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3 SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA

4.2 APLICAÇÃO DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE

Há outras normas com relação à aplicação da desconsideração da personalidade jurídica de forma equivocada como no caso do artigo 124, inciso I e inciso III, do artigo 135, ambos do Código Tributário Nacional:

Art. 124. São solidariamente obrigadas:

I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal;

Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:

III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

O artigo 124, inciso I do Código Tributário Nacional, não deve ser considerado como caso de desconsideração da personalidade jurídica. A solidariedade mencionada é uma relação entre contribuintes, “se duas pessoas participam do fato gerador na condição de contribuintes, há solidariedade entre

58 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 267.

elas.”59

Logo, seria equivocada, observando apenas o dispositivo legal acima, a aplicação o instituto da desconsideração da personalidade jurídica.

O inciso III do artigo 135 do Código Tributário Nacional não faz referência aos sócios, mas sim os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado que tenham praticado atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos. Nesse sentido Marlon Tomazette60 aduz:

Além disso, é certo que tal dispositivo pressupõe atos praticados com excesso de poder, com infração da lei, dos estatutos ou do contrato social. Assim sendo, é certo que também não estamos diante de hipótese de desconsideração da personalidade jurídica, mas de hipóteses de responsabilidade simples dos administradores.

Leandro Paulsen61 explique que:

O artigo 135 do Código Tributário Nacional retrata a modalidade de responsabilização direta e exclusiva de terceiros e, consequentemente, caso de exclusão da responsabilidade da sociedade para aquele exclusivo fato – imposição que só pode ocorrer quando comprovado, pela Fazenda Pública, o excesso de poderes ou a infração à lei comercial ou tributária, quando está última tipificada, por exemplo, condutas que configurem crimes contra a ordem tributária.

O artigo 135 do Código Tributário Nacional menciona a respeito de infração a lei, para fins do artigo 135, inciso III do Código Tributário Nacional e não da desconsideração da personalidade jurídica.

Conclui-se da análise, tão somente da legislação tributária, que há impossibilidade de desconsideração da personalidade jurídica, justamente por não haver dispositivos legais na legislação tributária autorizando o ato da desconsideração.

59 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 268.

60 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 270.

61 PAULSEN, Leandro. Direito tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 954.

CONCLUSÃO

Atualmente o entendimento sobre a desconsideração da personalidade jurídica será dado de acordo com o órgão julgador, ou seja, na justiça trabalhista o entendimento é diferente da justiça comum, que também difere dos órgãos julgadores de matéria tributária.

A responsabilidade solidária que existe entre os sócios é limitada ao valor de sua quota ou do montante integralizado quando da constituição de determinada sociedade. Ou até mesmo responsabilidade solidária existente entre empresas de um mesmo grupo econômico e não entre os sócios das empresas pertencentes desse grupo.

A desconsideração da personalidade jurídica, diferentemente da responsabilidade solidária, irá executar os bens do sócio, após tentativas frustradas de executar os bens da sociedade, de forma excepcional, devendo ser observado os casos previstos em lei.

Hoje há entendimentos que divergem do previsto em lei, por simplesmente vislumbrar uma situação que facilite o alcance do crédito pretendido pelo autor, sem a devida observância dos dispositivos legais, do princípio da autonomia patrimonial e da responsabilidade limitada inerente à grande maioria das sociedades existente no Brasil.

O cerne da questão é utilizar o instituto da desconsideração da personalidade jurídica de forma banalizada e desarrazoada trazendo impactos negativos no mercado e consequentemente na economia, pois se o direito não traz a segurança jurídica que é esperada quando da interpretação das leis, o mercado

sente essa insegurança e tende a desestimular o investimento no mercado brasileiro.

A interpretação extensiva de forma exacerbada cria precedentes que são tidos praticamente, no caso da jurisdição trabalhista, como normas que apenas existem quando é favorável para determinada pessoa da relação jurídica, sem que seja considerado requisitos estabelecidos por lei.

A possibilidade de ser desconsiderada a pessoa jurídica em searas do direito onde não existe a previsão expressa, pode sim acontecer, mas usando normas e critérios legais já existentes e obedecendo a autonomia patrimonial, a responsabilidade limitada, lembrando que a desconsideração deve ser usada de maneira excepcional.

REFERÊNCIAS

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REsp 1253383 / MT RECURSO ESPECIAL 2011/0075097-0. Relator(a) Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva Órgão Julgador - Terceira Turma. Data do Julgamento 12/06/2012 Data da Publicação/Fonte DJe 05/10/2012

TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

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