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Apego como causa do sofrimento…

No Budismo o apego é a causa primeira de todo o sofrimento que venhamos a experimentar no decorrer da vida, sem ele não á sofrimento, pois não á perda e se não perdemos não sentimos falta, se não á falta não á dor pela falta, se não a dor pela falta não á sofrimento.

Esse é um dilema, pois desde que nascemos aprendemos a definir o eu e o outro, o que é meu e o que é do outro. Meu nome, meus pais, meu trabalho, meu carro, meu (s) filho (s) e não se engane todos esses “meus” estão ligados ou tem origem no apego que os budistas dizem ter relação direta com o sofrimento. Dai a afirmação do budismo de que o sofrimento é inerente ao humano e que a única forma de não sofrer é não se apegar.

Bem como fazer isso, não se apegar, em uma sociedade como a que estamos inseridos, que nos pede para consumirmos mais e mais, que dá valor a pessoa conforme ela “tem” mais posses, dinheiro, etc. Como não se apegar quando nossos pais querem nos dar o melhor, o mais moderno, a melhor educação , as melhores oportunidades e somos bombardeados com estímulos ao consumo o tempo todo em todas as mídias, logo somos incitados a desejar e assim nos apegamos.

Aqui entra outra questão. Como nossa sociedade é de consumo é necessário que os produtos consumidos tenham uma vida útil reduzida, para que desejemos consumir mais daquele produto ou de um produto melhor, mais moderno. Isso cria um ciclo de desejo e descarte, trazendo a sensação de vazio para nossas vidas. Pois nada é significativo e tudo deve ser substituído para mantermos nossa imagem de prosperidade.

Nos apegamos através do desejo que tem sua energia ligada ao amor, ou ao desejo do amor. Bem acho que vocês já estão entendendo o rolo em que nos metemos.

Dessa forma não sofrer remete-nos á não desejar e não desejar á uma mudança em nossos valores e comportamentos que são o alicerce de nossa sociedade atual, assim mudar-nos mudaria tudo que conhecemos e desejamos.

Não! Não deseje não desejar pois isso lhe colocaria na impossibilidade de não desejar, então, seja como o fogo que não deseja queimar ele só queima, ou como a agua que flui de acordo com o terreno e ainda assim transforma o terreno, poderia ainda ser como a terra imóvel, ou muito lenta dando a sensação de imobilidade, que nutre e é base de todas as coisas neste mundo e por fim você poderia ser como o vento fluido, flexível, indo e vindo ligando tudo!

Awareness

A idéia de awareness é simples e complexa ao mesmo tempo: é simples na medida em que é um movimento natural do organismo ao entrar em contato através da experiência, e complexa pois envolve a totalidade de processos do ser.

A awareness é um processo e só pode ser observada no transcorrer do fenômeno. É na verdade um modo de experienciar as situações que se apresentam ao indivíduo de modo mais completo e vivido.

Quando o indivíduo experimenta algo, há uma série de processos que ocorrem para que ele possa chegar a awareness e assim talvez satisfazer a necessidade que originou o contato. E para compreendermos como se dá tal processo, é preciso compreender os processos organísmicos.

Sempre que o indivíduo sente necessidade de algo, emerge uma figura que tem um fundo característico. Esta necessidade parece–nos estar sempre ligada ao processo de auto–regulação organísmica, que busca conservar, equilibrar, atualizar e desenvolver o organismo. Tal fenômeno, propicia o aparecimento de certas figuras, que quando exploradas e sentidas na sua totalidade levam o indivíduo à buscar suprir a necessidade que tenha surgido.

A qualidade da experiência do indivíduo esta diretamente relacionada com o processo de percepção e atenção empregadas no contato (perceber e dirigir a atenção ao percebido, com o intuito de explora–lo e conhecê–lo). Este é um processo que tem fundamental importância na conscientização do que esta acontecendo com o indivíduo num determinado momento, o que o indivíduo percebe através das funções de contato configura sua realidade situacional. Logo, define sua percepção da realidade, assim como sua forma de agir no mundo.

Se o sujeito percebe com um alto nível de atenção, o contato tende a ser pleno. Mas se do contrário estiver com a atenção diminuída por não estar no aqui e agora, há uma tendência a não conseguir fechar ou acabar a Gestalt de modo satisfatório, e em outro momento é provável que essa situação torne–se figura novamente. E esta situação “inacabada” pode ficar emergindo a todo momento, buscando resolução. Isto porque ao não reconhecer a necessidade de forma adequada não pode agir na busca de sua satisfação.

