• Nenhum resultado encontrado

3 O NARCOTRÁFICO NO CONTEXTO REGIONAL

3.3 O NARCOTRÁFICO NA FRONTEIRA BRASILEIRA

3.3.2 Apreensões

Os dados apresentados representam as apreensões feitas apenas pela

Polícia Federal. Serão mostrados os dados referentes às drogas tradicionais,

cocaína e maconha. A tabela abaixo revela as apreensões feitas de 1998 até 2010:

TABELA 2 - APREENSÕES DE DROGAS DA POLÍCIA FEDERAL

ANO MACONHA COCAÍNA (KG)

1998 29.167,031 5.843,799 1999 62.309,703 5.709,934 2000 159.073,152 4.739,004 2001 145.908,624 8.325,834 2002 190.723,847 9.144,662 2003 166.254,292 9.260,474 2004 153.875,46 7.199,38 2005 151.044,80 15.656,84 2006 161.302,98 13.387,51 2007 196.830,50 16.510,76 2008 187.109,75 19.617,41 2009* - - 2010 154.235,74 27.065,67**

*Os dados referentes ao ano de 2009 não foram encontrados FONTE: Departamento da Polícia Federal, relatórios anuais.

Com a tabela é possível perceber um crescimento das apreensões de

drogas. Comparando os números de 1998 aos de 2010 temos um crescimento de

528% para a maconha e de 463% de apreensões de cocaína. Além do grande

crescimento de apreensões, a tabela revela reflexos do Plano Colômbia e da

Iniciativa Andina com o salto de apreensões de 2000 para 2001, onde foram

praticamente dobradas as apreensões de cocaína e com a constante crescente de

apreensões de cocaína nos anos sequentes. O Plano Colômbia foi iniciado em 2002,

como uma iniciativa conjunta dos países andinos para acabar com o tráfico de

drogas. Neste ano as apreensões de maconha tem o maior registro de 1998 a 2006

e as apreensões de cocaína sobem exponencialmente se comparadas aos anos

anteriores. Em 2002 foram apreendidos 9.144,662kg de cocaína, ao passo que dois

anos antes, em 2000, foram apreendidos 4.739,004kg.

No caso específico da maconha é possível perceber que as apreensões

aumentaram no primeiro ano do Plano, depois apresentam queda nos anos de 2003,

2004 e 2005. Apenas no ano de 2006 os números crescem novamente, atingindo o

pico máximo em 2007. Segundo entrevista concedida pela Polícia Federal

30

, isso se

deve ao reajuste da rota do tráfico da maconha, que anteriormente era produzida por

Colômbia e Peru, passa por um ajuste nos anos de 2003 e 2004, para, a partir de

então, ser produzida em maior escala no Paraguai. Ainda segundo o entrevistado,

30

Entrevista concedida a autora no dia 08 de agosto de 2012, às 14 horas, na sede do Departamento da Polícia Federal de Curitiba, pelo agente Gildeto Meire, membro integrante do Departamento de Combate ao Tráfico de Drogas. MEIRE, Gildeto. Apreensões de maconha. Curitiba, 2012. Informação verbal.

durante os anos de 2005 e 2007 a fiscalização brasileira se adapta a nova rota da

maconha e os resultados podem ser vistos em 2010, conforme aponta a tabela

abaixo:

TABELA 3 - APREENSÃO DE MACONHA NO ANO DE 2010 POR ESTADO

Estado Apreensão

DPF/Paraná 80.187,09kg

DPF/Mato Grosso do Sul 47.873,40kg

DPF/Mato Grosso 909,26kg

DPF/Rio Grande do Sul 581,24kg

DPF/Santa Catarina 307,14kg DPF/Amazonas 264,32kg DPF/Rondonia 106,03kg DPF/Pará 18,78kg DPF/Roraima 8,03kg DPF/Acre 1,15kg DPF/Amapá 0,00kg

FONTE: Departamento da Polícia Federal (2012)

O Paraná foi o estado fronteiriço que mais apreendeu maconha no ano de

2010. Os estados do Paraná, do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul representam

juntos 83,6% das apreensões de maconha no ano de 2010 de todo o Brasil, sendo

que o Paraguai faz fronteira com o Paraná e com o Mato Grosso do Sul.

A rota do tráfico de cocaína passou por uma alteração diferente da rota da

maconha. Antes do Plano Colômbia, o tráfico de cocaína era feito principalmente via

Amazônia. Com o Plano Colômbia passa por uma diminuição da produção de coca.

O resultado disso foi o aumento da plantação de coca na Bolívia e no Peru, suprindo

a demanda por coca e ocupando o mercado que ficou sem fornecedor. Com isso, no

Brasil, a rota da cocaína ficou mais pulverizada, sendo registrados os maiores

índices de apreensões na fronteira com a Bolívia, no Mato Grosso do Sul e Mato

Grosso, seguidos pela fronteira com a Colômbia, Amazonas, para depois voltar para

a fronteira com a Bolívia e com Rondônia, conforme demonstra a tabela:

TABELA 4 - APREENSÃO DE COCAÍNA NO ANO DE 2010 POR ESTADO

Estado Apreensão

DPF/Mato Grosso 3.570,48 kg

DPF/ Mato Grosso do Sul 2.987,36kg

DPF/Amazonas 1.836,72kg

DPF/Rondônia 1.445,61kg

DPF/Paraná 1.003,71kg

DPF/Rio Grande do Sul 869,84kg

DPF/Acre 851,85kg

DPF/Pará 291,17kg

DPF/Santa Catarina 236,71kg

DPF/Roraima 84,06kg

DPF/Amapá 47,95kg

FONTE: Departamento da Polícia Federal (2012)

Os estados que fazem fronteira com a Bolívia – Mato Grosso, Mato Grosso

do Sul, Rondônia e Acre – representam juntos 32,7% das apreensões de cocaína.

Enquanto na fronteira com a Colômbia, o Amazonas representa 6,7%.

Sendo assim, os dados coletados junto a Polícia Federal comprovam a ideia

proposta ao início do capítulo, o Plano Colômbia alterou a rota do tráfico na América

do Sul. A comprovação é vista por meios dos dados que mostram que as

apreensões não apenas aumentaram, como também, mudaram de estados, os

estados ao centro oeste e sul do Brasil constituem, após o Plano, a rota do tráfico de

cocaína. Além disto, os dados mostraram que a maconha consumida no Brasil não é

somente de produção interna, mas também é trazida do Paraguai, como confirmam

os números ao colocar o Paraná como principal estado de apreensão de maconha.

Conclui-se que o objetivo deste capítulo foi demonstrar como a questão do

tráfico de drogas passou por grande debate no cenário internacional, fez parte da

agenda das Nações Unidas, para depois ser foco da atenção dos Estados Unidos,

que centralizam seus esforços na região latina, especificamente na América do Sul,

no que concerne ao tráfico de drogas. Com esse foco norte-americano, a dinâmica

do tráfico de drogas no sul do continente muda, impactando nas fronteiras

brasileiras. O resultado foi a intensificação do tráfico de drogas principalmente nas

fronteiras Sul e centro-oeste, especificamente nos estados do Paraná, Mato Grosso

e Mato Grosso do Sul, que fazem parte do recorte geográfico do presente trabalho.

No próximo capítulo, será examinada a securitização do tema no Brasil com reflexos

nas ações desenvolvidas pelo governo brasileiro nestas fronteiras.