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APÓCRIFOS (escondidos ou duvidosos) Livros não-bíblicos aceitos por alguns, mas rejeitados por outros Pelos católicos romanos são conhecidos como Deuterocanônicos (= 2º

21 A BÍBLIA E SUA CANONICIDADE

D. APÓCRIFOS (escondidos ou duvidosos) Livros não-bíblicos aceitos por alguns, mas rejeitados por outros Pelos católicos romanos são conhecidos como Deuterocanônicos (= 2º

Cânon). Foram acrescentados às Escrituras (Dt 4:2, 12:32; Pv 30:6; Ec 3:14; Ap 22:18-19).

Na realidade, os sentidos da palavra apocrypha refletem o problema que se manifesta nas duas concepções de sua canonicidade. No grego clássico, a palavra apocrypha significava “oculto” ou “difícil de entender”. Posteriormente, tomou o sentido de esotérico, ou algo que só os iniciados (não os de fora) podem entender.

Pela época de Ireneu e Jerônimo (séc. III e IV), o termo apocrypha veio a ser aplicado aos livros não-canônicos do Antigo Testamento, mesmo aos que foram classificados previamente como “pseudepígrafos”.

Desde a era da Reforma, essa palavra tem sido usada para denotar os escritos judaicos não-canônicos originários do período intertestamentário.

O Novo Testamento jamais cita um livro apócrifo indicando-o como inspirado. As alusões a tais livros não lhes emprestam autoridade, assim como as alusões a poetas pagãos não lhes conferem inspiração divina. Aliás, desde que o N.T. faz citações de quase todos os livros canônicos do A.T. e atesta o conteúdo e os limites desse Testamento

(omitindo os apócrifos) parece estar claro que o N.T. indubitavelmente exclui os apócrifos do cânon hebraico.

Os apócrifos não foram aceitos pelos judeus palestinos, zelosos preservadores dos ensinos bíblicos que não estiveram sujeitos às influências helenizantes dos judeus de Alexandria, muitos dos quais (mas não todos) acatavam tais livros como de origem divina, como Palavra de Deus.

Aliás, toda a problemática de aceitação da canonicidade desses livros envolve exatamente o grande centro da cultura grega no Oriente, a cidade de Alexandria. Os judeus ali sofreram grande influência da filosofia grega, e houve até um destacado intelectual judeu, Filo, que se empenhou por fundir o Judaísmo com os conceitos gregos, que o empolgavam.

Jesus Cristo Se referiu à Bíblia Sagrada na Sua oração sacerdotal a Seu Pai dizendo: “Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade” (João 17:17). Como poderiam obras cheias de conceitos que se chocam com os claros ensinos de apóstolos e profetas, além de crendices supersticiosas, lendas, inexatidões históricas e até mentiras qualificar-se como essa verdade de divina inspiração?

O Concílio de Trento, 1546, reagiu a Lutero, canonizando os livros apócrifos, com o voto de 53 prelados sem conhecimentos históricos destacados sobre documentos orientais, encontrando oposição de grandes homens como o cardeal Polo que afirmou que assim o Concílio agiu a fim de dar maior ênfase às diferenças entre católicos romanos e os evangélicos. Outro destacado líder católico, Tanner afirmou que a igreja católica romana encontrou nesses livros o seu próprio espírito (apud Introdução ao Antigo Testamento, Dr. Donaldo D. Turner, IBB).

A ação do Concílio não foi apenas polêmica, foi também prejudicial, visto que nem todos os 14 (15) livros apócrifos foram aceitos pelo Concílio.

A Oração de Manassés e 1 e 2 Esdras [3 e 4 Esdras dos católicos romanos; a versão de Douai denomina 1 e 2 Esdras, respectivamente, os livros canônicos de Esdras (1 Ed) e Neemias (2 Ed)] foram rejeitados.

A rejeição de 2 Esdras é particularmente suspeita, porque contém um versículo muito forte contra a oração pelos mortos (2 Esdras 7.105). Aliás, algum escriba medieval havia cortado essa seção dos manuscritos latinos de 2 Esdras, sendo conhecida pelos manuscritos árabes, até ser reencontrada outra vez em latim por Robert L. Bentley, em 1874, numa biblioteca de Amiens, na França.

O cânon do Antigo Testamento até a época de Neemias compreendia 22 (ou 24) livros em hebraico, que, nas bíblias dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por volta do século IV a.C. As objeções de menor monta a partir dessa época não mudaram o conteúdo do cânon.

Foram os livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega de Alexandria (Septuaginta), que os incluiu.

Com exceção de 2 Esdras (escrito em 100 d.C.), esses livros preenchem a lacuna existente entre Malaquias e Mateus (o chamado “período intertestamentário”) e compreendem especificamente dois ou três séculos antes de Cristo.

No entanto, até a época da Reforma Protestante esses livros não eram considerados canônicos. A canonização que receberam no Concílio de Trento não recebeu o apoio da história. A decisão desse concílio foi polêmica e eivada de preconceito.

21.3. Localização Histórica dos Apócrifos

Os apócrifos foram produzidos entre o 3o e 1o século a.C. (com o cânon já definido), no período intertestamentário, com exceção de 2 Esdras (escrito em 100 d.C.).

A cultura gentia os assimilou (o cânon de Alexandria). O historiador Josefo, os judeus e a Igreja cristã rejeitaram.

A LXX (Septuaginta) os incluiu como adendo (seguindo o cânon alexandrino). No Concílio de Cártago, em 397 d.C. foram considerados próprios para a leitura. O Concílio Geral de Calcedônia, 451 d.C., negou-os.

Foram colocados no cânon em uma sessão em 08 de Abril de 1546, no Concílio de Trento, com 5 cardeais e 48 bispos, apenas, e não foi por unanimidade.

Em 1827, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira os excluiu da Bíblia (não os editando nem mesmo como adendo). Desde então esta é a postura protestante.

21.4. Razões da Rejeição dos Apócrifos

1. O Velho Testamento já estava produzido. 2. A maioria dos apócrifos foi produzida em grego. 3. Prevaleceu para os judeus o cânon palestiniano. IMPORTANTE!

1. Jamais foram incluídos no cânon pelas autoridades reconhecidas: As maiores e mais reconhecidas autoridades judaicas nunca reconheceram os apócrifos: Esdras (o profeta, que “juntou, ordenou e publicou” o V. T. na sua forma final e como o conhecemos); os fariseus; Josephus (o historiador judeu, provavelmente o maior historiador de todos os tempos); os pais da igreja primitiva; etc.

2. Jamais foram aceitos pelos judeus.

3. Só em 08 de abril de 1546, no Concílio de Trento, a igreja romana os declarou canônicos, mas só em reação à Reforma Protestante.

4. Jamais foram citados por Jesus Cristo ou por nenhum outro escritor da Bíblia. (Judas cita dois pseudepígrafos, mas não parece lhes ceder declaradamente o conceito de inspirados).

5. Nenhum livro apócrifo alega ser inspirado (na realidade, alguns deles ADMITEM não ser inspirados - Macabeus 15:38).

6. Alguns apócrifos têm incontornáveis erros históricos e geográficos.

7. Alguns apócrifos ensinam doutrinas falsas e que contradizem a Bíblia como um todo (Macabeus 12:43-46 ensina que podemos e devemos orar pelos mortos. A Bíblia como um todo ensina que não adianta) Ver 2 Ed 7.105.

Alguns erros ensinados pelos apócrifos Refutação dos canônicos

Narração de anjo mentindo sobre sua origem. Tobias 5:1-9 Isaías 63:8; Oséias 4:2 Diz que se deve negar o pão aos ímpios. Eclesiástico 12:4-6 Provérbios 25:21-22 Uma mulher jejuando toda a sua vida. Judite 8:5-6 Mateus 4:1-2

Deus dá espada para Simeão matar siquemitas, Judite 9:2 Gênesis 34:30; 49:5-7 Dar esmola purifica do pecado. Tobias 12:9 e Eclesiástico

3:30 1 Pedro 1:18-19

Nabucodonossor foi rei da Assíria, em Nínive. Judite 1:1 Daniel 1:1 Honrar o pai traz o perdão dos pecados. Eclesiástico 3:3 1 Pedro 1:18-19 Ensino de magia e superstição. Tobias 2:9 e 10; 6:5-8; 11:7-

16 Tiago 5:14-16

Antíoco morre de três maneiras. 1 Macabeus 6:16; 2

Macabeus 1:16; 9:28 Isaías 63:8; Mateus 5:37

Recomenda a oferta pelos mortos. 2 Macabeus 12:42-45 Eclesiastes 9:5-6 Ensino do purgatório ou imortalidade da alma. Sabedoria

3:14 1 João 1:7; Hebreus 9:27

O suicídio é justificado e louvado. 2 Macabeus 14:41-46 Êxodo 20:13

21.5. Como os Livros Apócrifos Foram Aprovados

A igreja romana aprovou os apócrifos em 08 de Abril de 1546 como meio de combater a Reforma Protestante. Nessa época, os protestantes combatiam violentamente as doutrinas romanistas do purgatório, oração pelos mortos, salvação pelas obras, etc. Os romanistas viam nos apócrifos base para tais doutrinas, e apelaram para eles aprovando-os como “canônicos”.

Houve prós e contras dentro dessa própria igreja, como também depois. Nesse tempo, os jesuítas exerciam muita influência no clero. Os debates sobre os apócrifos motivaram ataques dos dominicanos contra os franciscanos. O biblicista católico John L. Mackenzie em seu "Dicionário Bíblico", sob o verbete Cânone, comenta que no Concílio de Trento houve várias "controvérsias notadamente candentes" sobre a aprovação dos apócrifos. Mas o cardeal Pallavacini, em sua "História Eclesiástica" declara mais nitidamente que, em pleno Concílio, 40 bispos dos 49 presentes travaram luta corporal, agarrando às barbas e batinas uns dos outros.

Foi nesse ambiente "espiritual", que os apócrifos foram aprovados. A primeira edição da Bíblia (“versão”) católico-romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do papa Clemente VIII. Os Reformadores protestantes publicaram a Bíblia com os apócrifos, colocando-os entre o Antigo e Novo Testamentos, não como livros inspirados, mas bons para a leitura e de valor literário histórico. Isto continuou até 1629.

21.6. A Vulgata de Jerônimo

O arranjo da Vulgata (versão latina oficial da Igreja católica romana, desde o Concílio de Trento) completa em 450 depois de Cristo, mas aceita plenamente em cerca de 650 depois de Cristo, em geral, segue a LXX, só que 1 e 2 Esdras são iguais a Esdras e Neemias, e as partes apócrifas (3 e 4 Esdras), tanto como a Oração de Manassés, são colocados no fim do Novo Testamento. Os Profetas Maiores são colocados antes dos Profetas Menores. É uma tradução do Hebraico para o Latim, língua oficial do império romano.

Quando Jerônimo traduziu a Vulgata, em Belém (a pedido do papa Dâmaso I), incluiu os apócrifos oriundos da Septuaginta, através da antiga versão latina de 170, porque lhe foi ordenado, mas indicou que os mesmos não poderiam ser base de doutrinas.

Os livros são: 1 Esdras, 2 Esdras, Tobias, Judite, Adição a Ester, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, Adições a Daniel (Cântico dos 3 Rapazes, História de Susana, Bel e o Dragão), Oração de Manassés, 1 Macabeus, 2 Macabeus.

21.7. A Versão Católica-Romana

Seguindo a Vulgata que traduziu da LXX (Septuaginta), com exceção de Oração de Manassés, o cânon católico incorporou os apócrifos após a Reforma. Quando a Vulgata os

inseriu, distinguiu-os dos canônicos. Aos apócrifos, chamou de deuterocanônicos, isto é, livros do “segundo cânon” (eclesiásticos).

