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Animação na Necrópole de Carenque para a comunidade escolar Esta recriação pretende ilustrar por intermédio de uma pequena dramatização, várias

acções do quotidiano de uma comunidade do Neolítico Final. Na sua concepção teve-se presente a necessidade de transmitir à comunidade escolar, de uma forma simples e atractiva, o contexto histórico em que se integra o local, sensibilizando os alunos para a sua valorização e divulgação. Acreditamos que com este tipo de projectos contribuímos para incrementar a empatia e o envolvimento das populações na preservação da nossa memória colectiva.

A acção centrava-se nos hábitos mais comuns de uma comunidade, executando cada um dos personagens uma actividade social, culminando a dramatização com a morte de um dos intervenientes. Deste modo, foram criadas cinco personagens, que apelidamos de: Rotlu Cirga (o agricultor); Rodaçac (o caçador); Ori Elo (o oleiro); Rot-urts-noc (o construtor das grutas), e Ale Cet (a tecelã). Toda a cena era acompanhada e descrita pelo guia, representado pela figura do arqueólogo que descobriu e escavou a Necrópole em 1932, Manuel Heleno.

Numa fase inicial do projecto criou-se um guião vocacionado para crianças em idade escolar, que pretendia transportar os visitantes numa viagem pelo período de construção da Necrópole de Carenque, e que de seguida descrevemos.

Ao chegar à Necrópole, os visitantes eram recebidos por um personagem que procurava representar Manuel Heleno, trajado de acordo com o vestuário próprio de um arqueólogo dos anos 30 do século XX. O nosso anfitrião fazia então uma breve descrição do período cronológico em que se insere a Necrópole de Carenque, iniciando a partir daí uma visita pela área circundante às grutas.

Logo no início do percurso o grupo cruzava-se com um habitante local (Rotlu Cirga) que vestia umas calças brancas em linho e um “casaco” executado em pele de cabra, cal- çava umas botas em pele e a proteger-lhe as pernas, umas polainas também em pele de cabra. Sobre os ombros transportava uma cesta em ráfia na qual levava alguns ce- reais que acabara de ceifar. Nessa altura “Manuel Heleno” convidava-o a mostrar o que transportava e a foicinha que trazia numa das mãos e que lhe permitiu ceifar o cereal, que havia de transformar em farinha. “Manuel Heleno” aproveitava então para elucidar os visitantes que foi neste período que o homem descobriu a agricultura, explicando igualmente todas as mudanças que essa descoberta acarretou no modo de vida destas populações. Após alguns minutos de conversa com Rotlu Cirga o grupo despede-se e prossegue caminho. Um pouco mais à frente avista-se Rodaçac, um dos caçadores da co- munidade. À semelhança do nosso agricultor, Rodaçac, ostentava roupas executadas em esparto e pele, encontrando-se sentado sobre um tronco. Na sua frente, vários nódulos de sílex que talha de modo a obter instrumentos líticos, que auxiliarão a comunidade nas suas tarefas diárias. Ao seu lado é possível observar um arco e uma aljava com várias setas utilizadas na actividade da caça. Após mais algumas explicações o grupo pros- segue a sua viagem pelo passado, interceptando uma tecelã que executa uma peça em lã, utilizando para tal um tear, onde são visíveis os característicos pesos de tear em cerâ- mica de forma quadrangular com quatro orifícios. Muito próximo encontra-se um oleiro, o Ori Elo, que executa diversos recipientes em barro, que irão posteriormente permitir guardar os alimentos produzidos pela comunidade.

A dramatização entra depois no seu momento mais alto, Rotlu Cirga (o agricultor), per- sonagem com que o grupo se tinha cruzado logo no início do percurso, tinha entretanto iniciado uma nova actividade, a moagem de cereal para a produção de farinha, recor- rendo para tal a um moinho manual, constituído por dois elementos (movente e dor- mente). Durante essa actividade é acometido de morte súbita, lançando um grito audível por todos. Nesse momento os restantes personagens deixam os seus afazeres, incluindo o Rot-urts-noc (construtor das grutas) que se encontrava a concluir um dos sepulcros, dirigindo-se para junto do corpo do agricultor, de forma a dar início ao ritual fúnebre. Como culminar da representação os restantes personagens depositam o “morto” num dos sepulcros da Necrópole de Carenque, fazendo-o acompanhar por diversas oferendas, baseadas em réplicas de objectos encontrados no interior das grutas, aquando da sua escavação em 1932. Toda a cena é explicada pelo nosso guia que convida igualmente os alunos a intervirem na cena depositando alguns artefactos junto do “defunto”.

Após esta representação, o público era convidado a visitar o espaço de recepção da Necrópole de Carenque, onde existe uma pequena exposição explicativa da escavação do local, bem como doutros locais pré-históricos existentes na região. Esta pequena exposição é constituída por placards ilustrados, mapas, réplicas e uma maqueta de uma das grutas.

Importa referir que ao longo do percurso os alunos interagiam com os personagens, podendo tocar e utilizar os artefactos usados nas várias actividades, pretendendo-se desta forma uma abordagem educativa de elevada interactividade, com forte estímulo sensorial, tornando a aprendizagem mais agradável e facilitando a memorização de conhecimentos.

As representações decorriam mensalmente de acordo com as marcações das escolas, sendo articuladas com o Museu Municipal de Arqueologia da Amadora.

O projecto captou logo de início a atenção dos alunos, que viam na acção uma forma simples e divertida de apreenderem as matérias que eram leccionadas. Despertou igual- mente o interesse da comunicação social, destacando-se o artigo publicado na edição portuguesa da National Geographic (Março de 2003). No entanto, algumas dificuldades de logística e de conciliação com datas escolares levaram ao gradual abandono da perio- dicidade mensal da representação, passando esta a decorrer mais esporadicamente.