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2 MATERIAL E MÉTODOS

2.5 Aplicação dos índices bióticos (BMWP’ e ASPT)

Para avaliar a qualidade biológica da água foram utilizados dois índices, o Biological Monitoring Working Party System adaptado (BMWP’) e oAverage Score per Taxon (ASPT). Ambos exigem que a identificação dos macroinvertebrados bentônicos seja realizada até o nível taxonômico de família (COTA et al., 2002; JUNQUEIRA & CAMPOS, 1998).

Para o cálculo do índice BMPW’ as famílias encontradas recebem uma pontuação equivalente ao seu nível de tolerância à poluição orgânica, nesse caso, as famílias mais sensíveis recebem maior pontuação. A soma dos valores atribuídos a cada táxon encontrado (o BMWP’) é então comparado à tabela de classes de qualidade de água (Tabela 4) (COTA et

al., 2002; JUNQUEIRA & CAMPOS, 1998).

O índice ASPT, por sua vez, é calculado utilizando a pontuação BMWP’ dividida pelo número de táxons pontuados na amostra, dessa forma, quanto maior o valor encontrado, melhor é a qualidade do ambiente (Tabela 5) (COTA et al., 2002; SILVA, EVERTON & MELO, 2016).

Tabela 4 - Classes de qualidade de água e significado dos valores do BMWP’, adaptado de Alba-Tercedor & Sánches-Ortega (1988).

Classes Qualidade Valor (BMWP')

Significado

Ótima > 150 Águas prístinas (muito limpas)

I Boa 101 - 120 Águas não poluídas, sistema perceptível não alterado

II Aceitável 61 - 100 Evidentes efeitos moderados de poluição

III Duvidosa 36 - 60 Águas poluídas (sistemas alterados)

IV Crítica 15 - 35 Águas muito poluídas (sistemas muito alterados)

V Muito crítica < 15 Água fortemente poluída (sistema fortemente alterado)

Fonte: Alba-Tercedor & Sánches-Ortega (1988).

Tabela 5 - Valores de referência para o índice ASPT e o diagnóstico da água.

Pontuação ASPT Diagnóstico

> 6 Água limpa

5 - 6 Qualidade duvidosa

4 - 5 Provável poluição moderada

< 4 Provável poluição severa

Fonte: Silva, Everton & Melo (2016).

3 RESULTADOS

Com base na avaliação in situ através do IIAN, observa-se que dentre as nascentes amostradas, três delas se encontram em péssimo grau de preservação (N04, N05 e N10), três estão em condição ruim (N01, N02 e N07) e outras quatro em grau razoável (N03, N06, N08 e N09) (Tabela 6). Todas as nascentes observadas estão localizadas em propriedade privada e nenhuma se enquadrou em nível ótimo de preservação. Mesmo sendo protegidas com cercas, a maioria é de fácil acesso tanto para animais quanto para humanos, com exceção da N04 e N08. E apenas nas nascentes N01 e N09 foi observado lixo ao redor.

A N04 apresentou coloração escura, N03 e N05 apresentaram coloração clara, enquanto o restante apresentou coloração transparente, entretanto, em nenhuma das nascentes foi observado odor ou presença de óleo. Considerando a ausência de esgoto, óleo e odor em todas as áreas, a coloração escura da N04 pode ser atribuída à turbidez decorrente da ausência de vegetação e processo erosivo ao redor da nascente.

Tabela 6 - Índice de Impacto Ambiental de Nascentes (IIAN), com a pontuação obtida em cada nascente, a soma total e a classe referente ao grau de preservação.

