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4.4 Competências gerenciais

4.4.1 Aprendizagem anterior ao exercício da função de Pró-Reitor

Para atingir o objetivo relacionado à definição das competências gerenciais necessárias aos Pró-Reitores, julgou-se necessário buscar informações sobre o modo como estes dirigentes adquirem cond ições para atuar como Pró-Reitores da UFV.

Percebeu-se que, na maioria das vezes, os entrevistados adquiriram condições para atuar através da prática gerencial na Instituição, especificamente,

nas ações do dia-a-dia, por intermédio das experiências anteriores em funções administrativas. Acredita-se que durante o exercício de funções administrativas, ao buscar a resolução de problemas, escolher alternativas mais adequadas e implementar projetos, os profissionais adquirem, seja por meio de tentativas e erros, habilidades para gerenciar.

Ahmad (1994), citado por Silva (2000), afirma que alguns acadêmicos são relutantes em reconhecer que, embora a experiência imediata pareça ser o melhor caminho para aprender administração, o método de tentativa e erro, sozinho, pode ser oneroso e ineficiente para o administrador e para a organização.

Verificou-se que, na UFV, somente essa experiência anterior prepara seus dirigentes, pois, estes não apresentaram outras formas de aprendizado. De acordo com o relato, apresentado a seguir, a experiência anterior, adquirida no exercício de outras funções administrativas na Instituição, passou a ser um pré-requisito informal para que um professor ocupe a função de Pró-Reitor:

Eu acho imprescindível que, a pessoa para ser Pró-Reitor tenha tido a oportunidade de galgar várias instâncias administrativas anteriores e de preferência que essas instâncias administrativas ora tenham sido para o lado da academia, ora tenham sido para o lado administrativo (E6).

Nos trechos a seguir, observa-se que os entrevistados foram enfáticos no que se refere ao cumprimento deste pré-requisito.

Você não forma um Pró-Reitor. Um Pró-Reitor tem que ser uma pessoa experiente, que conhece a Universidade, que tem uma certa vivência e um perfil de gerente. Esses que não têm experiência administrativa, passam algumas dificuldades porque gastam um bom período do seu tempo para adquirir experiência no próprio cargo (E10).

Apesar de a maioria dos entrevistados ter apontado o conhecimento da estrutura da Instituição como necessário, para exercício da função de Pró-Reitor, reconhecem que apenas esse conhecimento não é suficiente.

Esses conhecimentos não são suficientes, mas são relevantes. Para que a gente chegasse mais bem preparado para o exercício do cargo, deveria haver um momento preparatório. Mas, as coisas não acontecem dessa forma. A pessoa é chamada para um cargo e deve assumi-lo em seguida. Se houvesse uma capacitação, no sentido de exercitar as possíveis habilidades e atitudes, seria um avanço (E9).

Em concordância, as respostas do grupo B (composto por funcionários da UFV, em sua maioria gestores de diversos órgãos localizados em níveis

hierárquicos inferiores às Pró-Reitorias) mostram que o professor, nesta Instituição, geralmente exerce outras funções administrativas antes de ser Pró- Reitor.

O Pró-Reitor atual já foi chefe de departamento e diretor de centro. Como diretor de centro, ele já teve acesso ao conselho universitário, ao conselho departamental. Como ele era o presidente, já vivenciou todas essas questões que darão ao sujeito o embasamento para o exercício da função (E15).

Para os entrevistados, um Pró-Reitor precisa entender as repercussões de suas decisões junto a comunidade acadêmica. Afirmaram, ainda, que um professor que não tem conhecimento sobre as condições gerais de funcionamento da Universidade, de seus problemas e demandas, não teria condições de ocupar a função de Pró-Reitor.

Nessa discussão, sobre o preparo dos dirigentes, os entrevistados citaram, ainda, que as atividades desenvolvidas enquanto docente, também, contribuem com o preparo para exercer a função de Pró-Reitor. Destacaram que mobilizaram, enquanto Pró-Reitores, o conhecimento da academia, o qual é adquirido enquanto exercem a docência.

O que a gente traz de lá para cá é o conhecimento da academia. Aqui, o nosso trabalho só tem razões de existir em função da existência da academia. É necessário compreender a importância da academia para entender o que é importante fazer administrativamente. Demandas e serviços para fazer têm um monte, mas os recursos são limitados. Então, é importante fazer o que precisa ser feito (E6).

Segundo um dos entrevistados, a atuação em sala de aula ajuda-o a desempenhar a função de dirigente. Na tentativa de relacionar sua função com a de Pró-Reitor, ele exemplifica:

Vou te contar uma história. Quando eu fui convidado para vir pra cá houve muita especulação a respeito da minha vida, porque eu sou da área de educação física, e o cara da educação física, teoricamente, não é a pessoa que tenha o perfil para este cargo. Mas, nós temos uma experiência em lidar com gente e lidar de forma diferente. Isto porque nós não temos distanciamento. Quando eu entro num ginásio, o aluno não está sentado e eu estou em pé; eu visto a mesma roupa que ele veste, não adianta eu chegar lá de terno para dar aula. Então, isso me dá experiência em lidar com pessoas (E15).

Esta relação existente entre docência e atividade administrativa não é admitida por alguns entrevistados. O relato a seguir exemplifica:

Vida acadêmica não dá experiê ncia administrativa. A vida acadêmica contribui com conceitos, mas a visão administrativa vem, exatamente, com a prática da administração. Eu falo que o Pró-Reitor é muito bom, porque ele tem uma visão que vai além da Pró-Reitoria dele. Você imagina pegar um professor que nunca trabalhou na administração e colocá-lo como reitor. Como seria? (E23).

Em geral, os entrevistados mostraram-se preocupados com a situação vigente, na qual os dirigentes das universidades federais não são preparados para assumir suas funções. Apesar de reconhecerem as deficiências em relação à posse de conhecimentos gerenciais, apenas dois entrevistados citaram que buscam estes conhecimentos por conta própria. Eles lêem artigos que relatam, principalmente, casos de gestores bem sucedidos, bem como livros que ensinam princípios que “servem também para a administração da vida pessoal” (E9).

Quando questionados sobre a possibilidade de participar de treinamentos com este objetivo, todos concordaram e ainda acrescentaram que existe uma deficiência de treinamentos para funções de chefia da Universidade.

Infelizmente, o que geralmente ocorre nas organizações, principalmente públicas, são pessoas que ocupam o cargo sem o devido treinamento na área. Isto ocorre nas universidades, pois, elas pecam muito nesse sentido. Elas não possuem programas que atendam exatamente esta questão do desenvolvimento das habilidades necessárias a um líder. O que a gente vê hoje é que as pessoas que assumem as Pró-Reitorias elas foram capacitadas ao longo de suas vidas profissionais, dentro de uma universidade e aí a gente percebe que eles entendem bastante da estrutura da universidade (E22).

Observou-se que, ao discutir essas categorias, alguns pareciam acreditar que “um dia a gente vai caminhar para uma coisa mais profissional” (E1).

Nós podíamos ter a oportunidade de trabalhar na área acadêmica, mas eu acho o seguinte, lá [dentro do departamento de administração], deveria surgir um ramo, a administração universitária, e quem sabe isso vai trazer pra gente aqui, um ensinamento para sermos dirigentes mais tranqüilos (E1).

Embora os entrevistados reconhecessem que a administração na universidade tem sido mais amadora do que profissional, eles apresentaram a justificativa de que sua função principal na Instituição é a de professor e não de administrador.

4.4.2 Competências gerenciais necessárias ao Pró -Reitor na percepção do