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Estando a formação científica do médico em nosso país constantemente sendo alvo de debates e discussões no intuito de responder as demandas menos centradas em doenças e mais no cuidado e nas necessidades globais de saúde da população, com proposta de estratégias políticas e pedagógicas a fim de conduzir à integralidade do cuidado26,27, que a Escola Multicampi de Ciências Médicas do Rio Grande do Norte adotou em seu currículo a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem (MAEA).

Em paralelo a essa realidade acadêmica local desenvolvida como estratégia de fomentar um melhor e mais efetivo processo de ensino-aprendizado quando se pensa na formação médica, outros estudos indicavam a carência de conhecimentos específicos, como na área de Oftalmologia, por parte de médicos não especialistas, que têm se manifestado tanto em situações de urgência, como em situações eletivas21,22,28. Esse dado, tem preocupante configuração, principalmente quando se pensa em assistência em saúde nos seus mais diversos estratos, seja para promoção, reabilitação ou prevenção de agravos.

Considerando essa preocupante ótica da formação profissional do médico, é que a inserção de conteúdos, com a proposta de uma nova matriz curricular da área de oftalmologia dentro do curso de graduação em caráter contínuo de ensino se configura como uma estratégia útil e favorável para minimizar esses dados acima citados.

Tais questões, corroboram com outros estudos que determinam que conhecimentos equívocos e errôneos, tal como ausência de conhecimento específico em saúde oftalmológica se constituem como importante obstáculo dentro do contexto de atenção à saúde, como a prevenção de agravos, de preservação do sistema visual e reabilitação da visão, realizadas pelos profissionais junto à comunidade. É então, responsabilidade do profissional médico, bem como das instituições médicas e multiprofissionais, fornecer aparato suficiente para o preparo científico que seja compatível com a prática, a fim de orientar e esclarecer às demandas específicas de saúde da população28,29.

Dessa maneira, a inserção dos componente curriculares propostos, seguindo a orientação do Conselho Internacional de Oftalmologia, assim como a análise da acuidade visual de forma rotineira, a compreensão sobre as principais

35 causas de cegueira em crianças e idosos, o manejo das principais urgências oftalmológicas, dentro de um cenário teórico e prático, nos eixos tutoriais e de habilidade/comunidade, poderá se configurar como uma estratégia de promoção de saúde pública, uma vez que pode proporcionar um melhor aparato científico para o preparo da formação médica dos acadêmicos da EMCM-UFRN.

Outro ponto que se torna importante versar sobre é que a sistematização desses conteúdos, seguindo o modelo de aprendizagem baseada em problemas, poderá ser mais uma estratégia para facilitação do aprendizado, com maior participação dos estudantes, treinamento de habilidades clínicas, maior carga horária para atividades práticas, sempre visando uma maior segurança e competência por parte desses futuros profissionais13.

Acerca de todas essas considerações dantes feitas, é possível levantar em questão que o fornecimento do componente curricular em oftalmologia dentro das escolas médicas, principalmente com os temas oftalmológicos aqui sugeridos, com a distribuição proposta, utilizando a metodologia de ABP, poderá vir a ser uma excelente estratégia que fomente o ensino, aprendizado e aplicação prática do profissional e que, por consequência, configure-se como método eficaz de promoção de saúde para a comunidade.

A avaliação desses conhecimentos deverão ser realizados periodicamente, durante a prova cognitiva e a prova de habilidades, presentes em todos os módulos da EMCM. Para isso utilizaremos questões objetivas e subjetivas, além de provas práticas, incluindo o modelo OSCE (Objective Structured Clinical Examination), ou exame clínico estruturado por estações.

Ainda, uma possível maneira de se avaliar a eficácia dessa nova matriz, será através da aplicação, ao final do sexto ano do curso de medicina, de um questionário sobre o nível de conhecimentos oftalmológicos gerais com os alunos da primeira turma do curso, que não vivenciarão essa proposta na íntegra, servindo como o nosso grupo-controle, e comparar com os resultados dos alunos das turmas mais recentes, que serão ensinados segundo a nova matriz. Além do contínuo feedback dos alunos, sobre a didática, pertinência dos temas, tempo para cada atividade, etc., ao longo da sua implementação.

Espera-se assim, que os serviços implantados aumentem a possibilidade assistencial da comunidade portadora de doenças oftalmológicas, tal como prepare

36 o acadêmico de medicina para uma inserção mais efetiva no mercado de trabalho, sendo uma via importante para assegurar a saúde ocular da população do Seridó.

Portanto, em virtude do que foi exposto aqui, espera-se que o presente trabalho corrobore com este novo cenário de ensino e aprendizado dentro do amplo espectro da medicina, promovendo uma abordagem efetivamente teórico-prática, considerando os aspectos dentro de uma realidade social e local, fomentando um cuidado mais eficaz no que diz respeito à assistência em saúde da população por meio de acadêmicos de escolas médicas e consequentemente profissionais médicos.

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REFERÊNCIAS

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28 Gondim, el. et al. Conhecimento em saúde ocular na infância de profissionais de Hospital Universitário. Arq Bras Oftalmol. 59 (4): 351. 1996

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