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Etimologicamente a palavra animar significa dar vida; soprar. (www.origemdapalavra.com.br). O que se pretende com a animação da leitura é dar vida ao texto que se lê para que outros o sintam de uma maneira mais profunda. Pretende-se ajudar o outro a estabelecer relações próximas com o livro e com as aventuras propostas através da leitura.

Segundo Cerrillo (2002, p. 83),

“El objetivo único de la animación de la lectura debiera ser la mejora de los hábitos lectores de los individuos a quienes se dirige la animación, hasta lograr crear en ellos hábitos lectores estables. […] hoy entendemos como animación la lectura […] el conjunto de actividades, técnicas

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y estrategias que persiguen la práctica de la lectura, aunque teniendo en el horizonte la meta de formar lectores activos…” 2

Na génese de um leitor está, entre outras, a experiência do contacto precoce com bons livros de literatura, com excelentes narrações e a dádiva da possibilidade de sonhar e viver diferentes e variadas realidades.

Importa salientar que o gosto pela leitura e a formação de hábitos leitores não se constroem de um dia para o outro. A própria palavra “hábito” implica uma ação repetida, constante, pelo que, o gosto por ler é um hábito composto por um novelo que se vai fiando desde que a criança nasce até que a vida cesse.

Quanto mais cedo a criança for iniciada no mundo da leitura, mais rapidamente ela adquire o gosto pelo livro e o prazer de ouvir e de ler belas histórias. Certamente, esperamos que este contacto primordial se inicie logo na primeira infância, no colo de um pai ou de uma mãe, de um avô ou de uma avó, embalados por uma voz ora doce ora cavalgante, ora meiga ora inquieta, que os transporte para um mundo de sonho e de possibilidades. Mundo esse onde, por entre uma palavra e outra, entre a entrada e a saída de uma personagem, se vão criando as imagens necessárias à construção do seu “Museu imaginário”, mundo esse onde se dá a possibilidade de conhecimento externo e interno, onde, no final, se aquietam e se resolvem as dúvidas e as inquietações. Um mundo pleno de possibilidades e escolhas, um mundo onde, em instância maior, se começa a forjar a personalidade do ser em humanização.

“Para ele, nós éramos os contadores de histórias. Contávamos-lhe histórias desde que começou a falar. Era uma aptidão que desconhecíamos em nós. O seu prazer inspirava-nos. A sua felicidade animava-nos. (…) E mesmo se afinal não lhe contámos coisa nenhuma, se nos limitámos a ler em voz alta, éramos os seus romancistas, só dele, os contadores de histórias exclusivos, por quem, todas as noites, ele enfiava o pijama do sonho antes de adormecer entre os lençóis. Mais do que isso, éramos o Livro.” (Pennac, 1999, p. 15)

2 “O único objetivo da animação da leitura deveria ser a melhoria dos hábitos leitores dos indivíduos a

quem se dirige a animação, para criar neles hábitos de leitura estáveis. [...] Hoje entendemos a animação da leitura como [...] o conjunto de atividades, técnicas e estratégias na prossecução da prática da leitura, tendo no horizonte o objetivo de formar leitores ativos ...” (traduzido do original)

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Pela palavra, mais uma vez, pelo valor da palavra oral e escrita, a criança é iniciada no caminho da literatura, no prazer associado à leitura descomprometida, prazerosa, ainda desprovida de caráter pedagógico. Esta iniciação pela narração pode ser o caminho mais seguro para uma iniciação eficaz na apreciação literária.

Convém, naturalmente, ressaltar que este seria o cenário ideal, contudo, a não ser possível cumpre à escola criar as condições para que este encontro se dê. E são inúmeras as estratégias a adotar para que se crie esta ligação entre o livro, a leitura e a criança, projeto-leitor.

