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4. ESTUDO DE CASO SÃO MARTINHO DO PORTO

4.4. PROSPEÇÃO ELÉTRICA

4.4.5. DESCRIÇÃO COLETIVA DE PERFIS DE RESISTIVIDADE NA ÁREA

4.4.5.1. ANOMALIAS

As anomalias foram o primeiro item a ser estudado, pois tinha-se antecipadamente conhecimento da existência do túnel, cuja base situa-se aproximadamente à cota 6 metros e o seu topo, em redor dos 9 metros (Figura 4.57

). Esta estrutura,

em caso de deteção serviria como “calibração” de outras anomalias que eventualmente existissem. O aspeto mais importante para credibilizar o estudo de prospeção geofísica é o túnel, validando-o, validam-se as restantes anomalias e por consequência, todas as informações inerentes.

Figura 4.57- (a) Entrada sul do túnel no MDT 3D; (b) Levantamento topográfico da área analisada, em detalhe observa-se o alinhamento azul do túnel e as curvas de nível e pontos cotados à cota 34m no

topo do esporão, por cima do túnel (cota sensivelmente 5,1m-8m)

O primeiro perfil a ser realizado foi o PR4, tendo sido este alvo de todas as correções e tratamentos possivelmente aplicados. A correção 3) na inversão, do PR4_DP>3%_S (Anexo I

(4E)), está ilustrada na Figura 4.58. Nesta figura, pelo tratamento 1) DP>3% com dados de saída, observou-se uma resistividade homogénea, que não é facilmente identificável devido à presença de uma resistividade infinita ou anomalia, possivelmente passível de ser identificada como ar, se devidamente validada pelo tratamento 5) “validação”.

Figura 4.58- Perfil PR4_DP>3%_S realizado no dia seco, com a configuração W-S, tratamento 1) DP>3% de dados de “saída” com o respetivo tratamento 5) de validação, localizado inferiormente

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Para a interpretação do tratamento 1) deste perfil, recorreu-se ao ZHD na galeria de reconhecimento, que está na vertical de um único ponto atravessado pelo perfil de resistividade, tendo-se procurado identificar quantas foram as camadas cartografadas e as unidades geotécnicas que este perfil atravessa, daí se extraindo as suas respetivas profundidades de contacto e possanças associadas. Cada unidade é o resultado da associação de diversas camadas “geológicas”, com um comportamento mecânico que é semelhante segundo, os ensaios laboratoriais. Da superfície do esporão à cota 34 m, para a sua base, o primeiro contacto seria entre o arenito carbonatado e o solo n.º 2, atendendo à disposição da estratificação, a passagem do Z2 para o Z3 da Figura 4.60. Como a inclinação da estratificação coincide com a do talude exterior da arriba, e como os perfis de resistividade se executaram sensivelmente a 50º (90º-40º) deste, com a horizontal, a forma que as camadas apresentam no perfil invertido, será sempre em “fatias”, absolutamente paralelas devido à disposição da estratificação no referido talude. Neste tratamento 1) e com as correções deste perfil, tal não é contudo visível em virtude da presença de pelo menos, uma anomalia infinita.

Aplicando agora um tratamento 1) DP<3% ao mesmo perfil (PR4), com correção topográfica 2) e dados de saída, obteve-se na correção 3) de “inversão” e o tratamento 5) de validação, da Figura 4.59 (Anexo I (4F)). Nesta, é visível entre os 0 e os 4 metros de profundidade, uma espessura de arenito carbonatado mais alterada, devido à maior exposição aos agentes instabilizadores. Sensivelmente, nos 25 metros de profundidade, observa-se o contacto entre o arenito carbonatado cartografado no ZHD (resistividade superior a 140Ω.m) e as margas (resistividade inferior a 140Ω.m). Este era esperado aos 24 metros de profundidade, tendo surgido sensivelmente um metro abaixo do esperado. Estas informações encontram-se validadas pelo tratamento 5) em baixo do perfil invertido.

