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Ao estabelecer uma idade mínima para aposentadoria, a reforma da previdência acaba com a modalidade de aposentadoria por tempo de contribuição. O fator previdenciário também deixa de existir, sendo aplicado apenas na regra de transição com pedágio de 50%, que é opcional e se destina apenas aos segurados a dois anos de completar o tempo mínimo de contribuição. As idades mínimas de 62/65 anos passam a ser regra geral para aposentadoria.

Na aposentadoria por tempo de contribuição, a idade do segurado não é o fator determinante para aquisição da prestação previdenciária. O tempo de contribuição é a condição para a jubilação do contribuinte. A proteção previdenciária se afasta dos riscos sociais e cuida do longo tempo de contribuição do segurado, que conseguiu verter pagamentos por muitos anos em favor do seguro social.

A tutela dos riscos sociais, desempenhada pela previdência social pública, precipuamente destinada a proteger os segurados de eventos como a idade avançada, doença, invalidez e morte, é afastada nas aposentadorias por tempo de contribuição. As dessemelhanças entre as modalidades de aposentadorias por tempo de contribuição e por idade não ficam somente nas questões relacionadas ao tempo de contribuição e a idade para concessão das prestações previdenciárias.

Se comparadas as idades médias para aposentadoria no ano de 2018, temos uma diferença significativa nas idades para aquisição das prestações entre as aposentadorias por idade e por tempo de contribuição. Segurados que se aposentam por tempo de contribuição, conseguem suas prestações em média aos 54 anos. Já aposentados por idade, adquirem a

prestação previdenciária em média aos 61 anos. Trabalhadores urbanos se aposentam por idade em média aos 63 anos e os trabalhadores rurais aos 58 anos de idade em média38.

Considerando que os trabalhadores rurais possuem uma regra diferenciada para aposentadoria por idade, com redução de cinco anos na idade para aquisição da prestação, sendo 55 anos para mulheres e 60 anos no caso dos homens, ambos com carência de 180 contribuições, as distinções entre as idades para aquisição das aposentadorias ficam mais claras quando comparadas as prestações entre os trabalhadores urbanos. Notadamente, as diferenças adotadas em favor dos segurados rurais, buscam atender as particularidades dos trabalhadores do campo, que também suportam as menores rendas.

Com uma equação simples, chegamos a diferença de 9 anos na concessão das aposentadorias por idade e por tempo de contribuição pelo Regime Geral de Previdência Social. As prestações previdenciárias por idade para os segurados urbanos ocorrem em média aos 63 anos de idade. As prestações por tempo de contribuição, que majoritariamente são destinadas aos contribuintes urbanos são concedidas em média aos 54 anos de idade.

A diferença de nove anos entre as modalidades de aposentadoria para que o segurado consiga sua prestação, mostra a desigualdade da proteção previdenciária no Brasil. Quando observamos os valores médios das prestações, essa disparidade se mostra notável. Em dezembro de 2018, segundo o Boletim Estatístico da Previdência Social, o valor médio das aposentadorias por idade urbana foi de 1.143,17 reais, já as aposentadorias por tempo de contribuição, no mesmo mês, alcançou a média de 1.988,17 reais. Uma diferença de aproximadamente 74% no valor médio entre as duas modalidades de aposentadoria.

Em julho de 2019, último mês com dados disponíveis, os valores médios na concessão das prestações previdenciárias também se mostram discrepantes. As aposentadorias por idade urbanas concedidas em julho/2019 tiveram um valor médio de 1.313,03 reais. As aposentadorias por tempo de contribuição, no mesmo mês, foram concedidas em média no valor de 2.426,99 reais39. A diferença com os números de julho de 2019 foi de

38 SECRETARIA DE POLÍTICAS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. Coordenação-Geral de Estatística,

Demografia e Atuária. Boletim Estatístico da Previdência Social, dezembro 2018. Volume 23. Número 12. Brasília: Assessoria de Comunicação Social, 2018. p. 57

39 SECRETARIA DE POLÍTICAS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. Coordenação-Geral de Estatística,

Demografia e Atuária. Boletim Estatístico da Previdência Social, julho 2019. Volume 24. Número 7. Brasília: Assessoria de Comunicação Social, 2019. p. 12

aproximadamente 85%, com as prestações por tempo de contribuição ampliando percentualmente os seus valores em relação às prestações concedidas por idade.

Os dados do Regime Geral de Previdência Social mostram que as aposentadorias por tempo de contribuição são concedidas em média 9 anos antes das prestações por idade e com valores 85% maiores. Os números relacionados aos segurados rurais podem aumentar a distância entre as modalidades, porém, devido às características próprias dos segurados rurais, nossa comparação concentra-se nas prestações previdenciárias dos contribuintes urbanos.

Sem embargo, nas aposentadorias por tempo de contribuição, os segurados precisam comprovar 30/35 anos de pagamentos para o seguro social. Em um país com altas taxas de desemprego, uma tarefa das mais difíceis. Embora elevado em comparação aos valores das aposentadorias por idade, a cifra de 2.400 reais para que o aposentado no Brasil tenha uma vida digna, merece uma análise criteriosa.

Nesse sentido, as mudanças promovidas pela reforma da previdência da Emenda Constitucional nº 103/2019, especialmente a que se refere à imposição de uma idade mínima para aposentadoria e a extinção da modalidade por tempo de contribuição, possui potencial para aproximar as idades médias na concessão das prestações previdenciárias dos segurados do Regime Geral de Previdência Social.

Os segurados a que se destinam as aposentadorias por idade, mantidas as carências para os contribuintes que já são filiados ao RGPS, terão um impacto significativo com o novo cálculo das prestações, mas não em relação às idades para concessão das aposentadorias. A idade dos homens será mantida em 65 anos, já as mulheres terão que aguardar a idade de 62 anos, com um pequeno prejuízo para elas, que em 2018 se aposentaram por idade em média aos 61,46 anos. Homens que ingressarem no RGPS após a reforma, serão obrigados a cumprir uma carência de 240 contribuições, um aumento que pode dificultar o acesso as prestações.

As aposentadorias por idade, que atendem aos segurados de menor renda, com prestações previdenciárias em valores médios próximos a 50% dos montantes médios pagos nas prestações por tempo de contribuição, podem experimentar reduções com a reforma. As novas regras de cálculo das prestações estabelecem que os segurados com 15 anos de contribuição receberão 60% das médias de todas as contribuições desde julho de 1994.

A não exclusão das 20% menores contribuições junto com o acréscimo de 2% por ano de contribuição somente para as mulheres que ultrapassarem 15 anos de pagamentos e no caso dos homens, aos que ultrapassarem 20 anos de recolhimento, reduzirá os valores das aposentadorias por idade. As mudanças nas prestações por idade atingirão os segurados mais carentes do RGPS, com consequências aos direitos sociais dos trabalhadores de menor renda.

Os segurados que possuem menor renda e eventualmente menor escolaridade, apresentam dificuldades para comprovar o tempo de contribuição. Também são mais atingidos pelo desemprego, com períodos alternados de contribuição e informalidade. Essas características reservam para os contribuintes de menor renda a possibilidade de aposentadoria por idade, pois seu tempo de contribuição comprovada tende a ser menor.

3 OS IMPACTOS DA EXIGÊNCIA DE UMA IDADE MÍNIMA PARA

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