• Nenhum resultado encontrado

ANEXO IV Codificação dos dados

Diagrama 16 Apoiando emocionalmente

Apoiando emocionalmente

Bottorf e al (1995) observaram também várias estratégias de suporte emocional desenvolvidos pelos enfermeiros aos doentes com cancro tais como afirmações de empatia, encorajamento, simpatia e comiseração. Morse et al (2003) também apontam a empatia, o toque e a escuta como as estratégias mais referidas na literatura de enfermagem como formas de consolar e confortar aqueles que sofrem.

O apoio ou suporte emocional, para Chalifour :

(…) manifesta-se na expressão de sentimentos positivos, indicando interesse pela pessoa, estima e bem-querer, respeito pelas suas emoções e encorajamento da expressão das suas crenças e sentimentos (Chalifour, 2007, p.264)

→ Disponibilizando-se

Estar disponível para o doente é uma forma de o apoiar emocionalmente, de acordo com estes enfermeiros. Os enfermeiros disponibilizam-se para o doente através da sua presença, atenção, cuidado, ajuda e informação:

(…) o nosso apoio psicológico, quero dizer, o meu…. é estar disponível… (…) O estar ali disponível…eu estou totalmente… (…) é disponibilizar…algum tempo, algum do nosso tempo… (…) eu disponibilizo o meu tempo, mas eu também voluntario-me como pessoa…eu dou da minha pessoa…para isto…Ou seja, também depende da pessoa o tipo de apoio que dá, é muito pessoal…Eu dou algo de mim, ou muito ou pouco…para poder ajudar esta pessoa…É porque o apoio emocional é muito vasto… e existem vários momentos de acordo com a situação e com a pessoa. (…) A pessoa sabe que eu estou disponível, deixo-a chorar… (E5)

Pude observar algumas situações de relação enfermeira-doente em que a postura corporal do enfermeiro revelava disponibilidade:

A enfermaria cumprimentou as pessoas e baixou-se junto ao Sr. L para ficar ao seu nível (O13) A enfermeira tinha-se abaixado, curvando os joelhos e estava ao nível da doente (…) A postura corporal da Enfª S revelava disponibilidade, atenção e interesse (O15)

Phaneuf (2004) diz que o facto de o enfermeiro se introduzir no espaço íntimo do doente, numa atitude de respeito, interesse e cuidado, proporciona uma proximidade afectiva e favorece as trocas significativas entre os dois.

Noutras situações, foi possível observar que os enfermeiros colocavam-se à disposição do doente para conversar ou para o ajudar no que fosse preciso:

A Enfª T ouviu e interagiu com os familiares e depois dirigiu-se à Srª MJ dizendo: “Depois eu volto para conversarmos um pouco mais sobre isso, está bem? (O2)

Depois dirigindo-se à doente realçou “ Não precisa de ter medo de levantar-se. Nós ajudamos a levantar-se e a andar. Logo que sinta que gostaria de levantar-se é só nos dizer, que nós vimos aqui e ajudamo-la, está bem?” (O13)

Doentes e familiares confirmaram e enfatizaram a disponibilidade dos enfermeiros desta unidade hospitalar:

Portanto, de qualquer maneira, estão sempre disponíveis, inclusive dizem sempre “se for necessária qualquer coisa, disponha”, nem sei o quê…hum, “disponham”. Hum, (pausa). São disponíveis (F10)

Nós pedimos uma coisa e estão sempre prontas a ajudar… (F6)

Quando conversei com os doentes sobre a intervenção de enfermagem, aqueles realçaram muito a atenção dos enfermeiros para com eles, o serem atenciosos, o estarem sempre atentos, reparando nas alterações do estado anímico do doente, o que revela também disponibilidade por parte do enfermeiro:

(…) são super-atenciosos (…) estão sempre a perguntar se a pessoa está bem, se tem alguma dor, se precisa de alguma coisa…(…) (D7)

Eles são atenciosos, eu tenho reparado nisso… (...) eu não tenho razões de queixa, pois eles são muito atenciosos… (…) Pelo que eu tenho visto nestes dias, já dá para a gente ver, eles são muito atenciosos (…) Mas eles são mesmo…(…) não tenho razões de queixa(…) …. são muito atenciosos (…) (F1)

A prontidão em responder às chamadas é outra forma de revelar disponibilidade e é um dos aspectos muito valorizados pelos doentes, em especial os que estão acamados e mais dependentes. A maioria dos doentes entrevistados considera que os enfermeiros respondem rapidamente ao toque da campainha:

Quando eu preciso, eu chamo e vêm, (…) sempre que eu preciso, eu chamo e eles estão sempre atentos… (D8)

(…) eles são todos muito pontuais…(…) Quando eu preciso de alguma coisa eu toco a campainha… (D9).

Os familiares fizeram referência a essa disponibilidade dos enfermeiros, confirmando prontidão na resposta às chamadas:

Sim…tocamos à campainha…e eles vêm. Durante a noite, também, a minha mãe diz que eles são fantásticos…Porque a minha mãe está lúcida ainda…Ela chama, pede ajuda, pede para ir à casa de banho, e eles… tudo! (F2)

(…) Toca-se na campainha e vem alguém perguntar o que é, e depois vem logo a enfermeira dizendo “Tenha calma…Não se preocupe que nós vamos já cuidar disso…” (F6)

Apenas uma doente se queixou de alguma demora dos enfermeiros em responder às chamadas, o que parecia causar-lhe alguma ansiedade:

(…) a gente chama mas não vêm facilmente….(…) As vezes demoram um bocadinho…(…) quando nós chamamos, elas demoram um bocadinho…(…) Eu acho que deviam vir mais rápido, porque a gente pode estar a sentir-se mal e elas demoram um bocadinho…(D4)

→ Estando presente

Vimos anteriormente, que os enfermeiros tinham identificado a presença do enfermeiro como uma necessidade dos doentes, nestes serviços.

Os enfermeiros, neste estudo, apontam o estar presente junto do doente como uma forma de o apoiar emocionalmente e parecem valorizar essa sua presença:

Procuramos estar mais ao pé do doente (…)…É apenas a nossa presença (…) a companhia (….) Eu, pelo menos da minha parte tento dar o máximo, estar com eles (…) eu sento-me muitas vezes à beira da cama do doente (E12)

Eu fui lá ter com ele (…) fiquei algum tempo sentado com ele…Fui buscar uma cadeira e sentei-me no corredor ao seu lado… (E6)

E quando ele vê que sou eu que estou de serviço ele fica logo mais calmo… (E9) (…) só o facto de eu estar lá e lhe dar a mão, o doente ficou muito mais calmo…(E17)

Encontrámos duas referências à presença do enfermeiro junto do doente nas notas de enfermagem:

Permaneci com o utente até este adormecer. (R3)

Permaneci alguns minutos ao seu lado em silêncio (…). (R10) Um familiar fez referência a essa presença também:

(…) dão-lhe companhia…(F7)

Os doentes realçaram também a presença dos enfermeiros e o facto de andarem sempre por perto. Vejamos o que diz um dos doentes:

Sim, conseguem (fazer-me companhia)… a mim e a toda a gente…De uma maneira geral, conseguem… Eu reparo nisso quando vou passando pelo corredor e olho para as enfermarias…Nem que seja entrar no quarto para perguntar se está tudo bem, para desconversar (brincar)… Eles fazem isso com toda gente… (D7).

De acordo com Taylor et al. (1995) e Grant (2004), estar presente é uma das intervenções que os enfermeiros utilizam com mais frequência quando os doentes estão a sofrer. Também os enfermeiros participantes nos estudos de Carroll (2001) e de Cox (2003) consideraram o estar

presente uma intervenção de ordem espiritual que vai de encontro a uma das maiores

necessidades dos doentes que é a presença do enfermeiro, atendendo às suas necessidades físicas, fornecendo-lhe tudo o que ele necessita e valorizando-o como pessoa.

Estar presente é estar disponível em momentos de necessidade (CIPE1: 133) Na verdade, e tal como nos refere Egan (1987), em certos momentos difíceis da vida, a presença de uma outra pessoa tem uma importância extrema.

