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Aprendizagem colaborativa: mediação e diálogo

3. A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO AMBIENTE VIRTUAL

3.2. Aprendizagem colaborativa: mediação e diálogo

O diálogo, que é sempre comunicação, funda a co- laboração.

(Freire, 1987, p. 166)

O processo de ensino-aprendizagem em ambientes virtuais compreende o favorecimento de uma aprendizagem colaborativa e significativa que possibilita o intercâmbio e a construção de saberes por meio da troca e interatividade entre os participantes, mediados por professores que orientam e acompanham esses estudantes estimulando-os à pesquisa autônoma e à troca de experiências, por meio do diálogo que implica um pensar crítico.

Sem ele (o diálogo) não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação. A que superando a contradição educador-educandos, se instaura como situação gnosiológica, em que os sujeitos incidem seu ato cognoscente sobre o objeto cognoscível que os mediatiza. (FREIRE, 2010, p. 83)

Na EaD, o professor precisa reconhecer-se como um orientador - que apresenta modelos, faz mediações, explica, redireciona o foco e oferece opções –, como um co-aprendiz que colabora com outros profissionais, professores e alunos. Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo (FREIRE, 1987, p.68). Mundo ao qual se insere, agora, novo meio de se realizar educação em que, diferentemente do que se possa pensar, a figura do professor é essencial. O docente estabelece uma parceria com o estudante no processo de construção do conhecimento, aprendendo e ensinando ao longo do processo.

O educador já não é mais o que educa, mas o que enquanto educa, é educado em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos assim se tornando sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade” já não valem. (FREIRE, 1987, p. 68)

Nesse sentido, torna-se obsoleta a concepção de professor como “ensinante” que difunde conhecimento. Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento. A monopolização do saber abre espaço para a construção coletiva de conhecimentos, para a pesquisa, a parceria. Instaura- se uma forma mais ativa e colaborativa de aprendizagem, os participantes dependem um do outro para alcançarem seus objetivos – sem a participação da

comunidade que aprende os cursos on-line não acontecem, cabendo, de acordo com Levy (1999), ao professor a animação da comunidade:

O professor torna-se um animador da inteligência coletiva dos grupos que estão a seu encargo. Sua atividade será centrada no acompanhamento e na gestão das aprendizagens: o incitamento à troca de saberes, a mediação relacional e simbólica, a pilotagem personalizada dos percursos de aprendizagem. (LÈVY, 1999, p. 171).

Segundo Sherry, Lawyer-Brook e Black (apud TAVARES, 2000) o impacto da comunicação via computador se torna muito maior, o que leva o professor a ser um mediador que estimula a comunicação em rede por meio do compartilhamento de informações e que encoraja seus alunos a construírem seus próprios conhecimentos ao longo da realização das atividades online.

É no e pelo diálogo que, segundo Freire, os homens transformam o mundo. Mas pelo diálogo movido pela palavra verdadeira, carregada de comprometimento que professores e alunos constroem seu conhecimento.

Todo esse processo constitui o que PALLOFF e PRATT (2002, p. 190) denominaram pedagogia eletrônica – pratica que se instaura por meio do diálogo, longe do instrucionismo da educação bancária do caráter narrativo ou dissertativo das aulas em que o professor tem por tarefa transmitir retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação.

A grande tarefa do sujeito que pensa certo não é transferir, depositar,

inteligibilidade das coisas, dos fatos, dos conceitos. A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica, a quem comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não há inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. (FREIRE, 2010, p. 38)

Fica claro, então, que para a Educação a Distância - por não ser algo novo e por apresentar notável expansão nos últimos anos - é emergencial preparação de profissionais da educação competentes e aptos a mediar a distância, minimizar as dificuldades e ampliar a possibilidade de aprendizagem, por meio de postura de pesquisador que estabelece parceria com seus alunos. “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino” (FREIRE, 2010, p. 29).

A preocupação com o preparo dos professores para a atuação na EaD, contudo, não pretende levar à idealização ou sublimação do trabalho e da posição do professor no processo de ensino a distância, tampouco diminuir o trabalho do professor de cursos presenciais. O que este estudo pretende é demonstrar a necessidade de se adotar uma educação dialógica e problematizadora também na educação a distância, a fim de que o processo alcance a e uma aprendizagem significativa porque construída em parceria, como apresenta Freire:

Para o “educador bancário”, na sua antidialogicidade, a pergunta, obviamente não é o propósito do conteúdo do diálogo, que para ele não existe, mas a respeito do programa sobre o qual dissertará a seus alunos. E esta pergunta responderá ele mesmo, organizando seu programa. Para o educador- educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação

não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos educandos -, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. (FREIRE, 1987, p. 83-84)

A proposta de uma educação dialógica parece mais próxima e também mais adequada não só ao meio em que ocorre a EaD, mas também à diretrizes estabelecidas pelos Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância.

No ambiente virtual, professores e alunos devem, portanto, empenharem-se em se adaptar às mudanças no ambiente educacional. O processo educativo deve ter seu foco redirecionado do professor para o aluno, do ensino para a aprendizagem, estabelecendo uma relação de parceria entre eles. Sendo assim, o professor assume papel de coadjuvante no processo de aprendizagem, o que torna possível a criação de práticas apropriadas às características de seus alunos e de suas realidades sociais. É o respeito aos saberes do educando apresentado por Freire:

Por isso mesmo pensar certo35 coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática comunitária – mas também (...) discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino desses conteúdos. (FREIRE, 2010, p. 30)

35

"Pensar certo significa procurar descobrir e entender o que se acha mais escondido nas coisas e nos fatos que nós observamos e analisamos" (FREIRE, 2003, p. 77).

As aulas puramente dissertativas não abrem espaço para a troca, para o diálogo que constrói, ainda que mediado pela máquina.

O diálogo é uma exigência existencial. E se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito ao outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, 1987, p.79)

Fazem-se necessárias a atualização ampla e a pesquisa constante que, na visão freireana, não é qualidade que se acrescenta ao ato de ensinar, mas sim parte da natureza docente. Do mesmo modo o acompanhamento e a orientação dos alunos em suas pesquisas:

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. ( FREIRE, 2010, p. 29)