Figura 4.59- Análise seca do perfil PR4_DP<3_S, com a configuração W-S e dados de “saída”. Executou-se o tratamento 1) DP<3% e o tratamento 5) de validação encontra-se inferiormente

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Como foi detetada uma anomalia infinita no PR4_DP>3%_S, através do valor da resistividade “infinita”), pese o facto, não foi possível identificar com exatidão a sua localização uma vez que esta era extremamente pontual, e não se conseguia distinguir na enorme homogeneidade que representa a Figura 4.58. O facto de se trabalhar com o tratamento1) DP>3% acarreta quase sempre um maior grau de incerteza do que o tratamento 1) do DP<3%. A localização central dos elétrodos foi colocada na posição aproximada em que se estimava que a galeria de prospeção fosse identificada na coordenada (100m;26.5 (topo da galeria de prospeção)/29m (base da galeria de prospeção)), sendo respetivamente o espaçamento horizontal e a profundidade respetiva. Assim, dedicou-se um pouco mais de atenção a tratamentos intermédios, nomeadamente o estudo das medições da resistividade aparente obtida pelo resistivímetro (Figura 4.61), ou melhor observada no Anexo I (4G), ao invés da análise da resistividade invertida (Figura 4.58).

Figura 4.61- Identificação de uma anomalia infinita pela resistividade aparente no software Prosys, em tempo seco no PR4, cuja configuração é W-S, com a correção 2) topográfica RS, e o tratamento 1)

DP>3% com dados de “saída”

Seguidamente, refere-se o perfil PR4_DP>3%_S, realizado no dia seco, com os tratamentos DP>3% e DP<3%, pelo que as seguintes análises correspondem, ao n.º 43 da Figura 4.53. Neste primeiro tratamento, é visível uma abóboda, na localização da anomalia. As resistividades aparentes aumentam para o interior da anomalia, onde só existe ar, e apresentam-se simétricas nos dois hasteais, que conformam a forma mais concêntrica detetada, de todas as correções e tratamentos, em todos os perfis.

Na Figura 4.63, encontra-se analisado o procedimento para tentar localizar a anomalia infinita, que existe na Figura 4.58. Esta anomalia infinita foi identificada no perfil PR4_DP>3%_TRS. Com base no levantamento topográfico da CM de Alcobaça, pelas coordenadas da Figura 4.57, constatou-se que no local de interseção do nosso perfil de resistividade superficial, com a galeria de prospeção, existem 29,3 m, mais concretamente cerca de 27 m de profundidade até ao teto, e cerca de 29m em relação à base do túnel. É de realçar a linearidade da galeria de prospeção e a cota idêntica (5,1 m) em ambos os emboquilhamentos.

A Figura 4.63 e a Figura 4.62, referentes ao tratamento do perfil PR4, serão devidamente detalhadas em seguida. O resultado desta análise é a melhor visualização da anomalia que se pensa

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corresponder ao túnel. Ainda neste tratamento, é possível observar uma anomalia “infinita” entre os (90m; 31-34m), bastante próxima da localização expectável. Para aferir o contraste entre as diferentes formas de resistividade aparente, executou-se o respetivo tratamento 4) de formas, que se encontra também no Anexo I (4H). No perfil PR4_DP>3%_S realizado em tempo seco, obteve-se um grande contraste na diferença de resistividades aparentes. Neste último, é possível observar a anomalia anteriormente mencionada, que se pensa corresponder, ao túnel. A validação das medições nessa localização encontra-se no tratamento de validação 5) da Figura 4.58 e em maior pormenor, na Figura 4.62.

Desta forma, obteve-se a informação que existe uma anomalia “infinita” na localização expetável do túnel, sendo esta a maior anomalia detetada em todo o perfil que tem só, cerca de 200 m de comprimento por cerca de 37 m de profundidade. É possível verificar-se que o túnel que estaria nessa profundidade expetável foi encontrado em redor da mesma, perto do centro do perfil PR4, como se projetou.