Estar presente não significa estar lá apenas. Quando a presença do enfermeiro não é

inteira, poderá revelar falta de disponibilidade, de respeito e de atenção pelo doente, aumentando-lhe o sofrimento. O caso descrito por António Barbosa (2006) sobre a forma como uma doente em fase final de vida sente e sofre com a presença não inteira dos enfermeiros junto de si, caracteriza bem essa situação :

Na hora dos cuidados, quanta esperança estiolada, ferida: sente-se observada e não olhada, cochichada e não entendida, remexida e não tocada. O sofrimento não era escutado e nem sempre lhe era reconhecido o direito de se queixar.(…) Porque fazem

ininterruptamente entre elas? Para não deixar espaço a ela?(…) Porque evitam o olhar? Receiam perguntas inquietantes, adivinham respostas impossíveis? Porque escamoteiam pequenas alusões e insignificantes pedidos?(…) Deslizam pelo quarto para ver a tensão arterial e verificar a temperatura e eclipsam-se confirmando a mediocridade relacional na enfermaria. “ Desde que não morra no meu turno.” António Barbosa (2004; p.76)

Para Parse (1999) (1), a verdadeira presença (True presence) é considerada uma forma especial de estar com o outro, pois valoriza as suas prioridades, incentiva-o a explorar com profundidade as ideias e os assuntos que ele escolher e tem em atenção o significado que ele dá ao momento que está a viver..

Também para Swanson (1991), a presença inteira do enfermeiro é estar com (o outro) e surge na sua teoria do cuidar de médio alcance como uma categoria no processo de cuidar em enfermagem que implica disponibilidade, estar emocionalmente presente e partilha de sentimentos. Kleinman (2004) acrescenta que para que a presença do enfermeiro junto do doente seja verdadeiramente terapêutica e proporcione alívio do sofrimento é necessário que demonstre abertura, através de uma presença atenta, disponibilidade, capacidade de escuta e uma atitude receptiva, ligação, através de uma presença autêntica, um diálogo inter-subjectivo, toque emocional e físico, e preocupação ou interesse, através de uma resposta pronta e sensata que coloca o doente em confronto com o seu próprio self.

Na verdade, o alívio do sofrimento passa obrigatoriamente pelo encontro entre o cuidador e a pessoa que sofre e esse encontro é fundamental para que ele se torne suportável e consciente, sendo desta forma aliviado, e para que se dê a descoberta de significado (Lindholm & Eriksson, 1993; Kahn & Steeves, 1996, Rehnfeld & Eriksson,2004). Nesse encontro o doente é capaz de expressar os seus sentimentos e pensamentos relativos à sua situação de vida e de saúde, dando ao profissional de saúde um insight da sua vida na sua globalidade. É pois fundamental que este esteja aberto aos diversos níveis de comunicação para que possa conhecer e compreender profundamente o doente (Takman & Severinsson, 1999). No estudo de Mok & Pui, (2004) observa-se que é geralmente o enfermeiro que toma a iniciativa em estabelecer um encontro mais profundo, com sensibilidade e habilidade, dando tempo e espaço aos doentes, quando estes ainda não estão preparados para falar sobre os seus sentimentos mais profundos. Consoante a relação evolui, ele vai para além da superficialidade.

→ Conversando com o doente

Uma outra estratégia apontada pelos enfermeiros como forma de apoiar emocionalmente o doente é conversar com ele. Conversar é interagir com o outro, usando a linguagem verbal e

não verbal. Os enfermeiros apontam o conversar como uma das estratégias utilizadas para apoiar emocionalmente o doente, pois através da conversa, os enfermeiros conseguem ouvi-lo, podem compreender o que está a sentir, os seus medos, angústias, dúvidas, e podem animá-lo ou consolá-lo:

Para tentar aliviar a dor da alma o que fazemos é conversar com os doentes e perceber o que os afecta mais (…) Conversamos sobre os problemas que os preocupam (…) (E12)

