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Os anos 1990: O grande programa de ACM

APONTAMENTOS CONTEXTUAIS

Na virada dos anos 1980 e início dos anos 1990, o Centro preservava a dinâmica de seu comércio popular como forte característica. Apesar disso, havia um esvaziamento populacional substancial (SANT’ANNA, 2017, p.89) e as edificações sofriam um forte processo de deterioração. Até mesmo áreas que já haviam passado por intervenções, como o “corredor turístico” constituído na década de 1970, apresentavam-se com considerável decadência física.

A falta de integração viária do centro histórico com o resto da cidade e com seu entorno, a insuficiência de transporte urbano no interior do setor e as dificuldades de estacionamento o tornavam muito pouco atraente para novas atividades. Além disso, a ideia nunca abandonada de destinar o Pelourinho – e, de certa forma, sua população – ao uso turístico contribuía para dificultar sua integração na dinâmica terciária popular do centro, assim como na dinâmica residencial de classe média baixa existente em bairros adjacentes como Saúde, palma, Barbalho e Nazaré. (SANT’ANNA, 2017, p.89)

No início de 1992, o IPAC realizou um levantamento socioeconômico que revelou que o perfil da população residente no centro naquele momento era similar ao da população de 1967, quando os primeiros levantamentos deste tipo foram realizados. Segundo Sant’Anna (2017, p.90) eram inquilinos que haviam se instalado a cerca de vinte anos e que possuíam renda média entre um e dois salários mínimos. Boa parte

Imagem 14: Ladeira do Carmo no início dos anos 1990 Fonte: http://www.cronologia dourbanismo.ufba.br/apresent acao.php?idVerbete=1592#pr ettyPhoto[inline]/2/ Acesso:20/08/2019

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exercia empregos informais como vendedores ambulantes e biscateiros e o grupo prostitucional tinha diminuído consistentemente. Todavia, o tráfico de drogas havia crescido na mesma proporção.

No cenário político, o governo do estado tinha retornado para as mãos do grupo que governou durante todo o período da ditadura militar e que foi responsável pelo planejamento e pela execução da política de desenvolvimento econômico e turístico do estado nos anos 1960. Este contexto político está diretamente relacionado à Implementação do Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador, como explica Sant’Anna (2017, p.90):

As razões da implementação do Programa de recuperação do Centro Histórico de Salvador estão fortemente ligadas a esse contexto político e fazem parte, inicialmente, de estratégias de marketing do governo para diferenciar-se da administração anterior, mediante a construção de uma imagem ancorada na valorização da identidade cultural e das tradições da Bahia, associada ainda às ideias de desenvolvimento e eficiência administrativa.

A proposta do projeto estava voltada para a atração turística através da revitalização e reestruturação urbana da área e a modificação de usos. Um documento elaborado pela Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador (CONDER), chamada atualmente Companhia de desenvolvimento Urbano do Estado de Bahia, traçou os apontamentos principais desenvolvidos na intervenção e definiu a recuperação do Centro Histórico como um poderoso instrumento econômico, atribuindo para a área características de

shopping center ao ar livre. O Programa foi concebido

em etapas (totalizando sete ao final) que intervinham,

Imagem 15: Praça da Sé em 1990 Fonte: https://www.google.co m/url?sa=i&source=images&cd= &cad=rja&uact=8&ved=2ahUKE wies_HOp5TkAhW3D7kGHXLeB vsQjh. Acesso: 21/08/2019

cada uma, em conjuntos de quarteirões, diferentemente de todas as ações que haviam acontecido até o momento, que priorizavam as edificações separadamente.

A primeira etapa foi finalizada em 1993 e teve como principal alvo o Maciel. A população que residia na área naquele momento foi desapropriada e indenizada, uma vez que os edifícios, posteriormente, seriam colocados à disposição a preço de mercado e eles não poderiam pagar. Ao longo da década de 1990, outras seis etapas foram realizadas a partir da intervenção nos casarões paralelamente à indenização dos moradores ou sua transferência para um condomínio de casas populares no bairro Fazenda Coutos. Isso gerou alguns estudos e debates por conta de não ter havido uma mudança do quadro socioeconômico daquela população, que fora apenas deslocada para outras áreas, bem como o fato de o Centro Histórico se tornar, cada vez mais, um grande cenário desabitado (BRAGA;JÚNIOR, 2009).

Nas primeiras cinco etapas do programa, cerca de 1.900 famílias haviam sido removidas e indenizadas, com valores de R$1.222,00 aproximadamente para cada uma. De acordo com Sant”Anna (2017, p. 92), até este momento, os moradores não haviam resistido à saída dos imóveis uma vez que, segundo consta em pesquisas e estudos realizados pelo IPAC à época, não existia uma organização comunitária que os auxiliasse a perceber a situação para além das indenizações que, apesar de irrisórias, os atraíam diante da extrema pobreza em que viviam. No final das contas, várias dessas famílias acabavam ficando sem lugar para morar, pois para elas não era oferecida possibilidade de adquirir moradia por meio de sistemas de financiamento de cunho social.

Imagem 16: Largo do Pelourinho no início dos anos 1990 Fonte: https://www.google.co m/url?sa=i&source=images&c d=&cad=rja&uact=8&ved=2ah UKEwies_HOp5TkAhW3D7k GHXLeBvsQjhx6BAgBEAI&ur l=http%3A%2F%2Flabhab.fa u.usp.br%2Fbiblioteca%2Ftex tos%2Fnobre_intervencoes_u rbanas_salvador.pdf&psig=A OvVaw0BOuXZexMdjiupmrkz H9tx&ust=156648872351464 7 Acesso: 21/08/2019

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A única alternativa de permanência oferecida à população residente foi a formalização de contratos de aluguel ou de concessão nos imóveis recuperados, com valores bem mais altos. A opção da grande maioria pela indenização, na realidade, foi vantajosa para o governo estadual, pois assumira responsabilidade do reassentamento dos moradores na própria área ou em outras da cidade, seguindo os princípios recomendados para esse tipo de ação, sairia muito mais caro. (SANT’ANNA, 2017, p. 92- 93)

Em 1994, após alguns estudos apontarem que o principal público do Centro Histórico, mesmo em épocas de alta temporada turística, era composto pela população da própria cidade, o Governo do Estado passou a investir em eventos e shows que aconteciam no interior dos (quarteirões que sofreram intervenções para atenderem a essa demanda), a fim de manter uma frequência média de visitantes, sobretudo os de outras cidades do país e do exterior. Após 1996, as intervenções foram se tornando mais lentas tendo sido executadas, até 1999, apenas a quinta e sexta etapas. Em 1999, teve início a implementação da sétima etapa que trouxe consigo o “Projeto Habitacional do Centro Histórico”. A primeira ação nesse sentido foi o “Projeto Rememorar”, construído através de uma parceria entre o estado e a Caixa Econômica Federal (CEF), para destinar habitações para servidores do Estado com renda de até seis salários mínimos.

CONTEXTO DO ENUNCIADOR: