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PARTE II – ABANDONO DE MEDICAÇÃO APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

43,8% 2º Aparelho Cardiovascular – 25%

3º - Aparelho Digestivo – 21,9% 3º - Doenças Endócrinas – 21,9% 4º - Sangue – 9,8% Indicação terapêutica 1º - Psicofármacos – 28,1% 2º - Anti hipertensores – 21,9% 3º - Anti diabético – 18,8% 4º - Analgésico; Antipirético – 12,5% 5º - Anticoagulante; Anti trombótico -

9,8%

Fonte: Questionários das USF (junho 2015)

Perante estes resultados verificamos que tanto os medicamentos abandonados, como os não comprados são os utilizados para as patologias mais frequentes (hipertensão, patologias articulares, hipercolesterolemia, patologias vasculares e ansiedade/stress)120.

Não tendo sido encontrados estudos específicos nesta área, relacionamento de várias patologias com medicamentos abandonados, pode-se concluir a existência (nesta amostra) de uma relação direta entre medicamentos e patologias mais prevalentes.

Nos medicamentos abandonados ir-se-á agora apresentar os resultados quer do número, quer das indicações terapêuticas encontrados neste estudo, no grupo que apresenta abandono total

A maior percentagem neste abandono (quadro 29) é de um medicamento.

QUADRO 29 – ANÁLISE DO NÚMERO DE MEDICAMENTOS ABANDONADOS Medicamentos N % 1 29 49,2 2 14 23,7 3 / 4 10 16,9 5 / 7 6 10,2 Total 59 100,0

Fonte: Questionários das USF (junho 2015)

O grupo de medicamentos mais abandonados é, tal como no abandono parcial, para o SNC, seguidos dos para o aparelho cardiovascular (quadro 30)121.

Nestes abandonos existem doze casos que têm os dois tipos de abandono, destes quatro são homens e oito são mulheres. Quanto à residência dois casos são das aldeias e os restantes dez casos são da cidade. Relativamente às faixas etárias cinco estão entre os 65 -69 anos, um entre os 70-74 anos, três entre os 75-79 anos e três têm 80 ou mais, o que coincide com as caraterísticas do grupo de abandono total.

QUADRO 30 – ANÁLISE DAS INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS DOS MEDICAMENTOS ABANDONADOS

Indicações terapêuticas %

Sistema nervoso central 22,2

Aparelho cardiovascular 21,1 Aparelho locomotor 15,6 Aparelho digestivo 11,1 Anti inflamatório 8,9 Sangue 5,6 Aparelho geniturinário 4,4 Nutrição 4,4 Aparelho respiratório 3,3 Anti vírico 1,1 Doenças endócrinas 1,1 Dermatologia 1,1

Fonte: Questionários das USF (junho 2015)

Avaliando em primeiro lugar os medicamentos abandonados (quadro 30) eles coincidem com os medicamentos mais receitados e mais vendidos, os para o

SNC. Se compararmos estes abandonos com o índice de concordâncias (quadro 10, capítulo 5.2; p. 114) verificamos que as patologias onde se verifica menor concordância (não refere a patologia, mas toma a medicação) é no stress e na ansiedade, o que demonstra desconhecimento das doenças e/ou da indicação terapêutica dos medicamentos receitados, assim o abandono da medicação, neste caso para o SNC pode ser devido a este desconhecimento. Também nesta variável não foram encontrados estudos que pudessem explicar estes resultados. O grupo dos medicamentos para o SNC engloba várias indicações terapêuticas, nomeadamente curarizantes e relaxantes musculares; psicofármacos; analgésico; antipiréticos e medicamentos para a enxaqueca, o que poderia levantar a dúvida de qual a indicação dos mesmos. Efetuou-se uma pesquiza mais minuciosa e pôde-se observar que a maior percentagem abandonada é de psicofármacos, seguida dos analgésicos, o que corrobora o eventual desconhecimento quer da patologia quer da indicação terapêutica do medicamento.