Através da conversa os enfermeiros por vezes acalmam os doentes ou reduzem-lhes a tensão emocional:

Conseguimos às vezes acalmá-los, naquele bocadinho em que estamos ali a conversar. Ajuda!… (E13)

Dizemos coisas do género:“ É preciso ter calma, não se enerve, vai correr tudo bem…” Mas eles respondem:“ Ah, senhora enfermeira, mas eu sei que vou morrer…isto está a piorar…!”“ Vamos ter calma…! O que é que está a sentir?”“ Eu estou aflito!”“Vamos lhe dar uma medicação para acalmar…Vamos ver isso…Vamos ver o que é que tem…é preciso é ter calma…”É claro que o nosso papel acaba por ser muitas vezes…. (risos) o de diminuir a ansiedade do doente, (E14) Um dos enfermeiros falou sobre a importância de conversar com os doentes e mostrou a sua discordância sobre a forma como se planeiam cuidados dessa natureza. De facto, o tempo diário planeado para conversar com cada doente não passa de um plano, pois raramente pode ser concretizado da forma como é planeado. Na prática, os enfermeiros conversam com os doentes de acordo com a sua disponibilidade e com a necessidade dos doentes em determinados momentos.

A comunicação é essencial…Conversar com o doente é fundamental…Mas nós não podemos planear que vamos conversar 10 minutos com este, cinco minutos com aquele, embora em termos do plano de cuidados nós façamos isso. (…) Nós colocamos isso no plano…mas acho que nem deveria estar planeado assim nesses termos (…) Na verdade eu não posso dizer a um doente que está a falar comigo em algo importante “ Olhe espere aí que eu daqui a 10 minutos já venho” Se eu não dou continuidade à conversa naquele momento, ele retrai-se. Naquele momento ele até teve coragem para me falar, mas depois, quando eu volto, ele já me diz “ Esqueça!” (…) Eu, às vezes, quando passamos nas enfermarias para mobilizar os doentes, fico para trás a conversar com um doente enquanto os meus colegas seguem para as outras enfermarias (…)Pois muitas vezes o facto de um enfermeiro parar 10 minutos para conversar com um doente é muito mais importante do que saber puncionar muito bem…. …) Devíamos era ter enfermeiros bem preparados que saibam conversar com o doente e que tenham uma forte preparação na área emocional, (E9)

Nas notas de Enfermagem, encontrámos várias referências a esta intervenção de enfermagem:

Conversei com doente (R1, R4, R10) Conversámos durante alguns minutos (R3)

Neste relato, um dos enfermeiros descreve a forma como os registos da intervenção ao nível emocional são realizados no serviço e sobre a necessidade de aqueles serem mais concretizados e completos.

(…) porque esta coisa de escrever “dei apoio emocional” ou “conversei com a família”… Tudo bem….está nas notas, sim. Mas sobre o que é que eu conversei? Não há registo…O outro que vem a seguir, pergunta “Mas ele falou de quê?” (…) Poderia escrever-se por exemplo “Dei apoio na área da espiritualidade. “Conversámos sobre isto” Quem viesse a seguir já sabia sobre o que tinham falado, e então já poderia planear como abordar a conversa, esse tema ou outro.(…)… (E9)

Alguns doentes falaram sobre as conversas com enfermeiros e valorizaram-nas, enfatizando a ajuda que elas proporcionam:

Quando é uma pessoa que fica ali a falar com a gente, até parece que a gente não tem nada [dores, doença]…(D3)

Ah, sim, sim…ajuda…! Quando a pessoa está a sentir-se assim mais em baixo e só, eles vêm, conversam, puxam pela pessoa… (….) É muito importante, muito importante [a maneira de interagir com o doente]….(D7)

Os familiares também fazem referências às conversas dos enfermeiros com os doentes: (…) falam… (…) entram, falam, conversam .(…) Elas falam com a doente, falam bem e a gente gosta de ver… pois ela assim sente-se bem… (F1)

Eu chego, eles, na hora, vão lá, fazem o seu serviço, conversam com ele… (F3)

O estudo de Hunt (1991) analisado na revisão de literatura de Skilbeck & Payne (2003), revelou que apesar de a carga emocional das situações que envolviam os doentes em final de vida ser enorme, a maior parte das conversas entre as enfermeiras e os doentes eram comuns e sociais e os resultados davam a entender que os doentes preferiam manter conversas comuns do que conversas emocionalmente intensas sobre a sua situação de saúde.

