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Em que se aplica a Investigação-Acção

INVESTIGAÇÃO-ACÇÃO: METODOLOGIA PREFERENCIAL NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS

10. Em que se aplica a Investigação-Acção

Para um jovem investigador que, necessariamente, encontra dificuldades em saber qual a metodologia a adoptar mediante o seu objecto de investiga- ção, e que tendo ouvido falar da Investigação-Acção põe a si próprio a possi- bilidade de enveredar por esta metodologia, deverá atentar nas seguintes pro- posições que, de uma forma prática, poderão dar resposta às suas potenciais dúvidas:

Se pretendermos saber mais sobre um número limitado de variáveis e as relações causais entre elas, o método de investigação experimental ou quase- experimental irá, sem dúvida, adequar-se muito melhor às suas necessidades do que a Investigação-Acção.

No entanto, se quisermos investigar alguma organização ou um determi- nado grupo em profundidade, o estudo etnográfico ou outros métodos qualita- tivos serão preferíveis.

Por último, se se trata de um professor ou de outro profissional que tem de responder às novas exigências de uma situação ou fazer a avaliação de um programa em curso ou ainda proceder a alterações num currículo, a Investi- gação-Acção será, indubitavelmente, o processo mais valioso para a consecu- ção do seu objectivo.

Cohen e Manion (1987, citados em Sousa, 2005:96), apontam algumas situações exemplares em que a Investigação-Acção se aplica de forma ade- quada ao mundo da educação:

• Métodos de aprendizagem: descoberta de novos métodos que possam substituir os tradicionais;

• Estratégias de aprendizagem: experimentando aproximações integra- das de aprendizagem em vez do estilo unilinear de transmissão de co- nhecimentos;

• Procedimentos de avaliação: ensaiando novos métodos de avaliação contínua;

• Atitudes e valores: possibilidade de encorajar atitudes mais positivas de trabalho ou modificação dos sistemas de valores dos alunos com vista a alguns aspectos da vida;

• Formação contínua de professores: procurando desenvolver capacida- des, experimentar novos métodos de aprendizagem, poder de análise,

• Treino e controlo: gradual introdução a novas técnicas de modificação comportamental;

• Administração / gestão: incremento da eficiência de alguns aspectos da parte administrativa escolar (Sousa, 2005) .

E assim, mais uma vez, verificamos que sempre que numa investigação se coloca a possibilidade, ou mesmo necessidade, de proceder a mudanças, de alterar um determinado status quo, em suma, de intervir na reconstrução de uma realidade, a Investigação-Acção regressa de imediato à ribalta para se afirmar como a metodologia mais apta a favorecer essas mudanças.

11. Conclusão

A ideia mais marcante na Investigação-Acção resulta, na nossa perspecti- va, da sua extraordinária capacidade de activar a consciência crítica dos pro- fissionais, em geral, e dos professores, em particular. Segundo Paulo Freire (1975:55), quanto mais as pessoas se aplicam na acção transformadora das realidades, mais se “inserem” nela (na acção) criticamente.

É através da praxis e da reflexão sobre essa praxis que o professor pode verdadeiramente iluminar a sua consciência introduzindo-lhe o elemento críti- co, tão necessário ao conhecimento objectivo daquilo que faz e de si próprio. Pois, a Investigação-Acção é uma das metodologias que mais pode contri- buir para a melhoria das práticas educativas, exactamente porque aproxima as partes envolvidas na investigação, colocando-as no mesmo eixo horizontal; favorece e implica o diálogo, enriquecendo o processo ao fazer emergir a verdade; desenvolve-se em ambientes de colaboração e partilha, retirando o fardo da solidão ao investigador; valoriza a subjectividade, ao ter sempre mais em conta as idiossincrasias dos sujeitos envolvidos; mas, por outro lado, propicia o alcance da objectividade e a capacidade de distanciamento ao es- timular a reflexão crítica.

É ainda sob o foco das correntes de uma pedagogia crítica que esta me- todologia se demarca das ideias positivistas ao negar que o conhecimento te- nha apenas um valor instrumental.

Por outro lado, a Investigação-Acção reconhece a necessidade de utilizar as categorias interpretativas dos profissionais da educação; ajuda a identificar as interpretações ideológicas distorcidas abrindo caminho para a sua clarifi-

justiça, oferecendo aos professores explicações teóricas que os tornem mais criticamente conscientes e capazes de remediar essas situações.

Tudo isto nos leva a concluir que a Investigação-Acção, não é uma meto- dologia de investigação sobre a educação, mas sim uma forma de investigar

para a educação.

Nesse sentido, a Investigação-Acção, mais do que uma metodologia, ten- de a afirmar-se como um modus faciendi intrínseco à actividade docente e ao quotidiano daquelas instituições educativas que pretendem acompanhar os si- nais dos tempos, comungando com as naturais vicissitudes da realidade do mundo em vez de se colocarem na cómoda posição de entidades detentoras de um saber que se vai revelando artificial e envelhecido ao deixarem-se ul- trapassar por outros saberes mais mundanos mas, quem sabe, mais reflecti- dos, mais concretos, mais significantes e mais próximos do homem novo.

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