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De acordo com dados recentes da Rede Nacional de Identificação de Museus (RENIM/IBRAM, 2016), o estado de Sergipe possui 36 museus, 19 dos quais estão situados

em Aracaju. Com uma tipologia diversificada, o acervo museológico sergipano está dividido em: antropológicos e etnográficos, arqueológicos, artes visuais, ciências naturais e história natural, tecnologia, imagem e som, artes visuais e história.

O primeiro museu de Sergipe, datado no ano de 1912, está localizado no interior do Instituto Histórico-Geográfico de Sergipe e foi caracterizado por Nunes (2008) como um gabinete de curiosidades que retratava o atraso da museologia científica no estado, pois em outras unidades da federação os museus de ciência estavam voltados à instrução e estudos científicos dos objetos (OLIVEIRA, 2008). Em 1942 foi inaugurado o segundo museu – Museu Histórico Horácio Hora. No ano de 1950 surgiu o Museu de Arte e Tradição, resultante do colecionismo de José Augusto Garcez24.

Dez anos depois, em 1960, por meio de uma ação do poder público estadual, foi criado o Museu Histórico de Sergipe, localizado em São Cristóvão, que durante “os anos 1970/1980 foi o órgão que esteve envolvido com o processo de formação, organização e montagem de outras instituições museológicas. A partir do Museu Histórico e sob diversas tutelas foram sendo criados museus, casas de cultura e memoriais” (NUNES, 2008, p.120). Resultante das ações de promoção do patrimônio histórico e em consequência do tombamento de Laranjeiras como cidade monumento histórico25 foram criados o Encontro Cultural de Laranjeiras e o Museu Afro-Brasileiro de Sergipe, em 1976 – primeira iniciativa nesse sentido no Brasil – , e Museu de Arte Sacra, em 1978.

Segundo o Ibram26 (2011), a maior parte dos museus do Estado de Sergipe foi criada entre 1971 e 1980. Este dado difere do ocorrido no restante do país, em que o período de maior dinamismo na fundação de museus ocorre a partir da década de 1980 e tem seu auge na década de 1990. É interessante observar certo descompasso na criação dos museus em Sergipe em contraponto com os museus que estavam sendo criados no país, pois as instituições sergipanas foram criadas sob o involucro da curiosidade e sem uma organização de narrativas, uma preocupação com a pesquisa e a documentação do acervo.

Sobre a precariedade das instituições museológicas nas regiões Norte e Nordeste, Chagas (1989) afirma que o bem cultural ainda sobrevive, não se sabe até quando, nos museus e fora deles e necessita ser conhecido, inventariado, estudado, preservado e utilizado,

24 Considerado o grande precursor dos estudos sobre museus de Sergipe (SANTOS, 2014). 25 Decreto nº 2.048, de 12 de março de 1971.

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A publicação Museus em Números apresenta dois volumes: o primeiro com dados gerais sobre a política nacional de museus, e um segundo, subdividido em dois – A e B –, que trazem uma análise detalhada por estado da federação. Neste capítulo tomamos para reflexão crítica os dados sobre Sergipe.

revelando assim a ausência de um cuidado específico da área com os museus. Nunes (2008) complementa e atualiza a assertiva no âmbito local, ao afirmar que os museus sergipanos, até os anos iniciais dos 2000, antes da inauguração do curso de museologia na UFS em 2007, apresentarem fortes características tradicionais e classificados como históricos, enfrentam problemas como a condição de manutenção e compartilhamento com a comunidade sobre a preservação do patrimônio.

Dentro da dimensão econômica das propostas da política nacional de museus, desenvolvida durante os governos Lula e Dilma, estava o processo de desconcentração do orçamento público federal voltado aos museus. Isso foi muito importante para o crescimento dos museus no Nordeste, e consequentemente para a mudança do perfil dos museus sergipanos.

Nesse contexto, Nunes (2008) destaca a carência de profissionais, o que leva às consequências negativas sobre o papel de atrativo turístico e de consumo cultural dos museus sergipanos. Tal retrato levou Sergipe a ser escolhido como um dos primeiros estados brasileiros a receber do então Departamento de Museus (DMU/MinC) as oficinas e capacitações para profissionais de museus entre os anos de 2005 e 2007. Foram elas: Planejamento Museológico: princípios e métodos, em 2005; Planejamento de exposições museológicas, em 2005; Ação cultural e educativa em museus, em 2006; Treinamento de equipes administrativas e de apoio, em 2006; e Museus e turismo, em 2007. No ano de 2007 foi criado o curso de Museologia da Universidade Federal de Sergipe, cujo campus, instalado num casario histórico na cidade de Laranjeiras, foi entregue em 2009.

O Ibram, nesse sentido, buscou organizar os recursos oriundos do Programa Museu, Memória e Cidadania27, devido à ampliação do orçamento para a área, através de uma política de editais como um dos seus fundamentos, buscando uma desconcentração regional e expansão dos recursos. Para Nascimento e Colagno (2010), apesar de os resultados serem modestos, em relação às regiões Sudeste e Nordeste, eles mostram o crescimento nordestino. “Nesse caso, a participação da região Sudeste no total de recursos mobilizados dos museus passou de 78,73%, em 2001, para 65,98%, em 2007, enquanto a participação da região Nordeste passou de 7,18%, em 2001, para 23,84%, em 2007” (idem, 227-228).

Apesar do crescimento, o contexto encontrado em Sergipe, como também em muitos estados nordestinos, e a necessidade de atualização dos profissionais por meio das oficinas

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Esse programa tem por objetivo o fortalecimento dos museus brasileiros por meio da garantia de seu custeio, do aperfeiçoamento permanente de seus serviços e estruturas, e da capacitação técnica de seus quadros (MINC, 2007).

expõem uma triste tradição das políticas públicas para o patrimônio e para os museus: o despreparo de trabalhadores culturais fora dos grandes centros de pesquisa acadêmica que leva ao enfraquecimento de uma participação mais competitiva da política de editais; má distribuição dos recursos orçamentários; e os perigos de uma política pública voltada para o estímulo do consumo cultural numa visão utilitarista de cultura. Em outras palavras, os museus converteram-se em equipamento cultural estratégico, com a readequação da instituição como mediadora de várias expressões artísticas, e em alternativa ao desenvolvimento de uma economia da cultura de maior força de influência dentro do Estado.

Para uma melhor exposição das mudanças e ações da política nacional para museus em Sergipe, abordaremos, no próximo item, sobre as atividades e parcerias realizadas entre o MinC e a Secult na promoção das instituições museais.