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Em 1979, Larry Michaelsen notou que o tamanho de sua turma havia sido triplicado de 40 para 120 alunos. Ele estava usando uma abordagem de ensino socrático baseada em casos que envolve a facilitação de discussões de solução de problemas. Ele sabia que ele tinha dois grandes desafios; a primeira era envolver uma turma numerosa na resolução eficaz de problemas, e a segunda era dar aos alunos uma razão para se preparar antes da aula [58]. Ele desenvolveu uma abordagem muito próxima da estrutura que o TBL usa atualmente.

Michaelsen se certificou de que os alunos fossem preparados usando uma abordagem engenhosa, na qual os alunos eram testados individualmente e depois em equipes. Ele percebeu que os alunos estavam discutindo ativamente o material, que de outra forma seria abordado em uma palestra, e criou a estrutura denominada de “4S” para atividades em sala de aula, onde os alunos trabalhavam em um problema significativo (Significant Problem), o mesmo problema (Same

Problem), e eles tinham que fazer escolhas específicas (Specific Choice) e fazer um Relatório

Simultâneo (Simultaneous Report) [58].

Michaelsen constatou que esse método estruturado em solução de problemas para atividades em sala de aula realmente ajudava a envolver os alunos com o conteúdo e fazia eles entenderem como aplicar seu aprendizado [58].

O TBL é uma metodologia ativa baseada em equipes centrada no estudante, pois o aluno estuda um novo material conceitual antes de ser tratado em sala de aula, e posteriormente passa um tempo significativo em sala de aula trabalhando em equipes sobre os problemas e aplicações baseado nos materiais conceituais [15]. Essa metodologia educacional tem como principal estratégia o processo de aprendizado em pequenos grupos, favorecendo ativamente o saber e motivando em cada participante a busca pelo conhecimento. Michaelsen e Sweet descreveram o TBL como uma metodologia que ultrapassa as fronteiras que garante apenas o conteúdo.

O TBL é uma estratégia de ensino colaborativo baseada em evidências projetada em torno de unidades de instrução, denominadas de módulos, que são ensinadas em um ciclo de três etapas: preparação (preparation), garantia de preparação (readiness assurance) e aplicações de atividades que reforçam o conceito em questão (application of course concepts) [59]. Essa metodologia proporciona aos discentes a oportunidade de aplicar os conceitos teóricos e práticos do curso com a finalidade de solucionar os problemas ou projetos [60].

Antes da utilização do TBL em uma disciplina, é necessário estruturar a disciplina, tal que o seu conteúdo seja dividido em módulos. A Figura 2.4 ilustra a organização do tempo de cada unidade aplicada a um módulo da disciplina utilizando o TBL. Essa sequência de atividades é dividida nas etapas de preparation, readiness assurance e application of course concepts.

Na etapa de preparação em um ambiente fora da sala de aula, o discente realiza o estudo individual. Este estudo pode ser um artigo, um capítulo de livro, uma vídeo-aula postada pelo professor ou um material encontrado na web [60]. Nesta etapa de preparação a comunicação entre aluno e professor ocorre por meio de ferramentas educacionais virtuais como por exemplo Moodle, Blackboard dentre outros.

Em sala de aula, tem-se o readiness assurance process (RAP) no qual o docente aplica um teste individual denominado de individual readiness assessment test (iRAT) para verificar se o aluno cumpriu o passo de estudo individual. Posteriormente, com equipe de cinco a sete alunos [60], fixos até o fim da disciplina, o professor aplica o teste em equipes referido como team readiness assessment

test (tRAT) com as mesmas questões do iRAT.

No RAT os alunos fazem o iRAT que pode ser composto de 5 a 20 questões de múltipla escolha. Depois de enviar suas respostas individuais, eles fazem o tRAT com as mesmas questões. Com a equipe, eles usam cartões de raspar com a resposta correta simbolizada com uma estrela. Todos os membros de cada equipe compartilham o mesmo resultado do tRAT, e os escores iRAT e tRAT contam para as notas dos alunos [59].

Ao termino do tRAT os alunos podem construir suas apelações às respostas que o time não concorda, e para fazer uma argumentação às respostas das perguntas que eles não concordaram, os alunos podem elaborar os recursos baseados em evidências e argumentos válidos e recebem um

feedback imediato a respeito destas apelações.

Para finalizar o RAP, é feito uma aula curta e específica que permite o esclarecimento dos eventuais equívocos aparentes que ocorreram durante o teste em equipe e na fase de recursos. Uma vez que estas etapas foram concluídas, o restante do tempo do módulo deve ser usado para aplicar as atividades que exigem do aluno a prática do conteúdo [60], então é desenvolvido a etapa final mostrada na Figura 2.4 application of course concepts.

O módulo exemplificado na Figura 2.4 é de 5 aulas. O iRAT ocupa de 15 a 20 minutos do tempo de aula e o tRAT é realizado em 20 a 25 minutos. Apelações e comentários em torno de 15 a 30 minutos. O restante do tempo de cada módulo é usado para esclarecer dúvidas remanescente e atividades orientadas aplicadas que também são realizadas em equipes.

Essa abordagem de teste que conta para a avaliação é importante, pois dá aos alunos um incentivo real para realizar o estudo prévio na etapa de preparação, assistir às aulas e contribuir para discussões em equipe. O RAP responsabiliza os alunos por virem para a aula preparados e trabalhando juntos com uma equipe.

O restante módulo é ocupado com atividades que ajudam os alunos a aprender como aplicar e estender o conhecimento que aprenderam e testaram previamente. As equipes recebem um problema ou desafio apropriado e precisam chegar a um consenso para escolher a melhor solução dentre as opções oferecidas. As equipes, em seguida, exibem sua opção de resposta, e o educador facilita uma discussão em sala de aula entre as equipes para explorar o tópico e as possíveis respostas para o problema [59].

O Team Based Learning foi projetado para proporcionar aos alunos o conhecimento dos conceitos e dos procedimentos. Embora, algum tempo na sala de aula seja despendido para verificar e garantir que os alunos dominem o conteúdo do curso, a maior parte deste tempo é utilizado para a solução de projetos e a resolução de problemas em application oriented activities. É importante ressaltar que nestas soluções são utilizados os conceitos aprendidos. Além disso, estes projetos e problemas são comumente encontrados no mercado de trabalho [60].

Não é uma tarefa fácil, mudar a metodologia tradicional do ensino, deixar de ser uma simples familiarização dos alunos com os conceitos do curso e passar a exigir que eles realmente usem esses conceitos para resolver os problemas. Fazer essas mudanças requer alterações nos papéis tanto dos docentes quanto dos discentes. O docente deixa de ser a principal fonte de distribuição de informações e passa a ser o responsável pela concepção e pela gestão do processo de aprendizado. Além de

preparar para o trabalho em equipe, o discente deixa de ser um receptor passivo de informações e passa a ter o compromisso com o processo de absorção dos conceitos e dos conteúdos.

Mudanças significativas como essas não acontecem automaticamente. No entanto, quando os quatro elementos essenciais do TBL são aplicados com sucesso os resultados são altamente confiáveis [60]. Estes elementos essenciais são:

 Groups - Os grupos devem ser devidamente formados e gerenciados;

 Accountability – a qualidade dos trabalhos individual e em grupo são de responsabilidade dos alunos;

 Feedback - os discentes devem receber comentários frequentes e oportunamente; e  Assignment Design – o conhecimento individual e o desenvolvimento interpessoal da

equipe são promovidos pelos trabalhos em grupo.

A utilização destes quatro elementos essenciais em um curso possibilita que a metodologia seja eficaz e contribua para que cada discente ou equipe aprenda e evolua de maneira coesa.

Para atingir objetivos educacionais mais amplos e construir uma base de conhecimento mais sólida para os discentes do curso de engenharia de telecomunicações, esta pesquisa utiliza a metodologia TBL juntamente com o desenvolvimento de soluções práticas. No âmbito educacional, o baixo custo e a flexibilidade são exigências para viabilizar essas soluções práticas. Assim, este trabalho usa o conjunto de rádio definido por software descrito no próximo capítulo.

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