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2. REVISTA DA LITERATURA

2.1 Sistemas de conexão externa x sistemas de conexão interna

2.1.3 Apertos sucessivos

Weiss et al. (2000) mediram as mudanças nos torques de remoção de parafusos de abutments ocorridas a partir de múltiplos apertos, utilizando torque constante e comparando diversos sistemas. Foram realizados 200 ciclos de apertos com torques de 20Ncm. Os autores observaram diminuição progressiva nos torques de desaperto em todos os sistemas de implantes. Foram observadas diferenças significativas entre os sistemas. Sistemas com conexões internas cônicas mantiveram maiores valores de torque de desaperto. As diferenças entre os torques de aperto e desaperto variaram de 3% a 20% na remoção imediata, e de 4,5% a 36% na média dos primeiros 30 ciclos de aperto. Implantes novos de sistemas que não apresentavam conexões com retenção friccional entre o implante e o abutment exibiram queda imediata no torque de desaperto, variando de 11% a 24% do torque de aperto aplicado. Os autores concluíram que apertos e desapertos sucessivos dos parafusos dos abutments causaram perda progressiva do torque de desaperto dos mesmos, provavelmente devido à diminuição no coeficiente de fricção entre os componentes.

Al Rafee et al. (2002) avaliaram o efeito de apertos sucessivos e da contaminação salivar na resistência à fratura de parafusos protéticos de ouro. Para tanto, foram utilizados 45 parafusos protéticos de um mesmo fabricante (Implant Innovations). Os parafusos foram divididos em grupos com e sem lubrificação por

saliva. Os parafusos foram torqueados com 10Ncm e removidos 1, 5, 10 e 20 vezes. O torque foi aplicado com torquímetro eletrônico. A resistência à tensão foi medida em máquina universal de ensaios. Não houve diferença estatística entre os grupos com ou sem lubrificação, nem redução significativa na resistência à fratura dos grupos com maior número de ciclos de aperto e desaperto. Frente aos resultados, os autores concluíram que os parafusos protéticos de ouro puderam ser reapertados até 20 vezes sem que houvesse redução significativa em sua resistência à fratura, e que a presença de saliva não alterou a resistência à fratura destes parafusos.

No mesmo ano, Tzenakis et al. (2002) avaliaram o efeito de torques de aperto sucessivos e da presença de saliva como lubrificante na pré-carga de parafusos protéticos fendados. Cada parafuso foi torqueado com 10Ncm utilizando torquímetro manual acoplado a sensores de carga, e desapertado 10 vezes. Os valores de pré-carga foram medidos nos ciclos 1, 5 e 10. Os parafusos permaneceram em repouso durante 5 minutos após cada aplicação de torque. O afrouxamento por acomodação se caracterizou pela queda contínua e gradual da pré-carga. A redução da pré-carga foi de aproximadamente 2% do valor inicial. Praticamente metade desta perda ocorreu imediatamente após a aplicação do torque; o restante foi sendo perdido ao longo do intervalo de 5 minutos, após os quais, a perda de pré-carga pareceu se manter inalterada. Foi observado aumento da pré-carga do primeiro ao décimo ciclo. Os autores concluíram que os maiores valores de pré-carga foram obtidos após 10 ciclos de aperto/desaperto dos parafusos com lubrificação de saliva, portanto, a utilização do mesmo parafuso durante as sessões preliminares de confecção da prótese poderia ser benéfica no momento da aplicação de torque final.

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Byrne et al (2006) compararam três tipos de parafusos (liga de titânio, liga de ouro e liga de titânio revestido por ouro) com geometria similar. Foram utilizados dois tipos de abutments (usinados e fundidos). Foi desenvolvido um artefato para medir a pré-carga no conjunto implante/parafuso/abutment com um sensor de tensões. Dez parafusos de cada tipo foram apertados sequencialmente a 10, 20 e 30 Ncm em dez abutments de cada tipo. Os mesmos parafusos foram desapertados e reapertados mais duas vezes. Portanto, cada parafuso foi apertado em três ocasiões nos três valores de torque. Os resultados indicaram que o parafuso revestido por ouro apresentou as maiores pré-cargas para todos os torques de instalação e para cada episódio de apertamento. Todos os parafusos apresentaram queda da pré-carga de acordo com o número de episódios de aperto. Devido ao maior valor de pré-carga obtido com o parafuso revestido por ouro, com ambos os tipos de abutment, é mais provável que este tipo de parafuso mantenha a conexão estável quando reapertado pela segunda e terceira vezes. Os autores concluíram que todos os parafusos apresentaram queda da pré-carga com reapertos consecutivos, independentemente do tipo de abutment e do torque de instalação. O parafuso revestido por ouro apresentou pré-carga significativamente maior para todos os torques de instalação, e para todos os reapertos, em comparação aos parafusos sem revestimento.

Elias et al. (2006) verificaram o torque de desaperto de parafusos com diferentes tipos de revestimento. Foram utilizados implantes de hexágono externo de 3,75mm de diâmetro e 13mm de comprimento. Os parafusos estudados foram: 1. Liga de titânio sem revestimento; 2. Liga de titânio com revestimento de TiCN; 3. Liga de titânio com revestimento de TiN; 4. Liga de titânio com revestimento de Parylene N; 5. Liga de titânio com revestimento de Teflon. Na segunda parte do estudo, os grupos foram utilizados para testar mudanças no torque de desaperto

após seis apertos sucessivos com torques de aperto constantes (30, 32 e 35 Ncm). Queda progressiva dos torques de desaperto foi observada em todos os tipos de parafuso após apertos consecutivos. Foi observada diferença significativa entre os tipos de parafuso após 6 apertos consecutivos, e os parafusos sem revestimento apresentaram maiores torques de desaperto. Os autores concluíram que o uso de revestimentos no parafuso do abutment reduziu o coeficiente de fricção e aumentou a pré-carga para um dado torque de aperto. Entretanto, isto resultou em redução no torque de desaperto, o que poderia ter resultados adversos na estabilidade dos parafusos.

Coppedê et al. (2009) avaliaram os efeitos de ciclos consecutivos de aperto/desaperto de abutments com conexões cônicas internas no seu torque de desaperto. Foram utilizados 68 implantes cônicos com conexão cônica interna, 34 abutments sólidos e 34 abutments com parafuso passante. Implantes e abutments foram divididos em 4 grupos: Grupos 1 e 3: abutments sólidos; Grupos 2 e 4: abutments com parafuso passante. Os abutments dos grupos 1 e 2 foram instalados, e após 5 minutos de repouso foram removidos. Os torques de aperto e desaperto foram medidos e registrados. Os abutments dos grupos 3 e 4 foram instalados, repousaram por 5 minutos, passaram pelos ensaios de carregamento mecânico, e foram desapertados. Os torques de aperto e desaperto foram medidos e registrados. Em todos os grupos foram realizados 10 ciclos de aperto/desaperto. Para as medições dos torques de aperto e desaperto foi utilizado torquímetro digital (TQ-680, Instrutherm, São Paulo, Brasil), posicionado em um artefato de aferições de torque desenvolvido pelo Departamento de Materiais Dentários e Prótese da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, USP. Neste aparato, o torquímetro fica posicionado na haste superior, enquanto o conjunto implante/abutment fica localizado na base,

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no interior de um suporte que permite apenas seu movimento rotacional, com o objetivo de padronizar a aplicação de torque em todas as amostras. Os resultados deste trabalho mostraram que os torques de desaperto mostraram tendência de redução com o aumento do número de ciclos de aperto/desaperto.

No mesmo ano, do Nascimento et al. (2009) investigaram a influência do aperto sucessivo do parafuso do abutment na infiltração de Streptococcus mutans pela interface implante/abutment. Foram utilizados 20 implantes de hexágono externo, juntamente com 20 abutments de cobalto-cromo pré-usinados. Os abutments no Grupo 1 foram torqueados com 32Ncm, e os abutments do Grupo 2 foram torqueados com 32Ncm, desapertados e torqueados novamente com o mesmo torque. Os implantes foram imersos em meio inoculado com S. mutans por 14 dias. Após este período, a contaminação do interior do implante foi verificada. Os resultados encontrados sugeriram que a infiltração bacteriana entre os implantes e os abutments ocorreu mesmo em condições de ausência de carga, e em maior intensidade quando o parafuso do abutment foi reapertado sucessivamente.

Neto et al. (2009) verificaram a quantidade de deformação do abutment ao ser torqueado ao implante. Sensores de tensão foram posicionados nos abutments, e leituras foram realizadas no momento do aperto do parafuso. Os valores de deformação do abutment após o aperto do parafuso variaram de -127,70 a -590,27 µƐ. Os autores concluíram que o aperto do parafuso resultou na deformação do abutment, que foi compressiva na maioria das vezes.

Nigro et al. (2010) analisaram os efeitos da lubrificação do parafuso do abutment sobre os valores de pré-carga. Foram utilizados 20 abutments de zircônia idênticos, e 20 implantes Brånemark Mk III. Os abutments foram instalados nos respectivos implantes com torque de 32Ncm, e divididos em 2 grupos: 10 para o

grupo com lubrificação com saliva artificial e 10 para o grupo sem lubrificação. Os valores do torque de desaperto dos parafusos foram medidos 10 vezes para cada parafuso. As amostras do grupo com lubrificação apresentaram valores médios para o torque de desaperto significativamente superiores em relação às amostras do grupo sem lubrificação. Os autores concluíram que sempre houve perda de torque em relação ao torque de instalação, em ambas as condições, e que melhores valores de pré-carga foram obtidos pelo grupo com lubrificação, sugerindo que o parafuso do abutment deveria ser lubrificado para evitar afrouxamento.