A V EDAÇÃO V IRTUAL
4. M ONITORIZAÇÃO DAS MUDANÇAS AMBIENTAIS DERIVADAS DA
4.3. P APEL DA P ECUÁRIA NA ALTERAÇÃO C LIMÁTICA E P OLUIÇÃO DO AR E Á GUA
De acordo com um relatório apresentado pela FAO (2006), a produção pecuária gera mais gases causadores do efeito‐estufa para o aquecimento global, medido em equivalentes CO2, do que os transportes. Segundo o mesmo relatório, são também a maior fonte de degradação de solo e água, devendo diminuir para metade, para evitar que o nível de danos seja superior ao presente. Sessenta e cinco por cento do óxido nitroso (N2O) (que tem 296 vezes o poder que aquecimento global do CO2), são gerados pelo sector pecuário. O estrume é a maior fonte destes componentes (UN, 2006). O N2O irá aumentar substancialmente nas próximas décadas, pois uma vez que a área de pastagem está no seu limite máximo na maior parte das regiões, a futura expansão do sector pecuário será cada vez mais baseada em culturas semeadas (STEINFELD & HOFFMANN, 2008).
A actividade pecuária é também responsável por 30 a 40% das emissões globais de metano (CH4), nomeadamente através da fermentação entérica e da decomposição do estrume (CHHABRA et al., 2009; MERINO et al., 2008). Estes processos que são responsáveis por 80% das emissões de metano por parte das actividades relacionadas com a agricultura. Dietas diárias que reduzem a fermentação entérica e consequentemente, as emissões de metano, podem contribuir para minimizar este efeito. (UN, 2006). A libertação de CO2 acontece quando áreas anteriormente florestadas, são convertidas em área de pastoreio ou área de cultura de produtos para alimentos. Portanto, a expansão da pastagem e terra cultivada, à conta da floresta, liberta quantidades significativas de CO2 para a atmosfera Liberta‐se igualmente quando combustível fóssil é consumido pelos tractores, no fabrico de adubos, bem como em todas as operações de processamento e transporte de alimentos para animais. O N2O é libertado pelas leguminosas e pelos adubos químicos aplicados em outras culturas (STEINFELD et al,. 2006).
Uma grande proporção de N está presente nos dejectos dos animais em forma de ácido úrico e ureia. Pouco depois da sua excreção, o ácido úrico e a ureia são
hidrolisados em amoníaco, que se liberta por volatilização. As emissões de amoníaco proveniente do estrume dos animais para a atmosfera, podem causar diversos problemas, desde afectar a saúde humana, problemas ao nível da produção até problemas ambientais. Os níveis de amoníaco podem atingir altas concentrações no interior das instalações pecuárias durante os meses mais frios, pois a ventilação é minimizada para evitar perdas de calor e/ou custos de aquecimento. Quer o homem, quer os animais, são sensíveis a altos níveis de amoníaco; a exposição pode resultar em baixas performances por parte do animal e impactos negativos na saúde (MOORE, JR, s.d.).
A água utilizada pela produção animal representa cerca de 8 por cento do global utilizado para consumo humano. A maior parte desta água, é usada para irrigação de cereais para alimento e pastagens. Através do efeito de compactação do solo quando o pisam e pastoreiam, os animais têm um efeito determinante, por vezes negativo, na infiltração, e na velocidade da água na escorrência de superfície. O efeito por eles produzido na qualidade da água através da libertação de nutrientes, microrganismos patogénicos e outras substâncias para os cursos de água, essencialmente a partir de explorações intensivas. O uso da terra pela produção animal, especialmente através da gestão de dejectos é o principal mecanismo pelo qual os animais contribuem para a contaminação da água (STEINFELD et al, 2006).
Existem no presente casos notórios deste tipo de poluição. O rio Mississipi faz a drenagem de todos os Estados a ele contíguos, para o Golfo do México. Neste local formou‐se uma bacia que inclui a quase totalidade de explorações pecuárias industriais, e de produção de alimentos para animais. O arrastamento pelas águas superficiais é responsável pela deposição de produtos provenientes das adubações e sementeiras e outras águas impróprias nas águas do rio. Quando chegados ao Golfo do México estes nutrientes são consumidos em explosões de algas, devidas essencialmente ao Azoto e Fósforo (Figura 33). Estas depois de morrerem, depositam‐se e decompõem‐se por bactérias. Estas bactérias absorvem todo o oxigénio das águas, obrigando peixes e outros seres marinhos a mudarem de local
para sobreviverem, e criando uma Zona Morta (RAFFENSPERGER, 2008). Para explorar a utilidade de técnicas de detecção remota para estudo de processos costeiros, tais como as plumas10 da baía de Delaware, os dados da resolução razoavelmente alta (de 1 km) e com resolução temporal de horas ou pelo menos inferior a 1 dia. O AVHRR parece preencher estes requisitos, bem como os sensores de cor do oceano como o SeaWiFS e o MODIS. Dependendo das bandas e com três satélites operacionais, a frequência de seis visitas por dia pode ser alcançada, utilizando as imagens SAR (como o RADARSAT) como complemento de alta resolução (JIANG, 2009).
Figura 33 ‐ Aglomerados de algas no Golfo do México (EARTH OBSERVATORY ‐ NASA, 2004)
Explorações em escala industrial nos EUA produziram mais de 335 milhões de toneladas de adubo por ano, contribuindo directamente com mais de 3 milhões de toneladas de azoto para o rio Mississipi, no ano de 2000. Este valor corresponde a menos de metade da quantidade de azoto dos fertilizantes que o USGS estima que
contribuíram no mesmo ano. Uma comparação directa parece indicar que o cultivo de culturas é uma preocupação muito maior do que gado (RAFFENSPERGER, 2008). Um terço do total de terra arável mundial é dedicada a produzir alimentação para o gado, significando que uma quantidade substancial de fertilizantes aplicados na agricultura, estão na verdade afectos à produção animal (FAO, 2006).