Assim, e porque a anomalia não foi detetada no centro do PR4, como era suposto, realizou- se um novo perfil que se estendeu 20 m para oeste por forma, a que a anomalia se revelasse mais centrada. Esta apareceria no ponto 110m, a uma profundidade em teoria diferente, visto que se ia introduzir outra variável, o novo perfil (PR5) seria realizado em tempo húmido, para se ter uma ideia da variação das resistividades para as diferentes formações. O elétrodo mais a oeste tem uma cota sensivelmente superior a 37m.

Figura 4.62- “Zoom” da resistividade aparente no software Prosys, com o tratamento 4) de forma do perfil PR4, realizado em tempo seco, com a correção topográfica (TRS) e com a configuração W-S,

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Figura 4.63- Protocolo de identificação e validação de anomalias, quando se sabe que existem, mas não se encontram visíveis na Correção 3) Inversão.- Análise seca, do perfil PR4_DP>3%_S. PR4 tem a configuração W-S e trata dados de “saída” e com correção topográfica “TRS” com o tratamento de validação espacial das

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O perfil PR5 realizou-se num dia húmido, com condições diferentes do PR4, e que iam necessariamente influir na localização do túnel, na área potencialmente atravessada. Esta última gotejava intensamente, no ponto interior da galeria na previsível interseção com o perfil de resistividade realizado superiormente.

Estimou-se que, acrescentando-se 20 m a partir do centro do perfil PR4, para o lado do fecho da “concha”, a anomalia que iria aparecer no novo perfil, situar-se-ia a uma profundidade superior, estimada em cerca de 33 m de profundidade (Figura 4.57). No dia de realização do PR5, a

Figura 4.63 foi um dos diversos locais onde foi identificado um gotejamento. Cruzando a localização do PR5 com a galeria de prospeção, estima-se que a eletricidade injetada atravessou a galeria de prospeção muito perto desta área.

O túnel foi também vedado em ambos os emboquilhamentos, durante aproximadamente 40 minutos, o tempo de duração do PR5 (Perfil de resistividade n.º 5). Essa água foi proveniente do gotejamento verificado na Figura 4.64, através das diversas descontinuidades este-oeste que cortam a galeria de prospeção, e pelas cavidades existentes no teto (Figura 4.65).

Ao fundo da Figura 4.66 notam-se algumas poças de água no chão. Estas são abundantes no arenito carbonatado e surgem essencialmente na metade da galeria de prospeção norte. Estas têm uma ordem de grandeza de pelo menos 10 cm na maior direção, não sendo possível com o equipamento disponível, observar onde findam. A Figura 4.66

foi tirada,

instantes antes da realização do começo da prospeção em tempo húmido.

Figura 4.64- Pormenor em tempo húmido do gotejamento no hasteal direito, localizado sensivelmente no meio da galeria de prospeção

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Figura 4.65- (a) Zoom de pequenas cavidades (5cm na maior dimensão em ambas as fotografias), observadas em tempo seco no TCF (teto da galeria de prospeção com flash nas fotografias); (b) TSF

(teto da galeria de prospeção sem flash nas fotografias)

Figura 4.66- Vista geral sul para norte, na entrada do túnel

A diferença na resistividade máxima no perfil PR4 e no PR5 foi evidente, pensa-se, que pelo facto de a corrente injetada ter no PR5, aquando da sua passagem na área intersetada, e melhor localizada na Figura 4.64, provavelmente propagado pela água existente nas descontinuidades laterais, nas pequenas cavidades que pingavam do teto formando as poças de água no chão, e que impediram a eletricidade de chegar ao elemento ar, no interior da cavidade (galeria de prospeção), ao contrário do que aconteceu no PR4, realizado em tempo seco.

