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Animação e Intervenção Socioeducativa na Terceira Idade

CAPÍTULO II: O Processo de Envelhecimento e a Animação Sociocultural e

2.3 Animação e Intervenção Socioeducativa na Terceira Idade

O aparecimento de instituições sociais para idosos e as preocupações crescentes com esta população têm conduzido ao desenvolvimento de uma intervenção social e educativa direcionada para os idosos e para quem com eles trabalha. Pode-se dizer que este tipo de intervenção é construída a partir de estudos realizados no âmbito da Gerontologia Educativa, ciência que tra- balha a intervenção educativa com as pessoas adultas, tendo em vista a pre- venção do seu declínio (a nível, cognitivo, físico, motor, sensorial,…).

Segundo Trilla (1998: 252)

«(…) a gerontologia educativa situa o campo de actividade entre as ciências da educação e a gerontologia. Trata-se de uma ciência aplicada para a intervenção educativa nas pessoas adultas. O ponto de partida parte do convencimento de que as acções socioeducativas são um ele- mento importante quer para prevenir quer para servir de elemento substi- tutivo, perante as situações de detioração biológica que a passagem de tempo provoca. (…) Trata-se fundamentalmente de ajudar as pessoas adultas a planificarem as estratégias para o envelhecimento, de promover novos interesses e novas actividades, de estimular e treinar a vitalidade

7 DEPP – Departamento de Estudos, Prospetivas e Planeamento do Ministério do Trabalho e

37 física e mental e de ocupar, utilmente, os grandes tempos livres disponí- veis.»

Esta conceção vai ao encontro da perspetiva apresentada por García (2005), em que a gerontologia educativa deve centrar-se em duas funções: promover o respeito pela pessoa adulta e o respeito pela sociedade. No âmbito do respeito pela pessoa adulta, a gerontologia educativa procura potenciar o autoconhecimento; dinamizar a pessoa de idade em todas as suas dimensões, minimizando o seu afastamento do meio social; promover a auto- confiança; autocuidado; realização pessoal. Quanto ao respeito pela socieda-

de, pretende-se a democratização da sociedade (obter uma maior inclusão de

todas as pessoas na sociedade); potenciar a igualdade entre os vários grupos sociais; universalizar o direito à educação (educação ao longo da vida); otimi- zar a eficácia e eficiência dos serviços direcionados para as gerações adultas. Pode dizer-se que esta apresenta-se como a perspetiva que mais permite a visão do idoso como um ser ativo, com capacidades de aprendizagem e desenvolvimento, deixando o mesmo de ser apresentando como alguém no fim da vida, o que a torna interessante do ponto de vista teórico.

Martín (cit in Osorio e Pinto, 2007: 53) assume que:

«a gerontologia educativa parte dos contextos e das realidades

específicas em que se encontra o indivíduo idoso e propõe um

processo socioeducativo de reflexão pedagógica, de investigação e de acção, que procura melhorar a qualidade de vida da pes- soa.» Neste sentido,propõe que a educação seja construída de e com os idosos, ou seja «uma concepção metodológica de traba- lho fundamentada na interacção grupal, em que cada idoso se converte no protagonista, mas dentro e a partir do grupo. A inter- venção delineada desta forma fundamenta-se na pedagogia social e a sua metodologia é dada pela educação e pela animação

sociocultural nas suas diversas modalidades».

Nota-se que os estudos desenvolvidos em torno da gerontologia educa- cional são cruciais para promover intervenções socioeducativas que potenciem o bem-estar e qualidade de vida da pessoa sénior, a sua felicidade, confiança

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e autoestima, respeito pelas suas vontades próprias, o seu papel ativo na sociedade, o direito a uma vida digna e com acesso aos diversos serviços de apoio existentes.

«A aparição da Animação Sociocultural no campo da terceira

idade surge em resposta a uma ausência ou diminuição da sua activida-

de e das suas relações sociais. Para preencher esse vazio, a Animação Sociocultural trata de favorecer a emergência de uma vida centrada à vol- ta do indivíduo ou do grupo.» (Elizasu cit in Lopes, 2006: 329)

De acordo com a perspetiva acima apresentada, pode entender-se a animação sociocultural nas instituições direcionadas para os idosos como um ponto essencial, dado que permite promover dinâmicas e ações nas mais diversas áreas e interesses dos idosos, mantendo-os ativos.

Ao assumir a animação sociocultural enquanto estratégia de intervenção social e educativa, detentora dos pressupostos referidos acima há que assumi- la, também, como um campo de mediação, entendendo esta como uma estra- tégia para (re) criar laços sociais através da presença de um mediador. Lemai- re & Poitras (2004) referem a mediação social como uma forma de intervenção que se centra na (re) criação do laço social e na (re)socialização dos indiví- duos, conseguindo assim a sua inscrição/inserção na vida social e a mediação comunitária como uma intervenção que pretende que os sujeitos de uma comunidade reapropriem a capacidade de agir, sendo capazes de resolver os seus conflitos e (re) estabelecer laços sociais de uma forma harmoniosa, parti- cipativa, responsável e autónoma.

Se a mediação social privilegia a necessidade de (re)construir o laço social através da (re)inserção do indivíduo na vida social, a mediação comuni- tária procura potenciar a autonomia dos membros de uma comunidade, para que esses definam, por si mesmos, os seus problemas, as suas necessidades e os modos de se relacionarem com a sociedade.

Estas perspetivas permitem, também, equacionar o papel do idoso enquanto cidadão ativo, participativo e valorizado, tanto por ele próprio como pela sociedade envolvente, reforçando Debert (1998, cit in Ferrigno, 2003), já referida no Capítulo I, quando afirma que estamos perante uma alte- ração positiva na imagem sobre a velhice. Seguindo esta lógica, ao longo da

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intervenção em instituições que trabalham com idosos, assumem-se estes não como indivíduos ultrapassados, sem capacidades e inúteis, mas como indiví- duos ativos que deverão ter poder de participação e de decisão, sendo valori- zados na sociedade. Por outras palavras, reconhece-se os idosos como uma fonte de sabedoria, com diversas competências e capacidades de pensar, decidir e agir determinantes ao longo de toda a intervenção.

Como afirma Torremorell (2008),

«o facto de seguirmos os valores da mediação afasta-nos, forçosamen- te, da sua visão mais instrumentalizada – que gira à volta do conflito e da sua solução – e o discurso reordena-se à volta de um novo horizonte sociocultural no qual as relações interpessoais são fonte constante

de aprendizagem e de construção de significações sociais parti- lhadas» (Torremorell, 2008: 70).

Deste modo, é fundamental que a mediação e a intervenção socioeduca- tiva atue nas diversas dimensões relacionais dos sujeitos (Torremorell, 2008):

 Intrapessoal, dotando os participantes de um espaço para refletirem sobre si mesmos;

 Interpessoal, que passa pela aceitação do outro e de nós próprios;  Intragrupal, atuando no seio dos grupos como coeficiente de coesão,

estimulando o debate reflexivo e o questionamento das dinâmicas ins- tauradas;

 Intergrupal, permitindo o reconhecimento de que os conflitos perten- cem a todas as pessoas que integram um determinado contexto e não apenas aos grupos em conflito;

 Social, estimulando o desenvolvimento de competências culturais, bem como o reconhecimento e legitimação das diferenças, promovendo, assim, atitudes de abertura em relação a outros modos de pensar, ser ou estar.

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2.4 Animação na Terceira Idade: um Modo de Ação nos Centros de Dia