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APRESENTAÇÃO

O objetivo central desta pequena antologia foi, antes de mais nada, apresentar uma amostra da poesia de Philip Levine para o público de língua portuguesa, visto que a obra deste autor é praticamente desconhecida no Brasil. Não encontrei qualquer tradução comentada da obra de Levine, salvo esparsas traduções portuguesas de seus poemas. Além desse objetivo inicial, as traduções que se seguem tiveram um outro propósito: ilustrar as idéias apresentadas na primeira parte desta dissertação. Diante disso, buscou-se na seleção dos poemas uma tentativa de apresentar temas e formas recorrentes na obra de Levine, não se prendendo assim ao impulso meramente pessoal que acredito fazer parte do processo de composição e seleção de qualquer antologia. Como já dito na inrodução, buscou-se contemplar as principais facetas que a produção poética de Levine assume, entre as quais pode-se citar: a preocupação com a relação entre o eu e o outro; as experimentações formais; a observação de pessoas em situações extremas; o uso de uma linguagem coloquial; o olhar para a relação do homem com a natureza, manifestado em descrições de paisagens, etc. Além disso, buscou-se, nos comentários, relacionar os poemas de Levine com questões históricas, culturais ou políticas que eles possam vir a abordar.

Já com relação à concepção que moveu as traduções dos poemas, vale ressaltar que não me preocupei muito em me ater a princípios teóricos do campo de estudo da teoria da tradução. Obviamente há uma visão que permeou a tradução dos poemas. Tal visão pautou- se em uma simples idéia de que traduzir poesia é recriar o poema original, fazendo com que ele “funcione” para o leitor como um novo poema. Diante disso, certas infidelidades e escolhas foram feitas, seja com relação à forma, ritmo, significado, etc., buscando-se sempre a elaboração de um poema em língua portuguesa. É lógico que esse processo, devido à sua natureza intuitiva e sutil, não foi fácil e, diante disso, em certos momentos, pode-se ter obtido um resultado satisfatório, enquanto em outros, nem tanto. Enfim, espera- se que a tradução, bem como os comentários, atingam o seu próposito principal de introduzir a obra de Levine no Brasil, ampliando, assim, o número de leitores de poesia norte-americana contemporânea.

de On The Edge

No Limite (1963)

Gangrene “Gangrena” The Horse “O Cavalo” The Turning “A Reviravolta”

Gangrene

One was kicked in the stomach until he vomited, then

made to put back

into his mouth what they had

brought forth; when he tried to drown in his own stew

he was recovered. "You are worse than a nigger or Jew,"

the helmeted one said. "You are an intellectual.

I hate your brown

skin; it makes me sick." The tall intense one, his penis wired, was shocked out of

his senses in three seconds.

Weakened, he watched them install

another battery in

the crude electric device. The genitals

of a third were beaten with a short wooden ruler: "Reach for your black balls.

I'll show you how to make love." When two of the beaten passed

Gangrena

Um deles tomou chutes na barriga até vomitar, daí,

engoliu na marra, o que fizeram ele botar

pra fora; quando tentava se afogar em seu próprio cozido,

era puxado. “Tu é

pior que preto ou judeu,”

disse o de capacete. “Tu é um intelectual.

Odeio essa sua pele morena; dá nojo.”

Em três segundos, o alto e forte, seu pênis eletrificado,

apagou com um choque.

Enfraquecido, ele olhava eles instalarem

outra bateria

no rude dispositivo elétrico. Um terceiro

apanhava nas genitais com

uma pequena régua de madeira: “Segura nas suas bolas pretas.

Vou te mostrar como se faz amor.” Quando dois dos que apanharam,

each other. "His face had turned into a wound:

the nose was gone, the eyes ground so far back into the face

they too seemed gone,

the lips, puffed pieces of cracked blood." None of them was asked

anything. The clerks, the police, the booted ones, seemed content to inflict pain,

to make, they said, each instant memorable and exquisite, reform the brain

through the senses. "Kiss my boot and learn the taste of French shit."

Reader, does the heart demand that you bend to the live wound as you would bend

to the familiar body of your beloved, to kiss the green flower

which blooms always from the ground human and ripe with terror,

to face with love what we have made of hatred? We must live with what we are,

se reconheciam. “Sua cara virou uma ferida só:

o nariz já era, sumiu; os olhos de tão esmagados,

pareciam que também tinham sumido,

os lábios, pedaços inchados de sangue pisado.” Não lhes foi perguntado

nada. Os escreventes, a polícia, os de bota, pareciam

satisfeitos em infligir dor,

em tornar cada instante, como eles diziam, memorável e intenso,

reformar o cérebro

pelos sentidos. “Beija aí minha bota e sinta o gosto de bosta francesa.”

Leitor, o seu coração pede

que você se curve diante da ferida viva como você se curvaria

diante do corpo conhecido de seu amado? Ou que beije a flor verde

que sempre floresce do chão humana e repleta de terror?

Ou ainda que encare com amor o que criamos a partir do ódio? Você diz: devemos

viver com o que somos e isso basta. Sinto

taste death. I am among you and I accuse

you where, secretly thrilled by the circus of excrement,

you study my strophes or yawn into the evening air, tired, not amused.

Remember what you have said when from your pacific dream you awaken

at last, deafened by the scream of your own stench. You are dead.

o gosto da morte. Estou junto de você e te acuso quando,

secretamente excitado pelo circo de excremento,

você estuda minhas estrofes

ou boceja em meio ao ar do fim de tarde, cansado e entediado.

Lembre-se do que você disse, quando finalmente desperta de seu sonho pacífico, ensurdecido pelo grito

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