Deste modo, perceber e atentar ao percebido torna–se fundamental para o estabelecimento do contato, e este, para se chegar a conscientização que por sua vez leva a possibilidade de satisfação da necessidade do organismo.

Conscientizar–se de algo só é possível no momento presente. Isto porque conscientizar–se implica em perceber, e só se pode perceber no momento presente. De outro modo, estaríamos falando em fantasia (lembrar, imaginar algo que houve ou que irá ocorrer).

Sempre que uma “gestalt” emerge através de um processo de auto- regulação, ela pode ter ficado inacabada no passado, mas é no presente (agora) que ela é percebida e sentida. Também quando o indivíduo está ansioso com o futuro, sua ansiedade é sentida (aqui) no presente, pois o futuro ainda não existe concretamente. Ou seja, o passado e futuro são relativos, o presente é concreto, e real.

Isto não significa dizer que passado e futuro não tem sua importância, mas que eles só tem significado no presente, no aqui e agora.

Parece-nos que quando o indivíduo integra o passado e futuro ao presente, este pode tomar contato com suas necessidades e expectativas, e partir na direção de sua satisfação.

Deste modo estar no presente significa estar inteiro, completo, no aqui e agora.

Quando surge uma necessidade organísmica, o indivíduo pode “mobilizar energia” para agir em busca da satisfação dessa necessidade.

Como já nos referimos, parece-nos que a satisfação de necessidade é um movimento natural do organismo e este buscará sempre o equilíbrio, utilizando-se dos meios que têm disponíveis para isto.

Quando no conjunto de necessidades uma se sobressai e vira figura, o organismo busca satisfazê–la de algum modo. Na verdade há sempre um conjunto de necessidades que surgem ao indivíduo, este seleciona e busca satisfazê-las de acordo com as prioridades do organismo e atendendo a uma hierarquia da mais importante para a menos importante.

Se o indivíduo não puder então satisfazer a necessidade que emerge como figura, o organismo procurará agir buscando equilibrar–se . Mesmo que para isto precise criar ou desenvolver um mecanismo neurótico6, que

implicaria no rompimento do ciclo de contato e possível cristalização destes mecanismos.

Quanto mais energia for mobilizada, maior será o esforço do organismo na busca da equilibração.

Percebemos, que o indivíduo, quando se conscientiza de suas necessidades, tende a ir em busca de sua satisfação e que do contrário, o que se estabelece é uma tensão organísmica, onde a energia usada para a equilibração torna–se insuficiente para conter e regular a explosão em busca da satisfação da necessidade. Tal fato ocorre porque o indivíduo não conseguiu, por alguma razão, tomar contato com sua necessidade emergente e satisfazê–la de modo adequado.

Isto não significa dizer que o organismo deve fazer contato e satisfazer todas as necessidades que surjam. Na verdade vemos que o organismo seleciona suas necessidades. Estas necessidades que se tornam figuras, são aquelas que o indivíduo é capaz de perceber e satisfazer.

Através da auto – regulação o organismo se administra e torna-se capaz de se adequar criativamente às mais variadas situações. Auto–regular significa, auto–gerenciar, ser capaz de selecionar, avaliar e satisfazer suas necessidades buscando o equilíbrio.

Estar ligado (Aware), é fundamental nos contatos que o indivíduo estabelece. Esta consciência permite que o indivíduo perceba, avalie, e aja rumo a satisfação da necessidade que emerge ou diferencie o que não é necessário ao organismo, podendo então, dirigir suas energias para outras figuras emergentes.

Quando o indivíduo age, ele direciona sua energia mobilizada na direção de um objetivo. Se a figura elegida não for percebida e avaliada adequadamente, a energia e o objetivo elegidos tendem a não alcançar uma resolução adequada, pois não condizem com a realidade, deixando assim a situação inacabada. Tal fato pode favorecer o aparecimento de uma atitude não adequada com a situação em questão.

Se o indivíduo se conscientizar de suas sensações e sentimentos (figura), ele poderá reagir buscando a satisfação de suas necessidades.

resolução e fechamento da gestalt. A figura pode retornar ao fundo característico, dando lugar a outra necessidade que se sobressai e se torna figura.

