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5. Consolidação da madeira

5.1. Anomalias em pavimentos

As anomalias que afetam os pavimentos de madeira estão essencialmente relacionadas com a natureza do material, e podem ser devidas a patologias dos elementos estruturais ou corresponderem à degradação de determinadas características mecânicas. As patologias dos elementos de madeira são habitualmente devidas aos ataques de agentes biológicos, ou até mesmo à ação de água diretamente sobre a madeira. As características mecânicas estão associadas com o processo de envelhecimento da madeira, e estão relacionadas com fenómenos como a deformação e vibração excessiva, empenamentos, fissuras, entre outros [35, 36]. Como já foi referido anteriormente, a presença de água nos elementos de madeira é o principal fator da sua deterioração. A água nos seus diversos estados ataca principalmente a madeira através da caixilharia exterior, paredes e cobertura. Consequentemente, as zonas primeiramente afetadas dos pavimentos são as ligações destes com as paredes resistentes e com as coberturas, podendo o ataque expandir-se e degradar todo o pavimento. A presença de água na madeira aliada a determinadas condições ambientais constituem situações bastante favoráveis para o desenvolvimento dos agentes biológicos. Devido aos ataques, há uma redução de secção útil dos elementos e quando totalmente destruídos os apoios ocorrem deslocamentos verticais e

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rotações, provocando assim uma redistribuição dos esforços pelo restante pavimento. Pode-se verificar este fenómeno através da grande deformação dos pavimentos bem como deslocamentos verticais junto às paredes resistentes que apontam para a destruição da ligação [36].

A presença de água na construção pode também ser devida às diversas obras de manutenção, reparação ou alteração que não foram devidamente executadas, esquecendo-se o facto de se tratar de estruturas antigas e portanto não podendo ser encaradas como se fossem novas. Frequentemente este tipo de anomalias são consequência da instalação de redes de água e esgotos. É natural, que tratando-se de edifícios antigos, se queira utilizar tipologias construtivas com determinadas restrições, como é caso do uso de pavimentos de betão armado em instalações sanitárias e cozinhas. A betonagem nestes casos não deve ser feita diretamente sobre as vigas de madeira, porque a água de amassadura infiltra-se nos vigamentos de madeira, criando condições propícias ao desenvolvimento de agentes biológicos provocando os problemas já mencionados anteriormente. Este caso é mais grave porque a água de amassadura espalha-se por todo o pavimento, tornando-se num fator para a propagação dos agentes biológicos.

Além disso, o uso de betão provocará um aumento de cargas no edifício, que implica que sejam feitas verificações de segurança estrutural. Com o aumento das cargas poderá haver a necessidade de se realizarem diversas obras de reforço estrutural, até mesmo ao nível das fundações. Assim, ainda que o uso do betão não seja propriamente uma solução, muitas vezes é utilizado, sem as necessárias cautelas, devido à falta de conhecimento dos projetistas e construtores. Deste modo, devem ser tomadas medidas de forma a proteger os pavimentos de madeira, nomeadamente com a utilização de uma tela impermeável, de forma a evitar o contacto da água com a madeira.

Outra das formas de presença de água nos edifícios prende-se com a existência da mesma no solo, que é absorvida pelos elementos de madeira (e de alvenaria e betão) por capilaridade, sendo que os primeiros vigamentos a serem afetados são os da estrutura do rés-do-chão [36]. Os edifícios abandonados por vezes encontram-se demasiado degradados devido a causas fortuitas, tais como telhas e vidros partidos que permitem a entrada de água. A sua falta de manutenção, nomeadamente a rotura de canalizações de águas e esgotos domésticos também constituem um grande problema para os elementos de madeira [36].

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Figura 5.1 – Diferentes anomalias resultantes da falta de manutenção dos edifícios.

Outras das anomalias que se verificam estão relacionadas com o corte de vigamentos para adaptação dos projetos de água e esgotos que obrigam a inclinações e traçados nas tubagens, sendo necessário realizar desníveis no pavimento que posteriormente são corrigidos através do uso de betão, verificando-se mais uma vez a inadequação dos projetos, dos materiais e técnicas construtivas. Neste caso, a estrutura do pavimento é bastante modificada, perdendo quase toda a sua resistência [36].

Existem também anomalias relacionadas com o próprio projeto e construção de pavimentos de madeira. Ao longo dos anos criaram-se formas de simplificação do projeto dos pavimentos de madeira, que consequentemente levaram ao uso de pavimentos mais leves e mais económicos. Houve uma redução da qualidade da madeira e foram aumentados os espaçamentos entre os vigamentos, bem como a sua dimensão. Estas deficiências tornam os pavimentos muito sensíveis ao fim de alguns anos, no que respeita o seu desempenho estrutural e à sua durabilidade [36].

Alterações do projeto inicial, como remoção de paredes de apoio e inserção de novas paredes divisórias sobre o pavimento, podem causar graves problemas de deformação nos pavimentos [34]. Os problemas de deformação podem também estar associados a alterações de uso do edifício, ou seja, dificilmente um edifício que foi concebido para uso habitacional poderá ser adaptado para instalar uma biblioteca sem que ocorra uma intervenção de reforço. O aumento de cargas iria provocar ou agravar a deformação do pavimento que se em simultâneo com outras anomalias, poderia colapsar [36].

É de salientar que muitas vezes os pavimentos não sofrem colapsos totais porque a análise de pavimentos de madeira é mais complexa do que a admitida. Para o modelo de cálculo dos vigamentos de madeira admite-se uma viga simplesmente apoiada, não tendo em conta o efeito

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favorável que os tarugamentos, o soalho, a continuidade sobre apoios e os tetos podem ter na forma de redistribuição das cargas; algumas destas contribuições, nomeadamente a do soalho, em serviço, serão alvo de estudo na fase experimental desta dissertação.

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