→ Escutando o doente

De acordo com Lazure (1987), escutar é uma habilidade fundamental do enfermeiro pois é a única via de acesso à compreensão do doente. A escuta activa é escutar com todo o nosso ser, estando disponível para a totalidade da comunicação do utente e não só para as palavras que ele pronuncia (expressões faciais, o tom de voz, os gestos, as variações respiratórias, a humidade da pele, a congestão súbita da face), pois este tipo de comunicação não verbal revela muito da vivência dos utentes. Através da escuta activa, o enfermeiro manifesta ao cliente que ele é importante para si e revela a sua vontade em compreendê-lo verdadeiramente.

Os enfermeiros destes serviços referem utilizar esta estratégia como uma forma de apoiar emocionalmente o doente:

(…) deixo-os falar…olhos nos olhos… Muitas vezes não é preciso dizermos nada…(E12) (…) falar com a pessoa, saber o que o preocupa, (…) no sentido de ouvir…(E13)

Na escuta activa, a postura, a atitude e os gestos do enfermeiro têm uma importância muito grande pois são reveladores do interesse que a enfermeira tem pelo paciente (Egan, 1987 Phaneuf, 2004). Ao inclinar-se ligeiramente para o doente, o enfermeiro revela que ele se torna o centro da sua atenção, visto que, nas nossas relações humanas, a inclinação para o outro é um sinal de interesse, de intimidade (Phaneuf, 2004).

O texto que se segue é a descrição de uma observação realizada no serviço a um momento de relação enfermeira-doente, onde pude constatar, observando de longe a sua postura corporal e os seus gestos, que a enfermeira utilizava a escuta activa:

Entrei na Enfermaria nº 6. A Enf.ª S conversava com a Sr.ª T, uma senhora já idosa que se encontrava deitada num cadeirão de estender. A enfermeira tinha-se abaixado, curvando os joelhos e estava ao nível da doente. Agarrava com as duas mãos a mão direita da doente e ouvia a senhora. Afastei-me um pouco para não quebrar a intimidade daquele momento, e observei a cena de longe. A postura corporal da Enf.ª S revelava disponibilidade, atenção e interesse. Parecia ouvir com atenção o que a doente dizia. De vez em quando falava, baixinho, acompanhando com a cabeça as suas palavras e por vezes acariciava suavemente o braço da utente. Estiveram alguns minutos conversando...Depois a doente agarrou as mãos da enfermeira nas suas e apertou-as num gesto de gratidão. A enfermeira sorriu, disse qualquer coisa, levantou-se e saiu da enfermaria (O15)

No entanto, encontrei apenas uma única referência à escuta nas notas de enfermagem: Ouvi sua expressão de sentimentos. (R3)

Isto poderá querer dizer que embora os enfermeiros valorizem estas técnicas e procurem concretizá-las na sua interacção com o doente, não a registam, tal como o fazem com outras estratégias mais direccionadas para as funções corporais.

→ Olhando o doente

Olhar alguém é reconhecer a sua existência. O olhar franco e directo do enfermeiro traduz consideração e interesse pela pessoa que está a ser cuidada e incita-a a exprimir-se, pelo que é considerado uma das características da atitude de escuta (Phaneuf, 2004). Alguns enfermeiros apontam o “olhar o doente nos olhos” como uma forma de o apoiar emocionalmente:

(…) até fui capaz de estar lá e sentar-me e falar com ela e olhá-la nos olhos e ter uma conversa…(E2)

(…) um simples olhar (…) olhar para a pessoa, (E5) (…) olhos nos olhos… (E12)

→ Sorrindo para o doente

Sorrir foi também apontado como uma estratégia de apoio emocional, utilizada pelos

enfermeiros destes serviços:

(…) Sorrir…. (…) com um sorriso que eles gostam tanto…caras carrancudas não servem…(…) Mas eu geralmente tento…posso estar triste…mas tento estar sorridente… Eu se estivesse doente preferia ver uma pessoa sorridente ao pé de mim….do que uma carrancuda, em que a gente já fica assim de pé atrás… “com esta não abro a boca!” (E15)

Um familiar fez referência ao sorriso dos enfermeiros, valorizando-o:

E eles dão um sorriso, falam…E isso é importante para os doentes. (F1)

O sorriso é uma forma de comunicar ou de partilhar a alguém o nosso estado de alma. Um sorriso espontâneo, franco, simpático e alegre pode ter um efeito benéfico sobre quem sofre. Madre Teresa de Calcutá recomendava o seguinte:

A todos os que sofrem e estão sós, dai sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração.

Durante a minha observação verifiquei que, na realidade, a maior parte dos enfermeiros destes serviços sorriem muito para os doentes, sempre que se aproximam ou se despedem dos mesmos nas enfermarias, quando os encontram no corredor ou quando conversam com eles.

Usando um tom de voz terno

O tom de voz revela as emoções que vivemos no momento e influencia substancialmente o significado das mensagens que transmitimos (Potter & Perry; 2006).

O tom de voz utilizado na conversa com o doente é referido por uma das enfermeiras como fundamental para apoiar emocionalmente o doente:

(…) o modo como falamos com a pessoa, o tom de voz (E1)

Ouvi, algumas vezes, os enfermeiros a conversar com os doentes, utilizando, de facto, uma voz terna e suave :

(…) e pergunta com voz meiga: “Essa dor está a incomodá-la muito?” (O1)

"Que foi, minha querida? - dizia a enfermeira P, com voz terna - espere...espere...ohohoh…… continuava dizendo calmamente, enquanto a ia mobilizando (O9)

→ Sendo amável

Ser amável é ser delicado, gentil, simpático, agradável para os outros e por essa razão é uma característica muito apreciada entre os seres humanos, pois facilita as relações sociais. Embora, numa relação profissional, o ser amável ou ser simpático não seja considerada propriamente uma atitude terapêutica, favorece, no entanto, a comunicação entre o enfermeiro e o doente, abrindo o caminho para uma relação mais profunda.

Vários familiares e doentes enfatizaram a simpatia ou amabilidade dos enfermeiros. Mas aqui as enfermeiras são simpáticas (…) as enfermeiras são simpáticas….E lá isso são! (…) Foram todas simpáticas (F6)

(…) são amáveis (D4)

Um dos enfermeiros considera que a simpatia ajuda a minimizar a solidão e o sofrimento, pelo que faz os possíveis por ser simpático com os doentes:

Quando a pessoa está em sofrimento, a solidão ainda agrava mais…e tento ser o mais possível simpático (E6)

→ Consolando o doente

Consolar o doente foi outra das estratégias de aliviar o sofrimento referidas pelos enfermeiros:

Procuramos dar assim uma consolação… (…) Claro que nessa altura o que nós dizemos é “ Deus não tem culpa! Estas situações tanto acontecem a si como acontecem a tantas outras pessoas, acontece a crianças pequenas, a adolescentes e acontece também aos idosos….E tentamos dizer-lhe que o decurso da doença cada vez mais é progressiva, e que está a aumentar e tentamos informar o doente, que não é só ele…Que também há outras pessoas na mesma situação…mas que ele é especial para nós… (E14)

(…) dizer-lhe palavras de conforto, dizendo que vai correr tudo bem, que é uma viagem…que esta vida é uma viagem e que chegámos agora a este porto e que a viagem irá continuar… Tentamos dizer-lhes assim as coisas de uma forma mais suave…(E8)

Observámos duas situações de relação em que o enfermeiro parecia estar a confortar emocionalmente a doente:

L acaricia carinhosamente o braço da Sr.ª R. e continua a consolá-la (O1)

De vez em quando falava, baixinho, acompanhando com a cabeça as suas palavras (O15)

Documentos relacionados