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A APLICABILIDADE DA FUNÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DO INSTITUTO DA

4 DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE PRIVADA

4.2 A APLICABILIDADE DA FUNÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DO INSTITUTO DA

O instituto da desapropriação como já foi abordado no capítulo anterior do presente trabalho, foi consagrado pela Constituição, no artigo 5º, XXIV, regulado pela lei geral das desapropriações, pelo DL 3.365/41 e que tem efeitos civis, uma vez que o proprietário pode ser privado de seu bem pela desapropriação, que é modo de perda da propriedade, conforme estabelece o artigo 1.275, V, CCB e também no caso de requisição administrativa.

Vale ressaltar que a doutrina não é unânime quanto às modalidades de desapropriação. Marinela (2017), no entanto, menciona como modalidade de desapropriação: a comum; a desapropriação urbana; a desapropriação rural; e a desapropriação chamada confisco.

A desapropriação comum, disposta no artigo 5º, XXIV, CF/88 encontra seu fundamento nas hipóteses de utilidade e necessidade pública e interesse social e ocorrerá através de procedimento administrativo mediante pagamento de indenização prévia, justa e em dinheiro. Por isso deve corresponder ao valor do bem a ser expropriado e paga em dinheiro até o momento da transferência do mesmo. Quanto ao objeto da expropriação, pode-se dizer que qualquer bem pode ser alvo da expropriação comum.

A hipótese da utilidade pública indica uma situação que é benéfica para a coletividade, mas que não é urgente. O conceito de necessidade pública por seu turno está abrangido pela utilidade pública, uma vez que aponta para uma situação de emergência em que a desapropriação é indispensável. O interesse social de acordo com Marinela (2017) revela o caso em que a desapropriação significará uma conveniência social e terá o efeito de atenuação das desigualdades e melhoria das condições de vida.

Deve ser lembrado que no intuito de que os conceitos de utilidade pública e interesse social não se tornem imprecisos e vagos, aprouve a lei elencar rol taxativo de situações a serem consideradas como utilidade pública ou como interesse social: o artigo 5º, DL nº 3.365/41, define em que casos estará presente a utilidade pública, e o artigo 2º, Lei nº 4.132/62, que indica os casos em que estará configurado o interesse social.

A desapropriação urbana, doutro modo, não ocorrerá por uma utilidade pública, em razão de uma emergência ou por uma conveniência social. Mas sim quando o imóvel urbano não atender a função social do bem que se identificará com o não cumprimento das exigências estabelecidas no plano-diretor do município. Neste caso, o Poder Público municipal com fulcro no artigo 182, § 4º, CF/88 e na Lei 10.257/01 poderá exigir que o proprietário de área urbana não edificada, subutilizada ou não utilizada promova a o aproveitamento da área de forma adequada.

Portanto, aduz o art.5º, da lei 10.257/2001, que através de lei municipal específica, o Poder Público municipal determinará o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsória do solo urbano não edificado, subutilizado ou mal utilizado, as condições e os prazos de sua implementação, que não poderão ser inferiores a 01 (um) ano, a partir da notificação, para que seja protocolado o projeto no órgão municipal competente e a 02 (dois) anos, a partir da aprovação do projeto, para iniciar as obras do empreendimento.

Não observados os prazos, condições e etapas estabelecidos na lei específica, poderá o Município proceder com a aplicação do IPTU progressivo por meio da majoração da alíquota pelo prazo de 5 (cinco) anos consecutivos, respeitada a alíquota máxima de 15% (quinze por cento). Constatada a insistência do proprietário em não cumprir com a obrigação estabelecida em lei específica, poderá então, o município promover a desapropriação do imóvel. O pagamento da indenização será efetuado em títulos da dívida pública com prévia aprovação do Senado Federal e resgatáveis em 10 (dez) anos.

Terá competência para realizar a desapropriação urbana o município e o Distrito Federal, que poderá aproveitar o imóvel ou aliená-lo ou concedê-lo mediante prévio procedimento licitatório.

