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3.9 PRÁTICAS DE REUTILIZAÇÃO DE ADF

3.9.3 Aplicações para fins agrícolas

3.9.3.1 Areia de fundição como um aditivo in situ de solos naturais

Solos naturais (isto é, derivados de rochas originais que sofrem intemperismo) são caracterizados a partir de suas texturas (proporção entre os diferentes tamanhos de suas partículas) e suas respectivas estruturas (como estas partículas se organizam entre elas). Estas duas características determinam as propriedades físicas do solo como potencial de infiltração de água e drenagem, compactação e aeração. De maneira geral, as propriedades físicas ideais ocorrem quando os solos possuem altos níveis de partículas de dimensões semelhantes à areia. Assim, dada a importância de altos níveis de areia para um bom funcionamento de um solo, é logico sugerir que ao adicionar areia em solos argilosos (partículas de pequeno tamanho) haveria uma melhora nas propriedades do mesmo. Entretanto, para conseguir um melhoramento nas propriedades físicas as quantidades de areia adicionadas devem atingir um limiar sob o qual estas propriedades tanto não são melhoradas quanto podem ser degradadas. Ou seja, é somente quando a quantidade de areia adicionada ultrapassa esse limiar que há um melhoramento destas propriedades (LINDSAY e LOGAN, 2005).

BAKER (1990), explica que isto acontece porque a estrutura do solo é perdida durante o processo de mistura, já que o limiar só é atingido quando as partículas de areia se aglutinam com os grãos adjacentes. Um solo com 40% argila exigiria pelo menos oito partes por volume de areia para cada parte de solo. E é improvável que essa grande

quantidade de material poderia ser misturada de maneira precisa, mesmo que os solos estivessem num estado friável o suficiente para que fosse misturado.

LINDSAY e LOGAN (2005), acrescentam ainda que mesmo se a quantidade de areia necessária para atingir o limiar fosse adicionada em pequenas quantidades ao longo do tempo, isto somente resultaria na destruição da estrutura original do solo. Areias de fundição possuem poucas quantidades de matéria orgânica, sendo assim, as camadas de argila e areia não seriam capazes de sustentar o crescimento das plantas sem a adição de grandes quantidades de fertilizantes, perdendo assim o sentido benéfico do reaproveitamento do resíduo. Ainda, sabe-se que quando os solos acabam sendo dispostos em camadas, existe uma dramática diferença de textura entre uma camada e outra fazendo com que a água se deposite entre uma camada e outra ao invés de percolar através das mesmas.

Além disso, como o reaproveitamento das ADF como um melhorador de solos não é reconhecido a prática poderia ser considerada como uma atividade de deposição e o solo agrícola seria considerado um lugar de eliminação. Isto implica como bem estabelecido na política americana de responsabilidade de danos, que a responsabilidade por quaisquer danos causados neste local seja dos geradores do resíduo, ou seja, das fundições (LINDSAY e LOGAN, 2005). No Brasil, o mesmo é garantido pelo princípio do poluidor-pagador da Lei Federal 6.938/81 da Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981).

Por tudo isto, os estudos sobre as possibilidades de aplicações de ADF em finalidades agrícolas, passaram a se focar na adição das mesmas em solos fabricados, usados como fertilizantes orgânicos.

3.9.3.2 Areia de fundição como aditivo de solos fabricados

Solos fabricados, destinados para plantio, são elaborados a partir de misturas de solos naturais superficiais e aditivos. Solos superficiais são comumente solos subterrâneos ou solos escavados transportados de uma mina ou um terreno de construção para outro local. Este solo é normalmente misturado com areia virgem (retiradas de jazigos de escavação ou cavas de rios) e outros materiais contendo matéria orgânica, adicionados com o objetivo de otimizar propriedades físicas (LINDSAY e LOGAN, 2005).

Diversos estudos foram realizados para avaliar a possibilidade de substituição da areia virgem por ADF como aditivo de solos fabricados (ABICHOU et al., 2002; DAYTON et al., 2009; DUNGAN, et al., 2007; DUNGAN e DEES, 2007; DUNGAN, et al., 2009; DUNGAN, et al., 2006; HINDMAN, et al., 2008; JING e BARNES, 1993; KOFF, et al., 2008, 2010; NAYSTROM et al., 2004; STEHOUWER, 2006; STEHOUWER, et al., 2009).

Para ABICHOU et al. (2002) e JING e BARNES (1993), a presença das areias verdes no solo, devido à presença da argila bentonita, aumenta a capacidade de reter nutrientes servindo como um fertilizante indireto, bem como melhorando a drenagem. Além disso, o

pH das areias, por ser tipicamente alcalino, poderia ser utilizado como instrumento de correção do pH em solos acidificados.

Para DUNGAN et al. (2007) e MCCOY (1998) as ADF são também capazes de melhorar a condutividade hidráulica (medida da habilidade de um solo em transmitir a água) quando misturadas a um solo. A única exceção foi verificada quando o resíduo continha uma quantidade excessiva de bentonita sódica. Neste caso, a menor condutividade hidráulica foi atribuída à capacidade de inchamento da bentonita sódica.

Para avaliar a biodisponibilidade dos contaminantes das ADF, DUNGAN e DEES (2007) cultivaram Rabanete (Raphanus sativus L.), Espinafre (Spinacia oleracea L.) e Azevém, em misturas 1:1 de areias de fundição de ferro, aço e alumínio e areia virgem. As plantas testadas não acumularam concentrações dos elementos traços analisados com exceção de Ni, Mo e Pb em algumas ADF e somente em algumas espécies de plantas.

Com relação aos microrganismos de solo DUNGAN et al. (2009), caracterizou a estrutura e a composição das comunidades bacterianas em misturas de solo com a adição de 30% de ADF proveniente de fundições de ferro, alumínio e aço. Os autores concluíram que embora a adição de ADF no solo, causa mudanças nos níveis bacterianos, essas mudanças são similares às mudanças causadas pela adição de areia virgem.

Para NAYSTROM et al. (2004), as areias de fundição podem ser um bom recurso para a produção de solos a partir do processo de

oxigenação das pilhas de compostagem. JING e BARNES (1993), cultivaram árvores em diversas misturas de solo com areia de fundição e observaram um crescimento similar ao controle, nenhuma fitotoxicidade foi reportada. HINDMAN et al. (2008), conduziram um estudo em colunas para investigar o crescimento de plantas, lixiviação e absorção de nutrientes, elementos traços e orgânicos de misturas de diferentes tipos de ADF e materiais compostados. Os autores encontraram diferenças significativas na absorção de nutrientes pelas plantas e na lixiviação de elementos traços, mas estas foram atribuídas ao componente compostado nas misturas em estudo.

STEHOUWER et al. (2009), conduziram um estudo de campo ao longo de 3 anos, onde foi comparados misturas de solo com ADF e solos naturais. Os autores concluiram que as ADF podem ser utilizadas em misturas de solo, apresentando um baixo risco de contaminação por elementos traços e contaminantes orgânicos. Entretanto, é necessario se ater á lixiviação de N e P resultante do uso de materiais compostados imaturos, de baixa relação C/N.

3.9.3.3 Práticas de remediação

As propriedades únicas das areias verdes conferem a elas a capacidade de sorção de uma variedade de contaminantes incluindo elementos traços e pesticidas, devido à presença de óxidos de Al e de Fe (LEE e BENSON, 2002). A sorção de elementos traços pela superfície dos óxidos é uma reação dependente de pH básico, porque os metais, preferencialmente, se ligam a grupos funcionais ionizados formados com o aumento do pH (BASTA et al., 2005). Sorção por óxidos

metálicos é o principal mecanismo de remoção de elementos traços catiônicos (isto é, Pb, Zn, Cd, Cr, Cu, Hg, Ni) e elementos traços oxiânions de soluções aquosas (como soluções no solo) (SPARKS, 2001).

Ainda, a presença de carbono orgânico indica que as ADF também podem ser úteis como barreiras reativas para a limpeza e remoção de herbicidas, como o Tricloroetileno - TCE (LEE e BENSON; et al., 2004) e também para a remoção de Zn da água (LEE, PARK et al., 2004).

Em comparação com barreiras reativas fabricadas com Fe granular zero valente, areia de sílica, areia de silte e areias verdes, LEE e BENSON (2006) analisaram lixiviados e elementos totais e encontraram que nenhum destes materiais é adequado para a aplicação abaixo da tabela de água subterrânea segundo os critérios estabelecidos pelo código do estado do Wisconsin NR 538 (WIEPA, 2010), incluindo Fe zero valente que é comumente utilizado em aplicações de remediação e as duas primeiras areias que naturalmente são colocadas ou encontradas nestes locais. O que leva a concluir que a legislação americana é bastante conservadora ou mesmo, impraticável.

Este tipo de aplicação ainda é bastante incipiente, pois necessita de mais estudos, entretanto, pode ser uma das ferramentas para o reaproveitamento do resíduo (BASTA et al., 2005).

Em outros casos, como por exemplo, a disposição inadequada de ADF, existe um risco ecológico com relação à absorção de metais pelas plantas, podendo promover uma rota de exposição para a entrada

MORENO et al. (2012) sugerem a aplicação de turfa como melhorador das propriedades do solo de aterros com areia descartada de fundição, em substituição da extração da areia como prática de remediação. Em seguida, os autores cultivaram mostarda-marrom (Brassica juncea). Os resultados mostraram também que o cultivo desta espécie em ADF previamente tradas como turfa não oferecem riscos devido ao consumo de folhagem contaminada de metais por herbívoros. E, apesar de os estudos ainda estarem em fase inicial, os autores já conseguem vislumbrar o cultivo de outras plantas que são matérias prima do óleo para a produção de biodiesel, como atividade lucrativa, além de contribuir com o sequestro de CO2.

Ainda, cabe ressaltar que a fitoremediação, quando baseada em aditivos não invasivos e de baixo custo, é considerada uma prática bastante indicada. Entretanto, 50% das práticas de remediação utilizadas para a limpeza do solo, no Brasil, consistem na escavação de aterro (abordagem cara e de eficiência questionável) e a fitoremediação representa menos de 0,5% do total das práticas (CETESB 2010).

3.10 VIABILIDADE FINANCEIRA DAS DIFERENTES