Inicia–se então um novo ciclo de contato, que logo voltará ao fundo dando lugar a outra figura, e assim outro ciclo de contato se inicia, onde a awareness é essencial para a fluidez desse processo que só tem fim com a morte do organismo.

O indivíduo está sempre de um modo ou outro, em contato com o meio. O meio é o campo onde o indivíduo pode ser e existir, deste modo o meio é o local onde o contato é possível.

Se é no meio que o contato é possível e a awareness é dada pela qualidade deste contato, podemos dizer que a conscientização se dá na relação que o indivíduo estabelece com o meio.

O modo como o indivíduo percebe, dirige atenção e avalia o meio, configuram a sua realidade.

O processo da awareness é essencial para a autonomia do sujeito. Ela oportuniza o contato com as necessidades que o organismo sente no transcorrer de sua vida, permite a avaliação de como satisfazer, e ainda se, satisfazer sua necessidade é o que o indivíduo quer ou necessita num determinado momento.

Deste modo a autonomia pode ser vista como um processo integrativo que envolve a totalidade do indivíduo, o modo como ele (indivíduo) se conscientiza de seu movimento organísmico e como se posiciona em relação ao meio.

A awareness do indivíduo dentro do que discorremos, torna–se fundamental sendo que, sem ela o organismo pode entrar em um movimento confuso de despersonalização , já que pode não reconhecer suas próprias necessidades.

Então estar consciente ou aware, é fundamental para que os indivíduos possam satisfazer suas necessidades e se reconhecer no que fazem, portanto, mais inteiros.

Integrar as diversas partes do eu é necessário para o estabelecimento da autonomia do indivíduo e para isto a awareness dos processos organísmicos é

essencial.

Sendo assim, podemos perceber a awareness como uma propriedade fundamental no contato que transcende os processos funcionais do organismo , podendo ser considerada um modo de experienciar as situações que se apresentam, um modo de fazer contato e de estar no aqui e agora.

Amadurecer

Em nossa sociedade amadurecer é sinônimo de endurecer, pois é esperado que, quando atingimos certa idade na escala cronológica em nossa existência, certos comportamentos que são classificados como de alguém “maduro” se instalem.

Espera-se que ao amadurecer sejamos sóbrios, responsáveis e com uma tolerância maior ao sofrimento. Diferentemente de uma criança que é espontânea, aberta e sofre sem reservas sempre que algo ou alguém lhe impõem uma situação desagradável.

Isto nos remete a um conflito lógico: se ser maduro é deixar de ser criança ao deixar de ser criança abandonamos suas características e passamos a nos controlar, enrijecer e esconder nosso sofrimento.

Parece um problema intransponível, pois ser adulto nos remete em abandonar ou trancar “nossa criança”. Você já deve ter visto como age uma criança quando se sente abandonada ou trancada. Bem se você for pai ou mãe deve estar visualizando choro, gritos, comportamentos intensos e variados em busca de liberdade seja do que for!

Isto acontece, pois a criança não tem os mecanismos que o “adulto” desenvolveu para deixar de ser criança, isto será desenvolvido nas relações que a criança irá estabelecer com pais, familiares, etc., até que um dia ela acorda e se vê presa “por dentro”. É como se ela passasse a coabitar com modelos de adultos introjetados e estes lhe são tão severos que ela começa a abdicar de sua espontaneidade, irreverência e seu mecanismo de auto realização deixa de ser simples, e passa a desenvolver uma lógica complexa e cheias de variáveis e interveniências.

Passa então a ser um adulto cheio de conflitos, medos, raivas e ávido por liberdade. Logicamente cria defesas que o proteja destas emoções, pois estas lhes mostrariam como está no “caminho errado”, ou seja, distante de quem é realmente.

Poderíamos dizer que a grande maioria, se não todos os conflitos psicológicos, relativamente duradouros, poderiam ser amenizados ou mesmo erradicados de nossa existência se buscássemos ser como as crianças. Elas são diretas, não escondem o que sentem e falam o que querem, não precisam

de subterfúgios para ser e estar no mundo, dependem dos pais e sabem disso não precisando demonstrar uma auto suficiência de que não dispõem.

Sendo assim, olhemos para nossas “crianças” interiores e exteriores buscando dar-lhes espaço de manifestação no cotidiano, amem-nas e respeitem-nas, assim talvez poderemos construir um mundo sem guerras, fome e ignorância, pois são os adultos e não as crianças que transformaram nosso planeta no que é hoje. Você está satisfeito com o que esta vendo?

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