Como o resistivímetro permite um incremento de valores registados a uma determinada profundidade, programou-se uma nova sequência com 996 leituras (mais do dobro das que tem o perfil PR4, e perto da capacidade máxima), levando-se a bateria já identificada, e executou-se um novo perfil, o PR5, desviado lateralmente 20m de PR4 nas condições já anteriormente referidas. Complementarmente, associou-se à inspeção laboratorial dos componentes, uma nova e igualmente profunda inspeção in situ.

O perfil PR5 obteve pelo tratamento 1) DP=0%, cerca de 100% das suas medições validadas. A inversão deste perfil, com o tratamento 1) DP=0%, correção topográfica 2) “Rs” e o seu tratamento 5) de validação, encontram-se na Figura 4.67 e no Anexo I (4I).

(a) (b)

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Figura 4.67-Análise húmida do perfil PR5_DP=0%_S da configuração W-S, com dados de “saída”. Usou-se o tratamento 1) DP>3% e apresenta-se inferiormente o tratamento 5) de validação espacial

das medições

No perfil PR5_DP<3%, talvez resultado da elevada condutividade que a água tem, associado ao incremento da resolução (458 contra 996 leituras totais e dos “stacks” 3-6 contra 3- 10) relativamente ao perfil PR4, na profundidade de contacto entre Z2 e Z3, que possibilitou o aumento desse detalhe, o qual foi mais especificamente “ajudado” pela infiltração de água proveniente da chuva no maciço, que percolou da superfície do esporão até ao teto túnel, tendo “mascarado” assim a resistividade superior no tempo húmido, como já se referiu anteriormente. É visível também nos primeiros 4m de profundidade, uma espessura de meteorização com alguns afloramentos do arenito carbonatado. No perfil PR5, observou-se o contacto entre o arenito carbonatado e a formação margosa, à profundidade 24m. Dos 24 aos 30 metros observa-se uma diminuição da resistividade a partir dos 140Ω.m, a qual corresponde à camada margosa. De notar que a disposição desta, é praticamente também ela horizontal, como se esperava.

No que respeita à estatística, existiu uma evolução que se deveu indiretamente, ao menor número de leituras dimensionadas do perfil PR4 face ao PR5, e respetivamente, ao menor grau de aproveitamento das mesmas. No perfil PR4, pelo Quadro 4.4, no Figura 4.5 e no Quadro 4.6, este apresenta uma percentagem de leituras para o DP>3%, DP<3% e DP=0% de 92%, 73% e 68% respetivamente.

Da análise da escala de resistividades, pode-se dizer de uma forma simples, que se a Figura 4.69 apresenta no tratamento DP>3% resistividades máximas “infinitas”, com o tratamento DP<3% a máxima baixou para 9409Ω.m, e em DP=0% para 1128Ω.m, o que só quer dizer, que pela remoção da anomalia infinita, tornou-se mais percetível o valor máximo e mínimo da resistividade.

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Pela correção na inversão 3) e comparando o arenito carbonatado do perfil PR4_DPR3_S e o PR5_DP0_S, a diferença em tempo húmido para o seco da mesma localização, a gama do arenito carbonatado é superior a um valor em redor dos 140Ω.m, e a da formação margosa, encontra-se aproximadamente abaixo do valor referido. Em tempo seco, o arenito carbonatado assume uma resistividade superior a 140Ω.m e a formação margosa varia aproximadamente entre os 40Ω.m ao limite superior já mencionado, pelo que ambas as análises parecem coincidir. Provavelmente, essa diferença poderá ser maior em condições climatéricas mais adversas.

Na Figura 4.62 encontra-se o perfil PR5, sendo os tratamentos do DP>3%, DP<3% e DP=0% muito idênticos, com a percentagem de leituras aproveitadas que se mantém nos 100% do

Quadro 4.4para os 100% no Quadro 4.5 e mudam para 99% no Quadro 4.6 que correspondem por sua vez respetivamente, às análises coletivas n.º 3 e n.º 11 da Figura 4.53.