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4.1 Teoria de funcionais de densidade

4.1.1 Aplica¸c˜ao a suspens˜oes coloidais

. (4.18) Lembrando que Θ ´e tamb´em um funcional de vi(r), o operador diferencial pode ser apli-cado de forma simples, resultando na seguinte rela¸c˜ao:

δ2Ω[{ρ0

i}]

δvj(r′)δvi(r) =β(hρiˆ(r)ˆρj(r)i−hρiˆ(r)i hρjˆ(r)i) =β(ρi(r)ρj(r)hij(r,r)+δijδ3(r−r)ρi(r)).

(4.19) Na ´ultima igualdade dessa express˜ao, usamos a defini¸c˜ao de distribui¸c˜ao de pares, Eq. 2.20, juntamente com a defini¸c˜ao da fun¸c˜ao de correla¸c˜ao diretahij(r,r) = ρij(r,r)/ρi(r)ρj(r)−

1. A rela¸c˜ao obtida acima, bem como a Eq. 4.17, podem ser interpretadas como extens˜oes funcionais das Eqs. (2.70) e (2.68), respectivamente. Torna-se claro agora que derivadas sucessivas do funcional Ω[{ρ0

i}] em rela¸c˜ao `a vi(r) = φ(r)−µi produz uma classe de fun¸c˜oes de distribui¸c˜ao de ordem correspondente. Assim como podemos associar o fun-cional F[{ρ0

i}] a um gerador de fun¸c˜oes de correla¸c˜ao direta, o funcional Ω[{ρ0

i}] pode ser associado a um gerador de fun¸c˜oes de distribui¸c˜ao. Uma vez que essas fun¸c˜oes s˜ao vinculadas via equa¸c˜ao de OZ, as defini¸c˜oes acima permitem estabelecer uma conex˜ao entre a teoria de funcionais e a teoria das equa¸c˜oes de OZ [2, 25], a qual discutiremos na pr´oxima se¸c˜ao.

4.1.1 Aplica¸c˜ao a suspens˜oes coloidais

Tendo analisado de forma breve as id´eias fundamentais da teoria de funcionais de den-sidade, veremos agora como essas id´eias podem ser aplicadas ao caso de uma suspens˜ao coloidal carregada. De maneira similar aos modelo de cela e Jellium Renormalizado abor-dados no cap´ıtulo anterior, imaginamos que os ´ıons da suspens˜ao se movem livremente sob a a¸c˜ao do campo Φ exercido por uma part´ıcula coloidal (ou ainda pela influˆencia

de um background r´ıgido, no caso do modelo de Jellium). A distribui¸c˜ao inomogˆenea de

´ıons ao redor do col´oide pode ser analisada atrav´es das rela¸c˜oes de Euler-Lagrange cor-respondentes, Eq. 4.11. O primeiro passo para aplica¸c˜ao da teoria consiste portanto em

construir o funcionalF adequado ao problema. Uma vez que a contribui¸c˜ao de g´as ideal

Fid ´e conhecida exatamente, o problema se resume a encontrar o funcional de excesso,

Fex, devido `as intera¸c˜oes intermoleculares.

O funcional de excesso est´a intimamente ligado `a energia m´edia de intera¸c˜ao entre as part´ıculas, hβUi. No caso em quest˜ao em que essas intera¸c˜oes s˜ao descritas por um potencial de pares aditivo, βuij(r) = −λBzizj/r, o termo de intera¸c˜ao U em (4.2) pode

ser escrito na forma:

U = 1

2 Z

drdruij(r,r)(ˆρi(r)ˆρj(r)−δijδ3(r−r)ˆρi(r)), (4.20)

onde o ´ultimo termo do lado direito tem a finalidade de compensar o termo de

auto-intera¸c˜ao uii(0). Tomando o valor m´edio em ambos os lados da igualdade, e usando a

defini¸c˜ao da fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao de pares, Eq. 2.20, obtemos:

hUi= 1 2 X ij Z drdrρi(r)ρj(r)uij(r,r) + 1 2 Z

drdrρi(r)ρj(r)hij(r,r)uij(r,r), (4.21) onde usamos ainda a defini¸c˜ao da fun¸c˜ao de correla¸c˜ao total hij(r,r). O primeiro termo do lado direito pode ser reconhecido como o termo de intera¸c˜ao direta entre as part´ıculas de fluido inomogˆeneo, ao passo que o segundo termo cont´em as contribui¸c˜oes devidas `as correla¸c˜oes posicionais entre essas part´ıculas, descritas atrav´es das fun¸c˜oes hij(r,r). De forma correspondente, podemos separar o funcionalFexem uma contribui¸c˜ao de intera¸c˜ao,

Fin, acrescida de uma contribui¸c˜ao devida `as correla¸c˜oes entre as part´ıculas, Fcor. No caso espec´ıfico de ´ıons monovalentes (zi =±1) se movendo sob influˆencia do campo externoβφ =−ZbareλB/r exercido pelo col´oide de cargaZbare, o termo de intera¸c˜ao pode ser escrito na forma:

βFin[ρ+, ρ] = λB

2 Z

drdr(ρ+(r)−ρ−(r)) (ρ+(r)−ρ−(r))

|r−r′| . (4.22)

Dada uma forma funcional para a energia livre intr´ınseca de correla¸c˜ao, Fcor,

po-der´ıamos substituir o funcional F = Fid+Fcor +Fin na condi¸c˜ao de Euler-Lagrange

Eq. 4.11, e com isso obter as distribui¸c˜oes de equil´ıbrio ρ0

±(r). No entanto, as derivadas funcionais que definem a condi¸c˜ao de equil´ıbrio n˜ao podem ser aplicadas de forma direta nessa situa¸c˜ao. Isso ocorre porque as fun¸c˜oes de distribui¸c˜ao ρ±(r) n˜ao podem variar de forma independente, uma vez que elas essas quantidades est˜ao relacionadas pela condi¸c˜ao de eletroneutralidade. De fato, para um valor dadoZbare da carga coloidal, as fun¸c˜oes de distribui¸c˜ao devem satisfazer a rela¸c˜ao

Z

dr(ρ+(r)−ρ−(r)) = Zbare. (4.23)

A maneira de aplicar a condi¸c˜ao de equil´ıbrio (4.11), sem contudo violar essa rela¸c˜ao,

consiste em introduzir um multiplicador de Lagrange µD no processo de extremiza¸c˜ao.

Isso pode ser feito adicionando-se aF um termo FD da forma

FD =µD

Z

dr(ρ+(r)−ρ−(r))−Zbare

. (4.24)

Esse procedimento permite que agora as fun¸c˜oes ρ±(r) sejam tratadas de forma indepen-dente. A condi¸c˜ao de equil´ıbrio ´e ent˜ao calculada em termos do multiplicadorµD, o qual deve ser determinado de forma a garantir que a condi¸c˜ao (4.23) seja verificada.

Podemos agora escrever o funcional F[ρ+, ρ] como

βF[ρ+, ρ−] =X

i=±

Z

drρi(r)(log(Λ3ρi(r))−1) + λB

2 + Z drdrρ(r)ρ(r) |r−r′| (4.25) +µD Z drρ(r)−Zbare +Fcor[ρ+, ρ−], (4.26) onde ρ(r) ρ+(r)−ρ−(r) representa a carga l´ıquida local. Nesse ponto, ´e conveniente introduzir ainda um potencial qu´ımico de correla¸c˜ao µ±(r), definido pela rela¸c˜ao:

µcor± (r) = δFcor[ρ+, ρ−]

δρ±(r) , (4.27)

o qual cont´em os efeitos de correla¸c˜ao entre os ´ıons. A condi¸c˜ao de equil´ıbrio (4.11) pode agora ser escrita na forma:

log(Λ3ρ±(r)) +βq Zbareǫr q +q Z dr ρ(r) ǫ|r−r′| =β(µs∓µD−µcor± (r)), (4.28) ondeµs=µ± ´e o potencial qu´ımico no reservat´orio de sal. O termo entre parˆenteses pode ser facilmente reconhecido como o potencial eletrost´atico m´edio no sistema. Isso permite que a condi¸c˜ao de equil´ıbrio para as fun¸c˜oes de distribui¸c˜ao seja reescrita como

ρ±(r) = ¯ρ±exp(∓βqψ(r)−µcor

± (r)), (4.29)

onde ¯ρ± eµs∓µD/Λ3. Na ausˆencia de correla¸c˜oes, µcor

± = 0, e essa condi¸c˜ao recai na

aproxima¸c˜ao de campo m´edio ρ±∼e∓ψ que ´e a base da teoria de PB. De maneira geral, essa condi¸c˜ao pode ser sempre utilizada em conjunto com a equa¸c˜ao de Poisson para obter as distribui¸c˜oes de equil´ıbrio, levando a modifica¸c˜oes da equa¸c˜ao de Poisson-Boltzmann. O multiplicadorµD pode ser identificado com o potencial de Donnan estudado no cap´ıtulo anterior, e pode em geral ser facilmente eliminado usando a condi¸c˜ao de eletroneutralidade como condi¸c˜ao de contorno da equa¸c˜ao de Poisson. A maneira mais direta de se introduzir efeitos de correla¸c˜oes iˆonicas via teoria de funcionais ´e por meio do c´alculo dos potenciais qu´ımicos de correla¸c˜oes definido pela Eq. 4.27. Na ausˆencia de sal, os efeitos de correla¸c˜ao ocorrem predominantemente na vizinhan¸ca pr´oxima da superf´ıcie coloidal, de maneira que a fun¸c˜ao µcor(r) apresenta contribui¸c˜ao n˜ao nula apenas nessa regi˜ao. Esse fato pode ser

convenientemente utilizado para aproximar µcorr pelo potencial qu´ımico de excesso de

um plasma bidimensional confinado na superf´ıcie do col´oide. Nesse contexto, a Eq. 4.29 permite introduzir efeitos de correla¸c˜ao entre os contra´ıons condensados por meio de uma simples adapta¸c˜ao da condi¸c˜ao de contorno da equa¸c˜ao de PB na superf´ıcie coloidal.

Estudaremos agora duas aproxima¸c˜oes que permitem o c´alculo dos potenciais qu´ımicos de correla¸c˜ao de forma razoavelmente direta: a aproxima¸c˜ao local e a aproxima¸c˜ao weigh-ted density.