Na versão de edição Católico-Romana, há um total de 73 livros, sendo 7 apócrifos, além de 4 acréscimos ou apêndices a livros canônicos, sendo assim um total de 11 escritos apócrifos: Tobias (após Esdras); Judite (após Tobias); Sabedoria de Salomão (após Cantares); Eclesiástico (após Sabedoria de Salomão); Baruque – incluindo a Epístola a Jeremias (após Lamentações); 1 Macabeus (após Ester); 2 Macabeus (após 1 Macabeus). São os seguintes os apêndices apócrifos: Acréscimos a Ester (Et 10:4 – 16:24); acréscimos a Daniel: (Cântico dos três rapazes – Dn 3:24-90; História de Suzana – Dn 13; Bel e o Dragão – Dn 14).

Além disso, as bíblias católicas possuem livros canônicos com nomenclatura diferenciada da empregada nas edições evangélicas. No entanto, esta diferença não tem importância. No entanto é bom conhecê-las:

BÍBLIA EVANGÉLICA BÍBLIA CATÓLICA

1, 2 Samuel 1, 2 Reis

1, 2 Reis 3, 4 Reis

1, 2 Crônicas 1, 2 Paralipômenos

Esdras e Neemias 1, 2 Esdras

Lamentações de Jeremias Trenos

Como podemos ver estas diferenças são apenas de nomes, mais ou menos apropriados e que para todos eles existem justificativas históricas e tradicionais. Existem também diferenças na numeração dos Salmos:

BÍBLIA EVANGÉLICA BÍBLIA CATÓLICA

Sl 9 Sl 9,10 Sl 10 - 112 Sl 11 - 113 Sl 113 Sl 114, 115 Sl 114 - 115 Sl 116 Sl 116 - 145 Sl 117-146 Sl 146 - 147 Sl 147 Sl 148 - 150 Sl 148 - 150

Os 39 livros do nosso Antigo Testamento os católicos denominam protocanônicos (primeiro cânon), os livros que nós chamamos apócrifos (espúrios), eles chamam de deuterocanônicos (segundo cânon) e os livros que nós chamamos pseudepígrafos (sem autor definido), eles chama de apócrifos. (Os pseudepígrafos, não aparecem em nenhuma Bíblia de edições católica ou protestante).

21.8. A Formação do Cânon do Novo Testamento

A história do cânon do N.T. difere da do A.T. em dois aspectos principais:

1. O Cristianismo (N.T.) foi desde o começo uma religião internacional e não restrita a um só povo, como no caso do período do A.T. (restrito aos judeus), não havia comunidade profética fechada que recebesse os livros inspirados e os coligisse (colecionasse) em determinado lugar, etc. Por isto, o processo mediante o qual todos os escritos apostólicos se tornassem universalmente aceitos levou muitos séculos. Felizmente, há mais manuscritos do Novo Testamento do que do Antigo Testamento.

2. Uma vez que as discussões resultaram no reconhecimento dos 27 livros canônicos do N. T., não mais houve movimentos dentro do Cristianismo, no sentido de acrescentar ou eliminar livros.

O cânon do N. T. encontrou acordo geral no seio da igreja universal. Não há N. T. com apócrifos.

21.9. A Progressão do Cânon do Novo Testamento

Desde o início, havia escritos falsos, não-apostólicos, em circulação (Lc 1:1-4; 2 Ts 2:20; 2 Ts 3:17).

No início da igreja primitiva (século I), havia um processo seletivo em operação. Toda e qualquer palavra a respeito de Cristo, oral ou escrita, era submetida ao ensino dos apóstolos (1 Jo 1:3; 2 Pe 1:16).

Era o “cânon vivo” das testemunhas oculares, mediante o qual os escritos vieram a ser reconhecidos.

Os primeiros cristãos (igrejas) iam recebendo, lendo e colecionando as cartas apostólicas, cheias de autoridade divina, lançando assim o alicerce de uma coleção crescente de documentos inspirados (Circulação das Cartas: 1 Ts 5:27; Cl 4:16; 1 Pe 1:1-2; 2 Pe 3:14-16; Ap 1:3). As igrejas, assim, estavam envolvidas em um processo iniciante de canonização.