“Para incentivar as crianças a gostar de ler, o primeiro passo é agir de modo a que elas descubram as suas próprias motivações para ler (...) a ponto de se implicarem na leitura, de se projetarem nela; de se apropriarem do texto de tal modo que tenham a impressão de que foram elas que o escreveram.” (Poslaniec, 2006, p. 15) Como muitas crianças associam a leitura a um ato obrigatório, por vezes penoso e desprovido de sentido, a animação da leitura poderá funcionar como uma estratégia para que a criança passe a encarar o livro numa outra dimensão – a da brincadeira. Aqui, a inserção do lúdico como condimento ao maravilhoso das histórias e dos contos tradicionais poderá funcionar como alavanca para esta inserção prazerosa na leitura.

Em Cerrillo e Padrino (1996, p. 60) podemos encontrar uma definição para esta atividade:

“La animación es una actuación intencional que, com estratégias de caráter lúdico y creativo, va a tratar de transformar actitudes individuales y coletivas en torno a la lectura y el libro. Utilizamos actividades participativas en las que la interacción resulta imprescindible y en la que todo el processo se va a estructurar con una metodologia abierta y flexible que permita su adaptación a las personas para las que se há proyectado.” 3

Pretende-se, através de atividades envolventes e sempre pensadas para um público específico conquistar definitivamente leitores. Paulatinamente, as crianças passarão a ler por questões intrínsecas e não porque decorre uma ação

3 “A animação é uma ação intencional que, com estratégias de caráter lúdico e criativo, tentará

transformar atitudes individuais e coletivas sobre a leitura e os livros. Utilizam-se atividades participativas nas quais a interação é essencial e onde todo o processo seja estruturado com uma metodologia aberta e flexível que permita a sua adaptação ao público para o qual foi projetado.” (traduzido do original)

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externa e motivadora. Terão, por isso, que ser estruturadas ações de caráter sistemático e contínuo, nunca esporádicas. É importante destacar que o principal objeto da animação da leitura é o livro e o estabelecimento de relação com o futuro leitor. Todas as estratégias, por mais lúdicas e divertidas que possam ser, têm que ser sustentadas por este argumento. Caso contrário, serão fonte de prazer momentâneo mas não farão leitores ativos, competentes e críticos.

Neste sentido, podemos afirmar que a animação implica estratégias como a leitura em voz alta, da parte do professor e dos alunos, bem como momentos de partilha de leitura e debate em grupo e até elaboração de textos diversos sobre as leituras feitas.

Prole (2008) refere ainda que a participação de outras linguagens nas atividades de animação do texto são de sobremaneira úteis neste encontro com o texto, destacando o papel da expressão plástica ou dramática, da expressão musical e da dança. No entanto, relembra que a leitura viva do texto continua a ser a ferramenta principal e que as outras “vozes” deverão apenas estar ao serviço do livro!

Já Glória Bastos (1999, p. 291) acrescenta que,

“ […] Neste domínio não existem receitas infalíveis nem fórmulas mágicas, mas é na variedade das experiências tentadas e na troca de conhecimentos, que cada animador vai ganhando confiança.”

O animador deve ser, portanto, um entusiasta na leitura e um trabalho de animação deve ser um trabalho sistemático, recorrendo a uma grande diversidade de estratégias.

O próprio espaço de animação da leitura é um espaço fundamental para que a descoberta e o enamoramento se deem. A sala de aula, e não só, será um espaço primordial para que essas aventuras aconteçam. Para que esse deslumbramento de ler e pela leitura se deem.

E neste contexto parece-nos importante referir Teresa Calçada, (até então responsável pela Rede das Bibliotecas Escolares, agora jubilada) a qual afirma que a promoção da leitura exige uma maior mobilização por parte dos principais responsáveis pela educação dos mais jovens. Sublinhando, inclusive que se torna indispensável formar educadores, professores, bibliotecários, animadores

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e mediadores de leitura, para além de pais e encarregados de educação […] no despertar precoce do gosto pela leitura. (www.youtube.com)

Tendo plena consciência da importância fundamental que assume o animador de leitura como agente que orienta e, ao mesmo tempo, faz abrir as portas do mundo maravilhoso da leitura à criança, cumpre-nos referir que são várias as pistas fornecidas para que possamos formar e fazer crescer um animador de leitura.

É no sentido de traçar um perfil de competências de um animador de leitura que surge o próximo capítulo.

2. O professor-animador de leitura e o mapa do