Parâmetros Macroscópicos N01 N02 N03 N04 N05 N06 N07 N08 N09 N10 Cor da água 3 3 2 1 2 3 3 3 3 3 Odor 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 Lixo ao redor 2 3 3 3 3 3 3 3 2 3 Materiais flutuantes 3 3 3 3 1 3 3 2 3 3 Espumas 3 3 3 2 1 3 2 1 2 1 Óleo 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 Esgoto 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 Vegetação (preservação) 2 2 3 1 1 2 1 2 2 1 Regeneração 3 3 3 3 2 3 3 3 3 2 Presença de erosão 1 3 2 1 3 3 3 3 3 3 Uso por animais 2 1 2 3 2 2 1 3 3 1 Uso por humanos 2 2 3 2 2 3 2 3 2 3 Proteção do local 2 2 2 2 1 1 2 1 2 1 Acessibilidade ao local 1 1 1 2 1 1 1 2 1 1 Proximidade com residência ou

estabelecimento 3 2 3 2 1 2 2 3 3 3 Tipo de área de inserção 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

Total 39 39 41 36 31 40 37 40 40 36

Classe D D C E E C D C C E

Fonte: Do autor (2020).

Em relação ao levantamento de macroinvertebrados bentônicos, nas dez nascentes amostradas, foram obtidas um total de 4 classes (Ostracoda, Insecta, Malacostraca e Clitellata). Para Clitellata, os indivíduos foram identificados até o nível taxonômico de subclasse (Oligochaeta e Hirudinea) (JUNQUEIRA et al., 2000; SILVA, EVERTON & MELO, 2016), enquanto para Ostracoda a identificação permaneceu até o nível de classe (ALBA-TERCEDOR & SÁNCHEZ-ORTEGA, 1988). Para Malacostraca e Insecta a identificação ocorreu até o nível de família, sendo encontrados ao todo 18 famílias (Tabela 7). Após a identificação dos organismos, foram atribuídos os valores do índice BMWP' para cada família amostrada segundo os autores Alba-Tercedor e Sánchez-Ortega (1988), Cota et al. (2002) e Junqueira et al. (2000) (Tabela 8). Também foi realizado o somatório dos pontos atribuídos às famílias presentes para cada ponto de coleta, com identificação da classe e qualidade da água (Tabela 9).

Os valores obtidos pelo índice BMWP’ variaram de 13 a 54, indicando que ao longo da sub-bacia são encontradas águas poluídas a fortemente poluídas. Em nenhuma das

nascentes observadas a qualidade da água está boa. O resultado é atribuído ao fato de existirem muitos taxa tolerantes a alterações ambientais, como as larvas de Chironomidae, que foram encontrados em todos os pontos.

Tabela 7 - Macroinvertebrados bentônicos amostrados com suas respectivas abundâncias para cada nascente no Ribeirão da Onça em Elói Mendes, Minas Gerais.

Taxa N01 N02 N03 N04 N05 N06 N07 N08 N09 N10 Classe Ostracoda 51 28 60 7 47 275 47 73 27 97 Classe Insecta Ordem Ephemeroptera Caenidae 5 0 13 1 0 0 0 0 2 1 Ordem Odonata Coenagrionidae 0 1 0 2 0 0 0 0 2 0 Gomphidae 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 Libellulidae 7 1 0 1 0 2 1 2 0 3 Ordem Hemiptera Veliidae 0 0 0 0 0 0 4 1 0 0 Ordem Coleoptera Hydrophilidae 0 0 0 3 0 0 0 0 1 0 Elmidae 3 1 0 2 0 1 0 3 0 0 Psephenidae 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 Ordem Trichoptera Sericostomatidae 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0 Leptoceridae 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Xiphocentronidae 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 Ordem Diptera Ceratopogonidae 14 10 1 87 0 19 2 1 3 8 Chaoboridae 7 2 0 0 0 0 0 0 0 0 Chironomidae 244 72 97 513 17 195 78 3 292 77 Simuliidae 0 0 0 0 6 0 0 0 0 1 Stratiomyidae 5 0 0 5 0 0 1 3 0 1 Empididae 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Classe Malacostraca Ordem Amphipoda Hyalellidae 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 Classe Clitellata Subclasse Oligochaeta 26 0 4 9 0 2 7 1 0 5 Subclasse Hirudinea 80 1 6 6 1 0 5 0 7 1 Fonte: Do autor (2020).

Tabela 8 - Macroinvertebrados bentônicos presentes no Ribeirão da Onça em Elói Mendes, Minas Gerais e suas respectivas pontuações do BMWP’, segundo o nível de saprobidade, conforme os autores Alba-Tercedor & Sánchez-Ortega (1988), Cota

et al. (2002) e Junqueira et al. (2000).

Taxa BMWP’

Oligochaeta (todas as classes) 1 Chironomidae, Stratiomyidae, Chaoboridae 2 Ostracoda, Hirudinea 3 Ceratopogonidae, Empididae, Caenidae 4 Hydrophilidae, Elmidae, Simuliidae, Gomphidae 5

Hyalellidae 6

Veliidae, Leptoceridae, Coenagrionidae 7 Libellulidae, Psephenidae 8 Xiphocentronidae 9 Sericostomatidae 10

Fonte: Do autor (2020).

Tabela 9 - Tabela de avaliação da qualidade da água através dos Macroinvertebrados bentônicos e do índice BMWP’. (Continua)

Nascentes Taxa BMWP’

total

Classe Significado Qualidade

N01 Ostracoda, Oligochaeta, Hirudinea, Caenidae, Libellulidae, Elmidae, Ceratopogonidae, Chaoboridae, Chironomidae, Stratiomyidae, Empididae 38 IV Águas poluídas (sistemas alterados) Duvidosa N02 Ostracoda, Hyalellidae, Hirudinea, Coenagrionidae, Gomphidae, Libellulidae, Elmidae, Ceratopogonidae, Chaoboridae, Chironomidae 45 IV Águas poluídas (sistemas alterados) Duvidosa

Tabela 9 - Tabela de avaliação da qualidade da água através dos Macroinvertebrados bentônicos e do índice BMWP’. (Continuação)

Nascentes Taxa BMWP’

total

Classe Significado Qualidade

N03 Ostracoda, Oligochaeta, Hirudinea, Caenidae, Ceratopogonidae, Chironomidae 17 V Águas muito poluídas (sistemas muito alterados) Crítica N04 Ostracoda, Oligochaeta, Hirudinea, Caenidae, Coenagrionidae, Libellulidae, Hydrophilidae, Elmidae, Sericostomatidae, Ceratopogonidae, Chironomidae, Stratiomyidae 54 IV Águas poluídas (sistemas alterados) Duvidosa N05 Ostracoda, Hirudinea, Chironomidae, Simuliidae, 13 VI Água fortemente poluída (sistema fortemente alterado) Muito crítica N06 Ostracoda, Oligochaeta, Libellulidae, Elmidae, Ceratopogonidae, Chironomidae 23 V Águas muito poluídas (sistemas muito alterados) Crítica N07 Ostracoda, Oligochaeta, Hirudinea, Libellulidae, Veliidae, Psephenidae, Ceratopogonidae, Chironomidae, Stratiomyidae 38 IV Águas poluídas (sistemas alterados) Duvidosa

Tabela 9 - Tabela de avaliação da qualidade da água através dos Macroinvertebrados bentônicos e do índice BMWP’. (Conclusão)

Nascentes Taxa BMWP’ total

Classe Significado Qualidade

N08 Ostracoda, Oligochaeta, Libellulidae, Veliidae, Elmidae, Ceratopogonidae, Chironomidae, Stratiomyidae 32 V Águas muito poluídas (sistemas muito alterados) Crítica N09 Ostracoda, Hirudinea, Caenidae, Coenagrionidae, Hydrophilidae, Leptoceridae, Xiphocentronidae, Ceratopogonidae, Chironomidae 44 IV Águas poluídas (sistemas alterados) Duvidosa N10 Ostracoda, Oligochaeta, Hirudinea, Caenidae, Libellulidae, Ceratopogonidae, Chironomidae, Simuliidae, Stratiomyidae 32 V Águas muito poluídas (sistemas muito alterados) Crítica Fonte: Do autor (2020).