Os cristãos eram admoestados a ler continuamente as Escrituras (1 Tm 4:11, 13). A única maneira pela qual se poderia realizar isto no seio de um número crescente de igrejas era fazer cópias, de tal sorte que cada igreja ou grupo de igrejas tivesse sua própria compilação de escritos autorizados.

Essa aceitação original de um livro, o qual era autorizadamente lido nas igrejas, teria importância crucial para o reconhecimento posterior de um livro canônico.

Assim, o processo de canonização estava em andamento desde o início da igreja. As primeiras igrejas foram exortadas a selecionar apenas os escritos apostólicos fidedignos. Desde que determinado livro fosse examinado e dado por autêntico, fosse pela assinatura, fosse pelo emissário apostólico, era lido na igreja e depois circulava entre os crentes de outras igrejas.

As coletâneas desses escritos apostólicos começaram a tomar forma nos tempos dos apóstolos. Pelo final do século I, todos os 27 livros do N. T. haviam sido recebidos e reconhecidos pelas igrejas cristãs como divinamente inspirados. O cânon estava completo, e todos os livros haviam sido reconhecidos pelos crentes de outros lugares.

Por causa da multiplicidade dos falsos escritos e da falta de acesso imediato às condições relacionadas ao recebimento inicial de um livro, o debate a respeito do cânon prosseguiu durante vários séculos, até que a Igreja finalmente reconheceu a canonicidade dos 27 livros do N. T.

Logo após a primeira geração, passada a era apostólica, todos os livros do N. T. haviam sido citados por algum pai da igreja, como dotados de autoridade. Por sinal, dentro de 200 anos depois do século I, quase todos os versículos do N. T. haviam sido citados em uma ou mais das mais de 36 mil citações dos pais da igreja.

Uma tradução do N. T. (Antiga siríaca) circulou na Síria pelo fim do século IV, representando um texto que datava do século II e incluía os livros do N. T., exceto 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.

Atanásio, o “Pai da Ortodoxia”, relaciona com clareza todos os 27 livros do N. T. como canônicos (Cartas, 3,267,5).

RESUMINDO! o processo de compilar (colecionar) os escritos apostólicos confiáveis iniciou-se nos tempos do N. T. No século II, houve exame desses escritos mediante a citação da autoridade divina de cada um dos 27 livros do N. T. No século III, as dúvidas e as

objeções a respeito de determinados livros prosseguiram, culminando nas decisões dos pais da igreja e dos concílios influentes do século IV.

21.10. Fatores que Influenciaram a Igreja no Cânon do Novo

Testamento

Alguns fatores influenciaram para que a igreja primitiva definisse de vez a lista dos livros canônicos do N. T.

Márcion (ou Marcião) foi um herege gnóstico (150 d.C.) que, dentre outras coisas, fez uma lista de livros a serem aceitos. Rejeitou todo o Velho Testamento por considerá-lo obra de um “deus inferior”. Sua lista de livros bíblicos incluiu: uma versão resumida de Lucas (retirando os primeiros capítulos por serem muito judaicos) e mais dez epístolas de Paulo (as chamadas “Pastorais” não foram aceitas por lhe serem contrárias, assim como todas as outras). Chamou “Efésios” de “Laodicenses”.

Sua rejeição dos livros bíblicos forçou as igrejas a tomarem uma posição explícita sobre estes livros. De fato, a rejeição dos livros prova que já havia um consenso, mas a igreja se tornou mais consciente deste consenso na luta contra a heresia. As heresias levaram à defesa da fé. Afinal, “os germes estimulam a formação de anticorpos”.

Na segunda metade do segundo século, o Novo Testamento já foi considerado par do Antigo. Começam os comentários, trabalhos literários e traduções do Novo Testamento. As traduções para o Latim antigo e para o Siríaco neste período já incluem todo o Novo Testamento, exceto 2 Pedro na versão Siríaca.

A heresia de Marcião e de Montano, bem como os movimentos gnósticos, contribuíram para a aceleração do processo de reconhecimento dos livros inspirados; uma vez que Marcião negava muitos livros. Montano alegava ter novas revelações e os gnósticos buscaram produzir sua literatura “superior”.

