• Nenhum resultado encontrado

A conservação e a reabilitação de edifícios em Portugal é um assunto cada vez mais premente na área da Engenharia Civil, não só pela carência que existe em conservar e reabilitar o edificado que se encontra num elevado estado de degradação, como também pela necessidade que existe em melhorar as técnicas e os materiais utilizados durante todo o processo de intervenção. Entre os vários tipos de edifícios existentes encontram-se as construções em terra, que eram muito utilizadas no passado, que durante umas décadas foram abandonadas e que hoje têm vindo a ser de novo intervencionadas – muitas vezes de forma errada.

Todo o trabalho realizado durante a campanha, teve como base uma pesquisa bibliográfica, de forma a perceber a evolução das técnicas utilizadas, nomeadamente no que diz respeito à caracterização da utilização da terra como material de construção. Foram abordados alguns aspetos no que diz respeito às características dos materiais propriamente ditos, bem como a forma como são utilizados na formulação de argamassas. Ao mesmo tempo, este trabalho procura ser um contributo para o melhor conhecimento das argamassas mistas de terra e cal, reforçando assim a importância que estes materiais têm no presente, e a possibilidade que têm de vir a ser utilizados no futuro.

Esta situação foi despoletada em virtude deste trabalho utilizar como caso de estudo um edifício antigo de alvenaria de granito situado no Vale das Lobas, Fornos de Algodres, distrito da Guarda, que foi construído com argamassa de assentamento de terra, ainda existente em parte da alvenaria, e ter sido incorretamente intervencionado com argamassas de cimento para refechamento de juntas.

Com base em materiais tanto quanto possíveis locais e semelhantes aos utilizados originalmente, a campanha experimental propriamente dita permitiu perceber de que forma a variação do tipo e da proporção dos constituintes das argamassas pode alterar significativamente as suas características, nomeadamente no que diz respeito ao comportamento mecânico, ao comportamento quando em contacto com a água, bem como o seu aspeto visual. Nesta fase do trabalho foi possível avaliar o comportamento das argamassas em dois estados distintos – estado fresco e estado endurecido através de provetes prismáticos, cilíndricos e aplicações sobre tijolo. Inicialmente foi avaliada a trabalhabilidade através do ensaio de consistência por espalhamento, que mostrou que todas as argamassas à base de terra estão de acordo com a norma DIN 18946 para argamassas de assentamento (embora dedicada apenas a argamassas de terra não estabilizadas, mas que se utilizou como referência) uma vez que os valores se situam perto valor de referência, e que com variações da quantidade de água, os valores de espalhamento não

Conclusões

86

variam significativamente para trabalhabilidades comparáveis. Ainda no estado fresco foi possível concluir que todas as argamassas apresentam classes altas de massa volúmica.

No que diz respeito à avaliação das argamassas no estado endurecido com recurso aos provetes realizados, foi possível perceber durante a desmoldagem (após 14 dias) que se iriam obter valores relativamente altos de retração linear. No entanto, à exceção da argamassa de terra e areia, revelaram estar dentro dos limites colocados pela norma já referida.

Estes valores mostraram que apesar da utilização de uma grande quantidade de terra, em que a presença de argila é notória, e faz com que os valores de retração sejam maiores, quando misturados com cal é possível obter uma argamassa com valores aceitáveis.

Os valores de módulo de elasticidade dinâmico encontram-se dentro dos parâmetros sugeridos em Veiga et al, (2010), uma vez que se tratam de argamassas para refechamento de juntas.

Quando avaliadas as resistências mecânicas (compressão e tração por flexão), percebeu-se que a argamassa TA é a que apresenta melhor comportamento em termos globais, e que o aumento da quantidade de terra e areia nas argamassas mistas piora as resistências mecânicas. A argamassa CTA2 apresentou uma ligeira melhoria de Rf em relação à argamassa só de terra, no entanto com redução da Rc. A adição de resíduos cerâmicos à argamassa de cal também revelou ser benéfica, melhorando tanto a resistência à tração por flexão como à compressão.

No que diz respeito ao comportamento face à água, foi possível concluir que estes ensaios são destrutivos para as argamassas só de terra, e que a rugosidade da face de qualquer argamassa que está em contacto com a água, pode ser determinante para os resultados do ensaio. Concluiu- se também que as argamassas mistas de cal com terra apresentam um ligeiro decréscimo do VA, à medida que se aumenta a quantidade de terra e areia, ainda assim com valores superiores às restantes argamassas. Em relação ao CC, a argamassa de terra e areia apresentou um valor muito inferior às restantes argamassas; a adição de resíduos à argamassa de cal fez diminuir este valor e nas argamassas mistas de cal com terra não se verificou sempre a mesma tendência. Durante o processo de secagem, o aumento da quantidade de terra e areia nas argamassas mistas revelou um aumento da taxa de secagem TS1 e TS2, ou seja, maior facilidade na secagem. Da mesma forma, houve uma redução no índice de secagem destas argamassas, que denota uma maior capacidade de secagem global. Nas argamassas CA e CARc, pode concluir-se que adição de pó cerâmico não foi importante na alteração do comportamento de secagem.

Há ainda que referir que em vários ensaios (Ed, Rc, Rf, VA, IS) o comportamento das argamassas CTA3 e CTA4 revelou ser bastante semelhante, o que pode mostrar que a partir de uma determinada proporção de terra as argamassas mantêm as suas características.

Conclusões

87 Em termos de condutibilidade térmica, as argamassas mistas de terra e cal revelaram um melhor comportamento do que as argamassas só de cal ou só de terra. Assim, torna-se vantajoso utilizar argamassas mistas para obter materiais elementos construtivos mais isolantes. Da mesma forma, a adição de resíduo cerâmico à argamassa só de cal apresentou melhores resultados.

No entanto, esse constituinte revelou ser penalizante no ensaio de absorção a baixa pressão. Qualitativamente foram obtidos os mesmos resultados para os diversos ensaios de absorção de água a baixa pressão.

A análise da pedra proveniente do local, revelou resultados bastante insatisfatórios, tendo em conta o estado em que a construção se encontra, e a duração da exposição dos materiais aos agentes atmosféricos.

Tendo em conta todos os resultados obtidos nos ensaios realizados, bem como o objetivo do trabalho em encontrar uma argamassa de assentamento simultaneamente eco-eficiente e com boas características físicas e mecânicas, é possível concluir que argamassa CTA2, de cal aérea, terra local e areia britada ao traço volumétrico 1:2 de cal e agregado, apresenta no geral melhores resultados face às argamassas de referência. No entanto considera-se bastante importante a avaliação da aderência ao suporte, nomeadamente na alvenaria de pedra do caso de estudo. Ao mesmo tempo pode concluir-se que as argamassas mistas de terra e cal podem muitas vezes ser mais eficientes no campo da construção e da reabilitação, quando comparadas com argamassas só de terra ou só de cal, tornando-as argamassas mais rentáveis do ponto de vista económico e ambiental.

Documentos relacionados