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2.5 APRENDIZAGEM GERENCIAL

2.5.2 Aprendizagem de gestores acadêmicos

Corroborando o que foi anteriormente apresentado, Silva, Moraes e Martins (2003) afirmam que a aprendizagem gerencial não ocorre somente através dos programas de desenvolvimento gerencial ou da educação gerencial, mas também no dia a dia do trabalho. Autores internacionais também realizaram estudos especificamente em organizações acadêmicas.

Os primeiros estudos acerca da aprendizagem de gestores acadêmicos na literatura são estrangeiros, destacando-se nos textos nacionais os autores Ahmad e Reesor (GUEIROS e

DIAS, 2003; LUCENA, 2005; LUCENA, 2006; SILVA, 2000; SILVA, MORAES E MARTINS, 2003).

Ahmad (1994, apud GUEIROS E DIAS, 2007) em sua tese de doutorado, pesquisou os padrões de aprendizagem utilizados por nove diretores de universidades americanas e constatou que a maior parte da aprendizagem destes dirigentes ocorreu através de atividades informais, como a imitação dos outros, a conversa com outros profissionais, a realização do trabalho diário, etc. O autor ainda identificou que os gestores universitários tinham certa dificuldade no aprendizado administrativo, pouca experiência gerencial e que sentiam necessidade de uma preparação formal para o exercício do cargo de gestão (AHMAD, 1994, apud MARRA e MELO, 2003).

Reesor (1995, apud SILVA, MORAES E MARTINS, 2003) ao investigar a cultura organizacional de instituições acadêmicas e suas influências no processo de aprendizagem dos seus professores-gestores, relata que a maioria destes profissionais aprenderam a ser dirigentes exercendo a função de gestão e autodirecionando sua aprendizagem. O autor também verificou que os professores que passaram a atuar na alta gestão das universidades pesquisadas por ele haviam exercido, anteriormente, outros cargos de gestão na IES, como coordenação de curso ou chefia de departamento, e que estas experiências haviam contribuído para o aprendizado em gestão.

A forma de aprendizagem descrita pelos autores internacionais pôde ser verificada também nos estudos realizados no Brasil. Silva, Cunha e Possamai (2001) identificaram que os professores que assumiam cargos de gestão não tinham pleno conhecimento do ambiente externo que envolvia a IES e que, em muitos casos, estes iam à busca deste conhecimento por duas vias: através das interações sociais com outros grupos na IES ou através de estudos dirigidos (autodirecionados). O item mais citado ao se tratar de ambiente externo foi legislação da educação superior e os órgãos públicos que a regulam.

Em outro estudo realizado na Brasil, Silva e Moraes (2002) identificaram que os diretores de centro da IES pesquisada aprenderam sobre questões administrativas, em sua maioria, por meio das interações sociais no ambiente de trabalho, no decorrer do dia a dia da gestão ou por meio de estudos autodirecionados. Porém, quando questionados sobre as habilidades interpessoais necessárias a um gestor universitário, os diretores mencionaram que as tinham desenvolvido antes de ocuparem o cargo de direção na IES, que as desenvolveram no decorrer de suas trajetórias profissionais, o que sugere que os adultos aprendem através de suas vidas.

No estudo conduzido por Campos et al (2008), constatou-se o quase inexistente preparo dos professores que assumiam os cargos de gestão na IES pesquisada, não existindo um programa de desenvolvimento gerencial para a formação dos professores-gestores. Também nesta instituição, os professores declararam que o aprendizado técnico necessário para atuação na gestão da IES foi possível por meio das experiências vividas na prática administrativa e que poderia se considerar como um pré-requisito, mesmo que informal, que para um professor assumir o cargo de pró-reitor na IES seria necessário que antes tivesse ocupado outro cargo de gestão na mesma instituição. O objetivo de tal restrição seria a consolidação do aprendizado gerencial necessário para assumir um cargo de tal importância na instituição, desenvolvido através das experiências anteriores na IES.

Marra e Melo (2003) trazem como contribuição para a discussão sobre o aprendizado de gestores acadêmicos o aspecto colegiado da gestão nas IES. O estudo revelou que enquanto ocupavam somente a função de professor, o aprendizado para ser um gestor na instituição tinha seu início. As discussões em reuniões e as decisões tomadas de forma coletiva possibilitavam aos professores a oportunidade de conhecer melhor os problemas da IES, assim como estes podiam, também, avaliar as conseqüências das ações dos gestores e aprender com seus erros e acertos. Esta experiência anterior relacionada às atividades de outros gerentes tinha relevante influência no processo de aprendizado destes profissionais.

No que concerne às competências necessárias a serem desenvolvidas por um gestor universitário, dois estudos realizados no Brasil merecem destaque: Andrade (2005) e Campos et al (2008). O primeiro elenca 24 competências necessárias a um gestor universitário em instituição privada, o segundo classifica 11 competências para professores que atuem como pró-reitores em uma universidade pública. Contudo, existe forte correlação entre as competências listadas por ambos os estudos.

Atuar em um ambiente altamente complexo como o das IES e conseguir resultados positivos foi ponto pacífico entre os resultados encontrados, assim como a competência na condução dos relacionamentos interpessoais. Estes dois aspectos foram os mais citados pelos participantes das pesquisas conduzidas por Andrade (2005) e Campos et al (2008).

Também se pode destacar a competência para a elaboração, execução e controle do planejamento da unidade administrada, bem como a eficiente gestão dos recursos organizacionais.

Pode-se notar que tais competências não são exclusivas de gestores acadêmicos, elas permeiam as atividades de todo e qualquer gestor, seja qual for o ramo de atividade em que este atue. Portanto, pode-se concluir que existem sim algumas especificidades no que tange à

gestão de IES, mas as competências requeridas dos gestores que atuam nestas instituições não são divergentes dos demais profissionais que atuam na gestão.

Resumo do capítulo

Neste capítulo foi apresentado o referencial teórico necessário à validação da pesquisa científica realizada. Inicialmente, foram descritas as principais abordagens das teorias da administração e das teorias organizacionais, apontando, em cada uma delas, o papel desempenhado pelo gestor naquele recorte específico de tempo. Posteriormente, foi apresentado o histórico do ensino superior no mundo e no Brasil, a seguir, os principais itens da legislação da educação superior e a caracterização das IES contempladas no estudo.

Seguiu-se com a apresentação do gestor universitário e as particularidades da gestão neste tipo de organização, seguido da discussão sobre a aprendizagem gerencial e aprendizagem dos gestores acadêmicos.

3 RESULTADOS OBTIDOS NO CAMPO

Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos no campo a partir da confrontação das falas dos sujeitos com o referencial teórico. As categorias compuseram uma grade aberta, pois foram definidas a posteriori, conforme previsto no item 1.8 desta pesquisa, resultando na seguinte divisão: habilidades interpessoais; conhecimento do ambiente; atividades cotidianas; aprendizagem gerencial do gestor universitário e competências do gestor universitário; discutidas a seguir.

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