Outros fatores que influenciaram foram as perseguições do imperador romano Diocleciano (302-305 d.C.). De acordo com o historiador cristão Eusébio, houve um edito imperial da parte de Diocleciano (303 d.C.), ordenando que “as Escrituras fossem destruídas pelo fogo”.

A perseguição motivou um exame sério da questão dos livros canônicos, quais eram realmente canônicos e deveriam ser preservados.

É sabido que, traiçoeiramente, mesmo durante a vida dos apóstolos, no século I, já havia algumas pessoas que insinuavam a existência de uma ou outra corrupção na Palavra de Deus.

Livros falsificados, quer totalmente (como a Epístola de Hermas, de Barnabé, etc.), quer parcialmente, já tentavam se insinuar nas igrejas, mesmo durante a vida dos apóstolos. O apóstolo Paulo já advertia:

“Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus.” (2 Coríntios 2:17).

“Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto.” (2 Tessalonicenses. 2:2).

Mas ninguém pode deixar de ver e se esquivar de reconhecer que todas estas corrupções do século I e todas as poucas corrupções subseqüentes foram totalmente rejeitadas pela massa das igrejas. Particularmente, os textos dos pouquíssimos manuscritos alexandrinos (séculos IV em diante) em que todo o TC se edifica foram totalmente rejeitados pelo total da enorme massa das igrejas e jamais foram copiados e usados para qualquer coisa. (Usamos o plural "textos" porque cada um destes manuscritos

alexandrinos difere terrivelmente dos outros, em muitos milhares de pontos. Diferem mais entre si do que diferem do TR.).

Podemos resumir dizendo que a grande maioria dos livros do N. T. jamais sofreu polêmicas quanto à sua inspiração desde o início. Certos livros não-canônicos, que gozavam de grande prestígio, que eram muito usados e que tinham sido incluídos em listas provisórias de livros inspirados, foram tidos como valiosos para emprego devocional e homilético, mas nunca obtiveram reconhecimento canônico por parte da igreja.

Só os 27 livros do N. T. são tidos e aceitos como genuinamente apostólicos e encontraram lugar no cânon do Novo Testamento.

Assim, podemos dizer que, logo no mais tenro início, no primeiro e segundo século do Cristianismo, ocorreu a canonização (no sentido de "reconhecimento informal e consensual, pela grande massa das igrejas locais fiéis").

Também podemos dizer que, ao final do século IV, ocorreu a canonização (no sentido de "declaração formal e oficial da grande massa de igrejas locais, mesmo que já não totalmente locais e nem todas fiéis, posto que o Romanismo já se desenvolvia, Roma já se impunha, ainda que o Romanismo ainda tivesse muito em que degenerar").

21.11. Classificação Técnica do Novo Testamento

A. HOMOLOGOUMENA (falar como um). São os livros bíblicos que foram aceitos por todos.

Em geral, 20 dos 27 livros do N. T. foram aceitos por todos. Exceto: Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Outros três livros, Filemom, 1 Pedro e 1 João, foram omitidos, não questionados.

B. ANTILEGOMENA (falar contra). São os livros bíblicos que em certa ocasião foram questionados por alguns.

De acordo com o historiador cristão Eusébio, houve 7 livros cuja autenticidade foi questionada por alguns dos pais da igreja, e por isto ainda não haviam obtido reconhecimento universal por volta do século IV.

Isto não significa que não haviam tido aceitação inicial por parte das comunidades apostólicas e subapostólicas. Tampouco, o fato de terem sido questionados, em certa época, por alguns estudiosos, é indício de que sua presença no cânon seja menos firme que os demais livros.

Ao contrário, o problema básico a respeito da aceitação da maioria desses livros não era o reconhecimento de sua inspiração divina ou falta de inspiração; mas sim, a falta de comunicação entre o Oriente e o Ocidente a respeito de sua autoridade divina.

São eles: Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.

Hebreus: foi basicamente a anonimidade do autor que suscitou dúvidas. Por isso, o livro permaneceu sob suspeição para os cristãos do Oriente, que não sabiam que os crentes