A desapropriação rural por sua vez, tem seu fundamento nos artigos 184 e seguintes da Constituição da República, na Lei nº 4.504/64 (Estatuto da Terra) e na LC nº 76/93. É modalidade desapropriação que se dá com fundamento no interesse social, voltada para a reforma agrária, e tem por finalidade, além de condicionar o uso da terra à sua função social: promover a justa e adequada distribuição da propriedade; obrigar a exploração racional da terra; permitir a recuperação social e econômica de regiões; estimular pesquisas pioneiras, experimentação, demonstração e assistência técnica; efetuar obras de renovação, melhoria e valorização dos recursos naturais; incrementar a eletrificação e a industrialização no meio rural; facultar a criação de

áreas de proteção à fauna, à flora ou a outros recursos naturais, a fim de preservá-los de atividades predatórias (artigo 18, Lei nº 4.504/64).

Pode-se observar então que a desapropriação rural visa garantir que a propriedade rural cumpra sua função social, e em não sendo cumprida estará a propriedade sujeita à desapropriação. Verifica-se efetivada a função social da propriedade quando presentes os requisitos do artigo 186, CF/88, quais sejam: aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições que regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

A despeito dos critérios acima transcritos não estarão sujeitos à desapropriação com fins de reforma agrária apequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra e a propriedade produtiva (artigo 185, CF/88).

A competência para proceder com a desapropriação do imóvel rural que não cumpre a função social é da União, com pagamento de indenização prévia e justa em títulos da dívida agrária com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até 20 (vinte) anos. Serão pagas em dinheiro, no entanto as benfeitorias úteis e necessárias (artigo 184, §1º, CF/88).

A desapropriação confisco está prevista no artigo 243, CF/88 que dispõe:

Art.243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. Verifica-se com a redação do artigo que a desapropriação confisco possibilita a desapropriação da propriedade em que for encontrado o cultivo de culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou identificado a exploração do trabalho escravo sem o pagamento de indenização de qualquer natureza ao proprietário.

A desapropriação confiscatória será promovida pela União, mas pode ser delegada a pessoa jurídica de sua administração indireta, recaíra sobre a totalidade da área do imóvel e obedecerá procedimento judicial de rito sumário. As propriedades ora expropriadas serão destinadas para a reforma agrária e para programas de

habitação popular. Segundo o parágrafo único do referido dispositivo legal os bens de valor econômico apreendidos em razão de sua utilização em atividades de tráfico ilegal de drogas e de exploração de trabalho escravo será também confiscado e seu valor revertido para fundo especial.

Com a análise de cada uma das modalidades de desapropriação, é possível verificar que elas tem seus fundamentos no princípio da supremacia do interesse público sobre o privado e no princípio da função social da propriedade privada, embora a desapropriação comum seja executada com pressupostos na utilidade pública e no interesse social, a desapropriação urbana, rural e confisco tem como finalidade explícita garantir que a propriedade cumpra a função social.

Nesse sentido, em julgamento de Apelação Cível nº 199750010082950 RJ 1997.50.01.008295-0, o relator Desembargador Federal Sr. Guilherme Calmon Nogueira da Gama do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (2010), decide pelo provimento à desapropriação confiscatória, em razão do cultivo de culturas ilegais de plantas psicotrópicas:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ART. 243, CEF. DESAPROPRIAÇÃO CONFISCATÓRIA. GLEBA COM CULTURA ILÍCITA DE PLANTAS PSICOTRÓPICAS. DESNECESSIDADE DO ELEMENTO SUBJETIVO DO PROPRIETÁRIO. NÃO CUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL ASSOCIADO À PRÁTICA DE ILÍCITO GRAVE NO IMÓVEL. LEI 8.257/91. PROVIMENTO.

Dessa forma, segundo o julgado, há uma relação de complementariedade entre propriedade e função social, que vincula a propriedade a realização dos objetivos da justiça social e neste diapasão, a desapropriação confisco tem por objetivo concretizar a função social da propriedade rural e coibir atividade ilícita de culturas de plantas psicotrópicas.

Constata-se, então, que longe de ser uma forma arbitrária de retirar a propriedade do domínio de seu proprietário, a desapropriação rural, urbana e confisco são formas racionais e legítimas de garantir a efetividade e o respeito da função social da propriedade privada.

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