• Nenhum resultado encontrado

2 ASSISTÊNCIA E POLÍTICA SOCIAL

3.2 Aprendizagem cooperativa: a prática

Os primórdios da aprendizagem cooperativa remontam ao livro Talmude, onde está registrado que uma pessoa deve contar com um parceiro de aprendizagem. Em seu percurso histórico, como iniciadores dessa prática e inspiradores das pesquisas posteriores nessa área, estão: Sócrates, que utilizava pequenos grupos e o diálogo em seu método arte do discurso; Quintiliano que apontava o benefício de um discípulo ensinar a outro; Lúcio Aneu Sêneca que, por sua frase aquele que ensina aprende (Qui docet discet), comungava da mesma crença; além de Comenius para quem o aluno se beneficiava, tanto sendo ensinado como ensinando a outro. (JOHNSON, JOHNSON; SMITH, 1998).

Foram igualmente importantes, nesse sentido, estudiosos como Joseph Lancaster e Andrew Bell (séc. XVIII) que utilizaram grupos de aprendizagem cooperativa como propulsores da educação de “massas”. Benjamin Franklin organizou esse tipo de grupo para alcançar a própria educação. A aprendizagem cooperativa obteve incremento no início do século XIX, nos Estados Unidos, tendo dominado a educação ianque, nas três últimas décadas, desse mesmo século, pela utilização intensiva que Francis Parker fez dela. Já no início do séc. XX, John Dewey utilizou, em seu método de projeto, grupos de aprendizagem cooperativa. Voltando-se para a educação superior, há uma rica tradição desse método, nesse nível, em faculdades nos Estados Unidos, um número crescente de apresentações sobre o tema nas conferências e a existência de áreas relacionadas, como aprendizagem com base em problema, comunidades de aprendizagem e retenção de alunos. (JOHNSON; JOHNSON; SMITH, 1998).

Ovejero (1990) lembra que cooperação vai além de proximidade física, discussão e ajuda. Para ser considerado cooperativo o método tem que trabalhar com elementos-chave críticos para os esforços de cooperação – interdependência positiva, responsabilização individual, interação promotora, habilidades sociais e processamento de grupo. Eles são significativos para o instrutor/docente que se utiliza desse método.

Primeiramente, cada estudante deve ter a percepção de que está ligado aos demais, ou seja, em interdependência positiva, de modo a sentir que não será bem-sucedido se os outros não o forem.

A estruturação da responsabilização individual precisa acontecer de maneira que o desempenho de cada um seja avaliado por testes individuais, de pedidos para que cada aluno explique ao colega o que tem aprendido ou observando cada grupo e documentando a contribuição de cada componente; nesse ponto os autores fazem uma observação sobre o

propósito da aprendizagem cooperativa: “[...] fazer com que cada membro do grupo seja uma pessoa mais forte nos seus próprios direitos. Estudantes aprendem juntos de modo a subsequentemente poder desempenhar melhor como indivíduos.” (JOHNSON, JOHNSON E SMITH, 1998, p. 4).

O instrutor/docente assegurar-se-á de que a interação promotora face-a-face (para isso os grupos precisam ser pequenos) do sucesso de uns pelos outros deve acontecer por meio de ajuda, assistência, apoio e valorização dos esforços para aprender que resultarão em:

a) processos cognitivos, como verbalização sobre maneiras de resolver problemas, passagem do conhecimento de um para todos, conexão do que se aprende no presente com o já aprendido;

b) processos interpessoais, como o desafio de raciocinar e tirar conclusões, desenvolver modelos e facilitação dos esforços para aprender;

c) conhecimento maior entre os alunos, tanto no nível pessoal quanto profissional.

Nesse processo, dá-se o ensino das habilidades sociais necessárias e seu uso adequado; “Liderança, tomada de decisão, construção de confiança, comunicação e as habilidades para administrar conflitos são coisas que devem ser ensinadas com tanta precisão e tanto senso de propósito quanto as habilidades acadêmicas.” (JOHNSON; JOHNSON; SMITH, 1998, p. 4).

Tem que haver a consciência, por parte do instrutor/docente, de que levará algum tempo para o engajamento dos estudantes no processamento de grupo, o momento em que há a reflexão sobre processos usados pelos membros para melhorar e maximizar o aprendizado; eles podem identificaras ações que foram mais ou menos úteis para a eficiência do trabalho e tomar decisões sobre quais delas devem continuar ou mudar; o processamento do grupo resulta: no enxugamento do processo de aprendizagem, tornando-o mais simples, na eliminação de ações inadequadas e inábeis; na melhoria das habilidades para trabalhar como parte de uma equipe, dentre outros. O entendimento desses cinco elementos propicia ao instrutor/docente capacidade de:

a) [...] estruturar qualquer lição, qualquer disciplina, de modo cooperativo; b) […] adaptar a aprendizagem cooperativa às suas circunstâncias e necessidades específicas bem como aos alunos; c) […] intervir no sentido de melhorar a eficiência de qualquer grupo que não esteja funcionando bem. (JOHNSON; JOHNSON; SMITH, 1998, p.4).

Johnson, Johnson e Smith (1998) desenvolveram três modos inter-relacionados para a utilização da aprendizagem cooperativa: a) o formal, em que os alunos trabalham juntos, durante várias semanas, buscando atingir alvos compartilhados de aprendizagem, visando a completar, em conjunto, tarefas e trabalhos específicos; b) o informal, em grupos temporários e ad hoc, formados por um breve período, para promover apresentações, filmes, vídeos; e c) grupos em base cooperativa, que são de longo prazo (pelo menos, um semestre), com número estável de membros, “[...] cuja responsabilidade principal é fornecer a cada aluno o apoio e o encorajamento de que necessita para progredir academicamente e completar seu(s) curso(s) com sucesso.” (JOHNSON; JOHNSON; SMITH, 1998, p.7).

No próximo capítulo, relataremos procedimentos utilizados no exame do objeto desta pesquisa– material escrito, em forma de depoimentos, produzido pelos estudantes de graduação que experienciaram a utilização dos preceitos da aprendizagem cooperativa em sua prática, junto aos seus pares, na condição de instrutores/articuladores do PACCE no ano de 2011. Sua exploração visou identificar a potencialidade da ação do programa, divisado pelo prisma do estudante de graduação da UFC a ele vinculado.

Documentos relacionados