8.3 – ABANDONO PARCIAL

Referenciando agora as situações de abandono de medicação, será exposto primeiro o abandono parcial, seguido do abandono total.

Como observamos são vários os motivos do abandono da medicação, quer parcial quer total, divergindo estes consoante diferentes variáveis, nomeadamente fatores socio culturais, económicos, trajetórias de saúde/doença vivenciadas, assim como perceções sobre a eficácia ou não da medicação utilizada.

O abandono parcial da medicação representa 15,8% do total de inquiridos. Destes 6,4% apresenta também abandono total de medicação, pelo que só 9,4% têm exclusivamente abandono parcial.

No abandono parcial a maioria (97%) refere tomar doses inferiores às prescritas. Neste abandono a maioria não toma a medicação conforme prescrita, tomando menos quantidade, 37,5% só toma em SOS, 12,5% não toma por esquecimento (um dos inquiridos não tomava nenhum dos medicamentos prescritos, nove no total, conforme a prescrição por esquecimento, demonstrando conhecimento das suas patologias). No que se refere a restringir/evitar a toma de medicamentos só se verificou um caso, bem como no relacionado com os saberes e racionalidades

leigas, em que se apurou que um inquirido não tomava um total de nove medicamentos (dois para o sangue, seis para o aparelho cardiovascular e um para o aparelho digestivo) e não demonstrava conhecimento das patologias.

8.4 – ABANDONO TOTAL

Esta parte do trabalho abrange o subgrupo de 59 inquiridos, 29,2%, identificados como tendo abandonado pelo menos um medicamento. Esta condição traduz e por isso se designa como abandono total da medicação.

Nele serão descritas e analisadas as diferenças encontradas entre o grupo sem abandono (GSA) e o grupo de abandono (GA), tendo por base os objetivos específicos delineados no capitulo 3: 1- identificar e caracterizar razões/motivações/determinantes para o abandono de medicação entre a população idosa (já expostas em 8.1); 2 – determinar a diversidade subjacente aos padrões de abandono, tipo de medicamento, contexto e motivações (também já efetuada); 3 – Identificar e compreender os principais fatores de variabilidade do abandono, em função do género, local de residência, grau de escolaridade e idade.

8.4.1 – Análise das diferenças entre o grupo de abandono e o grupo sem abandono

Para uma melhor compreensão dos dados obtidos esta avaliação será subdividida na caracterização sociodemográfica e fatores de variabilidade do abandono; na análise dos perfis e cuidados com a saúde e numa análise das perceções e conceitos de saúde.

8.4.1.1 – Características sociodemográficas e fatores de variabilidade do abandono

Ir-se-á seguidamente apresentar as diferenças encontradas entre o grupo de abandono e o grupo sem abandono relativamente às características sociodemográficas e fatores de variabilidade do abandono

QUADRO 31– DIVERSIDADES ENTRE GSA E GA –SEXO; IDADE; ESCOLARIDADE E LOCAL DE RESIDÊNCIA

GSA GA

Sexo Fem. 55,9% - Masc. 44,1% Fem. 62,7 % - Masc. 37,3%

Idade 75-79 – 28,7% >=80 – 28,8%

Escolaridade S/ escola e 1º ciclo 1ncompleto + 1º completo –

44,1%

1º ciclo completo – 54,2%

Local de Residência Cid. 42,7% - Ald. 57,3% Cid. 66,1% Ald. 33,9%

Elaboração da autora-Fonte: Questionários das USF (junho 2015)

Como se pode observar no quadro 31 as mulheres são as que apresentam maior percentagem de abandono (62,7%) assim como os residentes na cidade (66,1%), os mais idosos (28,8%) e os com escolaridade média (54,2%). Na pesquisa efetuada para este trabalho foram encontradas poucas referências que relacionassem estas variáveis com as taxas de abandono. No entanto Edlund (2011) in Henriques (2011) também refere que são as mulheres que tomam mais medicamentos, pelo que se pode inferir, perante estes resultados, que o maior abandono por parte das mulheres poderá dever-se ao maior número de doenças e de comprimidos tomados diariamente por este grupo (resultados apresentados nos capítulos 5.2 e 7.1). No entanto no mesmo estudo, e contrariamente ao observado neste, as taxas de abandono foram superiores nos residentes em meio rural e nos com menos habilitações literárias.

