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A antracnose, doença causada por fungos do gênero Colletotrichum, é uma das doenças mais importantes em muitas plantas cultivadas. Segundo Junqueira et al. (1999), em muitas regiões, a antracnose é a principal doença do maracujazeiro e está disseminada em todas as regiões produtoras de maracujá do Brasil e de outros países. Assume maior importância quando em condições climáticas favoráveis, o que dificulta seu controle. Ocorre em todos os órgãos da planta e se constitui na mais importante doença pós-colheita da cultura, reduzindo o período de conservação dos frutos. Sua ocorrência, associada à mancha bacteriana, pode agravar ainda mais o problema (KIMATI et al., 2005). O gênero

Colletotrichum, descrito por Corda em 1837, compreende várias espécies, incluindo saprófitas

e fitopatogênicas, sendo estas responsáveis pela doença denominada antracnose em várias plantas hospedeiras, causando enormes prejuízos (ARX,1957; MENEZES, 2002).

O gênero Colletotrichum abrange os fungos imperfeitos. As espécies de

Colletotrichum apresentam uma ampla distribuição geográfica, particularmente em ambientes

quentes e úmidos dos trópicos (JEFFRIES et al., 1990; WALLER, 1992) e são extremamente diversas, incluindo saprófitas e fitopatógenos.

Os patógenos ocorrem em diversas espécies de hospedeiros, desde culturas agrícolas e plantas medicinais, aos arbustos e árvores silvestres, causando podridões de colmos, caules e frutos, seca de ponteiros, manchas foliares, infecções latentes e antracnoses. Os prejuízos causados pelo gênero Colletotrichum, em especial em países tropicais, resultam tanto na redução direta da qualidade e quantidade dos produtos, como no aumento dos custos de produção e de pós-colheita. Dentre as espécies deste gênero, Colletotrichum gloeosporioides é considerada a mais disseminada, heterogênea e importante, principalmente nos trópicos.

16 JUNIOR et al. (2010) relatam em seus estudos o Colletotrichum boninense, infectando maracujá amarelo no estado de São Paulo. A confirmação foi baseada em características morfológicas, culturais e análises moleculares baseadas em regiões (ITS).

A taxonomia de Colletotrichum ainda é bastante confusa, tanto para as espécies anamórficas (assexuadas) como as teleomórficas (sexuadas). Existem cerca de 900 espécies descritas ou transferidas para o gênero Colletotrichum. Somente para a espécie

Colletotrichum gloeosporioides, são citadas cerca de 600 sinonímias (ARX, 1957; BAILEY et

al. 1992). Como a classificação dos fungos era baseada apenas em características morfológica e fisiológica, geravam-se muitas discordâncias por parte dos pesquisadores. Os conídios formados por esta espécie são clavados, ovóides, obovados ou lobados, de coloração castanha e medindo 6-20 μm x 4-12 μm. Forma colônias variáveis de coloração branco-gelo a cinza escuro e micélios aéreos, geralmente uniformes e aveludados (SUTTON, 1992).

Fungos do gênero Colletotrichum são altamente especializados no processo de infecção. Segundo Bailey et al. (1992), as espécies do gênero podem apresentar três tipos iniciais de estratégias de infecção: as espécies hemibiotróficas intracelulares são capazes de penetrar na parede celular e crescer dentro do lúmen da célula; as espécies intramurais subcuticulares podem crescer na cutícula, não entrando no lúmen da célula e finalmente as espécies consideradas hemibiotróficas intracelulares e intramurais subcuticulares, podem apresentar simultaneamente ambas as estratégias.

Sutton (1992) refere-se à habilidade de Colletotrichum em causar infecção latente ou quiescente, não mostrando as plantas sintomas da doença. Além disso, o micélio permanece viável por longo período de tempo em sementes infectadas, restos culturais e frutos, manifestando-se logo que as condições se tornam favoráveis para o seu desenvolvimento, ocasionando sérios problemas para as plantas e também na pós-colheita.

