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Apoio matricial: dimensões técnico-pedagógica e assistencial

3.1 NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA

3.1.1 Integralidade e interdisciplinaridade: decifrando os aspectos

3.1.1.3 Apoio matricial: dimensões técnico-pedagógica e assistencial

recomendado como arranjo teórico-metodológico para organização do processo de trabalho entre equipes de referência e de apoio na Atenção Básica, tendo como base uma relação horizontalizada que promova integração entre os envolvidos. O trabalho colaborativo esperado é desenvolvido através das duas dimensões que o conformam: técnico- pedagógica, que produz apoio educativo para e com as equipes de AB, e assistencial, envolvendo ações clínicas diretamente realizadas com os usuários (BRASIL, 2014b).

A dimensão técnico-pedagógica diz respeito às ações de desenvolvimento de competência e Educação Permanente, tais como discussões de caso e temas, ações conjuntas/ compartilhadas com as equipes de AB e outros arranjos possíveis. Nestas ações, objetiva-se que

o compartilhamento dos núcleos de saber específicos entre NASF e equipes de referência (ou seja, as equipes de AB, responsáveis pela condução dos casos na APS) possibilite a constituição de um campo de conhecimento, comum e compartilhável, visando qualidade e resolubilidade, inclusive na qualificação de encaminhamentos a outros pontos das RAS. Em conseguinte, busca-se investir em mecanismos de educação permanente por meio de ações colaborativas entre NASF e equipes vinculadas (MALTA & MERHY, 2010).

A dimensão assistencial, por sua vez, engloba ações clínicas realizadas diretamente pelos profissionais do NASF, definidas conforme necessidades dos usuários e possibilidades de intervenção na AB. São previamente acordadas e reguladas pelas equipes de AB, que mantêm sua função de coordenação do cuidado ao longo das RAS e devem buscar compreender as propostas, implicações e interações que as intervenções diretas dos profissionais do NASF irão produzir, sem transferir toda a responsabilidade pelo cuidado (CAMPOS & DOMITTI, 2007).

É visível, portanto, a importância das equipes de AB para a consolidação do apoio matricial conforme preconizado: sua própria organização e compreensão sobre o novo modelo de relação e atenção colocado é primordial para o arranjo do NASF enquanto uma equipe de apoio na AB e não como um serviço de especialistas nesse âmbito de atenção. Por sua vez, os profissionais do NASF devem se dispor a dividir conhecimentos e se esforçar para planejar e avaliar frequentemente as ações com as equipes apoiadas, fomentando a manutenção da referência pelo cuidado junto às equipes de AB. Pode-se concluir, portanto, que a consolidação do apoio matricial é dependente da relação estabelecida entre as equipes envolvidas, sem negar, entretanto, a influência da própria organização dos serviços de saúde e o direcionamento das gestões municipais em sua estruturação.

As dimensões em que deve atuar o NASF indicam a dupla carga de responsabilidade desta equipe. Ao mesmo tempo em que atua sobre os usuários e territórios adscritos em conjunto com as equipes de AB, deve promover educação permanente das equipes apoiadas, objetivando aumentar os campos de conhecimento e atuação interdisciplinares a fim de alcançar maior qualidade e resolubilidade.

Para isso, busca certo grau de equilíbrio entre as ações assistenciais e técnico-pedagógicas (considerando que esse equilíbrio pode variar de acordo com cada categoria profissional que compõe o NASF e com as próprias experiências locais), definindo as ações a ser realizadas com base em pactuações com as equipes de referência

(TELESSAÚDE-SC, 2015). A partir das necessidades dos usuários/comunidades/territórios e das equipes de AB e da capacidade de resposta que melhor atenda a essas necessidades, portanto, as decisões sobre o tipo de ação a ser desenvolvida e sua operacionalização são divididas entre as equipes envolvidas (BRASIL, 2014b).

Apesar do direcionamento ministerial para a operacionalização do apoio matricial a partir das duas dimensões aqui apresentadas, outras acepções organizativas são encontradas para sua realização. Geralmente associadas à função de apoio institucional, referem-se a atividades gerenciais e administrativas, relacionadas à solução de problemas burocráticos em UBS vinculadas, e político-institucionais, servindo como reforço ao direcionamento político defendido pela gestão na condução das ações de saúde (SAMPAIO et. al., 2013). Nesse estudo, tais dimensões não foram abordadas por compreender-se que podem implicar em uma relação de poder institucional entre NASF e equipes apoiadas, o que contraria a lógica preconizada pelo apoio matricial. Além disso, a justaposição das funções de apoiador matricial e institucional pode ocasionar sobrecarga aos profissionais do NASF, impossibilitando que alcancem os resultados sanitários esperados.

Por conseguinte, defende-se uma lógica relacional e organizacional horizontalizada de integração entre profissionais inseridos na equipe mínima de Atenção Básica e aqueles que anteriormente encontravam-se apenas em serviços especializados. Na Atenção Básica, NASF e equipes apoiadas devem compartilhar a responsabilidade pelos usuários e territórios adscritos, ao invés de transferi-la, o que implica em corresponsabilização. Espera-se, dessa forma, ampliar e qualificar a capacidade de resposta à maior parte dos problemas de saúde da população através de arranjos organizativos que superem a lógica fragmentada e medicalizadora da atenção em saúde. 3.1.1.4 Interface entre os conceitos apresentados

Pautado na lógica preconizada, espera-se que o trabalho colaborativo entre NASF e equipes de AB promova a efetivação de uma clínica ampliada, que guarda estreita relação com os preceitos da integralidade da atenção e da interdisciplinaridade. A clínica ampliada deve substituir a tradicional lógica de encaminhamentos pela divisão de responsabilidades entre os profissionais envolvidos com a produção do cuidado (e destes com os usuários e comunidades) desde a definição da ação a ser realizada até a avaliação de seus resultados e definições de novas propostas terapêuticas.

Para isso, conforme conceitos apresentados nos tópicos anteriores, a proposta do apoio matricial estrutura-se com base nos referenciais da integralidade e da interdisciplinaridade em sua essência. Nesse sentido, propõe-se uma maior aproximação entre os conceitos da dimensão assistencial do apoio matricial e da integralidade e entre a dimensão técnico-pedagógica e a interdisciplinaridade, conforme analisado a partir do esquema a seguir:

Figura 1: Representação esquemática da interface entre integralidade e interdisciplinaridade e as dimensões do apoio matricial.

Apresentada com o intuito de facilitar a compreensão da lógica do apoio matricial, cuja teoria nem sempre parece ser facilmente compreendida por gestores e profissionais de saúde, essa divisão não é considerada estanque, uma vez que existem diversos pontos em comum entre as duas dimensões do apoio, bem como a valorização da integralidade e da interdisciplinaridade em ambas.

Considera-se, portanto, o esquema apresentado como uma possibilidade de conclusão dessa seção por uma questão didática, no sentido de facilitar a compreensão de que o apoio matricial se constitui como um referencial teórico-metodológico que orienta o trabalho integrado entre NASF e equipes apoiadas e está embasado nos preceitos e nas diretrizes do SUS, especialmente nestes aqui apresentados. Identifica-se, portanto, que as dimensões técnico-pedagógica e assistencial podem ser consideradas vertentes práticas da

operacionalização dos princípios do SUS, o que corrobora com a afirmação já apresentada de que o apoio matricial é uma “metodologia de trabalho, um conjunto de conceitos sobre o “como fazer” o trabalho interprofissional” (OLIVEIRA & CAMPOS, 2015, p. 31).

3.1.2 Resultados esperados dos Núcleos de Apoio à Saúde da

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