Os valores adquiridos a partir do índice ASPT para cada nascente e seu respectivo diagnóstico encontram-se descritos na tabela 10. Os valores encontrados para a sub-bacia variaram de 2,83 (N03) a 4,88 (N09), indicando provável poluição moderada a severa para os locais amostrados.

Tabela 10 - Valores encontrados para o Indice Average Score per Taxon (ASPT): pontuação do BMWP’ dividida pelo número de táxons de pontuação na amostra.

Nascentes ASPT Diagnóstico

N01 3,45 Provável poluição severa

N02 4,50 Provável poluição moderada

N03 2,83 Provável poluição severa

N04 4,50 Provável poluição moderada

N05 3,25 Provável poluição severa

N06 3,83 Provável poluição severa

N07 4,22 Provável poluição moderada

N08 4,00 Provável poluição moderada

N09 4,88 Provável poluição moderada

N10 3,55 Provável poluição severa

Fonte: Do autor (2020).

4 DISCUSSÃO

A partir dos resultados apresentados é possível observar que por toda a extensão da sub-bacia hidrográfica do Ribeirão da Onça, mais da metade das nascentes analisadas estão em condições ruins de preservação e provavelmente com águas impactadas. Trabalhos prévios desenvolvidos na região relatavam problemas desde o ano 2003. Entretanto, a situação parece continuar e coloca em risco a segurança desse ambiente tão essencial. Dentre alguns problemas relatados nestes trabalhos e que permanecem na região estão a aplicação de defensivos agrícolas, o uso para dessedentação animal (bovina), cultivo de café próximo ao corpo hídrico, desmatamento, canalização e alteração do curso d’água (MOCHIZUKI, 2003; PINELI, 2011; PRAXEDES et al., 2005).

Entre as nascentes observadas pouco foi detectado de lixo, esgoto, óleo ou espuma, mesmo em nascentes mais próximas a residências ou construções. O fato de existir pouco lixo pode ser pela conscientização dos proprietários frente ao problema, em decorrência dos trabalhos de educação ambiental e de coleta de lixo que já foram realizados na região (PRAXEDES et al., 2010).

Porém, um dos fatores de maior impacto na sub-bacia continua sendo a ausência de mata ciliar preservada ao longo das margens do corpo hídrico. Embora exista uma faixa de vegetação ao redor das nascentes, a maioria delas encontra-se com algum grau de perturbação e não se enquadra na Lei nº 12.651 de 2012 que determina no Artigo 4°(§ 1, alínea “a”) um raio de 30 m de vegetação nativa ao redor do corpo d’água que tenha menos de 10 metros de

largura (BRASIL, 2012). Também não se enquadram no § 4 que determina um raio de 50 metros para as áreas no entorno das nascentes e olhos d’água perenes (BRASIL, 2012). Outro fato observado é que alguns proprietários conservam somente uma das margens do corpo hídrico com vegetação mais densa, enquanto a outra margem permanece mais exposta, e isso vem a ser um problema, pois possibilita o acesso de animais (bovinos).

A falta de comprometimento dos proprietários rurais com a preservação da mata ciliar não é um problema exclusivo do Ribeirão da Onça, trabalhos também relatam esse problema em outros ambientes aquáticos nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná (FRANÇA- JUNIOR & VILLA, 2013; GOMES et al., 2018; PIERONI et al., 2019). A vegetação desempenha diversas funções no meio ambiente, protegendo tanto hidrografia quanto ecologia e interação das espécies. Ela aumenta a infiltração e armazenamento de água no solo, estabiliza características físicas e químicas da água, regulariza fluxo e fornece matéria orgânica, um importante recurso para organismos aquáticos como os macroinvertebrados. Também tem importância na redução de lixiviação do solo, controle de erosão e na retenção de produtos químicos nocivos provenientes de cultivos agrícolas (TABACCHI et al., 2000; PERALTA et al., 2020; GOMES, 2015).