A infecção latente nos tecidos do hospedeiro ocorre através da formação de apressórios ou hifas subcuticulares, sendo que o tipo de estrutura latente depende do hospedeiro infectado. O C. gloeosporioides é um fungo cosmopolita, atacando uma extensa gama de hospedeiras, causando lesões necróticas ou manchas em folhas, ramos, pecíolos, flores e frutos. Causa prejuízos variáveis, dependendo das condições ambientais favoráveis, do grau de suscetibilidade da planta e, também, na pós-colheita em diferentes regiões produtoras no Brasil e no mundo. Como os propágulos desse fungo são disseminados por respingos de água, o C. gloeosporioides é favorecida por alta umidade, principalmente chuvas abundantes. Temperaturas próximas de 27 ºC favorece a produção dos conídios. Chuvas menos intensas favorecem o progresso da doença numa mesma planta já infectada, enquanto

17 que chuvas acompanhadas de ventos tendem a transportar o fungo para outras plantas. Em períodos de temperaturas mais baixas, a importância da doença diminui, sendo pequena a sua incidência nos meses de inverno, mesmo que ocorram chuvas (RUGGIERO et al., 1996).

Nas folhas são produzidas manchas inicialmente pequenas, de 2 a 3 mm, de aspecto oleoso, adquirindo, posteriormente, cor pardo-escura, de formato irregular e diâmetro superior a 1 cm. Na parte central das manchas, os tecidos tornam-se acinzentados, podendo ocorrer fendilhamento. Sob condições ambientais favoráveis (temperatura e umidade elevadas), surgem várias lesões no limbo foliar, provocando coalescência e ocupando grandes áreas, causando queda de folhas (GOES, 1998). Nos ramos e gavinhas afetados, são produzidas manchas pardo-escuras de 4 a 6 mm que, posteriormente, se transformam em cancros, expondo os tecidos lesionados. Dependendo da intensidade da doença, pode ocorrer morte dos ponteiros e seca parcial da planta (GOES, 1998). Os frutos são infectados ainda verdes, mas a doença só se manifesta na fase de maturação e pós-colheita, aparecendo em forma de lesões arredondadas e de coloração escura, às vezes em depressão. Com o passar do tempo, as lesões evoluem para podridão seca e profunda, afetando também toda a parte interna do fruto, induzindo a fermentação do suco e descoloração das sementes (DIAS, 1990). Sobre as lesões, em condições de alta umidade, podem surgir frutificações de cor rosa e/ou pontuações escuras dispostas na forma de anéis concêntricos. A doença é mais severa nos frutos desenvolvidos durante o período chuvoso (JUNQUEIRA et al., 2003).

Para o controle da doença recomenda-se: uso de mudas sadias, quebra vento com plantas não hospedeiras, já que vento forte pode causar desfolha, provocando ferimentos na planta os quais servem de portas de entradas para o fungo; poda e limpeza, para a eliminação das partes afetadas pela doença; uso de ferramentas agrícolas higienizadas, evitando transferência de inóculo de plantas infectadas para plantas sadias; e pulverização de fungicidas. O tratamento térmico dos frutos entre 42,5 e 45º C, durante oito minutos, reduz significativamente o índice de doença nos frutos (CARVALHO et al, 2001, KIMATI, et al, 2005).

Alguns autores acreditam que o controle químico de doenças de plantas é, em muitos casos, a única medida viável empregada para garantir a produtividade e qualidade da produção (ROCHA, 1997). Entretanto, os fungicidas podem promover o aumento na severidade de doenças em plantas, pela interferência e morte de antagonista ou pela ação nociva sobre a microflora benéfica da planta, levando desequilíbrio biológico (MEDEIROS e MENEZES, 1994).

18 O controle químico preventivo da antracnose vem sendo feito através da pulverização de fungicidas cúpricos, à base de oxicloreto de cobre (50%) a 0,25%, acrescido de um espalhante adesivo. Atualmente, os produtos recomendados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pelo Ministério da Saúde (MS) através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para o controle químico da antracnose abrangem os seguintes ingredientes ativos: tebuconazol + trifloxistrobina (estrobilurina), como o Nativo®, tebuconazol (triazol), como Constant®, Elite®, Folicur 200 EC® e Triade®, difenoconazol (triazol), como o Score® e tiabendazol (benzimidazol), como o Tecto®, de acordo com informações do Agrofit).

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