foi constituido e, por isso, admite-se a concessão do divórcio quando o

casamento “tiver perdido o seu sentido para os cônjuges, para os filhos e para a sociedade” (artigo 78.º CFA).

Como refere Medina, “o novo código veio integrar num só diploma o conjunto das normas do direito da família, como todos os benefícios que derivam da codificação das leis. Ele trouxe igualmente a sistematização, clareza e acessibilidade do texto legal ao cidadão comum, o que constitui uma caraterística do direito de inspiração socialista. Trata-se de um código de um novo direito baseado em novos princípios, orientados para uma visão criadora de novas regras de conduta que, por sua vez, irão exercer uma influência determinante no meio social”36

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No título I do Código da Família, são elencados os princípios, resultantes da exaltação reformista da Constituição de 1991/1992: a proteção da família; harmonia e responsabilidade no seio da família; a Igualdade entre o homem e a mulher; proteção e igualdade das crianças; educação da juventude e a nova moral social. Com efeito, contêm regras fundamentais programáticas, que devem orientar a constituição e o desenvolvimento das relações no domínio da família, na qual os interesses pessoais de cada um dos membros se devem coordenar de forma harmoniosa com os interesses gerais da sociedade, com vista à criação de um novo homem angolano.

Por outras palavras, estes princípios mais não são do que a consagração da igualdade entre o homem e a mulher (artigo 3.º), a consagração da igualdade entre os filhos, havidos ou não no casamento (atual artigo 128.º), ou por adoção (atual artigo 197.º), sendo-lhes garantidos os mesmos direitos e deveres.