No presente estudo foram observados processos erosivos mais evidentes na N01 e N04 em decorrência da ausência de vegetação bem preservada ao redor da nascente. Embora a N03 tenha a mata mais preservada e mais densa quando comparado às outras, também apresentou um pouco de erosão, possivelmente devido a mata ser mais extensa e mais densa em apenas uma das margens do corpo hídrico, enquanto na margem oposta a faixa de vegetação é mais reduzida e faz transição com área de pastagem. Acima da área de pastagem também é possível observar cultivos de café. A proximidade com cultivos agrícolas e pastagem, e a ausência de vegetação adequada pode provocar o transporte de sedimentos durante picos de chuva e levar ao aumento de lixiviação de compostos químicos para o corpo d’agua provocando contaminação, alterar toda a comunidade biótica e causar doenças em animais e humanos, uma vez que não é possível eliminar esses compostos através de fervura, cloração ou filtragem da água (CALHEIROS et al., 2009).

Em casos de contaminação por compostos químicos e outros impactos as comunidades biológicas são ótimas bioindicadoras. Segundo Magurran (1991) é comum existir uma diminuição de organismos sensíveis com o aumento de impactos na água. E Callisto, Moretti e Goulart (2001) acrescentam, que além da composição taxonômica, a abundância dos organismos associado aos índices BMWP’ e ASPT evidenciam as suspeitas de que o ambiente possa estar perturbado.

Dentre os grupos coletados na sub-bacia do Ribeirão da Onça, os mais freqüentes e abundantes foram, respectivamente, os Chironomidae, Ostracoda, Ceratopogonidae, Hirudinea e Oligochaeta, grupos bastante conhecidos por apresentarem uma alta resiliência a variações ambientais e a impactos antropogênicos (RUIZ et al., 2013; SERRA et al., 2017; SILVA, EVERTON & MELO, 2016). Por outro lado, grupos como Ephemeroptera e Trichoptera conhecidos por serem mais sensíveis a alterações ambientais, e por isso, indicadores de boa qualidade de água, foram encontrados em menor abundância e riqueza na sub-bacia.

Em relação aos índices, para o Ribeirão da Onça foi observado o BMWP’ máximo de 54 (para a N04) e o ASPT de 4,88 (para a N09), e amostrados o total de 21 táxons. Valores bastante inferiores ao ideal, tal como BMWP’ maior que 150 e ASPT maior que 6. Inferior também quando comparado a outros estudos como o de Saulino, Corbi e Caraccioli (2011), que ao avaliar uma nascente com mata preservada no estado de São Paulo, encontraram um total de 35 famílias e um BMWP’ de 104, mesmo com a família Chironomidae predominando no quesito abundância. O período chuvoso para estes autores foi o de maior diversidade, apresentando mais famílias para os EPT (Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera). Do mesmo modo, Callisto, Moretti & Goulart (2001) também encontraram em Parques Municipais de Belo Horizonte/MG, maior abundância de organismos na estação chuvosa e explicaram que isso ocorre devido ao aumento na vazão e carreamento de material alóctone para o leito, que proporciona um maior número de habitats disponíveis, o que favorece o aumento de organismos que colonizam o sedimento.

As coletas para o presente estudo também foram realizadas na estação chuvosa, portanto, era esperado uma maior diversidade principalmente para N03 que é a nascente com mais vegetação disponível e que seria capaz de oferecer recurso e habitat para diversos organismos. Entretanto, os resultados indicam o oposto, uma vez que N03 foi um dos pontos com menor riqueza (6 táxons) e pontuação nos índices (BMWP’ = 17; ASPT = 2,83), assim como N05 (4 táxons; BMWP’= 13, ASPT = 3,25), que é uma das nascentes com maior grau de degradação devido à ausência de vegetação, a proximidade com estrada e a ausência de cercas de proteção. Para o resultado encontrado na N03, seriam necessários estudos mais específicos e em longo prazo a fim de desvendar quais os fatores naturais ou antrópicos são responsáveis por essa diversidade reduzida.

