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MATERIALIZAÇÃO DE UMA FACHADA

4.4. Apple Inc

Imagem 14- Fachada Apple Inc

Fonte: http://www.novayorkparabrasileiros.com/apple-store-em-nova-york/

A loja Apple está localizada na 5th Avenue, em Nova Iorque. Seu projeto foi realizado pelo Escritório de Arquitetura Bohlin Cywinski Jackson – Arquiteto Bohlin Cywinski Jackson, com execução de Eckersley O’Callaghan – Structural and Facade Engineers no ano de 2006 e passou por uma reforma no ano de 2011. A loja propriamente dita se encontra resguardada ao subsolo. Acima do nível do solo está um grande marco que define e justifica a existência da loja.

Do ponto de vista criativo para a publicidade, está no caráter minimalista, adotado para a demarcação do acesso principal da loja, sua característica mais marcante. O símbolo da marca se coloca centralizado em uma estrutura quadrada, caráter semelhante aos aparelhos

eletrônicos da marca, o que lhe confere unidade visual. Não há distrações. O foco é voltado totalmente para o símbolo da marca, que reflete o seu grande reconhecimento social, uma vez que a marca não precisa mais usar seu nome, mas somente seu símbolo e mesmo assim há o reconhecimento. O acesso é posicionado ao meio, abaixo do símbolo. Essa escolha criativa se dá com ênfase em dar à marca um caráter quase intangível de significado. Aqui se configura um aparato de publicização, de Casaqui, com a marca sendo utilizada extrapolando os limites da publicidade tradicional.

Do ponto de vista estético e visual para a publicidade, podemos perceber que a estrutura apresenta simetria e equilíbrio. O bloco onde a fachada se insere é um cubo, que apresenta em seu interior o símbolo centralizado, bem como o acesso. Isso confere equilíbrio e simetria à construção. Além disso, a estrutura dos vidros forma um grid, que contribui para a distribuição dos elementos em uma fachada que se assemelha a um layout.

Do ponto de vista estratégico e midiático para a publicidade, o enfoque dado para a marca é de essencial importância, uma vez que a fixação da marca para os consumidores se dá a partir de uma significação subjetiva, que em todo caso apresenta relação com a exposição do consumidor à marca.

Do ponto de vista criativo para a arquitetura, a fachada da loja em si se assemelha a um grande objeto em exposição. Dando para a marca um caráter artístico e de algo que deve ser protegido e preservado, tal qual um patrimônio cultural. O material utilizado, o vidro, apresenta também relação com as redomas utilizadas nas exposições de arte e ao mesmo tempo têm como função servir como uma pele de vidro para o símbolo que está em seu interior, que ao mesmo tempo permite sua visualização e ainda protege o interior da loja, que está no subsolo.

Do ponto de vista estético e visual para a arquitetura, a construção acima do nível do solo, que caracteriza a fachada da loja cria um padrão estético semelhante ao utilizado nos aparelhos eletrônicos da Apple. A construção é minimalista, com foco na marca, simétrica e equilibrada, como dito anteriormente.

Do ponto de vista projetual da arquitetura, a decisão por localizar a loja no subsolo e demarcar seu acesso a partir de uma estrutura em vidro dá leveza à construção. O caráter minimalista limita a exploração da construção, mas ao mesmo tempo é coeso, coerente e lógico. É interessante notar que a loja, após sua inauguração, adquiriu mesmo um caráter de obra de arte, uma vez que muitas pessoas a visitam diariamente para conhecer e tirar fotos. Esse aspecto curioso mostra que o objetivo do projeto foi atingido: elevar a marca a um patamar de obra de arte.

Podemos notar aqui que essa fachada também trabalha com a proposta do ready-made, trazendo as obras de arte para as ruas, para o urbano e fazendo-se ressignificar para os sujeitos que por ela passam. É importante notar que não estão envolvidos somente os campos da publicidade e da arquitetura nessa composição, mas também o campo das artes.

Em princípio, é importante salientar que pudemos perceber nesse trabalho a comunicação, a partir de sua linguagem, como o alicerce de todo e qualquer campo, inclusive os que aqui tratamos. É ela que permite que os o estabelecimento do habitus e dos campos sejam possíveis e consequentemente que os campos existam. Isso porque os habitus são construções de determinada ordem social que são possíveis apenas através do contato e da reprodução de um determinado fazer. Além disso, ela também contribui grandemente para a manutenção e perpetuação das instituições.

Com isso, podemos perceber que não é possível falar desse trabalho sem falar de linguagem. Primeiramente a linguagem que possibilita ao leitor absorver as palavras aqui escritas e compreendê-las à sua maneira. Em segundo momento, a linguagem que nos possibilita falarmos especificamente de cada campo, visto que cada um constrói sua própria linguagem e disso derivam as práticas.

Tocando nesse ponto, percebemos que ao falar a linguagem do urbanismo, encontramos nela pontos comuns a outros dois campos: a publicidade e a arquitetura. Por isso, podemos afirmar que é o ambiente urbano e a construção social feita através dos tempos que possibilitam a materialização da publicidade e da arquitetura, já que os objetos do mundo são construídos para serem vistos, na intenção de que exista um observador ou consumidor para aquilo que se produz. Por isso nascem as fachadas. Assim como nosso rosto define nossa identidade, as fachadas são os rostos que definem as edificações.

Podemos perceber que tanto a publicidade quanto a arquitetura passaram por mudanças durante sua história. Essas mudanças tendem a ser cada vez mais significativas se realmente se concretizarem projetos como os propostos nesse trabalho, de interseccionar campos que passaram por institucionalizações. Podemos perceber então, que as instituições nos mantêm e as mudanças dos campos nos movem. Digo isso pois as instituições são a base de regulamentação que sustenta todo o edifício social e o campo com todas as suas dinâmicas nos possibilita, a partir da construção de habitus, mudanças significativas na construção de novas formas de fazer, aqui refletidas a partir da publicidade e da arquitetura.

Ainda refletindo sobre habitus publicitários e habitus arquitetônicos, podemos ver que há muito mais em comum do que realmente esperávamos encontrar. Os dois campos se mostraram extremamente próximos. Pudemos perceber que o processo de ambos se dá de forma semelhante. Ambos passam pelo briefing, pelo planejamento, pelo brainstorming e acabam se

afastando no momento da materialização do produto final, a publicidade se valendo da mídia e a arquitetura se valendo do projeto. Por isso, vemos nesse processo uma grande oportunidade para interseccionar os dois campos, uma vez que o trabalho, até certo ponto, pode ser conjunto e colaborativo.

A reflexão feita em todo o trabalho nos leva entender que tanto o campo da publicidade quanto o campo da arquitetura estão inseridos em um campo maior, o campo social, que tem todas as suas práticas e habitus. É importante percebermos que existe uma estrutura por trás desse campo e que o ensino da publicidade e da arquitetura se ligam intimamente com a educação de base, já que um profissional se forma desde os primeiros anos de aprendizado e não somente a partir da graduação. Por isso, ressaltamos a importância de uma mudança também estrutural dentro do campo social, a partir da educação de base, que estimule a criatividade e a percepção crítica dos estudantes desde os primeiros anos de contato com o aprendizado institucional.

Nosso principal impasse na construção da intersecção entre os campos da publicidade e da arquitetura está em entender como lidar com o processo que gera esse novo campo, uma vez que é proposta uma reformulação; posteriormente esses mesmos habitus geram um campo, que se institucionaliza e logo se fecha novamente, criando outro campo engessado e pouco ou nada aberto a novas práticas criativas. De todo modo, é fundamental que existam movimentos que tensionem os campos à mudança, uma vez que o social, campo maior onde as dinâmicas acontecem, é um campo fluido e pré-disposto ao novo, ao criativo e ao inovador.

É essencial, da mesma forma, que existam sujeitos dispostos a fazer as intersecções entre os campos, que possam originar as práticas e propor novas formas de atuação baseadas em protocolos que se originam tanto do campo da publicidade quanto o campo da arquitetura.

Além disso, em nossas análises pudemos perceber que há muitas variáveis no processo de criação de uma fachada comercial, mas que todas elas podem ser contempladas a partir de um processo colaborativo, onde a publicidade e a arquitetura desenvolvem conjuntamente soluções para a inserção da edificação no cenário urbano, através de estruturas arquitetônicas- midiáticas.

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