No respeitante ao género nas mulheres existem outros fatores (além de serem o grupo com uma média superior de patologias e com maior consumo de comprimidos), que podem ser condicionantes deste abandono (isolamento, perceção do seu estado de saúde como mau, com mais dificuldades económicas e mais pessimistas quanto ao futuro).

Segundo dados do Eurostat (2016) in Interministerial (2017) em Portugal os indicadores revelam que as mulheres vivem mais tempo, mas em pior estado de saúde (p. 16). O mesmo documento refere a articulação das relações de género como origem de vulnerabilidade face à doença e ao processo de envelhecimento, os quais derivam de segregações estruturais, sendo reflexo de discriminações estruturais e resultado de opções individuais, ultrapassando os papeis sociais adotados, envolvendo estruturas socioculturais, políticas e modos de organização social e económica (p. 17).

O que se verificou neste estudo é que as mulheres têm médias de idades inferiores às dos homens, mas relativamente ao estado de saúde têm mais patologias.

Relativamente às faixas etárias a média de comprimidos e medicamentos tomados é superior nos com 75-79 anos em ambos os questionários. Já em relação ao avio da medicação são os com 70-74 anos (nos questionários das USF) que demonstram uma maior percentagem de compra dos medicamentos, enquanto que nos das farmácias essa percentagem é maior nos com 75-79 anos. A maior percentagem de abandono situa-se nos com idades superiores a 75 anos que é a que apresenta um maior número de medicamentos e comprimidos, de doenças, com menos habilitações literárias, com mais dificuldades económicas, com maior percentagem de não avio de medicamentos, razões estas que podem ser propícias ao abandono da medicação.

Relativamente às habilitações literárias são aqueles que têm menores habilitações que apresentam uma média superior de comprimidos e medicamentos tomados. No avio de medicamentos (questionários USF) são os com o 1º ciclo completo que compram em maior percentagem todos os medicamentos. Comparando estes dados com os do abandono são os com o 1ª ciclo completo que abandonam mais a medicação. Estes valores apresentam-se como contraditórios e de difícil avaliação uma vez que os que apresentam maior abandono são os que tomam menos medicamentos e comprimidos e quando vão à farmácia compram em maior percentagem os medicamentos prescritos. Os estudos encontrados sobre esta variável foram poucos, e descritos no capítulo 7.1, no entanto os mesmos só se referem à média de comprimidos e não referem a interligação com as habilitações literárias, pelo que podemos considerar que este abandono possa ser devido a perceções e crenças diferentes entre os dois grupos, assim como a um maior nível de literacia que pode ter como consequência um maior conhecimento sobre a possível existência de certos efeitos secundários, os quais podem ser percecionados pelos próprios, ou podem ser o motivo para o abandono através do conhecimento dos mesmos pela leitura das bulas inseridas nas caixas dos comprimidos, levando a que por um lado a sua leitura se torne dissuasora da toma para evitar esses possíveis efeitos

secundários, ou que por sugestão os doentes que ao terem conhecimento da possibilidade da sua ocorrência os percecionem como existentes após a toma da medicação. Alguns autores consideram que informação a mais pode ser contraproducente, pois os doentes ao saberem dos possíveis efeitos secundários da toma de certos medicamentos, ou os sintam ou abandonem a medicação para evitar esses efeitos. Estas conclusões estão relacionadas com os que possuem o 1º ciclo completo, uma vez que os com mais habilitações literárias apresentam menos abandono, tendo já sido apresentadas as possíveis explicações para esta diferença no subcapítulo 8.1.

Quanto ao local de residência nas aldeias a média de comprimidos e medicamentos tomados é superior à cidade (questionários das USF), enquanto que nos questionários das farmácias a média é superior nos residentes na cidade. Na cidade a percentagem de avio de medicamentos é superior em ambos os questionários.

É na cidade onde há mais abandono, o que tal como o verificado, e exposto, relativamente às habilitações literárias, também se apresenta como opostos. Neste caso além da eventual presença de crenças e perceções diferentes, a situação económica destes residentes poderá contribuir para um maior abandono. Os habitantes da cidade têm menos isenções, menos ajudas/comparticipações nos medicamentos (mais gastos na compra da medicação), apresentam uma percentagem menor na habitação própria (o que implica mais gastos nas rendas), têm menos cultivo de produtos hortícolas e de criação de animais para alimentação (mais gastos na alimentação), o que vai acarretar mais gastos para a sua subsistência, com uma inerente maior indisponibilidade económica, que pode ter como consequência a presença de maior abandono.

QUADRO 32 – DIVERSIDADES ENTRE GSA E GA – DEPENDENTES, ISENÇÃO DE TAXAS E COMPARTICIPAÇÃO/AJUDA NA COMPRA DE

MEDICAMENTOS GSA GA Dependentes Sim 36,4% Sim 28,8% Isenção taxas Sim

62,2% Sim 67,8% Comparticipação/ajuda na compra de medicamentos Não 62,6% Não 67,8%

Na análise da existência de dependentes e das condições económicas (quadro 32) o GSA apresenta uma percentagem maior de dependentes que o GA122, no respeitante à isenção de taxas moderadoras e na comparticipação/ajuda na compra de medicamentos as percentagens são muito similares embora o GA tenha uma percentagem maior123, o que pode ser a demonstração das dificuldades económicas apresentadas por este grupo como um dos motivos de abandono, apresentando-se como o motivo principal nas USF para a não compra de toda a medicação. Quanto ao motivo da isenção não se encontram grandes diferenças nos dois grupos 124. Relativamente a terem comparticipação/ajuda extra na compra dos medicamentos a diferença é pouco relevante entre os dois grupos125. Observou-se ainda que relativamente à parte financeira (isenção de taxas moderadoras e comparticipação extra nos medicamentos) o grupo sem abandono tem uma percentagem menor de isenção de taxas moderadoras e de comparticipação/ajuda extra na compra de medicamentos, sendo essa

comparticipação por isenção (GSA = 53,7%; GA = 57,9%) 126. No GA a

percentagem de mulheres a usufruir destas contribuições é inferior à dos homens, já no GSA as percentagens alteram-se sendo as mulheres a desfrutar de maiores percentagens desses apoios. Perante estes valores será de considerar que outra das hipóteses do abandono ser maior nas mulheres poderá dever-se à menor percentagem de comparticipações, que conjugada com o maior número de comprimidos tomados por dia, predispõe ao abandono.

Na pergunta “se conseguiriam comprar/tomar toda a medicação sem essa ajuda” a maioria respondeu que não, sendo o GSA a apresentar a percentagem mais elevada127. Estes valores deram-nos uma informação sócio económica dos dois grupos, da avaliação feita podemos constatar que não existem diferenças significativas entre eles. Este indicador das condições económicas da população em estudo está de acordo com o referido em 2.4, em que o Alentejo apresenta a maior taxa e a maior percentagem a nível nacional de não compra de medicamentos devido a dificuldades económicas.

122 conf. anexo 15 – Gráficos 5 e 6 (p. 42 – Anexos) 123 conf. anexo 19 – Gráficos 7 e 8 (p. 46 – Anexos) 124 conf. anexo 20 – Gráficos 9 e 10 (p. 47 – Anexos) 125 conf. anexo 22–Gráficos 11 e 12 (p. 49– Anexos) 126 conf. anexo 23 –Gráficos 13 e 14 (p. 50 – Anexos) 127 conf. anexo 24 –Gráficos 15 e 16 (p. 51 – Anexos)