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I. Motivação e Objetivos

1. Membranas de Afinidade

1.3 Membranas de afinidade

1.3.4 Aplicações das membranas de afinidade

As aplicações das membranas de afinidade acompanham de perto os precedentes estabelecidos pela cromatografia por afinidade em colunas. Apesar de tudo, não convém esquecer que a finalidade das membranas de afinidade é aumentar as taxas de fluxo a baixas pressões e reduzir o tempo de processamento. Assim inicialmente, estas membranas não foram desenvolvidas para fornecer processos de separação completamente novos, em vez disso, a sua intenção era acelerar o processo de separação de muitos procedimentos já conhecidos.

Como já foi referido, esta técnica possui uma ampla gama de aplicações, cujo campo de intervenção inclui áreas como a biotecnologia, indústria biofarmacêutica, bioengenharia, aplicações clínicas, investigação científica, imunoterapia, entre outras. Na Tabela 4, podem-se observar vários exemplos de aplicações, bem como o tipo de ligando e material utilizados para a preparação destas membranas. A integridade desta tabela é apresentada no Anexo A-I.

Dos exemplos acima apresentados e relativamente aos ligandos utilizados, sobressaem os corantes, especialmente o F3GA, sendo utilizado em 99% dos casos. No que diz respeito às matrizes é de interesse destacar as que utilizam membranas de celulose, celulose modificada ou membranas compósitas de celulose e outro material.

Vários estudos já foram realizados utilizando acetato de celulose, celulose regenerada, entre outras; um dos principais e mais recentes interesses da CB é a sua utilização como membrana de afinidade. [16,17] Ma e colaboradores [16] funcionalizaram a superfície duma membrana de celulose regenerada com o ligando de afinidade F3GA. As modificações químicas da superfície foram analisadas por espectro ATR- FTIR. Os resultados deste estudo revelaram que as membranas de celulose regenerada continham 130 µmol de corante por grama de celulose e uma capacidade de captura de BSA e bilirubina (resíduo metabólico existente no sangue humano) de 13 mg/g e 4mg/g, respetivamente.

O isolamento de uma proteína ou grupo de proteínas a partir de fluidos corporais para fins terapêuticos, requer um nível elevado de purificação. Existem muitos artigos sobre a purificação de frações de globulinas e vários fatores de coagulação utilizando membranas de afinidade.

Uma outra aplicação interessante destas membranas, para fins terapêuticos, foi relatada por Hou and Zaniewski [28], que purificaram uroquinase a partir de urina humana através de um processo de múltiplos passos. A uroquinase é produzida pelo rim e excretada na urina e quando recuperada e purificada na sua forma ativa, é um agente trombolítico eficaz que catalisa a conversão do plasminogénio em plasmina. A plasmina consegue lisar os coágulos de fibrina, muitas vezes associados com os bloqueios vasculares.

Conforme o número de passos de processamento requeridos aumenta, torna-se progressivamente mais benéfico usar procedimentos de alto rendimento, tais como os oferecidos pelas membranas de afinidade. As taxas de fluxo elevadas obtidas implicam menores tempos de residência na matriz e isto, frequentemente traduz-se, numa maior retenção da atividade biológica do produto, muito importante quando se separam moléculas com propriedades terapêuticas.

Um exemplo mais tradicional de uma aplicação destas membranas é o caso relatado no trabalho de Lutkemeyer e colaboradores [29]. Neste artigo, os autores ligaram covalentemente heparina Startobind modificada (ligando), através da abertura do anel epoxy com diamina. Esta reação é extremamente lenta, demorando oito dias, mas aparentemente conduz a ligações de heparina muito estáveis.

Em vez de imobilizar heparina para capturar determinadas proteínas, Ma e colaboradores [30] modificaram uma série de diferentes tipos de fibras ocas com poli (L-lisina) com o intuito de capturar heparina do sangue. A heparina é um polissacarídeo altamente sulfatado com aproximadamente 20 kDa de massa molecular. Neste artigo, os autores estudaram três diferentes tipos de fibras; a primeira consistia numa fibra de polietileno microporosa revestida com poli (etileno – co – vinil álcool), a segunda era constituída por acetato de celulose e por último, a terceira era uma fibra diálise de celulose pura. Em todos os casos, a poli (L-lisina) foi ligada à matriz após a ativação dos grupos hidroxilo das fibras com BrCN. Os resultados mostraram que a heparina consegue difundir-se em ambas as fibras de polietileno modificadas e nas fibras de acetato celulose. No entanto, é demasiado grande para penetrar na estrutura celulósica das fibras de diálise, por isso neste caso a heparina está limitada à adsorção na superfície. Aproximadamente 15 mg de heparina por metro quadrado de área superficial foi ligada para o caso das fibras que podem ser penetradas, enquanto apenas 5 mg por metro quadrado se ligou na estrutura celulósica.

Champluvier and Kula (1992) [31] relataram a purificação de glucose – 6 – fosfato desidrogenase a partir de um homegenato de levedura - Saccharomyces cerevisiae - através da adsorção numa membrana modificada por F3GA, como passo final de purificação. O tempo de residência mínimo para a ligação da enzima foi estimado em 0,25 segundos e o tempo de processamento foi de 10 minutos, a uma taxa de

fluxo elevada. No mesmo ano, Briefs and Kula, relataram a adsorção dinâmica da proteína BSA em membranas de nylon modificadas com F3GA. [24]

Castilho e os seus colaboradores, em 2000 [2], descreveram a utilização de membranas de nylon revestidas com dextranos e PVA, para produzir matrizes de afinidade com características de funcionalidade química adequada e reduzida ligação não específica de proteínas; esta última característica salientou-se nas membranas modificadas com PVA. Posteriormente procederam à imobilização da proteína A nas matrizes, com a intenção de capturar IgG (imunoglobulina humana G). [8] Xia e colaboradores em 2003, modificaram membranas de nylon através da incorporação de quitosano, de modo a melhorar a hidrofilicidade das matrizes para assim reduzir as interações não específicas na superfície destas. Após este passo, os autores funcionalizaram a superfície das matrizes através da ligação covalente do F3GA, com o intuito final de capturar bilirubina. [11]

Como referido anteriormente inúmeras vezes, a CB é um material muito promissor na área das membranas de afinidade, pois possui propriedades únicas, das quais se destacam uma elevada área superficial, o que facilita e amplifica o acoplamento de ligandos de afinidade na sua superfície. O seu imenso potencial neste campo estende-se a infindáveis aplicações em diferentes áreas.