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2. A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL E A GERAÇÃO DE RESÍDUOS

2.1 O GESSO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

2.1.5 Reciclagem de resíduos de gesso

2.1.5.3 Aplicação na fabricação de gesso

Os resíduos de gesso também podem ser reincorporados na própria indústria de transformação de gesso, no entanto, segundo ABRAGESSO (2014) essa opção ainda é pouco utilizada na prática, mas é igualmente viável dos pontos de vista técnico e econômico, em especial, quando a geração de resíduos ocorre em local próximo a essas unidades fabris.

Sabe-se que é possível reciclar gesso acartonado, produzindo aglomerantes (NASCIMENTO e PIMENTEL, 2013; ERBS et al., 2015), desde que sejam removidos contaminantes incorporados no processo de geração de resíduos e que seja conduzida sua recalcinação.

Segundo Vrancken e Laethem (2000), os RGs podem ser reciclados para novos produtos de gesso por meio de um ciclo de calcinação e reidratação e a criação de um sistema de reciclagem eficaz requer uma separação e infra estrutura eficientes de transporte.

Uma das primeiras empresas que utilizou gesso acartonado reciclado em sua produção é a British Plaster Board do Canadá, que afirma utilizar até 22% de gesso reciclado sem qualquer prejuízo no desempenho (JOHN; CINCOTTO, 2007).

A recuperação da capacidade aglomerante do gesso ocorre através do processo de calcinação. Por meio da calcinação, o resíduo de gesso que se apresenta como sulfato de cálcio dihidratado (CaSO4.2H2O) é convertido em gesso

reciclado (CaSO4.1,5H2O + 0,5H2O) (ERBS et al, 2015).

No Brasil, Nascimento e Pimentel (2013) estudaram o reaproveitamento de resíduos de gesso de obras civis, por meio de moagem e requeima a temperaturas a 160ºC, 180ºC e 200ºC, em períodos de 6 h. Os autores concluíram que nas condições de execução do ensaio, os resultados apontam para a viabilidade técnica

do reaproveitamento do resíduo de gesso por meio de calcinação nas temperaturas ensaiadas pelo período de 6 horas.

Erbs et al. (2015) investigaram as propriedades físicas e mecânicas da argamassa de gesso reciclado, produzida a partir de RG acartonado, calcinado a diferentes temperaturas (160, 180 e 200oC) e períodos de queima (1, 2, 4 8 e 24 h). Analisando os dados dos autores, nota-se que as temperaturas de queima que conduziram aos melhores resultados foram 160 e 180o C, com tempo de queima igual a 4 horas como ideal.

Ribeiro (2006) estudou a possibilidade de obtenção de gesso a partir de RG oriundos de revestimento de alvenarias, placas de forro, peças de decoração e moldes para cerâmica. Após beneficiados e recalcinados, os resíduos foram caracterizados em laboratório, em relação as suas propriedades químicas, físicas e mecânicas. Os resultados de Difractometria de Raios X (DRX) mostraram muita semelhança entre os resíduos de gesso e a gipsita. O mesmo ocorreu com as resistências mecânicas. Por fim os autores concluíram pela possibilidade de se obter gesso a partir dos resíduos gerados na indústria da construção civil, a temperatura ideal de calcinação de 140 °C.

Melo (2012) calcinou amostras de gipsita adicionando RG em um forno piloto rotativo contínuo, em diferentes condições de pressão. Os resultados médios do gesso obtidos para proporção: 88% gipsita e 12% resíduo, assim como 100% de resíduo, em alguns parâmetros se encontraram dentro da norma, permitindo a sua reciclagem/reutilização.

Pinheiro e Camarini (2015) avaliaram as propriedades químicas e físicas do RG ao longo de três ciclos de reciclagem sucessivas. O RG foi triturado em um moinho de bolas e queimado em um forno estacionário a 150 ºC durante uma hora. Foram então avaliadas suas propriedades físicas e químicas e realizada a Análise Térmica e DRX. Os resultados demonstram que o RG pode ser reciclado e re- reciclado diversas vezes para o mesmo fim que não a pasta inicial, uma vez que apresentaram características semelhantes ao gesso comercial estuque. As amostras apresentaram um nível elevado de sulfato de cálcio hemihidrato (CaSO4 0,5H2O),

característica esta que garante a propriedades de ligação do material reciclado, mantendo-se a principal característica a ser considerada semelhante à gesso comercial (PINHEIRO; CAMARINI, 2015).

Pinheiro e Camarini (2014) produziram gesso reciclado por meio da moagem e calcinação de RG. Na sequência os autores avaliaram as características micro estruturais do material produzido comparando-as com as características do gesso comercial. Os resultados mostraram que o RG reciclado resultou num ligante com características micro estruturais semelhantes do gesso comercial, indicando que não houve alteração na composição química dos materiais. Este fato indica a possibilidade de reutilizar o RG para os mesmos fins que o ligante original, reduzindo assim o consumo de minério de gesso (gipsita).

Suárez, Roca e Gasso (2016) realizaram análise do ciclo de vida e análise dos impactos ambientais do processo de produção de cimento Portland, com adição de gesso natural (GN) comparada a da utilização do gesso reciclado (GR). O estudo demonstrou que o processo de reciclagem de gesso consome menos do que 65% da energia necessária para a obtenção de gesso natural (GN), e emite menos de 65% dos gases de efeito estufa produzidos no processo de obtenção GN. Os resultados confirmaram que o RG tinha benefícios ambientais em todas as categorias ambientais avaliadas quando a RG foi transportado para uma unidade de reciclagem a uma distância igual ou inferior a 30 km. Nas categorias efeitos cancerígenos, destruição do ozônio e ocupação do solo, mesmo quando o RG foi transportado para uma usina de reciclagem a uma distância de 50 km, ainda verificou-se redução de impactos em 35%.

Em estudo que avaliou a utilização do gesso reciclado em obras de construção civil Bardella, Santos e Camarini (2004) aplicaram gesso comercial e gesso reciclado em blocos cerâmicos, e concluíram que as propriedades físicas e mecânicas do gesso reciclado são similares às propriedades do gesso comercial. No referido estudo, o desempenho do gesso reciclado superou o do gesso comercial, porém com acabamento mais rústico em virtude das diferenças de coloração do gesso reciclado.

Lima e Camarini (2010) da mesma forma, calcinaram amostras de RG a 150°C e 200°C, com tempo de permanência na estufa de 1 hora. Os resultados demonstraram, em todos os ensaios realizados no estado endurecido, que o gesso reciclado supera o gesso comercial. A análise microscópica mostrou que os materiais comerciais e reciclados apresentam estruturas cristalinas bem semelhantes, de acordo com cada relação a/agl (água/aglomerante).

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