Para a N04 e N09, possivelmente o que favoreceu os índices mais elevados foi a baixa velocidade da água no local, que é vantajosa para a deposição de sedimento e de folhas, gerando heterogeneidade de habitat e aumentando a riqueza de organismos (SOUZA,

FERREIRA & MORAES, 2020). Estudos com macroinvertebrados em diferentes substratos encontraram uma maior riqueza e abundância de organismos no substrato folhiço e em ambientes de poça (SOUZA, FERREIRA & MORAES, 2020). Para Kikuchi e Uieda (2005) o substrato vegetal é vantajoso para a fauna, porque quando comparado ao substrato arenoso, o folhiço apresenta maior estabilidade. Dessa maneira, ele serve como suporte e abrigo, além de ser um recurso alimentar importante e funcionar como sistema coletor de partículas orgânicas finas, sendo um habitat ideal para detritívoros e também para fragmentadores.

Para a N02, que apresentou ASPT igual a N04 (ASPT = 4,50) e BMWP’ de 45, a heterogeneidade pôde ser verificada através de alterações no fluxo da água formada por uma área de corredeira, seguida por uma área de poça. A diferença de velocidade da água é uma das características ambientais associadas à diversidade de invertebrados aquáticos porque determina o tamanho das partículas de substrato e altera a distribuição do alimento. Dessa forma, o fluxo de água influencia diretamente na disponibilidade de recursos e na formação de microhabitats, abrigando fauna completamente distinta (ALLAN, 1995).

Conforme dito anteriormente, N05 apresentou a menor riqueza e o menor valor de BMWP’, resultado atribuído à alta degradação do habitat. A diversidade de recurso alimentar para esta nascente era extremamente baixa, com apenas uma árvore como principal fonte de alimento e sombra. O restante da vegetação era formada por gramíneas e poucas herbáceas. A área também possui acesso facilitado, assim como N10, sendo os únicos pontos amostrados em que as nascentes estão às margens de estrada e sem cerca de proteção.

Embora as maiorias das nascentes amostradas do Ribeirão da Onça estejam cercadas, são poucas as que essa proteção está sendo de fato efetiva. Com exceção das nascentes N08 e N04 que são de difícil acesso, nos outros pontos a cerca existe, porém ela está tão próxima do corpo hídrico que ainda assim os animais têm acesso muito facilmente. O acesso a essas áreas vem a ser um problema devido ao pisoteamento dos animais que pode ocasionar a compactação do solo. O solo quando compactado perde a capacidade de infiltração e fica mais sujeito à erosão, podendo provocar o soterramento e a seca das nascentes (CALHEIROS et

al., 2009). Para o Ribeirão da Onça, foi possível observar que a nascente com maior riqueza

de espécies era também a que possuía um difícil acesso, a N04, confirmando quanto o livre acesso pode impactar a área.

A partir do presente estudo, reafirmamos a importância de associar diferentes metodologias ao realizar um diagnóstico ambiental. Embora a avaliação macroscópica seja útil, didática e obtenha resultados eficientes, não podemos esquecer que as comunidades bióticas também são excelentes indicadoras das condições físicas e químicas da água. Com

base nos resultados e nos índices apresentados, alertamos para a necessidade de que a população local, os proprietários rurais e os gestores aumentem os esforços no sentido de melhorar as condições de preservação da região, de forma a garantir este recurso indispensável para a vida que é a água.

Agradecimentos. Agradeço à CAPES pela concessão da bolsa. Ao José Miguel pela

confecção do mapa e localização das nascentes. E à equipe do SAAE de Elói Mendes, Minas Gerais pelo apoio prestado durante as coletas.

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